XI-REFLEXÃO DOMINICAL III: Leituras do
dia
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira
Leitura: Jr 31,7-9
Salmo: 125,
1-2ab.2cd-3.4-5.6
Segunda Leitura: Hb
5,1-6
Evangelho:
Mc 10,46-52
Evangelho
Marcos
tem dois relatos de cura de cego: Betsaida (8,22-26)
e Jericó (10,46-52).
Esses relatos estão dispostos de tal maneira que, por si só, já transmitem uma
cristologia própria. Quanto ao relato do cego de Betsaida (8,22-26),
é importante situá-lo como conclusão da unidade anterior (6,6b-8,26) e início
da subida para Jerusalém, onde Jesus enfrentará a prisão e a cruz. Esta
caminhada exige abrir os olhos. Assim, Marcos dispôs seus dois relatos de
cura de cegos para emoldurar a cegueira dos discípulos que não compreendem o
messianismo de Jesus.
A cegueira é um dos
motivos fortes na cristologia
de Marcos. Em Mc 3,6 os fariseus e herodianos, em sua cegueira,
pensam em eliminar Jesus. Esta cegueira também se faz sentir em seus
conterrâneos que, estupefatos, se mostram atônitos diante de seu antigo colega
(Mc 6,1-6). A mesma cegueira também se verifica nos discípulos que ainda não abriram os
olhos (Mc 8,14-21) e recebem esta repreensão: "Vós
tendes olhos: não vedes? Tendes ouvidos: não ouvis?" (Mc 8,18).
Agora
que o caminho ruma
para Jerusalém, onde se dá o desfecho, é preciso abrir os olhos dos
seguidores para a dura realidade. Marcos coloca os dois relatos de cura de cego como
moldura para ilustrar a cegueira daqueles que terão de aprender da cruz o
verdadeiro messianismo de Jesus.
A primeira moldura é o cego de Betsaida (Mc
8,22-26). Tudo o que vem a seguir tem a ver com cegueira e iluminação.
Jesus pergunta: quem dizem que eu sou (Mc 8,27-30). Pedro professa:
“Tu és o Cristo”. Doutrina correta, mas compreensão errada (cegueira). Jesus
vai corrigir esta cegueira por três vezes anunciando sua paixão (Mc 8,31;
9,30s; 10,32ss). Três vezes os discípulos se mostram cegos. A primeira vez
Pedro quer impedir a cruz (Mc 8,32). A segunda vez são os discípulos que
discutem quem será o maior (Mc 9,33s). A terceira manifestação de cegueira se
dá no pedido dos filhos de Zebedeu,
que ambicionam os primeiros lugares (Mc 10,35ss). Três vezes Jesus terá de
corrigir a cegueira de seus seguidores. A primeira iluminação se dá contra a
cegueira de Pedro (Mc
8,32ss). A segunda iluminação se aplica à ambição dos discípulos (Mc 9,35ss) e
a terceira iluminação se faz sobre o pedido de Tiago e João (Mc
10,42-45).
Pedro, os discípulos, bem
como os Zebedeus, olhando para Jesus, imaginavam
algo muito diferente daquilo que ele realizaria. Como
poderiam eles aceitar o aparente fracasso na cruz? Marcos, com
habilidade, corrige
essa cristologia triunfalista, mostrando que ambicionar um messianismo
nacionalista é
uma cegueira. Por isso mesmo, coloca uma segunda e última moldura: o relato
do cego de Jericó (Mc 10,46-52). Esse cego, ao chamar
Jesus de “Filho de Davi”, demonstra cegueira, pois nesse conceito estava
embutido um messianismo nacionalista não compatível com o Reino. Porém, sua fé o tirou de sua compreensão
errada e o tornou
apto a seguir Jesus no caminho, que, a partir de Mc 11, chega a
Jerusalém, onde se dá o desfecho da paixão, morte e ressurreição. Este cego é o protótipo dos discípulos que,
ao aderirem a Cristo, tinham uma perspectiva nacionalista, mas foram corrigindo
esta cegueira aos poucos. Fenômeno comum nos tempos de Marcos.
Aproximando-se, com fé, da pessoa de Jesus, os homens e mulheres de todos os
tempos precisam aprender
o verdadeiro sentido do messianismo de Jesus, que vai além
de ambições nacionalistas, pessoais, milagreiras, para abraçar com ele o
projeto da cruz que compromete os discípulos a instaurar o Reino no
mundo.
Relação com as demais leituras
A liturgia propõe
um caminho de
iluminação. Os israelitas, retornando do cativeiro (1ª leitura),
serão iluminados rumo à liberdade: cegos, aleijados, parturientes, todos terão
seu lugar. Os cristãos verão Jesus como Sumo Sacerdote superior ao antigo (2ª
leitura). Ele é quem faz a caminhada com o povo.
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