05- REFLETINDO O
SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO ANO A
7 de dezembro
– 2º DOMINGO DO ADVENTO (IP)
Por Ir. Dra. Izabel Patuzzo (IP)* Prof. Ms. Celso Loraschi
(CL)** Ir. Dra. Zuleica Aparecida Silvano (ZAS)***
O Reino de
Deus está perto!
I. INTRODUÇÃO GERAL
A liturgia deste domingo
apresenta a figura de João Batista, como o precursor de Jesus; sua pregação
prepara o caminho para a chegada do Messias. Todas as leituras nos convidam a
nos despojarmos dos valores egoístas e fugazes que às vezes orientam nossa
vida, levando-nos ao distanciamento dos caminhos de Deus.
Na primeira leitura, o profeta Isaías fala do amor paternal do Senhor
Deus e da resposta ingrata de Israel. Diante da indiferença do povo escolhido,
o Senhor o corrige e educa com amor e misericórdia. Por isso, enviará um
descendente de Davi, sobre quem repousará o Espírito do Senhor, e a missão
desse personagem será reconstruir um Reino de paz e justiça que não terá fim.
A segunda leitura dá continuidade à carta de Paulo endereçada aos
romanos, recordando-lhes que cada cristão deve se esforçar para ser um rosto de
Cristo visível no mundo. Quem segue a Jesus deve dar testemunho de união, de
solidariedade e de caridade para com os necessitados, vivendo uma vida de harmonia
com os outros, acolhendo e ajudando os irmãos e irmãs mais vulneráveis,
conforme o ensinamento de Jesus.
O Evangelho nos apresenta a pregação de João sobre a vinda do Senhor,
tema-chave do Advento. Assim como a mensagem de João preparou o caminho para
Jesus no seu tempo, somos chamados a nos prepararmos. Respondemos à mensagem de
João com nosso arrependimento e com a reforma de nossa vida. Também somos
chamados a ser profetas de Cristo, que anunciam pela própria vida, como fez
João, a vinda do Senhor.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Is 11,1-10)
A primeira leitura
retrata o período do rei Ezequias (714 a.C.), que, preocupado com o
fortalecimento do Império Assírio, fez aliança com o Egito. Tal decisão
política depositava toda a esperança de segurança no exército estrangeiro, à
custa de submissão e pesados tributos, além de pôr em risco a segurança futura
de seu próprio povo. O profeta Isaías era totalmente contra essa decisão
política, pois tal iniciativa foi considerada uma afronta pelo poder assírio,
que invadiu Judá, cercou Jerusalém e obrigou o rei Ezequias a se entregar à
Assíria. Portanto, a realidade é desoladora e o povo está desiludido.
É nesse contexto que o
profeta dirige a mensagem da primeira leitura, um oráculo em forma de poesia.
Primeiramente, Isaías apresenta a chegada de uma pessoa que vem como mensageiro
da paz. Essa personagem tem suas raízes em Jessé, da casa de Davi, pois Deus é
fiel às suas promessas feitas à dinastia davídica. Tal enviado tem como missão
reconstruir Israel e trazer a paz, porque nele repousa o Espírito do Senhor. O
mesmo Espírito que esteve presente na criação, na ordem do universo, que animou
todos os que estiveram à frente do povo escolhido e inspirou os profetas
conduzirá também o novo enviado de Deus. O Espírito de Deus confere ao enviado
todas as virtudes de seus antepassados que lideraram Israel: espírito de
sabedoria e inteligência, como Moisés e Aarão, conselho e fortaleza, como
Samuel, espírito de conhecimento e temor de Deus, como os patriarcas e as
matriarcas, profetas, juízes e juízas.
A segunda parte do poema
apresenta as características do Messias que virá. A aliança com Deus foi
quebrada, mas o enviado vai trazer a paz de uma forma harmoniosa e
surpreendente que envolverá toda a natureza, não apenas a criatura humana. Os
animais domésticos irão conviver com os selvagens em completa harmonia e, como
no paraíso, todos eles serão submetidos ao ser humano, representado pela
criança, isto é, pelo ser humano na sua fragilidade e pequenez. Até mesmo a
serpente, que provocou a desarmonia inicial no paraíso, se submeterá ao ser
humano comprometido a reconstruir a harmonia. Todos os seres da natureza se
empenharão para a superação total do desequilíbrio, das rivalidades, das
divisões e de todo pecado. E, nessa parceria solidária, toda natureza se insere
na dinâmica da construção de um mundo de paz.
2. II leitura (Rm 15,4-9)
Esta leitura proposta
pela liturgia pertence à segunda parte da carta aos Romanos. Paulo apresenta o
exemplo de Cristo, com o qual somos chamados a nos identificar. Na visão do
apóstolo, a comunidade dos fiéis é formada de pessoas fortes, mas também de
fracos. Por isso, os fortes são chamados a carregar as fragilidades dos fracos.
Para edificar a comunidade, muitas vezes temos de nos dispor a carregar os
fardos uns dos outros; exercitar a paciência para com a atitude imatura dos
membros vulneráveis. A leitura nos apresenta a metáfora da edificação em
sentido coletivo. O motivo para esse comportamento é que nosso Senhor Jesus
Cristo carregou nos ombros o peso de nossos pecados. Ele é o único modelo que
nos cabe imitar na vida.
