V- REFLETINDO A SOLENIDADE DO DIA DE NATAL
25 de
dezembro – NATL – MISSA DO DIA (IP)
A
Palavra armou sua tenda entre nós!
Por Ir. Dra. Izabel Patuzzo (IP)* Prof. Ms. Celso Loraschi
(CL)** Ir. Dra. Zuleica Aparecida Silvano (ZAS)***
I. INTRODUÇÃO GERAL
A solenidade da
natividade de nosso Senhor nos convida a contemplar o amor de Deus pela
humanidade. Sua encarnação expressa a profunda comunhão de Deus com a criatura humana.
Ele em pessoa entra em diálogo conosco. O evangelista João o descreve como a
Palavra que veio habitar no meio de nós, a fim de oferecer sua vida em
plenitude, elevando-nos à dignidade de filhos e filhas de Deus.
A primeira leitura
pertence ao chamado livro da consolação do profeta Isaías. O texto nos
apresenta a chegada do Deus libertador, que vem trazer a paz e a salvação a
toda a terra. Sua vinda muda a sorte do povo. O profeta anuncia a transformação
da realidade de tristeza para um tempo de júbilo, porque o mensageiro da paz,
enviado por Deus, vai inaugurar nova etapa na história de Israel, fazendo que
novamente reine a paz.
A segunda leitura,
retirada da carta aos Hebreus, recorda aos cristãos que, na história da
salvação, Deus nos falou de muitos modos: por meio dos patriarcas, matriarcas e
grandes líderes, como Moisés, juízes, profetas e sábios do povo. Por fim, ele
mesmo entrou em diálogo com a humanidade, por meio de seu Filho. O autor da
carta nos apresenta o plano salvífico de Deus, que chega ao seu ponto mais alto
com a vinda de Jesus ao mundo. Jesus é a Palavra viva que nos cumpre acolher e
escutar.
O prólogo do Evangelho
segundo João nos diz que a Palavra de Deus é uma pessoa: Jesus, o Filho de Deus
enviado ao mundo. Essa Palavra, que estava presente na ação criadora de Deus,
veio completar a obra da criação, redimindo a humanidade. Ele é a luz do mundo
que veio para eliminar toda sorte de pecado, isto é, tudo aquilo que se opõe à
vida.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Is 52,7-10)
O texto da primeira
leitura pertence à segunda parte do livro do profeta Isaías, chamado de
Dêutero-Isaías. Esses capítulos retratam a situação do cativeiro na Babilônia.
Parte de Israel foi deportada quando a Babilônia ocupou Jerusalém (no período
de 586-539 a.C.). A perda da terra, dom de Deus para seu povo escolhido, trouxe
um sentimento de derrota, frustração, desânimo, dispersão e abandono por parte
de Deus por causa dos pecados cometidos outrora.
Esta leitura retrata a
fase final do exílio na Babilônia. É em tal contexto que o profeta vem exortar
o povo, anunciando que Deus irá intervir nessa situação desoladora. Sua
mensagem é de consolação: o profeta fala de novo êxodo para a Terra Prometida;
é o convite para sair dessa situação de tristeza, pois é tempo de fazer a
passagem da desolação para a consolação. Deus irá reconstruir e restaurar
Jerusalém; ele não esquece nem abandona seu povo em situação de ruína.
Para reavivar a
esperança do povo, o profeta o convida a contemplar a realidade concreta da
cidade de Jerusalém devastada. Somente Deus é capaz de reconstruí-la, mas o
povo tem de retomar sua escolha de ser fiel ao Senhor. Por isso, de forma
poética, Isaías põe as sentinelas da cidade em alerta. O mensageiro da paz vem;
seu grito de alegria soará em todos os cantos da cidade. Não é um grito de
terror, mas de júbilo. A alegria da salvação que Deus oferece será plena e
total. Essa alegria contagiará a todos. Até as pedras irão se contagiar com
esse contentamento. Em vista disso, Israel deve abrir seu coração e festejar a
chegada do mensageiro de Deus. Para perceber o novo tempo que se aproxima, é
necessário fazer uma leitura atenta dos sinais de sua presença e uma renovação
de vida. O Senhor Deus é o único rei de Israel; somente ele dirige e governa
seu povo. Portanto, suas leis e preceitos são o caminho para a reconstrução da
paz.
2. II leitura (Hb 1,1-6)
O autor da segunda
leitura é um cristão anônimo que se dirige aos hebreus, grupo que provavelmente
era a grande maioria nas comunidades cristãs provindas do judaísmo. Porém, o
título ou palavra “hebreus” é muito raro no Novo Testamento. Em todo caso,
trata-se de cristãos em situação difícil, expostos à perseguição, vivendo num
ambiente hostil à fé cristã. São fiéis que enfrentam uma situação de desalento,
o que justifica o desânimo e a perda do fervor. É nesse contexto que o autor
exorta a comunidade a testemunhar sua fé em Jesus Cristo, procurando retomar a
radicalidade inicial de seu compromisso cristão e tendo, diante de si, o único
sacerdote: Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O texto alude ao projeto
salvífico de Deus, que, de muitos modos, falou ao povo por meio dos patriarcas,
matriarcas, profetas e, por último, por meio de seu Filho. Assim, recorda, de
forma breve, toda a história da salvação. A última etapa dessa história é
inaugurada por Jesus Cristo, Palavra plena, definitiva, perfeita, mediante a
qual Deus vem ao nosso encontro para nos apontar o caminho da salvação e da
vida em plenitude.
O autor da carta
apresenta Jesus como o Filho de Deus, imagem perfeita do Pai amoroso e
misericordioso. Jesus tornou visível, em plenitude, o rosto do Pai, pois
procede dele. Como Jesus mesmo disse, quem o vê, vê o Pai. O Filho está na
origem do universo, por isso o cristão é chamado a reconhecer seu senhorio.
