I-
REFLEXÃO DOMINICAL I-
CONDENAR OU PERDOAR?
O Evangelho deste 5º Domingo da Quaresma nos
traz a passagem desconcertante da mulher adúltera, que os escribas e fariseus
querem apedrejar. Mas antes levam-na até Jesus, para ver como ele agiria:
condenar, ou perdoar? Na verdade, eles estavam colocando uma armadilha para
Jesus: se perdoasse, diriam que ele não obedece à Lei de Moisés. Se condenasse,
diriam que ele não tinha coração. Jesus não entra nessa lógica legalista e se
põe a escrever no chão.com o dedo. Que será que ele escrevia no chão? Alguns
suspeitam que era sobre os pecados dos fariseus... Outros pensam que escrevia
uma frase conhecida do profeta Isaías: “misericórdia eu quero, e não
sacrifícios”. Quando insistem com Jesus, querendo saber a solução para o caso,
ele levanta o olhar e observa: “aquele de vocês que não tiver pecado, pode
atirar-lhe a primeira pedra” (Jo 8,7). Foram-se embora todos, um a um, a
começar dos mais velhos. Todos também tiveram de se reconhecer pecadores. “A
começar pelos mais velhos”. A solução de Jesus deixou todos sem chão, inclusive
a mulher pecadora; sem aquela lógica legalista e de vingança, que apenas quer
cumprir a lei, sem olhar para si mesmos e para pessoa condenada. A palavra de
Jesus ofereceu uma nova base para as relações humanas e os julgamentos: a
misericórdia que restaura e salva a pessoa e lhe abre uma nova possibilidade de
vida. Com isso, Jesus ensina que o julgamento final compete somente a Deus, que
prefere perdoar e dar nova chance ao pecador, para que se converta e viva. “Não
quero a morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 18,32). Aos
pecadores, que somos todos nós, não compete condenar outras pessoas, mas
ajudá-las a se converterem e encontrarem a misericórdia de Deus. Na perspectiva
da Quaresma em preparação à Páscoa, a Liturgia de hoje é para todos nós um
convite a fazermos um exame de nossa vida. É mais fácil e cômodo julgar e con-
denar os outros do que olhar para nós mesmos, reconhecer as próprias faltas e
pedir perdão. A humildade sincera, o arrependimento e o pedido de perdão podem
dar também a nós a oportunidade de sentir o alívio e a alegria de ouvir as
palavras: “Eu também não te condeno. Vai em paz e de agora em diante, não
peques mais”. O Ano Jubilar, que estamos vivendo, inclui o chamado à conversão
sincera, ao arrependimento e ao pedido de perdão. Uma boa confissão sacramental
faz parte da preparação à Páscoa. Não deixemos de apro- veitar este tempo
especial de graça e reconciliação com Deus e com os irmãos, sem ouvir as
palavras da Igreja que, em nome de Jesus e em virtude do poder dado a ela, diz
ao penitente: “Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo. Vai em paz e não peques mais!”
Cardeal Odilo Pedro Scherer Arcebispo de São
Paulo
https://arquisp.org.br/wpcontent/uploads/2025/01/Ano-49C-24-5o-DOMINGO-DE-QUARESMA.pdf
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