XI=MÁXIMAS, DITOS E DITADOS POPULARES
Lindolivo Soares Moura (*)
"Pais
e filhos não foram feitos para serem
grandes amigos: foram feitos para serem pais e filhos"(Millôr Fernandes)
Máximas,
ditos e ditados populares são, na grande maioria das vezes, expressão do que
chamamos com muita propriedade de "sabedoria popular". E como ao se
fazer referência a uma tal sabedoria, se costuma dizer que "a voz do povo
é a voz de Deus", é de se esperar que o inconsciente coletivo que serve de
orientação para a formatação de tais máximas e ditos receba do alto uma
"mãozinha" como fonte de inspiração. Pelo sim e pelo não, o certo é
que Freud se desentendeu com Jung - Carl Jung, provavelmente o maior Psicanalista
místico que já existiu - justamente porque se recusava a admitir qualquer tipo
de "inconsciente" que não fosse o pessoal e individual. Um
"inconsciente coletivo", ou qualquer coisa que a ele se assemelhasse,
estava simplesmente fora de cogitação. Com relação ao divino, por outro lado,
sabemos que Freud não era lá um crente fervoroso e muito menos um praticante
digno de ser imitado; bem ao contrário, algumas de suas obras deixam bem clara
sua convicção de que, com a intervenção de um ou de vários deuses na governança
do universo, o mal-estar na civilização tenderia a aumentar, e não a diminuir
como seria de se esperar.
O
certo é que, sob o olhar de um observador mais crítico e atento, constata-se
que nem sempre os ditos e ditados populares - como de resto a própria sabedoria
dita "popular" - devem ser considerados expressão da "voz de
Deus". Bem ao contrário, não passam muitas vezes de chaves, chavões e
clichês que precisam ser revisitados, revistos e ressignificados, e em certos
casos até mesmo rematrizados. Ainda assim Gramsci, filósofo italiano, não
hesitou em considerar o "bom senso" como aquilo que ele definiu como
sendo a "parte saudável do senso comum". Nossa intenção com a
presente reflexão é revisitar algumas dessas máximas e desses ditos, que a
nosso ver requerem revisão e reavaliação. Ditos e máximas que podem sim, ter
vindo à luz impulsionados pela melhor
das intenções, mas que apesar da afirmação Kantiana de que "a única coisa
boa é a boa intenção" se revelam ora incoerentes ora francamente
inadequados. A escolha é pessoal e aleatória, como não poderia deixar de ser; também você que me acompanha
na presente reflexão poderia eleger aqueles de sua preferência, nada obstando
para que também eles estivessem aqui contemplados. Isso posto, sigamos em
frente com a tarefa a que nos propusemos.
01. "FILHO DE PEIXE PEIXINHO É": SERÁ
MESMO!? Toda afirmação tem obviamente
seu alcance e seu limite, o que por consequência torna o ditado popular de que
"filho de peixe peixinho é" apenas parcialmente verdadeiro. Malgrado
a Psicologia afirmar que os pais são "imagos" tanto de identificação
como de diferenciação para seus filhos, o fato é que o termo
"referência" - e não "modelo" - se mostra mais adequado
quando queremos expressar o significado desse termo, "imago". De
qualquer forma, fica claro com essa afirmação que filhos não devem carregar a
sina de serem exemplares modelares de seus pais. Tê-los como referência, como
exemplo, sim, mas não para serem seus "modelos" e menos ainda
"sua imagem e semelhança", e sim para poderem, a partir dessa
referência e desse referencial, empreender a inalienável tarefa de construção
de "si mesmos", de "si próprios", em toda sua riqueza,
singularidade e individualidade. No fundo, submeter-se a essa espécie de
"con-formismo" pode não passar de insegurança velada e até mesmo de
uma subliminar estratégia de "negociação". A curto prazo podem-se
obter certos ganhos e proveitos com essa "…
Tudo
que Deus enviar é bem vindo. Só tomar cuidado porque certas coisas Ele não
envia; permite que sejam enviadas. Ótimo dia pra você e todos os seus entes
queridos. E salve Maria!
(*)Lindolivo Soares Moura é Psicólogo e Professor Universitário no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário