VI-FIM DO MÊS MISSIONÁRIO
Conheça
histórias de missionários que doam a vida pela evangelização
Na
conclusão do Mês Missionário, católicos compartilham experiências missionárias
vividas dentro e fora do Brasil
Julia Beck
A partir da premissa de que
“Jesus Cristo é a missão”, muitos católicos compreendem e vivem ações
missionárias inspirados no que os primeiros apóstolos afirmavam: “Não podemos
deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20).
Estas
duas frases – respectivamente o tema e lema da Campanha
Missionária 2021, são, de
fato, uma realidade na vida de Fernanda Patrícia da Paz Silva, Padre Clayton
Luiz Constâncio Ferreira, Irmã Sorella e Irmã Eulália. Os quatro missionários
dão testemunho de suas vivências diante da proximidade do fim do Mês das
Missões.
Encontro com Jesus
Missionária da Comunidade Obra de
Maria desde 2007, Fernanda conta que escolheu ser missionária depois de ter um
encontro pessoal com Jesus. “Senti forte o Amor Dele e meu desejo era que
outros descobrissem e sentissem esse Amor. Iniciou assim meu desejo pela missão
de fazê-Lo conhecido”, disse.
Ela afirma que o grupo de oração
e o serviço dentro de sua paróquia eram pouco diante do desejo de
evangelizar. Assim, decidiu sair da casa de seus pais, deixar seu emprego e
planos para viver o carisma da Comunidade Obra de Maria.
Chamado de Deus
Como Fernanda, padre Clayton
também é missionário. O sacerdote é membro da Comunidade Canção Nova e revela
que sua escolha pela missão foi um chamado de Deus.
“Tudo começou quando eu fazia os
encontros vocacionais na minha diocese de São José dos Campos (SP)”, lembra. O
presbítero destaca que sua vontade era de ser um padre carismático na sua
diocese. “Deus mudou a minha vontade (…). Quis que eu fosse padre não só em uma
diocese, mas aonde ele quisesse me enviar”.
Em 2005, padre Clayton conheceu a
equipe vocacional para o seminário da Canção Nova. A partir daí, começou a
fazer os encontros. “No terceiro encontro, já ardia meu coração em ser padre
missionário na Canção Nova”, relata.
Irmã Sorella do Santíssimo
Sacramento e Irmã Eulália de Nossa Senhora Serva pertencem à Congregação da
Fraternidade das Pobres de Jesus Cristo (Fraternidade Missionária O Caminho) e
também afirmam que são missionárias a partir de um chamado de
Deus.AnteriorPróximo
“Ele nos chama, convoca-nos a
algo, a uma missão, anunciar a Boa Nova. E por isso, impelidas por esse chamado
e pelo amor de Deus, colocamo-nos a caminho para servir a Deus nos mais
pobres”, complementaram.
Evangelização sem fronteiras
As religiosas
estão, desde agosto, em missão
na paróquia, nas aldeias e comunidades de Mecufi, um Distrito de Pemba, em Cabo
Delgado – Moçambique. Elas exercem a missão anunciando a Palavra, pelo
testemunho da caridade e no serviço aos pobres.
“Realizamos um projeto
nutricional e de aleitamento auxiliando na alimentação, medicação e cuidado
diário de crianças. Também instruímos as mães sobre a desnutrição, suas causas
e como ajudar seus filhos a saírem do quadro de desnutrição”, contam.
Padre Clayton está em missão na
Paróquia Imaculada Conceição, na cidade de Zobue, em Moçambique. O sacerdote é
vigário paroquial e também responsável pelo Santuário Imaculada Conceição, de
Zoubue.
“Minha missão é levar as pessoas
ao encontro pessoal com Jesus na eficácia do Espírito Santo. Fazendo com que as
pessoas, através dos sacramentos, principalmente a Eucaristia, possam se
alimentar da mesa da Palavra e da Eucaristia”. O sacerdote conta que também
realiza atividades nas zonas rurais, preside missa e ministra os demais
sacramentos.
Missão no Brasil
Esse é segundo ano que Fernanda
está na na Missão de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia.
“Fiquei três anos intercalados na Casa Mãe da Comunidade em Pernambuco, quase
10 em Moçambique e agora na missão de Corumbá”.
Através dos cenáculos, a
missionária reza com as famílias em suas casas, grupos de oração e retiros para
crianças, jovem, adultos e casais. Auxilia na formação de membros do carisma e
também em atividades sociais nos bairros mais carentes.
“Vamos anunciando Jesus das
diversas formas com alegria como está no nosso Carisma: ‘Evangelizar de todas
as formas com alegria’.”
Alegria e desafios
A alegria maior da missão, de
acordo com Fernanda, é ver as pessoas descobrindo o Amor de Deus, mudando de
vida a partir da experiência do Batismo no Espírito Santo.
