XIV-VIVER E MORRER, POR PRISMAS DIVERSOS E CONTROVERSOS...
Lindolivo Soares Moura(*)
"Não seria a vida inteira um sonho,e a
morte um despertar?" [Unamuno]
De
repente, como num piscar de olhos, nossa vida se transforma numa dança de
passos lentos, desengonçados e descompassados pra cá e pra lá, sem sabermos ao
certo se vamos cair ou ficar de pé. Tropeçamos e deslizamos como se uma casca
de banana tivesse sido deixada em nosso caminho, fora de lugar. Sem pedir
licença, lembranças e memórias nos assolam nessas horas. Como não recordar que
nossa vida teve início lá, no escuro do ventre materno, com um segredo
compartilhado que só mãe e filho podiam decifrar. Repentinamente uma luz
intensa nos envolve! Pronto! Entramos a fazer parte do jogo da vida!
"Bem-vindos à existência! Por ali os que não, por aqui os que têm algo a
declarar!". Cheios de vontade e de coragem, mas também de medos e
dubiedades, cada qual vai pouco a pouco ocupando seu lugar.
Por
vezes a vida é como uma criança correndo descalça, com o cabelo todo
desengonçado e esvoaçado pelo vento, sem "dar a mínima" ou com isso
se preocupar; apenas correndo, brincando e colecionando histórias e estórias
nas dobras do tempo. O valor da vida - não se engane - se encontra nas coisas
simples e aparentemente sem importância, como a brisa fresca num dia quente, o
cheiro aromatizante de um delicioso café pela manhã, ou o sorriso maroto de uma
criança a correr pelo parque. Está também ali, no riso leve e solto da avó e do
avô, que amam simplesmente por amar; nas mãos trêmulas, no andar trôpego e
desajeitado, na gargalhada que escapa em momentos impróprios sem vergonha
suscitar.
Teimosa
e tinhosa, é a vida; adora desafios mas também se diverte com pequenas
vitórias, como quando achamos aquela meia que há muito dávamos por perdida, ou
quando acertamos "o ponto" do bolo ou do molho depois de inúmeras e
frustradas tentativas. Sim, a vida também é cheia de surpresas, uma espécie de
montanha-russa, em que de olhos fechados soltamos o berro sentindo um estranho
friozinho na barriga. Mas talvez seja preciso ser exatamente assim para que a
vida se faça bela e o viver faça sentido: ora sendo preciso enfrentar subidas,
curvas e riscos de descarrilamentos, ora experimentando descidas supersônicas
que logo vão se acalmando e se tornando cada vez mais suaves e tranquilas.
O
valor e o sentido da vida talvez estejam justamente ali, em cada curva ou
encruzilhada, em cada esquina onde dobramos sem saber exatamente quem ou o que
vamos encontrar. Nos tombos e nos arranhões que insistem em nos lembrar que
estamos mais vivos do que nunca, prontos para seguir em frente e recomeçar.
Afinal, quem amaria viver o tempo todo numa linha reta, não é verdade?
Finalmente,
o que de modo algum pode ser esquecido e menos ainda ignorado: o valor da vida
não se mede "apenas" em número de anos, de medalhas, de investimentos
e de contas bancárias. Mede-se sim, e sobretudo, em longos sorrisos
compartilhados, beijos demorados, presença que conforta e abraços apertados. Na
coragem de seguir em frente mesmo quando o caminho parece ser por demais
pedregoso, neblinado, e cada vez mais árduo e difícil de ser trilhado.
Brindemos
portanto à vida, bebamos a taça até o fim como se faz necessário, como quem
brinda ao sol e à luz do arco-íris depois de uma longa e assustadora
tempestade. Porque viver, no fim das contas, talvez não seja mais que uma
grande brincadeira de esconde-esconde com a felicidade. E o melhor de tudo é
saber que vez por outra nós a encontramos quando menos esperamos, quando nossa
esperança, já exausta, parecia pronta para "jogar a toalha". Porque
apesar de toda provação, desafios e sofrimentos que a vida nos impõe, ela é e
será sempre um verdadeiro show, um maravilhoso espetáculo! "Não seria a
vida inteira um sonho, e a morte um despertar?" [Unamuno].
P.S.: dedico esse pequeno poema sobre alguns sentidos da vida e do viver, da
morte e do morrer, ao nosso querido "Arnold" - que
"partiu" recentemente - e a
todos os seus familiares e entes queridos. Que ele e tantos outros que também
já partiram possam viver de forma intensa a "vida absolutamente plena de
sentido" que a todos e cada um de nós foi prometida. Assim seja!
(*)Texto
enviado via whatsapp, de Vitória (ES) pelo Psicólogo, pai e avô.
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