Essa soberania se expressa, de forma plena, na encarnação e na redenção por sua
morte na cruz. Ele completou a obra começada no início da criação; por
conseguinte, aqueles que o seguem devem acolhê-lo como o único Salvador, como
caminho de vida eterna.
3. Evangelho (Jo 1,1-5.9-14)
O texto evangélico da
missa do dia de Natal é retirado do prólogo do Evangelho segundo João, que
começa com a expressão “no princípio”, com a qual o evangelista estabelece uma
relação de continuidade entre o relato da criação e o da obra redentora
concluída por Jesus, interpretando toda a história da salvação. Desse modo,
tudo aquilo que o evangelista vai narrar sobre Jesus está em relação com a obra
criadora de Deus. A missão de Jesus consiste em levar à plenitude a obra da
criação iniciada por Deus “no princípio”.
Na visão do quarto Evangelho, a Palavra de Deus outrora dirigida
à humanidade, com a qual Deus falou por meio da Lei e dos Profetas, não passava
de expressão parcial da plenitude. Pela encarnação da Palavra, Jesus Cristo,
chega-se a conhecer a verdadeira imagem de Deus, diante da qual todas as demais
se tornam fragmentadas e imperfeitas, pois a Palavra já não é apenas algo dito
ou escrito, mas sim uma pessoa: Jesus. A expressão “verbo” (logos), usada pelo
evangelista, é a mesma que se usa em muitas passagens do Antigo Testamento,
quando se menciona a palavra ou mensagem de Deus dirigida aos profetas. Nos
textos proféticos, porém, “verbo” é usado como palavra dirigida a alguém
escolhido por Deus. Agora, a Palavra não é dirigida, mas se faz carne e habita
entre nós.
Essa Palavra vem ao
encontro da humanidade. A tenda, símbolo muito conhecido dos ouvintes de João,
indica a presença de Deus no meio do povo. O termo recorda o lugar de encontro
de Deus com seu povo no deserto. Agora, a tenda de Deus, o lugar em que ele
habita no meio do povo, é Jesus. É o encontro com sua pessoa que traz luz e
vida para a humanidade. Encontrar-se com Jesus significa romper com todas as
situações de trevas, de pecado e de escravidão. Acolher essa Palavra em nós,
para João, significa ter vida em plenitude. É caminhar na luz e abandonar todas
as formas de egoísmo, mentira e injustiça que ameaçam a vida. Toda a obra de
Jesus consiste em capacitar o ser humano para uma vida nova, como a que Deus
ofereceu desde o princípio da criação.
A missão de Jesus,
Palavra encarnada, é comunicar vida; e João a compara com a luz. Portanto, luz
e vida são duas realidades profundamente relacionadas. A luz é, para a
humanidade, sua orientação e guia, é o que lhe mostra a meta e para ela atrai.
Na tradição rabínica, a luz era a Lei de Moisés. Para o evangelista, a luz que
dá vida aos seres humanos é Jesus. Quem o conhece tem a vida em plenitude e
caminha sob a luz da nova lei do amor.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
A alegria das sentinelas
atentas das montanhas ao redor de Jerusalém, a ponto de até as pedras bradarem
de contentamento, é expressão de uma linguagem simbólico-profética usada para
descrever os sinais precursores da chegada de Deus. Na verdade, o profeta nos
convida a estarmos atentos e preparados para ler os sinais da chegada do
Senhor. Ele vem para transformar realidades e atitudes que não promovem a vida.
É essa alegria que nos anima, que reina em nossa cidade, neste dia em que
celebramos a chegada libertadora de Jesus?
Celebrar o nascimento de
Jesus é momento privilegiado de contemplar o amor misericordioso de Deus, que
não abandona a criatura humana nem dela se distancia. Pelo contrário, ele rompe
todas as barreiras e distâncias para proporcionar nosso encontro com ele. O
menino Jesus, que contemplamos no presépio, é a Palavra definitiva, revelada a
toda a humanidade; é o verdadeiro caminho que conduz à salvação. Escutar e
acolher essa Palavra é o critério fundamental que deve orientar nossas escolhas
e atitudes. Jesus, Palavra viva do Pai enviada a este mundo, é, de fato, minha
referência?
Em nossos dias, como no
tempo em que João compôs seu Evangelho, Jesus, a Palavra encarnada do Pai,
continua a confrontar os sistemas que destroem a vida das pessoas e de toda a
obra criada por Deus, para eliminar, na sua origem, as forças avassaladoras da
morte. Acolher essa Palavra, que veio armar sua tenda no meio de nós, exige
compromisso diante das forças do mal que ameaçam a vida em nosso planeta. Jesus
é a luz que brilha em meio às trevas e hoje nos convida a manter viva a chama
do amor que ele veio acender.
Ir. Dra. Izabel Patuzzo
(IP)* Prof. Ms. Celso Loraschi (CL)** Ir. Dra. Zuleica Aparecida Silvano
(ZAS)***
*da
Congregação Missionárias da Imaculada, pime. Mestra em Aconselhamento Social
pela South Australian University e em Teologia pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora em Teologia Bíblica pela PUC-SP.
**mestre em Teologia Dogmática, com concentração em Estudos Bíblicos, pela
Faculdade Nossa Senhora da Assunção (SP),
é autor do roteiro do Evangelho de Todos os Fiéis Defuntos e do roteiro da
festa da Dedicação da Basílica do Latrão.
***religiosa paulina, mestra em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício
Instituto Bíblico (Roma) e doutora em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta
de Filosofia e Teologia (Faje), é autora do roteiro da festa da Sagrada
Família.
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/25-de-dezembro-natal-missa-do-dia-ip/
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