quarta-feira, 16 de abril de 2025

I- REFLEXÃO DOMINICAL I- “AMOU-NOS ATÉ O FIM”

 

I-         REFLEXÃO DOMINICAL I-

 

“AMOU-NOS ATÉ O FIM”

 

Com esta solene celebração vesper- tina, iniciamos o Tríduo Pascal. Esta mesma celebração se estende por três dias, trazendo à tona o grande mistério de salvação que celebramos e revivemos. É o mistério do amor do Senhor Jesus que realiza o pro- jeto de amor do Pai, com a força do Espírito Santo. É o mistério que toca o coração do ano cristão porque os acontecimentos revividos nestes três dias constituem o coração de toda a história. “É a Páscoa do Senhor!” (cf. Ex 12,11), é a passagem de Deus que liberta o seu povo oprimido e aviltado da escravidão do Egito, é a passagem de Cristo que nos salva e que trans- forma a nossa humanidade oprimida. Entramos no Tríduo Pascal com um banquete. Foi precisamente de um banquete que nosso Salvador quis iniciar a ação decisiva da nossa re- denção. Eis o reconhecimento positi- vo de uma realidade comum e precio- sa, como, na vida humana, uma mesa posta com comida! Um grupo de pessoas reunidas em torno de uma mesa sempre expressa, pelo menos implicitamente, um desejo de comu- nhão, um desejo de amizade sincera, uma busca de serenidade e harmonia. Quando chega a hora da sua Pás- coa, a hora da passagem, da nossa redenção, Jesus escolhe este sinal do banquete, significativo e humano, e carrega-o de uma graça inaudita. Seu banquete não é mais apenas um sinal, mas se torna um sinal eficaz, isto é, um sacramento. Assim nasce a Eucaristia: tesouro divino que fica para sempre nas mãos dos homens. Ela nos é dada como um dom de um amor que atinge a máxima intensida- de. Somos, pois, exortados a continu- ar o banquete eucarístico sem inter- rupção “até que Ele venha” (cf. 1Cor 11,26) A noite do dom da Eucaristia, o maior dom do amor, é também a noite da traição. Não conseguiremos compreender toda a profundidade da Quinta-feira Santa se esquecermos desta sombra inexplicável e trágica que paira sobre a Última Ceia do Senhor. O evangelista João nos recorda isso sem atenuar, dizendo que, “enquan- to comiam”, “o diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão” (cf. Jo 13,2), o desejo de trair Jesus. São Paulo também observa cuidado- samente em seu relato que o grande dom da Eucaristia foi dado por Jesus precisamente “na noite em que foi entregue” (cf. 1Cor 11,23). É uma história dramática, que nos obriga a recordar, juntamente com a generosi- dade do Senhor, a terrível possibilida- de do homem rejeitar o seu criador. Originalmente a palavra “tradire” significa “entregar”. Jesus deixou-se entregar aos seus inimigos e, por isso, quis sofrer, entre todos os so- frimentos, também o amargo e pun- gente sentimento da ingratidão e da traição, a resposta inexplicável do homem à sua iniciativa de amor. De- vemos sempre temer a nós mesmos e, mesmo que pareçamos amar o Senhor, nunca devemos deixar de rezar com trepidação para que a graça da perseverança e de um coração grato nos seja concedida até o fim de nos- sos dias. Mas ao mesmo tempo em que foi entregue aos seus inimigos, Jesus também se entregou aos seus amigos, também se entregou a nós, para fortalecer na nossa adesão e co- munhão com Ele. Naquela noite da Última Ceia em Jerusalém, no mesmo cenáculo, à mes- ma mesa, opuseram-se o amor de Deus e a traição do homem. Mas o amor de Deus venceu, como nos ensina a Eucaristia. Na Eucaristia, Deus se aproximou tanto do homem que, doravante, ninguém deve se sentir sozinho e abandonado diante das forças do mal. Nunca como na Quinta-feira Santa teremos outra certeza reconfortante de que o Senhor está verdadeiramente conosco. Irmãos e irmãs, Ele ama até o fim ao ponto de levar seu amor até o fim, até o extremo: Deus desce de sua glória divina, deixa de lado as vestes de sua glória divina e veste as vestes de um escravo. Ele desce até as profundezas da nossa fraqueza e nos lava. Por fim, este amor faz com que Ele esteja continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e nos presta o serviço da purificação, fazendo-nos capazes de Deus. Seu amor é inesgotável, porque nos amou até o fim.

 

 Dom Cícero Alves de França Bispo Auxiliar de São Paulo Vigário Episcopal para a Região Belém

 

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