“Da mesma forma como Deus fez
preenchendo aquele vazio que existia em mim, a partir de minha doação em
missão, vejo outros sendo transformados pelo toque do Espírito Santo. Isso que
alimenta minha vida missionária e me dá forças para os desafios que são
inúmeros como a distância da família, viver outras culturas e outros idiomas”,
comenta.
Para padre Clayton, a maior
alegria é também a de tornar o nome de Jesus conhecido e amado. “Levar a
dignidade que Ele nos traz através de sua Palavra e da Doutrina da Igreja
Católica”, disse.
O maior desafio é a língua, opina
o presbítero. Em Zobue a língua é a “Chichewa”. “Estou procurando aprender a língua
para falar na primeira pessoa sem a ajuda dos tradutores da nossa Paróquia.
Outro desafio é a ‘enculturação’. Estou evangelizando uma outra cultura
diferente da minha. Por isso, preciso aprender os costumes e valores deste
povo, para, pouco a pouco, tornar esta cultura evangélica como Cristo deseja”,
partilha.
Para as irmãs da Fraternidade
Missionária O Caminho, as maiores alegrias são de servir a Jesus nos mais
pequeninos, tornar o Reino de Deus conhecido e amado e poder receber um sorriso
de uma criança quando olhada e amada.
As religiosas também destacam a
enculturação como um desafio, assim como a língua local, os costumes e os
desafios de dialogar com as outras crenças.
Pobreza e fome
A pobreza é uma realidade
marcante da missão de padre Clayton em Zoubue. “Um povo sofrido, marcado pela
realidade das guerras e que sofrem com a má distribuição de renda”, comenta. A
fome é também apontada pelo presbítero como um problema presente.
“Em uma visita missionária à casa
de uma viúva, que cuidava do filho doente, perguntei a ela: ‘A senhora tem o
alimento para comer?’. Para o meu espanto, ela disse que não. Ela tinha que
escolher: trabalhar sendo idosa na plantação, aqui em Moçambique chama-se
“Machamba”, ou cuidar do seu filho doente. Ela não tinha ninguém até então que
pudesse ajudar. Então, nós da Paróquia Imaculada Conceição, passamos a ajudá-la
mês a mês”, conta.
Irmã Sorella e Irmã Eulália
afirmam que em Pemba a extrema pobreza é também uma realidade. “No exercício do
anuncio da Palavra de Deus quando vamos às comunidades e aldeias e nos
deparamos com a extrema pobreza e grandes enfermidades que crianças, jovens e
adultos sofrem aqui na África e por vezes nos sentimos e somos impotentes
perante a falta recursos”, partilham.
Levar o amor
Fernanda, que já esteve em
Moçambique em 2009, revela que viveu experiências que levará para toda vida.
Ela é enfermeira e ficou os primeiros quatro anos em missão no Posto de Saúde
da Missão de Dombe, na Província de Manica.
“Lá, por diversas vezes, partos
foram realizados no mato, vários ataques de crocodilos por ser um povoado
cercado por Rio, além de toda realidade difícil com a Malária, doença que
atinge tanto a população quanto nós missionários”, recorda.
Anunciar a Boa Nova de Jesus em
uma realidade tão exigente não é fácil, revela a missionária. “O cuidar bem e
tratar com amor foram, muitas vezes, o que tive quando me via desprovida dos
materiais e medicamentos necessários para diversos casos. (…) Moçambique foi a
realidade mais desafiante e marcante até hoje para levar Jesus, a qual me
fortalece hoje na missão que estou”.
Jesus Cristo é a Missão
Jesus é o missionário por
excelência, indica padre Clayton. Cristo, prossegue, pede ao Pai para mandar
trabalhadores para sua messe. “Não podemos deixar de levar a Palavra de Deus
aos pobres que não têm o material, mas sem esquecer que, talvez, a maior
pobreza é aquela que não permite o senhorio de Jesus em nossa vida”, alerta.
A humanidade sofre, hoje, por não
se deixar conduzir pelo Cristo, opina o presbítero. Segundo o sacerdote, Jesus
traz a vida em abundância, e o missionário, para realizar bem sua missão, deve
beber da fonte que é Cristo.
“Todos aqueles que tiveram um
encontro com Cristo são chamados a partir, a sair em missão. Esse encontro nos
impele a sermos anunciadores, comunicadores do que vimos e ouvimos, do que
aprendemos da Palavra e da intimidade com o Senhor Jesus”, exortam Irmão
Sorella e Irmã Eulália.
Fernanda frisa: “Ide por todo o mundo, pregai o
evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). “Essa foi a ordem de Jesus para nós!”. A
missionária sublinha que homens e mulheres falam com mais propriedade do que
vivem e conhecem. “O testemunho é o que faz Jesus chegar aos corações.”
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