X- Entrevista – Jubileu de Esperança 2025: A esperança não
decepciona nem engan
Por Dom João Justino de Medeiros Silva*
Dom João Justino, poderia nos falar um pouco de sua vida: onde o
senhor nasceu, sua família, vocação, estudos…?
João Justino: Nasci na cidade de Juiz de
Fora, em Minas Gerais. Sou o quarto filho de uma família de cinco filhos; tenho
duas irmãs e dois irmãos. Nasci em 1966, um ano após o Concílio Vaticano II.
Fui tomando consciência do que era a Igreja por meio da catequese, em
preparação à primeira Eucaristia. Ali, na comunidade paroquial Nossa Senhora
do Líbano, na cidade de Juiz de Fora, pude fazer todo o itinerário de crescimento
de fé e crescimento vocacional, tendo ido, em fevereiro de 1984, para o
Seminário Arquidiocesano Santo Antônio, onde estudei Filosofia e Teologia.
Também estudei Ciências Sociais, na Universidade Federal de Juiz de Fora, e
tive ainda a oportunidade de estudar Pedagogia. Fui ordenado padre em dezembro
de 1992. Trabalhei dezesseis anos na formação presbiteral, no seminário
arquidiocesano em Juiz de Fora. Atuei em três paróquias. Fui nomeado bispo
auxiliar de Belo Horizonte em dezembro de 2011. Em Belo Horizonte fiquei até
2017, quando fui nomeado arcebispo coadjutor de Montes Claros, norte de Minas.
Ali fui arcebispo metropolitano e, em dezembro de 2022, fui nomeado arcebispo
de Goiânia. Na CNBB, tive a oportunidade de presidir dois mandatos: a Comissão
Episcopal para Cultura e Educação e, em maio de 2023, fui eleito primeiro
vice-presidente. Neste momento, estou também coordenando a Comissão Especial
para o Jubileu do ano 2025.
A Igreja se prepara para viver o “Jubileu de Esperança”, que será
inaugurado em 24 de dezembro de 2024. Por que o papa Francisco escolheu o tema
da esperança e afirma que todos somos “peregrinos de esperança”?
João Justino: É
importante lembrar que o papa Francisco foi eleito em março de 2013. E logo ele
quis oferecer à Igreja a oportunidade de um jubileu extraordinário, fora das
datas mais comuns dos jubileus. Teve início, em dezembro de 2015, o Jubileu
Extraordinário da Misericórdia. Naquele momento, o papa nos deu uma bula com o
título: “Jesus, o rosto da misericórdia do Pai” [Misericordiae
Vultus]. E foi um Ano Santo belíssimo, marcado inclusive por uma
lembrança muito forte: a indicação do papa de que, em todas as dioceses, os
bispos diocesanos estabelecessem portas santas, para visibilizar a experiência
da passagem, da mudança na vida, a partir da experiência da misericórdia. Pois
bem, o papa celebrou o Ano Santo da Misericórdia e agora se aproxima o Jubileu
de 2025, quando celebraremos 2.025 anos do nascimento de nosso Senhor Jesus
Cristo. Em si, o jubileu já era esperado, previsto, mas o papa Francisco nos dá
essa novidade que é caracterizar, tematicamente, esse jubileu, propondo como
eixo o tema da esperança.
O papa, em fevereiro de 2022, escreveu uma carta a Dom Rino
Fisichella, que é hoje pró-prefeito do Dicastério para a Nova Evangelização.
Nessa carta, o papa apresenta a esperança como tema do Jubileu de 2025. O tema
“Peregrinos de esperança”, apresentado em 2022, inscreve-se no contexto
pós-pandemia. Naquele momento, ainda estávamos com muitos reflexos da pandemia
do coronavírus, que ceifou, só no Brasil, praticamente setecentos mil vidas e,
no mundo, mais de dez milhões de vidas. Foi um impacto, uma experiência muito
dura, que tocou o coração das pessoas, trazendo desesperança, a muitos o
desânimo, muitas perdas em vários âmbitos da vida. Além disso, outro fator é o
contato direto que o papa tem com a realidade múltipla de sofrimento no mundo
inteiro, países em que a fome ainda é uma realidade muito dura, as situações
das guerras. Recentemente, tive acesso a um relato de que há, neste momento, no
mundo inteiro, 52 países em situações de conflito. Quando são consideradas
guerras entre países ou nacionais, fala-se de 92 países envolvidos. Há muita
gente sofrendo com guerras. Há, também, o problema seriíssimo da migração.
