III QUEM FOI O PAPA FRANCISCO E O SEU LEGADO
O legado de Francisco é mais do que palavras ou
gestos simbólicos. É uma chama que se vai permanecer acesa, com amor, compaixão
e compromisso com os mais necessitados.
Em 13 de março de 2013 renascia a esperança: Francisco, um
nome escrito na história.
Simplicidade, humildade,
justiça e amor ao próximo. Com seu exemplo a igreja é inspirada a sair de si mesma e
ir ao encontro dos mais necessitados. Um legado que permanece na história.
Nesta edição especial do jornalismo, você confere mais detalhes
da trajetória e do legado do pontífice que foi o primeiro Papa
latino-americano.
Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de
dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina. Filho de imigrantes italianos,
cresceu em um lar católico tradicional. Desde jovem, demonstrou inclinação para
os estudos e a espiritualidade. Aos 21 anos, após uma profunda experiência
espiritual durante uma confissão, decidiu entrar para o seminário da Companhia
de Jesus.
Em 11 de fevereiro de
2013, Bento XVI renunciou. No Conclave, a eleição de Bergoglio como primeiro
Papa latino-americano surpreendeu o mundo. Escolheu o nome Francisco em referência a São Francisco de Assis, como
um sinal de sua missão de humildade, paz e cuidado com os pobres. A inspiração
veio do amigo, o cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, falecido em 2022, que
disse a Francisco “Não se esqueça dos Pobres”.
Desde o primeiro
momento, Francisco demonstrou que seu pontificado seria marcado pelo compromisso com os mais necessitados. Desde sempre
e até mesmo recentemente, já com mais dificuldade de respiração, Francisco tem
se levantado como uma voz firme em favor da paz mundial.
O legado de Francisco é
mais do que palavras ou gestos simbólicos. É uma chama que se vai permanecer
acesa, com amor, compaixão e compromisso com os mais
necessitados.
https://www.a12.com/radio/noticias/especial-o-legado-de-francisco
Conheça a trajetória e o legado do pontífice
Na manhã desta segunda-feira, 21 de abril, o Papa
Francisco faleceu aos 88 anos. Reconhecido pelo seu testemunho e sua missão nos
últimos anos como Sumo Pontífice, o Papa Francisco foi eleito em 2013 e se
dedicou por doze anos à frente da Igreja Católica para aproximar ainda mais as
pessoas da fé, construindo um diálogo mais próximo com a comunidade.
Nascido Jorge Mario Bergoglio na cidade de Buenos
Aires (Argentina), o Papa Francisco teve uma longa trajetória antes de se
tornar a autoridade máxima na Igreja Católica. Entrou na Companhia de Jesus em
1958, foi ordenado sacerdote em 1969, nomeado bispo em 1992, promovido a
arcebispo em 1997, tornou-se cardeal em 2001, e foi eleito Papa (substituindo
Bento XVI) em 2013.
Conhecido por sua humildade, o Papa Francisco acreditava na fraternidade
e na amizade social e reforçava sempre em suas falas a importância do cuidado
com a nossa casa comum e, sobretudo, no poder transformador da educação
“Ele foi capaz não somente de provocar a comunidade
eclesial a um empenho maior em favor de sua missão específica, como também
trouxe para o centro dos debates questões candentes: a necessidade de um pacto
global em prol da educação; os desafios da ecologia integral e a necessidade
urgente de cuidado para com a Casa Comum, pois a vida do planeta, e
consequentemente, o próprio futuro da vida humana estão ameaçadas; a urgência
de repensar a economia e suas dinâmicas. Talvez se poderia sintetizar seu
legado como uma paixão extraordinária pela vida; vida vivida na alegria, na simplicidade
e incansável no anúncio de sua dignidade, e denúncia de tudo aquilo que de
algum modo a diminui ou ameaça”.
“A teologia
mais próxima do povo mais simples, isso se percebe pela própria linguagem que
busca ser bastante compreensível. Também uma proximidade e uma valorização dos
problemas das pessoas e as esperanças delas. Uma teologia do povo, dos pobres.
