04- Refletindo
o 3.º Domingo do Advento
14 de dezembro –
3º DOMINGO DO ADVENTO (IP)- Alegrai-vos!
Por Ir. Dra. Izabel Patuzzo (IP)* Prof. Ms. Celso Loraschi
(CL)** Ir. Dra. Zuleica Aparecida Silvano (ZAS)***
I. INTRODUÇÃO GERAL
O 3º domingo do Advento
é tradicionalmente chamado de domingo da
alegria, porque as leituras fazem um convite a permanecermos alegres em
vista da chegada próxima do Senhor, que vem para nos libertar.
A primeira leitura nos fala da promessa de salvação, a qual o profeta
Isaías descreve como uma floração no deserto. A chegada de Deus é marcada por
esse cenário de alegria. O Senhor vem para dar nova vida a seu povo, para
libertá-lo do jugo a que estava submetido e conduzi-lo para a festa da
liberdade, como fez outrora, quando Israel foi escravo no Egito.
A segunda leitura é retirada da carta de Tiago, dirigida aos cristãos
que estavam vivendo na pobreza, em um contexto de muita exploração econômica
por conta de toda uma política de colonização. O irmão Tiago convida os
cristãos a não se deixarem levar pelo desespero, mas esperar com paciência e
confiança no Senhor.
No Evangelho, João envia uma mensagem a Jesus da prisão, perguntando
se ele é o Messias por quem estava esperando. Jesus responde, apontando para os
milagres que realizou e convidando João e os outros ouvintes a chegar à sua
própria conclusão. Mais adiante, Jesus elogia João por seu papel na preparação
do caminho para o início de seu ministério. Por fim, diz que todos aqueles que
trabalham para o Reino de Deus serão tão grandes quanto João e ainda maiores.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Is 35,1-6a.10)
A primeira leitura deste
domingo pertence ao gênero profético-apocalíptico. O profeta Isaías recorre a
essa linguagem simbólica, descrevendo os últimos combates do Senhor Deus,
particularmente com Edom, e a vitória definitiva do povo de Deus. O texto pode
ser chamado de hino da alegria, destinado a reavivar a esperança e o ânimo
daqueles que experimentaram o exílio. O motivo dessa grande alegria é que Deus
fará justiça àqueles que foram conduzidos ao cativeiro.
O profeta aponta para os
sinais da própria natureza; eles indicam que algo muito bom está para
acontecer. Assim como, com a chegada de nova estação, a natureza se enfeita com
a florada, assim deve ser com Israel, que se prepara para a ação libertadora de
Deus. Na chegada da primavera, o deserto e o descampado são chamados a se
revestir de flores e de vida abundante. As flores das mais variadas cores e
espécies manifestam a intervenção favorável do Senhor. Esse cenário alegre é
símbolo do que acontecerá com o povo. Deus vem para mudar a sorte de seu povo
sofrido. Toda essa descrição da magnificência das plantas é a imagem da beleza,
da glória de Deus, que em breve se manifestará, pois somente ele é capaz de
fazer brotar vida onde há desolação e morte.
O profeta dirige
palavras de ânimo e encorajamento à comunidade dos fiéis. O povo não deve
baixar a cabeça diante da situação desoladora, mas se unir, seguindo o exemplo
da natureza. O resultado da ação transformadora do Senhor será que os cegos
irão recuperar a vista, os surdos ouvirão e o coxo não apenas andará, mas
correrá, saltará como um cervo; o mudo não só falará, mas irá cantar de júbilo.
Esses são alguns dos sinais de que Deus transformará totalmente a sorte de seu
povo, pois ele oferece vida em abundância para todos.
2. II leitura (Tg 5,7-10)
Na segunda leitura,
Tiago exorta seus leitores-discípulos à espera paciente pela vinda do Senhor.
As palavras iniciais: “sede, pois, pacientes” resumem toda a mensagem desse
texto. Elas se aplicam não apenas a situações de injustiças e ultrajes, mas
também a todas as provações do cotidiano. As menções às chuvas temporã e tardia
são expressões veterotestamentárias que descrevem características típicas do
clima da Palestina, às quais o agricultor estava habituado. Em sua mensagem,
Tiago utiliza desse conhecimento da vida na Palestina para falar da espera
paciente que os discípulos de sua comunidade devem ter diante dos sofrimentos
pelos quais estão passando e também da espera pelo agir do Senhor, que muda os
acontecimentos.
O convite a fortalecer
os corações refere-se à esperança na parúsia; isso é motivo de esperança em
meio às tribulações presentes, pois o cristão se alimenta da fé em que o Cristo
ressuscitado está presente na comunidade dos fiéis. Por isso, a exortação passa
também pelas relações mútuas, tomando o exemplo daqueles que são
bem-aventurados porque perseveram pacientemente. Isso implica que aqueles que
temem a Deus conhecem, nas Escrituras, outros exemplos de pessoas que
enfrentaram o sofrimento, como Jó e outras figuras do Antigo Testamento. Os
sofrimentos não são a realidade final de nossa vida, pois Deus tem seu tempo,
sua hora de revelar sua misericórdia. A perseverança cristã se baseia na
convicção da misericórdia divina e na esperança da vinda do Senhor.
