Viii- REFLEXÃO DOMINICAL II:
15 de dezembro – 3º DOMINGO DO
ADVENTO
Por Pe. Maicon André Malacarne*
Alegria: mais “ser” do que “fazer”!
I.
Introdução geral
O Senhor está próximo, e a liturgia da Palavra é geradora de
confiança e alegria. A pergunta sobre “o que devemos fazer”, unida às
indicações de João Batista, vai abrindo espaços com base na esperança de
Sofonias e na alegria de São Paulo, as quais, em meio às dificuldades e
sofrimentos, ajudam a conformar a vida na certeza de que Deus está no meio de
nós.
O Natal
é tempo de conformar a vida ao lugar central que Jesus Cristo nela deve ocupar.
Não se trata, portanto, de muito fazer, de muitas atividades, senão de respirar
e participar da vida divina no cotidiano, nas atividades que desenvolvemos e
que devem ganhar o contorno de Deus! De fato, na segunda anotação dos Exercícios espirituais, Santo Inácio de Loyola
apontava para o “sentir” e o “saborear” a vida: “O que sacia e satisfaz a alma
não é o muito saber, mas o sentir e saborear as coisas internamente”. No fundo,
isso significa sair da superficialidade, alcançar a profundidade, permitir
arder o fogo de uma vida nova.
II.
Comentário dos textos bíblicos
1.
I leitura (Sf 3,14-18a)
O anúncio feito por Sofonias encontra seu ponto central no v.
15: “O rei de Israel é o Senhor”. Neste percurso até o Natal, é preciso ir
amadurecendo também qual é o centro da nossa vida e da nossa fé, com todos os
desafios impostos por este nosso tempo, os quais arriscam dispersar mais do que
congregar.
Impressiona o fato de que, do meio das catástrofes,
especialmente de ordem moral, o profeta convida a “cantar de alegria” e
“rejubilar” (v. 14). Não se trata de uma alegria exterior, de uma máscara para
os fracassos, mas sim da consciência de que participamos da vida divina e de
que a alegria é uma forma de Deus viver em nós: “ele exultará de alegria por
ti, movido por amor” (v. 17).
A vitória do amor sobre o pecado, anunciada por Sofonias, é um
mapa a ser percorrido neste tempo do Advento, de proximidade do Natal. A vinda
do Senhor não é um acontecimento do passado ou evento que diz respeito tão
somente ao futuro; é a dinâmica de respirar a vida de Deus, o qual “está no
nosso meio” (v. 17) e podemos experimentar no cotidiano, no meio das
contradições da história.
O profeta Sofonias testemunha também a pedagogia mais adequada
para o anúncio de Deus: ao invés das ameaças, a alegria; ao invés do medo, a
esperança; ao invés da opressão, o diálogo; ao invés do fechamento, o júbilo.
Nós nascemos da alegria!
2.
II leitura (Fl 4,4-7)
Paulo estava preso em Éfeso quando escreveu a carta aos
Filipenses. Da situação inóspita, Paulo reforçou não o desânimo ou a revolta,
mas o convite a “alegrar-se sempre no Senhor” (v. 4). A alegria é como uma
máquina geradora do movimento permanente que enfrenta tudo que paralisa a vida.
O motivo da alegria fica bastante evidente no versículo seguinte: “O Senhor
está próximo” (v. 5). Mais uma vez, a alegria não é abundância de coisas, mas
abundância de vida, abundância da presença de Deus na vida e na história.
Abrir a vida para a alegria significa assumir relações de
bondade com todas as pessoas: “que a vossa bondade seja conhecida por
todos” (v. 5). Alegria e bondade caminham entrelaçadas e, em um mundo tão
dividido por inimizades e discórdias, podem se tornar a chave fundamental para
verdadeira reconciliação. O Natal pode ser a oportunidade de deixar que o
Senhor dilate nosso coração, nos torne mais alegres e relacionais, a ponto de
sermos grandes missionários da bondade no mundo.
3.
Evangelho (Lc 3,10-18)
“O que devemos fazer?” é a pergunta que três grupos diferentes
fazem a João Batista. Eles tinham ido buscar o batismo de João, batismo de
conversão. A pergunta remete para a prática, para o “fazer”, e pode sugerir uma
espécie de ativismo para alcançar a conversão. Na verdade, as respostas de João
foram em outra direção. Mais do que “fazer”, era preciso assumir um estilo de
vida – poderíamos dizer, um “jeito” de testemunhar a conversão.
João respondeu às multidões: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a
quem não tem e quem tiver comida, faça o mesmo!” (v. 11). Vestimenta e alimento
são as coisas mais cotidianas da vida, são elementos que provocam um estilo de
ser baseado na partilha e na comunhão. É interessante perceber como o Batista
foi na contramão das exigências religiosas de sacrifício, de ofertas que eram
pesadas especialmente para os mais pobres. No lugar das cargas, o “fazer”
significa relações mais humanas, abertura e sensibilidade ao outro naquilo que
é o mais concreto do dia a dia.
Aos cobradores de impostos, João respondeu mais especificamente:
“Não cobreis mais do que foi estabelecido” (v. 13). Trata-se da atenção ao
abuso financeiro que tocava especialmente àquele grupo, sob as ordens da
dominação romana. João não pediu que abandonassem a profissão, sabia que era o
sustento da vida deles. Convidou-os a mover o coração na direção da honestidade
e da bondade.
Também aos soldados, o Batista dirigiu uma orientação: “Não
tomeis à força dinheiro de ninguém nem façais falsas acusações; ficai
satisfeitos com o vosso salário!” (v. 14). No lugar da violência e da
corrupção, a verdade e a justiça. O abuso de poder é uma das grandes feridas do
nosso tempo, que vai se transformando em outras formas de abuso e violência...
Ou seja, constitui o caminho contrário à conversão proposta por João.
Por fim, o Batista anunciou a vinda do Messias, “aquele que é
mais forte do que eu”, que “vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (v. 16).
A pergunta sobre “o que devemos fazer” não pode ser respondida fora da
conversão proposta por Jesus Cristo, que, como fogo, abrasa o coração e coloca
nas cinzas a prepotência e a superficialidade do nosso estilo de vida.
III.
Pistas para reflexão
Partilha, justiça e bondade são atitudes que atravessam a
liturgia da Palavra e se apresentam, de um lado, como frutos da alegria e, de
outro, como estilo de uma vida que caminha na direção da alegria. De fato, a alegria
não pode ser confundida com gestos exteriores e mesmo ilusórios. Trata-se de um
caminho de abertura do coração para colocar Deus no centro, como recordava
Sofonias, ao anunciar que “o rei de Israel é o Senhor”. Significa, de verdade,
descobrir quem é o centro, de onde brota a vida e para onde a vida converge.
O papa
Francisco abriu a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, de 2013, com esta preciosidade que pode ajudar a concluir a
reflexão deste domingo: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida
inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por ele
são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com
Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (n. 1).
Pe. Maicon André Malacarne*
*é
pároco da paróquia São Cristóvão, Erechim, diocese de Erexim-RS. Possui
mestrado em Teologia Moral pela Pontifícia Academia Alfonsiana (Roma), onde
cursa o doutorado. É especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo pela
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje, Belo Horizonte-MG); formado em
Filosofia pelo Instituto de Filosofia Berthier (Ifibe, Passo Fundo-RS) e em
Teologia pela Itepa Faculdades (Passo Fundo-RS).
E-mail: maiconmalacarne@gmail.com
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/15-de-dezembro-3o-domingo-do-advento-2/
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