Nesse sentido ele afirmou, mais de uma vez, que os pobres nos evangelizam, eles
evangelizam a própria igreja”, pontua.
O legado deixado pelo Papa Francisco
Com uma extensa trajetória é difícil elencar todos
os feitos do Papa Francisco. No entanto, é possível destacar algumas de suas
ações que com certeza deixaram um impacto e um legado para uma nova geração.
Tudo começa e termina na educação integral, e foi nessa perspectiva que o Papa
Francisco lançou, em 2020, o Pacto Educativo Global. Esse
acordo é um chamado para que todas as pessoas no mundo,
instituições, igrejas e governos priorizem uma educação humanista e solidária
como modo de transformar a sociedade.
Outro aspecto que merece ser destacado do seu
pontificado é o modelo de uma Igreja missionária e descentrada. “O
principal sentido da Igreja é estar a serviço da implantação do Reino de Deus;
ela não é o fim, ela é meio, instrumento de Deus”. Para isso, Papa
Francisco recordava: “Cada cristão e comunidade há de discernir qual o
caminho que o Senhor lhe pede […] sair da própria comodidade e ter a coragem de
alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”.
A fraternidade e a amizade social eram questões
sempre presentes no ensinamento do Papa Francisco. Ele sempre reforçava o
projeto onde todos somos irmãos, onde a fraternidade e amizade social são o
caminho para a recuperação da dignidade
de cada pessoa humana:
“Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar
nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente […]
precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual
nos ajudemos mutuamente a olhar para frente. Como é importante sonhar juntos.
Sozinho corre-se o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto
que se constroem sonhos”.
Atento a problemas que tangem o nosso planeta, Papa
Francisco fazia um alerta sobre ecologia e nos pedia para cuidar da Casa Comum.
Para ele, não podemos falar sobre ecologia e o cuidado da Casa Comum
enfrentarmos as desigualdades a que estão submetidos os homens e as mulheres
mais vulneráveis.
“A ecologia humana é inseparável da noção de bem
comum, princípio este que desempenha um papel central e unificador na ética
social. É o conjunto das condições da vida social que permite, tanto aos grupos
como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição.”
“Francisco
relembra o nosso compromisso basilar com Deus quanto à sua Criação. Não somos
“donos”, mas cuidadores da obra de Deus, pois também somos parte da obra
divina. Assim, a “linha” que trança todas as frentes do trabalho apostólico do
Papa Francisco é o amor. O amor à humanidade, o amor à Criação, o amor à Igreja
e aos seus fiéis. Jesus amou até o fim. Francisco amou até o fim. O legado,
portanto, é seguirmos nesse amor incondicional ao propósito deixado por Jesus
de Nazaré, assim como Francisco o fez.”
Ao longo de seus 12 anos
como líder da Igreja Católica, o papa Francisco buscou
aproximar a instituição de questões sociais contemporâneas, promovendo reformas
internas e defendendo pautas até então inéditas no Vaticano.
Desde o início de seu
pontificado, Jorge Mario
Bergoglio deu
sinais de que seu papado seria diferente. Falou sobre refugiados,
população LGBTQIA+ e defendeu mais participação das mulheres na Igreja — sempre
respeitando os limites da tradição clerical. Em um congresso sobre mulheres
no Vaticano, destacou:
No mundo, onde as mulheres ainda sofrem tanta violência e
desigualdade, a educação feminina é temida, mas essencial para o
desenvolvimento humano. Rezemos e nos comprometamos com isso."
Canonizações
Francisco também foi o
responsável por canonizar a primeira santa brasileira nascida no
país, Irmã Dulce, em 2019. Conhecida
como “o anjo bom da Bahia”, ela passou a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres.
Já em 2020, beatificou o
jovem italiano Carlo
Acutis, conhecido como “padroeiro da internet”, cuja
canonização foi marcada para abril de 2025 após o reconhecimento de um segundo
milagre.
Enfrentamento
O papa também enfrentou
com firmeza os escândalos de abusos sexuais na Igreja. Estabeleceu
protocolos de denúncia, punições internas e adotou uma política de tolerância
zero.
