sábado, 14 de setembro de 2024

VIII-REFLEXÃO DOMINICAL IV: O MESSIAS SOFREDOR

 

VIII-REFLEXÃO DOMINICAL IV: O MESSIAS SOFREDOR

 

Embora Cristo tenha se referido explicitamente apenas uma vez ao tema do Servo Sofredor (Lc 22,27; cf. Is 53,12), a tradição primitiva não deixou de notar inúmeras aproximações entre Ele e o servo. Desde o Batismo, a vocação messiânica do Senhor aparece como a do “Servo-Filho” (Mc 1,11; cf. Is 52,13); as curas feitas por Jesus revelam a sua função de Servo expiatório (Mt 8,16; cf. Is 53,4); a sua humildade é a mesma que é atribuída ao Servo (Mt 12,18- 21; cf. Is 42,1-3). O tema do Servo Sofredor é, portanto, aquele que mais claramente explicita a necessidade do Salvador passar pelo sofrimento e pela morte para realizar seu projeto de salvação. Assim, o Messias “Servo sofredor” causa escândalo! Se para confessar a messianicidade de Jesus é necessária a inspiração e revelação do Pai (Mt 16,17), mais difícil e cansativo é o caminho da fé que aceita o “escândalo” da cruz. Os discípulos, embora se distanciassem dos outros ouvintes de Jesus, não aceitaram a “necessidade” da cruz. A esta tarefa de educação e purificação da fé dos seus discípulos, Jesus dedicar-se-á quase exclusivamente no seguimento do Evangelho. Há uma forma de raciocinar de acordo com Deus, e há uma de acordo com os homens. O critério para distingui-los é apenas um: a cruz, na qual todos os dias se deve “renunciar um pouco para si próprio”. É por isso que a reprovação a Pedro é seguida por um convite para ir atrás de Jesus, como discípulos verdadeiros. O verdadeiro discípulo também deve tomar a sua cruz; na verdade, é preciso perder a vida para a encontrar de volta. Uma das características predominantes do Novo Testamento surge neste ponto: a ligação entre o indicativo “Cristo é o Messias sofredor” e o imperativo “você deve segui-lo no caminho da cruz”. A experiência da cruz, portanto, é mensagem de esperança, mesmo que ela continue a ser para muitos “loucura” e “escândalo”. Estamos dispostos a aceitar Jesus como o Cristo, como o Filho de Deus, como o enviado do Pai, mas o Cristo do Calvário continua a ser um mistério para nós. O grande mistério é que o reino de Deus continuou o seu caminho mesmo quando os homens mataram o Filho de Deus. Deus, que sofre conosco num ato supremo de amor, ama o mundo e se apresenta a nós como um salvador em uma das penas de morte mais cruéis que a humanidade conhece: uma haste vertical e outra horizontal; lá em cima, pendurado, há um homem que é Deus. Essa cruz se estende em todas as direções como um homem de braços estendidos, apontando para o insondável mistério de Deus, o centro do mistério. Na cruz, Deus abriu o seu coração, revelou o seu segredo mais profundo: um Deus solidário com toda a humanidade. Portanto, irmãos e irmãs, deixemos ressoar em nossa vida e em nosso coração que não existe discipulado sem cruz e sem renúncia de si. Dessa forma, se não houver uma morte do nosso “eu”, do nosso ego, então, não haverá a verdadeira adesão a Ele, de modo que nossa vontade não estará totalmente entregue e curvada a Jesus. Ouçamos a pergunta que Jesus dirigiu aos discípulos e dirige a nós, discípulos desta hora: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Não se trata aqui de uma resposta meramente teórica, mas uma resposta que deve trazer repercussões na nossa vida. Talvez devêssemos pensar na pergunta de Jesus dessa forma: Que papel Ele desempenha na minha vida? Como me relaciono com Ele? Eu o amo? E o procuro de coração? Estou disposto a renunciar a tudo para segui-lo? Perguntas atuais numa sociedade como a nossa que virou as costas para o Cristo, afirmando ser Ele anacrônico e ultrapassado. Que as palavras do Evangelho nos desinstalem, nos provoquem e nos façam cada vez mais certos de seguir o Cristo que é o Messias sofredor e salvador do mundo.

 

Dom Cícero Alves de França Bispo Auxiliar de São Paulo

 

https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-46b-51-24-domingo-tempo-comum.pdf

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