Então, o papa Francisco, vendo essa realidade, reconhece que é preciso manter
acesa a chama da esperança. Essa esperança nos foi dada já na experiência da fé
batismal, no amor de Cristo que foi derramado em nossos corações, como diz o
apóstolo Paulo: “a esperança que não decepciona”, ou “que não engana”. Aliás, é
este o título que o papa escolheu para a bula que publicou no dia 9 de maio de
2024: Spes non Confundit (“A esperança não engana, não
decepciona”). Um convite a que nós, cristãos, retomemos e renovemos a
esperança, que é e está diretamente associada à fé e à caridade como uma das virtudes
teologais. Por isso “Peregrinos de esperança”.
O papa reconhece que todos nós
esperamos; faz parte da condição humana, da natureza humana, a experiência da
esperança. Pode estar, às vezes, num nível meramente terreno, mas, do ponto de
vista da fé, se abre ao transcendente, à dimensão sobrenatural, à dimensão
divina, o que é próprio de nós, que celebraremos o jubileu. Não se esquecendo
de que viver é peregrinar. A peregrinação é uma metáfora da história, da vida
de cada um de nós e da própria história humana. A gente pode dizer “peregrinar
humano sobre esta terra”, para dizer que a vida é uma peregrinação.
Para Paulo Freire, a esperança não é um substantivo, mas um verbo:
“esperançar”. Segundo Santo Agostinho, “a esperança tem duas filhas lindas, a
indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como
estão; a coragem, a mudá-las”. Como definir a esperança?
João Justino: Se olharmos o Catecismo da
Igreja Católica, há um conjunto de parágrafos, depois você pode conferir,
parágrafos 1.817 a 1.821. Lá se fala da esperança como uma das virtudes
teologais. De um modo muito simples de entender, ela corresponde à aspiração de
felicidade colocada por Deus no coração de toda pessoa. Isto é, toda pessoa que
vem a este mundo tem, em seu coração, uma aspiração à felicidade. Isso
corresponde à esperança. É por isso que, no caso, Paulo Freire, criando o verbo
“esperançar”, para traduzir a ideia de “mais do que esperar, mas viver
permanentemente movido pela esperança”, corresponde à palavra que você, padre
Antonio Iraildo, recordava de Santo Agostinho. A esperança tem duas filhas
lindas, a indignação e a coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as
coisas como estão. Então, a esperança tem forte acentuação no agir, pois, se é
preciso ter coragem para mudar as coisas que não estão bem, isso significa que
a esperança está ligada à ordem do agir, da ação. E essa ação há de ser movida
pela aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de toda pessoa.
Lembrando que é a felicidade do Reino, não é a felicidade terrena, não é a
felicidade que corresponde apenas à posse dos bens materiais. Essa felicidade é
fugaz, passageira. Trata-se daquela felicidade da qual experimentamos lampejos
neste mundo, mas está aberta à
vida eterna, à vida definitiva. Nesse sentido, a esperança é o próprio Senhor:
nós esperamos nele, esperamos ele, esperamos com ele. E toda expressão de
comunhão com nosso Senhor Jesus Cristo haverá de suscitar em nós, renovar em
nós, fortalecer em nós a esperança. Há uma frase de Charles Péguy, um escritor
católico francês, da passagem do século XIX para o século XX, que é muito bela,
muito simples. Ele diz que “a caridade ama aquilo que é, e a esperança ama o
que será”. Repito, Charles Péguy diz: “A caridade ama aquilo que é, e a
esperança ama aquilo que será”. E aí entendo, por exemplo, por que as pessoas
se dão em casamento. Elas se amam e depositam grande amor uma na outra, e a
esperança de que aquele amor que estão vivendo será ainda mais fecundo no
futuro. Por isso as pessoas se dão em casamento; por isso os casais acolhem o
dom da vida, acolhendo os filhos; por isso os pais educam seus filhos, na
esperança de que amanhã eles serão jovens, adultos, estarão amadurecidos,
realizarão em sua vida tantos projetos. Então, a esperança nos move nesse
sentido de amar aquilo que será. Isso nos faz agir hoje. Não esperamos de
braços cruzados, mas esperançamos. Agimos com esperança.
O tema do jubileu – “Peregrinos de esperança” – faz-nos lembrar
que estamos sempre a caminho e que a esperança é nosso horizonte. Olhando para
nossa realidade brasileira, marcada por contrastes sociais e econômicos, onde,
no espaço da política, vivemos uma sensação constante de polarizações, que
influi também nas relações humanas, como alimentar a esperança de uma sociedade
mais fraterna?
