VI-
REFLEXÃO DOMIBICAL I
MULHER, POR QUE DIZES ISTO A MIM?
Pode
parecer que Jesus não falasse direito com sua mãe. Quando os pais reencontram o
menino, no Templo, depois de três dias, diante da aflição de sua mãe, Ele
respondeu como se não entendesse as preocupações de seus pais. E o diálogo se
deu com sua mãe, Maria. Agora, na festa de casamento, quando a mãe se dirigiu a
Ele para falar-lhe do possível constrangimento dos noivos porque o vinho tinha
acabado, Jesus respondeu como se não quisesse se inteirar do assunto. Aliás, as
respostas de Jesus a Maria foram sempre em forma de perguntas: “Por que me
procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?” (Lc 2,49)
“Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou” (Jo,2,4). O
fato é que as palavras de Maria dirigidas a Jesus oferecem sempre um contraste
que contextualiza o que Ele vai dizer ou fazer. Na perda e encontro, apesar de
Jesus aparentemente desconhecer a preocupação dos pais, o texto se conclui
dizendo que “Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a
eles. Sua mãe guardava todas essas coisas no coração” (Lc 2,51). Nas bodas,
embora Jesus tivesse dito que sua hora ainda não tinha chegado, “Sua mãe disse
aos que estavam servindo: ‘Fazei o que ele vos disser’” (Jo 2,5). O contraste
mostra que Jesus, mesmo sabendo que estava no mundo para obedecer à vontade do
Pai do céu, naquele momento, voltou para casa e obedeceu aos pais da terra. Nas
bodas, mesmo sabendo que sua hora ainda não tinha chegado, isto é, que o grande
sinal que realizaria seria dar a sua vida pela humanidade, cumprindo a vontade
do Pai Celeste, naquele momento, Ele antecipou a sua glória, realizando um
primeiro sinal, atendendo ao pedido de sua Mãe. Dessa forma, não há como não
reconhecer a eficácia da intercessão de Maria que, naquele momento, era apenas
sua Mãe, mas que intercedeu pelos homens; e que na hora do seu grande sinal,
ela seria dada por Mãe a toda a humanidade: “Mulher, eis o teu filho!... Eis
tua mãe!” (Jo 19,26). A confiança de Maria de que Jesus não lhe negaria o seu
pedido era tanta que, mesmo tendo ouvido que a hora dele ainda não tinha
chegado, ela se dirigiu aos servos para dizerlhes que fizessem tudo o que Ele
dissesse. O amor e a maternidade de Maria pela humanidade era tantos que ela
disse a Eles, sem nenhuma hesitação, para que obedecessem a seu Filho.
Portanto, Maria tinha e tem uma palavra de intercessão para Jesus: “Eles não
têm mais vinho”. E tinha uma palavra profética para os servos da festa de
casamento, que servem para a humanidade e para cada um de nós: “Fazei o que ele
vos disser”. Foram as últimas palavras de Maria nos evangelhos. Quase como se
fosse o seu testamento. As últimas palavras de Jesus para sua Mãe, no alto da
cruz, se referindo ao discípulo amado, foram: “Mulher, eis o teu filho!” E as
últimas palavras de Jesus para os seus discípulos, representados pelo discípulo
amado, do alto da cruz, foram: “Eis a tua mãe!” Jesus não era, portanto,
irreverente com sua Mãe. Chamála de “Mulher” remete à figura da primeira
mulher, lembrando que “O homem chamou à sua mulher “Eva”, porque ela se tornou
a mãe de todos os viventes (Gn 3,20). Maria, a nova “Eva”, ao lado do novo
“Adão”, obedeceram a Deus em tudo. Por isso, ela se tornou a Mãe de toda
humanidade. E intercede por cada um de nós. Dom Rogério Augusto das Neves Bispo
Auxiliar de São Paulo
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