VIII-
REFLEXÃO DOMINICAL III
"Vinho
Novo"
Não sei dizer a razão pela qual faltou o vinho nas Bodas de
Cana, talvez a família não tivesse muitos recursos e fez uma festa bem modesta,
só para os mais íntimos. Também pode ser que o Encarregado da cozinha, tenha
errado no cálculo, ou então, porque havia um número excessivo de “penetras”. Só
sei que os convidados das bodas de Canaã ficaram admirados com a qualidade e o
sabor inigualável daquele vinho que serviram na última hora, quando muitos já
estavam até embriagados. Os discípulos e os que serviam estavam de boca aberta,
pois só eles sabiam que todo aquele vinho delicioso fora tirado de seis talhas
de barro, cheias de água. Um prodígio promissor para Jesus iniciar seu
ministério!
Em Israel muita gente andava descontente com a religião, porque
transformaram o Deus da Aliança, tão rico em bondade e misericórdia, em um
legislador implacável, alguém frio que passava os dias observando atentamente
quem ousava desrespeitar a lei de Moisés. As pessoas iam ao templo ou nas
sinagogas com o coração pesado, por medo do que pudesse acontecer, se deixassem
de observar alguma das mais de seiscentas leis e prescrições da religião.
Existiam para os faltosos a possibilidade de se livrarem da culpa, cumprindo os
rituais de purificação feitos com água, mas que também era complicado pois
naquele tempo não se tinha a facilidade da água encanada como hoje.
Às vezes a prática da religião se torna um peso quase
insuportável, as vezes ao receber um sacramento, ou ao término de alguma
celebração, há quem dê um suspiro de alívio “Arre ! já cumpri minha obrigação e
estou livre!” para curtir o domingão. Certa ocasião depois da celebração de
crisma, um adolescente em frente a igreja dava pulos e esmurrava o ar
festejando quando alguém perguntou; “ feliz com a crisma recebida?” . ---Muito
feliz --- desabafou o jovem – pois agora não preciso mais vir à igreja e estou
livre!
Para ir a uma festa, um dia antes já estamos na expectativa, já
para ir à igreja, chegamos na última hora e ás vezes, se a celebração se
alongar um pouco, saímos antes da bênção final pois só temos paciência para
agüentar a missa por uma hora. Precisamos rever o que está errado, nossas
liturgias não podem resumir-se ao “oba-oba” mas temos que lhe dar vivacidade para
que as pessoas saiam convencidas da graça de Deus e cheias de coragem para dar
testemunho.
Não vale a pena praticar esse tipo de religião meramente cultual
! Nas bodas de canã Jesus, ao transformar a água da purificação em vinho da
melhor qualidade, acabou com essa “chatice religiosa” mas muitos ainda hoje
insistem em beber desse vinho azedo de uma religião angustiante, que bota
freios no ser humano e coloca em seus olhos uma “viseira” para somente enxergar
na direção que aponta os dirigentes “iluminados” sendo terminantemente proibido
olhar em outra direção.
A verdadeira religião supõe liberdade e uma alegria incontida
pelo fato de se tomar conhecimento de que Deus, apaixonado pelo homem,
manifestou o seu amor no seu filho Jesus, que ao chegar a sua hora, a hora de
mostrar a que veio, em um gesto de loucura aos olhos de muitos, derramou até a
última gota do seu sangue na cruz do calvário, para que nós pudéssemos ser
felizes e ter uma vida nova como homens livres.
É este o pensamento que deve nortear a nossa relação com Deus no
âmbito da Igreja, uma alegria de saber que ele nos ama tanto, que ele só quer o
nosso bem em seu sentido mais pleno, um amor que nos ama sem exigir nada, sem
cara feia, sem mau humor, sem palavras amargas e sem nenhuma censura – Deus é
amor infinito, bondade eterna e misericórdia para sempre! É essa, portanto, a
novidade que Jesus traz ao mundo nas bodas de canã, ele é na verdade o noivo
apaixonado pela noiva que é a Igreja, assembléia de todos os que crêem. Uma
noiva não muito bela e nem sempre fiel, que às vezes se deixa seduzir por
outros “amantes”
Entendida e aceita essa verdade, a Palavra de Deus celebrada e
proclamada em nossas comunidades, é uma carta de amor que ouvimos com o coração
aos pinotes, e a eucaristia se transforma em um jantar a luz de velas com
Cristo Jesus, o amado de nossa vida , ao sabor do vinho novo da graça
santificante que nos salva e liberta. Irradiar este amor a todos com o
testemunho de vida, é a única forma de transformar a sociedade e não adianta se
buscar outras alternativas, pois somente assim a glória de Cristo será
manifestada semeando a fé no coração dos descrentes! (2º. Domingo do Tempo Comum João 2,
1-11)
José da Cruz é Diácono
da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
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