IX- REFLEXÃO DOMINICAL IV: DE QUE LADO VOCÊ
ESTÁ?
Com tantas
divisões no nosso tempo, e com tantos motivos para nos dividir, acabamos nos
transformando em seres unitários e isolados. Quase o tempo todo estamos
classificando as pessoas por suas características pessoais. Acentuam-se, cada
vez mais, as diferenças, mesmo quando o que estamos procurando é a igualdade.
Mas, nós acabamos formando grupos, sempre a partir de características que
passam a nos definir. E esses grupos correm o risco de seguir a mesma
mentalidade e de se tornarem isolados e exclusivistas. Então, estamos sempre
nos referindo a coisas que nos unem, mas sempre a partir das coisas que nos
distinguem e nos separam dos outros grupos. Poderia ser diferente! Poderíamos
trabalhar mais para promover o que temos em comum. A questão que o Evangelho
nos recorda relaciona-se com o seguimento religioso e os grupos religiosos. A
história da humanidade está cheia de guerras travadas por “motivos religiosos”,
embora, muitas vezes, a questão religiosa tenha sido apenas um pretexto. No
texto, João disse a Jesus: "Mestre, vimos um homem expulsar demônios em
teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue". Interessante o
pensamento de João! Parece que ele não se deu conta de que os inimigos do grupo
de Jesus eram os demônios e não quem os expulsava. Curioso também que não
tivesse percebido seu ato falho, quando se referiu a Jesus para dizer que o
homem expulsava demônios em nome d’Ele, mas não se deu conta de ter se apossado
do grupo de Jesus, quando disse que proibira o homem porque ele “não nos
segue”. Se João tivesse se lem- brado de que era discípulo de Jesus e não Jesus
discípulo dele, não teria pretendido que alguém o seguisse e nem teria se
arvorado em querer proibir alguém. Saberia que, se al- guém pudesse ter o
direito de proi- bir o uso de seu nome, seria Jesus e ninguém mais. Não teria
pretendido tornar-se detentor dos “direitos autorais” de Jesus. A esse
respeito, lembro-me de quando trabalhava em uma fábrica, antes de entrar no
seminário. Fui apresentado a um novo colega de serviço para que o ensinasse a
trabalhar na máquina que eu operava. Ele era evangélico, bastante convicto de
sua fé e de sua igreja. No meu departamento, eu era conhecido como católico.
Tínhamos um grupo de oração que se reunia na hora do almoço. Levei esse colega
algumas vezes ao grupo. Avisei-o do dia em que rezávamos o terço, para que ele
se sentisse à vontade para não ir naquele dia. Ele me agradeceu! Ia quando se
sentia à vontade. Falávamos de Jesus, do Evangelho, da fé. Nossa admiração e
respeito eram mútuos. Os colegas me chamavam de “padre”, e a ele chamavam de
“Anjinho”. Um dia, um de nossos supervisores se aproximou de mim e me
perguntou: “Como você está se dando com o novo companheiro de serviço?” Eu
disse que estava muito bem e perguntei por que não estaria. Ele disse: “É que
vocês são de religiões opostas”. Então, lhe falei que ele estava enganado,
porque “eu era cristão, e meu colega também era”. Claro que, se ele não fosse
cristão, eu o respeitaria também! Mas o ponto é que nós nos demos muito bem
porque procurávamos levar em conta o que tínhamos em comum e não o que tínhamos
de diferente. No fundo, todos os seres humanos têm algo em comum. Por isso,
Jesus nos ensinou a dizer: “Pai nosso”. E quem pretende estar do lado de Jesus
nunca estará contra alguma pessoa. Poderá opor-se a alguma má conduta, mas não
à pessoa. Procurará sempre promover a concórdia e a unidade. E jamais se oporá
a quem faz o bem!
Dom Rogério Augusto das Neves Bispo
Auxiliar de São Paulo
https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-46b-53-26-domingo-tempo-comum.pdf
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