João Justino: Creio que aqui estamos falando
do tema da esperança no horizonte do Jubileu do ano de 2025, estamos no registro
da fé. Eu diria assim: uma esperança meramente terrena poderá enganar-se, poderá
ser fonte de engano para muitos, poderá não conduzir a um caminho em que a
pessoa experimente fazer parte de uma história que não termina em nós, mas está
aberta ao definitivo, está aberta ao céu, podemos dizer assim. E aí, para os
que têm fé, a esperança está conectada ao mistério pascal. Cremos que a vida
vence a morte, porque a vida venceu a morte em Jesus Cristo. Jesus acolheu a
cruz, aceitou a cruz, entregou sua vida nela e a venceu por dentro. Ora,
podemos, nesse sentido, dizer que, para os cristãos, a própria cruz é sempre
sinal de esperança. E aí compreendemos que somos chamados a alimentar a
esperança em uma sociedade mais justa, mais fraterna, que supere as
desigualdades que diminuem a dignidade das pessoas, ou lhes roubam a dignidade,
ou as humilham em sua condição humana. A esperança em uma sociedade reconciliada
pede de nós, cristãos, a coragem de viver de modo pascal. O que é viver de modo
pascal? É perceber que todos os dias somos chamados a alimentar-nos da fé no
mistério da Páscoa, lembrando que as dificuldades que podemos viver, os
momentos difíceis, as tristezas, as angústias, tantas formas de sofrimento,
tudo isso poderá ser transformado e é transformado cada dia. Então, viver de
modo pascal é entender que todos os dias estamos passando por esse processo de
transformação. É bela a natureza quando nos dá o exemplo da borboleta, não é? A
lagarta se transforma em borboleta. Mas há um processo ali, processo que pede
algum tempo. Nossa vida pede atenção, porque às vezes precisaremos de pequenos
períodos, às vezes de períodos mais longos, mas sempre alimentando em nós a fé
e a esperança de que alcançaremos aquilo que é o melhor, que viveremos e
experimentaremos a vitória da vida sobre a morte, da alegria sobre a tristeza,
da esperança sobre a desesperança. Nesse sentido, nós, que somos cristãos,
somos movidos pela esperança do Reino. E essa esperança do Reino de Deus nos
alimenta, em cada dia de nossa vida, uma espiritualidade pascal. A liturgia da
santa missa nos ensina isso todas as vezes que exclamamos: “Anunciamos, Senhor,
a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”. A
esperança está alicerçada aí. Somos semeadores dessa alegria pascal, dessa coragem
pascal, e isso é que alimenta em nós o desejo de fazer o mundo ser melhor, de
modificar as relações, de buscar a prática da justiça, de ser mais criteriosos
no exercício das nossas escolhas, para que estejam em conformidade com o
Evangelho, os valores que Jesus Cristo nos ensina.
Em um cenário global ferido por ódio, guerras, crises humanitárias
e eventos climáticos extremos, qual o lugar da esperança nesse contexto?
João Justino: O lugar da esperança é um lugar
especialíssimo, para que não deixemos que o desânimo, a falta de anima, de
alma, tome conta de nós. Ao contrário, somos chamados à esperança diante de
tantas situações difíceis, de ódio, guerras, crises humanitárias, eventos
climáticos como estes que estamos vivendo. Tudo isso pede de nós, em primeiro
lugar, a coragem, o ânimo, a paciência. É interessante porque o papa Francisco
associa, na bula Spes non Confundit, a esperança à paciência,
dizendo explicitamente (lembrando o apóstolo Paulo): “gloriamo-nos também das
tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; a paciência, a
firmeza; e a firmeza, a esperança”. Então, o papa diz que, em tais situações,
através da escuridão, vislumbra-se uma luz. Descobre-se que a evangelização é
sustentada pela força que brota da cruz e da ressurreição de Cristo, de que
falávamos há pouco, no sentido do mistério pascal. E conclui essa parte,
dizendo que isso faz crescer uma virtude que é parente próxima da esperança: a
paciência, a capacidade de dar tempo (não de modo, vamos dizer assim, inerte;
não estejamos parados). Podemos dizer, uma paciência ativa, que, nesse
sentido, se associa muito a uma palavra a que hoje se recorre, “resiliência”, a
capacidade de a pessoa superar seus problemas com mais tranquilidade, com mais
serenidade, com leveza, com sabedoria. Se quisermos citar a música ou a poesia:
“Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Viver essa resiliência, que
pede de nós a coragem, a paciência, tudo isso são facetas da esperança. Se
perdemos a esperança, quando caímos, não queremos levantar. Mas a esperança é
aquilo que nos atrai, lembra aquilo que falávamos antes, a aspiração de
felicidade colocada por Deus no coração humano. Mesmo nas dificuldades, lembrar
sempre que Deus já semeou em nosso coração esse desejo pela felicidade.