A Igreja deve ter vergonha e pedir perdão. Deve agir com
humildade cristã para que isso nunca mais se repita", afirmou em uma de
suas homilias.
Francisco promoveu
o diálogo inter-religioso, com encontros marcantes com líderes do islã, do
judaísmo e de outras tradições cristãs. Para ele, “a verdadeira fraternidade se
constrói com respeito às diferenças e abertura ao outro”.
Crítico do consumismo,
defendeu em discursos uma sociedade mais justa e consciente. No Natal de
2023, alertou: "Dominados por uma maré de distrações e publicidade,
corremos o risco de negligenciar o que é essencial."
Reformas e diplomacia
Internamente, reformou a
Cúria Romana e criou órgãos de controle financeiro no Vaticano, em
resposta a escândalos de corrupção. A justificativa oficial foi “melhorar o uso
de recursos, especialmente os destinados aos pobres e marginalizados”.
MAGISTÉRIO
Documentos de Francisco: relembre o legado escrito deixado pelo
Papa
Em 12 anos de
pontificado, Francisco escreveu sete Exortações Apostólicas, quatro Encíclicas
e duas Bulas; relembre um pouco sobre estes documentos
Aproximadamente oito meses após o início de seu pontificado, em
24 de novembro, o Vaticano apresentava ao mundo a primeira Exortação Apostólica
do Papa Francisco: a Evangelii
Gaudium – A Alegria do Evangelho.
O documento foi considerado o programa destes 12 anos de pontificado do
Pontífice argentino.
“A
Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram
com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da
tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem
cessar a alegria”, escreveu Francisco na introdução.
Foi
neste documento que o Santo Padre frisou o pedido por uma “Igreja em saída”,
mais missionária. Ele também enfatizou a necessidade de uma maior inclusão
social dos pobres, do estabelecimento da paz e de um diálogo social. O documento
teve como encerramento uma perspectiva espiritual, um convite a um compromisso
missionário, com renovado impulso.
Amoris Lætitia
Em 19 de março de 2016, as famílias foram tema da segunda
Exortação Apostólica de Francisco, fruto do Sínodo sobre as Famílias: a Amoris Lætitia – A
Alegria do Amor. O
documento trouxe respostas às muitas famílias que necessitam de orientação,
colocando-as no centro da atenção pastoral da Igreja.
O documento inspirou o Papa a convocar para 2021 o “Ano especial
dedicado à Família Amoris
laetitia”. O período foi de aprofundamento da exortação e de
encorajamento para a vivência desta vocação com santidade.
Gaudete Et Exsultate
Gaudete Et Exsultate – Alegrai-vos e Exultai –
foi a terceira Exortação do Santo Padre. Datada de 19 de março de 2018, seu
tema central é a santidade. “O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida
verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera
que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa”, escreveu
o Papa.
O
chamado à santidade é patente de várias maneiras, desde as primeiras páginas da
Bíblia, enfatizou Francisco. Na exortação, ele deixou bem claro que o texto não
era um tratado sobre a santidade, com muitas definições e análises, mas uma
tentativa humilde de fazer ressoar mais uma vez o convite a viver a santidade,
encarnando-a no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades.
Christus Vivit
Direcionada aos jovens, a Christus Vivit – Cristo Vive,
foi escrita pelo Santo Padre para reforçar a presença de Jesus Ressuscitado
entre os mais novos. O documento também foi fruto de um processo sinodal – o
Sínodo sobre os Jovens. Francisco definiu a Exortação Apostólica como uma
“carta que recorda algumas convicções” da fé católica “e, ao mesmo tempo,
encoraja a crescer na santidade e no compromisso em prol da própria vocação”.
No
documento, publicado em 29 de março de 2019, o Pontífice recordou o que a
Palavra de Deus diz sobre os jovens, sublinhou Jesus Cristo como o “jovem entre
os jovens” e afirmou a estes fiéis: “Vós sois o agora de Deus”.
Querida Amazônia
A Exortação Apostólica pós sinodal Querida Amazônia, publicada em 2 de fevereiro
de 2020, foi definida por Francisco como uma síntese de algumas grandes
preocupações já manifestadas por ele em documentos anteriores.
