X-REFLEXÃO DOMINICAL II:
"SENTADO À BEIRA DO CAMINHO"
Há uma canção de Roberto e Erasmo Carlos, que eu vivia
cantarolando nos meus tempos de jovem, quando tomado por alguma tristeza ou
decepção, o poeta compositor da letra, fala de alguém, que por conta de uma
decepção amorosa, desistiu de viver e ficou sentado á beira do caminho, onde
até a poeira é triste. A dinâmica da vida nos impele a caminhar, quem não se
deixa contagiar por esse dinamismo, acaba ficando fora do processo, a letra da
canção mostra bem esse sentimento de que não existimos, quando a pessoa a quem
amamos permanece indiferente "Preciso lembrar que eu existo....".
Quem é esse cego Bartimeu, mendigando amor á beira de um caminho, senão o
próprio homem, que não conhecendo a Deus revelado em Jesus, lhe permanece
indiferente? A pós modernidade oferece ao homem Muitas "luzes" na
ciência, na tecnologia, no avanço das pesquisas, acontece que o ser humano,
apropriando-se desses bens, que são dons de Deus, julga ver tudo, compreender
tudo, e sentindo-se Senhor absoluto da situação, pensa e faz o que quer, usa
sua liberdade da pior maneira possível e fazendo coro ao racionalismo dos
intelectuais, decreta a morte de Deus. Entretanto, um belo dia este homem
prepotente e arrogante, irá descobrir-se como este cego de Jericó. Tem tudo mas
não tem a graça de Deus, que Jesus trouxe com a Salvação. Nesse sentido não se
conhece, porque não conhece a Jesus, é cego, porque não viu em sua vida a luz
da verdade, está a margem da verdadeira vida, é um milionário mendigando um pouco
de amor áquele que é amor.
Em um coração e uma alma, ferida pela descrença, agonizante de
vida e esperança, é que sai esse grito de Bartimeu, ao saber que Jesus de
Nazaré passava por ali, bem ao lado de onde ele expunha aos que passavam, a sua
miséria vergonhosa. "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!".
Foi assim que Jesus, o Verbo Encarnado de Deus, encontrou o homem, morto pelo
pecado, andarilho e mendigo á beira da estrada da Vida, sem forças para
caminhar, em sua cegueira tenebrosa. No canto da Verônica, no caminho do
calvário, inverte-se esse quadro e Jesus ocupa o lugar que é do homem "Oh
Vós todos que passais, vinde ver se há uma dor igual a minha..."
Na verdade é a humanidade toda que estava á beira do caminho,
sucumbida em sua miséria, quem passa é Jesus, que não fica indiferente as
nossas chagas e feridas, como o Sacerdote e o Levita, na parábola do Bom
Samaritano, que ouviu por certo os gemidos daquele homem caído á beira do
caminho, Jesus também ouviu nossos lamentos e queixumes, o grito desesperado de
quem perdeu quase toda a esperança, "Senhor, Tende compaixão".
Sempre haverá vozes contrárias, tentando abafar esse grito de
quem já não encontra mais razão para viver, há aqueles que como esse grupo
numeroso que segue a Jesus, querem dele se apossar, fecham o anúncio e a graça
em suas "Igrejinhas particulares", idealizam um Jesus exclusivo que
só atende a eles, os santos, justos e perfeitos, é o grito dos casais em
segunda união, talvez, é o grito de tantas jovens mães solteiras, de drogados e
prostituídos, de pessoas rotuladas como irrecuperáveis, banidos de nossas
relações, explorados pelo sistema pecaminoso, e oprimidos muitas vezes pelo
próprio poder religioso, de tantas igrejas que se intitulam de
"Cristãs".
O grito de desespero não passa despercebido por Jesus, quando o
seu povo gemia sob o chicote dos Faraós do Egito, Deus ouviu, viu e desceu para
libertá-los. A Igreja de Cristo não pode tapar os ouvidos diante de tantos que
gritam, as vezes dentro da própria comunidade, a Igreja de Cristo não pode
abafar o clamor dos pequenos que perderam a esperança e a ela recorrer, deve
ser aquela que chama o cego, o acolhe em seu meio, coloca as pastorais a
disposição para lhe curar as feridas, e mais ainda, o encoraja a fazer esse
encontro pessoal com aquele que é a Vida, a Verdade, o caminho . Coragem!
Levanta-te, Ele te chama! Jesus chama esse homem cego, morto, como um dia
chamou a Lázaro, inerte no fundo de uma sepultura. O chamado de Jesus é para a
Vida, para desencostarmos do barranco do comodismo, e de olhos bem abertos, na
visão da Fé, abraçar o discipulado com coragem e desprendimento.
Impressionante a reação do cego, ao saber que Jesus o chamava,
sentiu-se importante, deu um salto e foi ter com ele, jogando a capa de lado.
Era a única coisa que possuía, mas despojou-se dela ao conhecer Jesus, ao
descobrir-se amado e querido por Deus, ao sentir que todo esse amor está
presente em Jesus, redobra a força e a coragem, descobre a nova razão de viver,
por isso consegue "pular" do seu canto, Jesus é o seu protetor, o seu
amor o envolverá totalmente, não precisa mais de nenhuma outra capa.
O seu desejo de VER, manifestado com simplicidade diante de
Jesus, foi atendido, "Vai, a tua fé te salvou" – lhe dirá o Senhor.
Ir para onde? Para o caminho do discipulado. Salvos pela fé, todos os que
fizeram e fazem, essa experiência de ter uma nova visão, no encontro pessoal
com Jesus, tornam-se seus discípulos, ontem e hoje, e todos juntos, enquanto
Igreja, deixam-se conduzir pelo dinamismo desta vida nova, percorrendo as
estradas do mundo, para encorajar os que estão á margem, e chamá-los para se
encontrarem também eles com Jesus, a Luz Verdadeira, diante da qual as trevas
não resistem.... (XXX Domingo do Tempo Comum Mc 10, 46-52)
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0374.htm#msg01
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