Portanto, é algo que precisamos puxar lá de dentro, disso que o Senhor semeou
em nós, para superarmos essas situações tão adversas que vivemos em nosso
tempo.
A esperança cristã é nosso guia. Essa esperança não decepciona,
como ensina o apóstolo Paulo e o lema do jubileu ilumina: “A esperança não nos
decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações” (Rm 5,5). Como
viver o jubileu em um
“Toda pessoa que vem a este
mundo tem, em seu coração, uma aspiração à felicidade. Isso corresponde à
esperança.”
Brasil tensionado pelo discurso de ódio, muitas vezes disseminado
inclusive por boa parte da parcela que se diz cristã?
João Justino: Nenhum de nós pode se esquecer
de que toda celebração do jubileu traz em si um apelo à conversão. Originalmente,
na Sagrada Escritura, sabemos que o jubileu é um tempo de recomeço. Mas não é
possível recomeçar sem revisão de vida. Portanto, celebrar o jubileu é estar
atento àquilo que precisamos fazer de modo diferente em nossa vida. Repito,
todo jubileu traz em si um apelo à conversão, ou um apelo a renovar nossa
adesão de fé; por conseguinte, traz um apelo ao perdão. Ora, ninguém poderia
celebrar o jubileu sem disposição para tornar mais intenso, mais sólido, mais
forte, mais fecundo seu vínculo de fé, que faz da pessoa, do crente, um fiel
discípulo missionário do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, a
celebração do jubileu é para experimentarmos a graça do perdão, da conversão,
da misericórdia, da clemência de Deus. Deus é indulgente conosco, é clemente,
é misericordioso, em vista da nossa conversão. Portanto, cada um de nós precisa
escutar, no tempo do jubileu, este apelo de voltarmos mais para o Senhor. Isso
significa aprofundar nossa experiência de fé, nossa adesão a Jesus Cristo,
ponderar se não estamos nos deixando levar por aquilo que é periférico na nossa
fé e deixando o que é mais essencial de lado. O jubileu é também tempo para um
recomeço, que supõe uma purificação; traz também o apelo à unidade. E esse em
especial, pois estaremos celebrando os 1.700 anos do Concílio de Niceia,
recordando que, infelizmente, tivemos diversas experiências de separação ao
longo destes 1.700 anos; recordando que o apelo à unidade é apelo já presente
no Evangelho de Jesus Cristo: “Pai, que todos sejam um, como eu e tu somos
um”. Jesus ora ao Pai pela unidade dos seus discípulos. Por Providência divina,
no ano de 2025, todos aqueles que celebram a Páscoa a celebrarão no mesmo dia,
pois a data da Páscoa, no ano de 2025, coincidirá para todos os cristãos.
Trata-se certamente de um sinal de Deus para nos convidar a intensificar o
sentido da nossa comunhão, da busca por unidade e, reitero, por uma vivência
mais coerente da fé cristã, dos valores cristãos.
O que podemos fazer, em nossas comunidades e paróquias, para
vivenciar o jubileu em comunhão com toda a Igreja?