3. Evangelho (Mt 11,2-11)
A leitura do Evangelho
deste domingo está em continuidade com o texto do domingo anterior, que nos
apresenta a missão profética de João Batista. Na passagem de hoje, João deixa
bem clara sua relação com o Messias (Jesus) ainda por vir, bem como seu papel
de precursor para preparar os caminhos de sua chegada: “[...] aquele que vem
depois de mim é mais poderoso do que eu. Não sou digno de levar suas sandálias”
(Mt 3,11). No contexto do Evangelho de Mateus, a passagem deste dia é seguida
pelo batismo de Jesus por João, evento que é atestado em todos os quatro
Evangelhos e parece ter marcado o início do ministério público de Jesus.
A narrativa informa que
João Batista se encontra na prisão, por ordem de Herodes Antipas, e envia seus
discípulos a Jesus com uma pergunta, reveladora de sua dúvida: Jesus é mesmo o
Messias que o povo espera, ou ainda deve vir outro? Jesus responde aos
emissários de João, apontando para as ações concretas que ele está realizando
no meio do povo: os pecadores que se convertem são acolhidos no grupo de seus
discípulos, os doentes recuperam a saúde, os marginalizados se tornam
protagonistas do Reino, os então chamados leprosos são purificados e os surdos
ouvem (agora a Palavra de Deus pode ser ouvida por todos).
A mensagem de Jesus a
João sobre os sinais do Reino sendo realizados lembra a salvação descrita pelo
profeta Isaías. Essa passagem é um lembrete de que o início da salvação já está
misteriosamente presente, mas também ainda está para se cumprir. A salvação já
está em nosso meio, manifestada nos atos milagrosos de Jesus e na Igreja.
Contudo, ela também deve ser cumprida no vindouro Reino de Deus. Mesmo quando
observamos nosso mundo atual, podemos encontrar vislumbres da obra de Deus
entre nós. Ademais, ajudamos a preparar o caminho para o Reino de Deus por meio
de nossas palavras e ações. Essa mensagem é realmente motivo de regozijo.
A leitura está dividida
em duas partes: na primeira, o evangelista Mateus destaca a figura de João
Batista, cuja missão é apontar o Messias enviado; na segunda, o próprio Jesus
faz uma apreciação da missão profética de João. A resposta de Jesus aos
discípulos de João é uma declaração de que ele, de fato, é o Messias que cumpre
todas as promessas anunciadas a seu respeito pelo profeta Isaías. O evangelista
indica que é preciso distinguir qual é a missão do Messias e qual é a missão de
quem prepara o caminho (João Batista) para sua chegada. Em outras palavras, o
discípulo nunca será igual ao Mestre; seu papel é apontar para Ele.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O Advento se caracteriza
pela espera da intervenção salvífica de Deus em favor de seu povo. No entanto,
só percebe sua chegada quem está atento e disposto a acolhê-lo. Ele só pode
intervir na vida daqueles que o recebem. É tempo de nos interrogarmos até que
ponto estamos preparados e dispostos para acolher sua chegada transformadora em
nossa vida. Sua proposta de libertação encontra espaço em nosso coração?
Todo batizado é chamado
a testemunhar o projeto do amor misericordioso de Deus. Sua salvação chega
mediante um testemunho verdadeiro, quando lutamos objetivamente para tornar
realidade a superação de todas as formas de discriminação, divisão, injustiça, violência
e intolerância, de modo que a luz da esperança divina não se apague no coração
das pessoas. Estamos dispostos a assumir esse nível de comprometimento de fé?
As leituras deste
domingo nos interpelam sobre a figura de João. Ele não foi um pregador midiático
que buscava visibilidade. Suas dúvidas acerca do Messias eram uma interrogação
presente no coração de muitas pessoas de seu tempo. Ele se dirige a Jesus com
honestidade sincera. Sua atitude nos ensina que não devemos ter medo de nossas
dúvidas, pois não caminhamos com certezas absolutas, mas nos cabe sempre
procurar honestamente pela verdade que nos vem de Jesus Cristo.
Ir. Dra. Izabel Patuzzo (IP)* Prof. Ms. Celso Loraschi
(CL)** Ir. Dra. Zuleica Aparecida Silvano (ZAS)***
*da Congregação Missionárias da Imaculada, pime. Mestra em
Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora em Teologia
Bíblica pela PUC-SP.
**mestre em Teologia Dogmática, com concentração em Estudos Bíblicos, pela
Faculdade Nossa Senhora da Assunção (SP),
é autor do roteiro do Evangelho de Todos os Fiéis Defuntos e do roteiro da
festa da Dedicação da Basílica do Latrão.
***religiosa paulina, mestra em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício
Instituto Bíblico (Roma) e doutora em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta
de Filosofia e Teologia (Faje), é autora do roteiro da festa da Sagrada
Família.
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/14-de-dezembro-3o-domingo-do-advento-ip/
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