Em sua mensagem, Paulo
também exorta os cristãos a não fazer discriminações, mas acolher a todos a
exemplo de Jesus, que incluiu no seu discipulado tantas categorias de pessoas
desprezadas pela sociedade de seu tempo e consideradas desprezíveis. O
comportamento sugerido pelo apóstolo sempre se fundamenta na pessoa de Jesus
Cristo e nas Escrituras. Ele recorda que mesmo o Antigo Testamento já aponta
para essa realidade, que Jesus levou à plenitude. Por fim, pede que o Deus da
esperança cumule os fiéis de alegria, paz e fé.
3. Evangelho (Mt 3,1-12)
O evangelista Mateus,
depois de apresentar os relatos da infância de Jesus, descreve a obra da
pregação de João Batista. Este aparece, na tradição dos grandes profetas de
Israel, pregando o arrependimento e a mudança de vida. De fato, a descrição de
João encontrada nesta leitura lembra a descrição do profeta Elias em 2Rs 1,8.
No texto da liturgia deste domingo, João dirige aos fariseus e saduceus –
partidos dentro da comunidade judaica de seu tempo – um apelo particularmente
contundente ao arrependimento.
O profeta faz forte
apelo à conversão a todos os que o procuram, oferecendo-lhes o batismo de
arrependimento. Provavelmente, aqueles que o procuravam faziam parte de um
grande movimento de grupos que, na época, praticavam lavagens rituais para fins
semelhantes. Ademais, o batismo de João pode estar relacionado com as práticas
dos essênios, uma seita judaica do século I. Esse batismo pode ser entendido
como uma antecipação do batismo cristão. Nessa passagem, o próprio João alude à
diferença entre seu batismo e o que ainda está por vir: “Eu os batizo com água,
para arrependimento. [...] Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
João deixa bem claro que
sua relação com o Messias ainda por vir (Jesus) é de serviço e subserviência:
“[...] aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu. Não sou digno de
levar suas sandálias” (v. 11). No contexto do Evangelho de Mateus, a passagem
deste domingo é seguida pelo batismo de Jesus por João, evento que é atestado
em todos os quatro Evangelhos e parece ter marcado o início do ministério
público de Jesus.
A figura de João
Batista, por si só, questiona-nos e interpela-nos. Ele atua no deserto, lugar
de escassez, de despojamento, de provações, mas também de proximidade com Deus.
Nas Escrituras, é o lugar do encontro com Deus; de escutá-lo, de deixar-se
conduzir por ele. João se veste de forma simples, contrastando com a suntuosidade
das vestes dos sacerdotes do templo de Jerusalém. Seu modo de vida ressalta que
ele não usufrui de nada da comunidade. Não é um homem só de palavras, mas
também de atitudes bem concretas, que todos podem ver. Isso lhe dá autoridade
para o chamado à conversão, porque ele é coerente com a mensagem que prega à
multidão dos fiéis.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Para nós, cristãos,
Jesus é o Messias que nos aponta o caminho da salvação. Ele iniciou uma nova
comunidade de discípulos que se dispuseram a acolher sua proposta de
fraternidade universal, fundamentada na prática da justiça, da harmonia e da
paz. Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo em tudo que fez e ensinou. Durante
todo seu ministério público, convidou pessoas para viverem o amor, a
solidariedade, a partilha, o compromisso com o bem comum, segundo a proposta
divina. Nós, seus discípulos e discípulas de hoje, como estamos contribuindo
para a continuidade de seu projeto?
Nossas comunidades devem
ser, para o mundo, o rosto visível de um Deus amoroso, misericordioso, que
propõe um estilo de vida pautado no acolhimento, no respeito a todas as pessoas
e a todos os seres da natureza, mas, muitas vezes, presenciamos grandes
divisões internas entre nós, faltando com o testemunho de unidade e harmonia;
muitas vezes nos fechamos em círculos restritos a quem partilha nossas
convicções, colaborando apenas com aqueles que concordam com nossa visão de
mundo, estilo de vida, trabalho pastoral etc. O que podemos fazer para mudar
essa realidade?
A pregação de João Batista,
narrada por Mateus, é forte apelo à mudança radical de vida por causa do Reino
dos Céus. Essa mudança de mentalidade e de modo de agir é um retorno à proposta
de fidelidade à Aliança que perpassa toda a Sagrada Escritura. Muitos ouvintes
daquele tempo se converteram mediante o anúncio profético. Nós somos seus
destinatários de hoje, pois fomos batizados em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo. Como filhos e filhas de Deus, esforçamo-nos para viver a
comunhão com ele e com os irmãos e irmãs? Vivemos a partilha com as pessoas que
caminham ao nosso lado?
Ir. Dra. Izabel Patuzzo (IP)* Prof. Ms. Celso
Loraschi (CL)** Ir. Dra. Zuleica Aparecida Silvano (ZAS)***
*da Congregação Missionárias da Imaculada, pime. Mestra em
Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora em Teologia
Bíblica pela PUC-SP.
**mestre em Teologia Dogmática, com concentração em Estudos Bíblicos, pela
Faculdade Nossa Senhora da Assunção (SP),
é autor do roteiro do Evangelho de Todos os Fiéis Defuntos e do roteiro da
festa da Dedicação da Basílica do Latrão.
***religiosa paulina, mestra em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício
Instituto Bíblico (Roma) e doutora em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta
de Filosofia e Teologia (Faje), é autora do roteiro da festa da Sagrada
Família.
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