João Justino: Primeiro, seria muito interessante
que, para compreender o sentido deste jubileu, as pessoas todas pudessem se
dedicar à leitura da bula. Embora o nome “bula” não seja muito conhecido,
trata-se de um documento do Santo Padre que indica a promulgação do jubileu: em
latim, Spes non Confundit, ou seja, “a esperança não
engana” (Rm 5,5). São poucas páginas, 25 parágrafos, mas é um texto muito
importante de ser conhecido, de ser lido; portanto, de ser meditado. É uma
fonte de meditação, uma fonte de oração. Quem ler vai encontrar muitas inspirações
para viver e celebrar o Jubileu de 2025. Segundo, é importante estar atento aos
vários exercícios que vão ser oferecidos, as atividades na sua comunidade de
origem, na sua paróquia ou na sua diocese. Muitos são os eventos que
acontecerão em Roma. Mas a Roma irão, aproximadamente, duzentos mil
brasileiros como peregrinos. O papa sabe que os milhões e milhões de
brasileiros que não irão a Roma celebrarão o jubileu em terras brasileiras, nas
suas dioceses, nas suas comunidades. Então, é importante estar atento à
programação que sua comunidade estará vivendo. Veio-me também sugerir que cada
um se prepare para o jubileu fazendo uma espécie de pequeno projeto pessoal
para vivê-lo, considerando as dimensões da vida, como a pessoal, a eclesial e a
social. Ou aqueles três níveis que, em muitos documentos da nossa Conferência
Episcopal, costumamos trabalhar: a pessoa, a comunidade e a sociedade. Cada um
poderia se perguntar: “Como vou renovar minhas esperanças? Como vou cuidar da
esperança, entendida como aspiração à felicidade que Deus semeou em meu
coração, considerando a mim mesmo, minha pessoa, considerando minha comunidade,
considerando a sociedade?” Aí cada um poderá fazer seu projeto pessoal, como
às vezes fazemos no tempo quaresmal, em vista da Páscoa, ou no tempo do
Advento, em vista do Natal. Agora podemos fazer um projeto pessoal, que você
pode guardar no seu coração como projeto, em que você poderá investir seu
tempo, suas energias, sua atenção, enfim, sua vida, para alcançar aqueles
horizontes que estão ali, inspirados no tema do jubileu. E em relação às redes
sociais, eu indicaria assim: vamos todos fazer um voto pessoal. Qual? De
utilizar as redes sociais para comunicar a esperança. Não façamos das redes
sociais um lugar para semear ódio, mentiras, fake
news, calúnias, mas vamos comunicar a esperança, vamos animar as
pessoas a colocar seu lado bom, que é sempre maior dentro de cada um de nós,
para atuar na vida onde estejamos; que ali seja o espaço de deixarmos a
bondade que está em nós, que somos nós, ganhar mais espaço, mais visibilidade.
Fazer um voto pessoal para utilizar as redes sociais e comunicar a esperança,
sempre. Creio que isso será muito importante. São coisas que pensei
naturalmente, não quis aqui entrar em muitas atividades que são próprias do Ano
Jubilar: as peregrinações, a abertura, que acontecerá solenemente em cada
diocese no domingo, 29 de dezembro, os momentos penitenciais que poderão ser
vividos… Quis destacar, sobretudo, este aspecto de como, conhecendo a bula,
também vamos nós fazer um projeto pessoal para viver o jubileu.
O senhor poderia nos deixar algumas palavras de incentivo e uma
bênção para todo o povo de Deus das comunidades, especialmente no sentido de
alimentarmos sempre mais a esperança, em comunhão com o papa Francisco, que tem
insistido conosco para uma Igreja em saída, uma Igreja sinodal, que
verdadeiramente caminha unida?
D. João Justino: Nesta palavra final, recorro à
ajuda do cardeal José Tolentino. Ele tem um livro belíssimo, O
poder da esperança, e em uma das páginas ele diz: “Os cristãos vivem a esperança
em trânsito pascal, em saída. A esperança não se esgota nunca no presente, ela
é tensão, emergência do futuro”. Então, se queremos viver, se queremos olhar
para a frente, se temos diante de nós tantos horizontes, às vezes horizontes
que estão com algum obstáculo, alguma nuvem, alguma sombra, não tenhamos medo;
pelo contrário, tenhamos coragem, paciência, resiliência e esperança para
continuar nosso caminho, lembrando que o amor de Deus foi derramado em nossos
corações. Esse amor, a esperança na forma de viver, de amar aquilo que será,
para citar Péguy novamente, sustentem nosso caminho. Quero concluir fazendo
uma brevíssima oração que está em nosso Missal Romano, na nova edição, uma
oração de bênção. O ordinário da missa tem várias orações sobre o povo para o
fim da celebração. E temos, no número 19, uma bela oração. Eu a faço e peço a
bênção de Deus para todos: “Atendei, Senhor, os que vos suplicam e acompanhai
os que colocam sua esperança em vossa misericórdia, para que sigam firmes no
caminho da santidade e, conseguindo o necessário para esta vida, possam
tornar-se herdeiros das vossas promessas eternas. Por Cristo, nosso Senhor”.
Que o Senhor abençoe a todos, a você, meu irmão, a sua família e a sua
comunidade. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Dom João Justino de Medeiros Silva*
*Conversa com dom João Justino de Medeiros Silva sobre o Jubileu
de 2025, transcrita da live realizada com Pe. Antonio Iraildo, pelo canal do
Youtube da Paulus, em 26 de junho de 2024, às 15 horas
(https://www.youtube.com/watch?v=DjKJGEDiV18). Dom João Justino é arcebispo
metropolitano de Goiânia e o primeiro vice-presidente da CNBB.
https://www.vidapastoral.com.br/edicao/a-esperanca-nao-decepciona-nem-engana/
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