Os
sonhos do Papa para a Amazônia estão presentes no texto. O Pontífice enfatizou
o desejo de que a Amazônia pudesse integrar e promover todos os seus
habitantes, extraindo o melhor de si mesma, que fosse ecologicamente cuidada e
Jesus anunciado em seu território de forma respeitosa.
Laudete Deum
Em 4 de outubro de 2023, foi publicada a Laudete
Deum – Louvai a Deus.
Sobre a crise climática, o Santo Padre sublinhou que o texto retomava um
convite que São Francisco de Assis fez com a sua vida, seus cânticos e os seus
gestos.
“Não há
dúvida que o impacto da mudança climática prejudicará cada vez mais a vida de
muitas pessoas e famílias. Sentiremos os seus efeitos em termos de saúde,
emprego, acesso aos recursos, habitação, migrações forçadas e noutros âmbitos.
Trata-se dum problema social global que está intimamente ligado à dignidade da
vida humana”, alertou.
O
pedido de Francisco foi por uma reconciliação da humanidade com o mundo. Ele
apontou a urgências de ações grandes e coletivas em prol do meio ambiente, mas
também direcionou um apelo aos católicos. O Pontífice reforçou que o empenho
nesta causa tem a ver com a dignidade pessoal e com os grandes valores e que os
pequenos esforços, quando somados, também podem contribuir para grandes
processos de transformação ambiental.
C’est La Confiance
A última Exortação Apostólica do Papa Francisco foi a C’est
La Confiance – Só a Confiança,
por ocasião do 150º Aniversário do Nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus e
da Sagrada Face. O documento é de 15 de outubro de 2023.
O Santo
Padre descreveu Teresinha como uma das santas mais conhecidas e amadas em todo
o mundo. “Como sucede com São Francisco de Assis, é amada até por não-cristãos
e não-crentes. Foi também reconhecida pela UNESCO entre as figuras mais
significativas para a humanidade contemporânea”.
O
texto, explicou o Pontífice, apresenta Santa Teresa do Menino Jesus e da
Sagrada Face Face como fruto maduro da reforma do Carmelo e da espiritualidade
da grande Santa espanhola.
“Sua
vida terrena foi breve (apenas vinte e quatro anos) e simples como qualquer
outra, passada primeiro em família e depois no Carmelo de Lisieux. A
extraordinária carga de luz e amor, que irradiava da sua pessoa, manifestou-se
logo depois da sua morte, com a publicação dos seus escritos e as graças
inumeráveis obtidas pelos fiéis que a invocavam”, escreveu.
No
último parágrafo, o Papa afirmou que Teresa está mais viva do que nunca no meio
da Igreja em caminho, no coração do Povo de Deus. “Está a peregrinar conosco,
fazendo o bem sobre a terra, como tanto desejou. O sinal mais belo da sua
vitalidade espiritual são as inúmeras «rosas» que vai espalhando, isto é, as
graças que Deus nos concede pela sua intercessão cheia de amor, para nos
sustentar no percurso da vida”.
Encíclicas e Bulas
Nestes 12 anos, Francisco escreveu quatro Encíclicas: Lumen fidei (29 de junho de 2013), Laudato si’ (24 de maio de 2015), Fratelli tutti (3 de outubro de 2020) e Dilexit nos (24 de outubro de
2024).
De
forma respectiva, as cartas dissertavam sobre a fé, a casa comum, a
fraternidade e a amizade social, e sobre o amor humano e divino do coração de
Jesus.
Misericordiae Vultus (11 de abril de 2015) e Spes non Confundit (9 de maio de
2024) foram duas Bulas de autoria do Santo
Padre. Na primeira, o Pontífice proclamou o Jubileu Extraordinário da
Misericórdia e, na segunda, o Jubileu da Esperança, este Ano Santo que está em
vigor na Igreja.
Além
das encíclicas e exortações, Papa Francisco escreveu várias cartas, Motu
proprio, cartas apostólicas e constituições apostólicas.
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