I-
REFLEXÃO DOMINICAL I-
O CAMINHO DE TOMÉ E O AMOR DE JESUS
Hoje, último dia da Oitava de Páscoa, o
Evangelho narra sobre a primeira e a segunda aparição do Senhor Ressuscitado
aos discípulos. Jesus vem na Páscoa, enquanto os Apóstolos estão fechados no
Cenáculo, por medo, mas como Tomé, um dos Doze, não está presente, regressa
oito dias depois (cf. Jo 20, 19-29). Concentremo-nos nos dois protagonistas,
Tomé e Jesus, olhando primeiro para o discípulo e depois para o Mestre. E entre
eles surge um lindo diálogo. O apóstolo Tomé, sobretudo. Ele representa todos
nós, que não estávamos presentes no Cenáculo quando o Senhor apareceu e não
tivemos outros sinais físicos nem aparições d'Ele. Também nós, como aquele dis-
cípulo, por vezes temos dificuldade: como podemos acreditar que Jesus
ressuscitou, que nos acompanha e é Senhor da nossa vida sem o termos visto, sem
o termos tocado? Como podemos acreditar nisto? Por que o Senhor não nos dá um
sinal mais evidente da sua presença e do seu amor? Algum sinal que eu possa ver
melhor... Bem, nós também somos como Tomé, com as mesmas dúvidas, o mesmo
raciocínio. Mas não devemos ter vergonha disto. Ao contar-nos a história de
Tomé, de fato, o Evangelho diz-nos que o Senhor não procura cristãos perfeitos.
A aventura da fé, como para Tomé, é feita de luzes e sombras. Se não, que tipo
de fé seria? Ela conhece tempos de consolação, ímpeto e entusiasmo, mas também
de cansaço, desorientação, dúvida e escuridão. O Evangelho mostra-nos a “crise”
de Tomé para nos dizer que não devemos temer as crises da vida e da fé. As
crises não são um pecado, são um caminho, não devemos receá-las. Estimados
irmãos e irmãs, é melhor ter uma fé imperfeita, mas humilde, sempre orientada
para Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e
arrogantes. Ai destes, ai! E perante a ausência e o caminho de Tomé, que muitas
vezes também é nosso, qual é a atitude de Jesus? O Evangelho diz duas vezes que
ele “veio” (vv. 19.26). Uma primeira vez, depois uma segunda vez, oito dias
mais tarde. Jesus não desiste, não se cansa de nós, não tem medo das nossas
crises, das nossas fraquezas. Jesus volta sempre, bate sempre à porta, e não
volta com sinais poderosos que nos fariam sentir pequenos e inadequados, até
envergonhados, mas com as suas feridas; ele volta mostrando-nos as suas chagas,
sinais do seu amor que abraçou as nossas fragilidades. Irmãos e irmãs,
especialmente quan- do experimentamos cansaço ou mo- mentos de crise, Jesus, o
Ressuscita- do, deseja regressar para estar conosco. Ele espera unicamente que
o procuremos, que o invoquemos, até mesmo que protestemos, como Tomé,
mostrando-lhe as nossas necessidades e a nossa incredulidade. Ele regressa
sempre. Porquê? Porque é paciente e misericordioso. Ele vem para abrir os
cenáculos dos nossos medos e das nossas incredulida- des, pois quer sempre
dar-nos outra oportunidade. Jesus é o Senhor das “outras oportunidades”: Ele
dá-nos sempre mais uma, sempre.
Papa Francisco (Regina Caeli, 24 de abril de
2022)
https://arquisp.org.br/wp-content/uploads/2025/01/Ano-49C-30-2o-DOMINGO-DE-PASCOA.pdf
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