VII-REFLEXÃO DOMINICAL I: O ADVENTO E A ALEGRIA DE SERVIR
A
Liturgia do terceiro Domingo do Advento traz-nos a recomendação de São Paulo
dirigida aos cristãos de Filipos: Estai sempre alegres no Senhor; de novo vos
digo, estai alegres. E a seguir o Apóstolo enuncia a razão fundamental dessa
alegria profunda: O Senhor está perto. Jesus está muito perto de nós. Está cada
vez mais perto. Deus está no centro da nossa alma. E Ele nos traz a alegria e
não a aflição. Podemos sentir-nos continuamente acompanhados por Deus. Nunca
estamos sozinhos, abandonados. A sua presença ao nosso lado nos alegra, nos dá
paz e serenidade, porque Jesus nos diz: “Eu estou convosco”. Alegrai-vos: este
conselho vem de quem está numa vida tão atormentada como a sua, cheia de
perseguições, de fome, de sofrimentos de todo tipo! Quando São Paulo escreveu
isto aos filipenses, havia quase dois anos estava em prisão domiciliar em Roma,
no fundo de uma cela, escavada na rocha, para onde se enviavam os alimentos por
um buraco no teto. No Evangelho encontramos uma figura impressionante, que
arrastava as pessoas. João Batista falava com tal autoridade e segurança que
todos pensavam que ele era o Messias esperado. Vinham a ele multidões de todas
as partes: as pessoas faziam fila no rio Jordão para serem batizadas por ele.
Confessavam publicamente os seus pecados e pediam-lhe conselho. Até o dia em
que o próprio Jesus se aproximou para ser batizado. O Batista é o último dos
profetas, porque foi ele quem indicou o Messias: João representa a linha divisória
entre os dois Testamentos. A sua missão consiste em comprovar que Jesus é o
Messias prometido. A sua pregação identifica-se com o início da proclamação do
Evangelho de Jesus Cristo. E o seu martírio, um presságio da Paixão do
Salvador. João tem uma palavra que converte, que muda as pessoas e as coloca
diante de sua responsabilidade. As pessoas saíam da água renovadas, felizes,
esbanjando alegria. Para participar da alegria própria deste domingo do
Advento, podemos considerar a proposta de Jesus na última ceia: “Se
compreenderdes estas coisas, sereis felizes, se as praticardes” (Jo 13,17). É
verdade: quem recebe tudo de bom e de melhor tem mais alegria do que quem não
recebe nada, ou quase nada. No entanto, quando oferecemos a alguém, como
presente, um bem material, um perfume, um chocolate, entregamos algo externo a
nós. Nessa mesma medida, em que os damos, os perdemos: ficamos sem o perfume,
sem o chocolate. Mas quando doamos bens espirituais, como uma boa notícia, um
motivo de alegria, uma demonstração de fé, por serem bens espirituais, esses
bens também crescem em nós: ganhamos mais alegria, reforça-se a nossa fé etc.
Mas ainda há outras maneiras de viver essa alegria: na medida em que prestamos
um serviço a uma pessoa necessitada. Esses bens exigem mais de nós, porque
precisamos uma generosidade maior. Assim acontece quando nos dispomos a dar do
próprio tempo, deixar de fazer aquilo que nos interessa para dedicar-nos aos
outros. Dar atenção: ouvir as pessoas, ter paciência para escutar, deixar a
pessoa falar e desabafar tudo o que precisar. O Papa Francisco nos explica que
escutar as pessoas exige muito mais do que simplesmente ouvi-las. Para isso,
precisamos abrir espaço no nosso coração para acolher as preocupações, os
sofrimentos, as dúvidas dos outros. Não vamos esperar que as pessoas nos peçam
ajuda. Não podemos ficar indiferentes aos problemas dos nossos irmãos. Vamos
experimentar essa alegria profunda de colaborar para que muitas pessoas sintam
o apoio do nosso serviço, da nossa caridade, do nosso carinho. Essa será uma
forma de preparar-nos para o Natal que se aproxima.
Dom Carlos Lema
Garcia Bispo Auxiliar de São Paulo
https://arquisp.org.br/wp-content/uploads/2024/12/ano-49c-03-3o-domingo-do-advento.pdf
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