VVIII REFLEXÃO DOMINICAL II
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2 de
fevereiro – APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Por Gisele Canário*
Revelação e glória para seu p
I. INTRODUÇÃO GERALovo
A festa da Apresentação
do Senhor é um momento importante no calendário litúrgico. A celebração
rememora a apresentação de Jesus no templo, rito judaico de purificação e
consagração ao Senhor, conforme prescrito na Lei de Moisés. Esse evento cumpre
a Lei e, mais do que isso, revela Jesus como a luz que ilumina todas as nações
e a glória de Israel. A liturgia deste dia é uma espécie de convocação à
reflexão sobre a manifestação do projeto de Jesus como luz do mundo e o
cumprimento das promessas do Reino de amor do Deus da vida.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Ml 3,1-4)
Malaquias é um livro que
se situa no período do pós-exílio e aborda a realidade de uma comunidade
desanimada com a problemática política e religiosa em torno de Jerusalém. Esse
discurso se dá em forma de diálogo com o povo, mas principalmente com os
sacerdotes que mantêm o mono- pólio do templo e com a elite que controla Judá.
É nesse momento de turbulência que o profeta anuncia a chegada de um mensageiro
que preparará os caminhos do Senhor.
O grupo de Malaquias
possui um olhar e um coração atentos aos pobres e oprimidos. São os levitas que
anunciam a chegada de Javé, que irá julgar o comportamento injusto da sociedade
(Ml 3,5; cf. Lv 19,13; Dt 24,17-21). No campo religioso, há o perigo da
opressão. Nesse sentido, os feiticeiros e adúlteros são utilizados como
exemplos daqueles que agem fora do sistema reinante no templo de Jerusalém (cf.
Dt 13,2-19; 18,9-12).
Em Ml 3,1-4, o
mensageiro é descrito como um agente de purificação, comparado ao fogo do
fundidor e ao sabão dos lavadeiros. Esse momento de purificação é necessário
para que os filhos de Levi consigam oferecer sacrifícios agradáveis ao Senhor.
A profecia de Malaquias, sem dúvida, aponta para uma religião autêntica,
baseada na justiça e na fidelidade ao Deus da vida.
2. II leitura (Hb 2,14-18)
Quando esse texto de
Hebreus foi escrito, a comunidade cristã estava passando por um momento de
muita perseguição. Para evitar perseguições, a comunidade judaico-cristã,
leitores originais, buscavam retornar ao judaísmo. O autor da carta, então,
busca encorajá-los a persistir no projeto de Jesus. Para isso, apresenta Jesus
como maior que todos os elementos da Antiga Aliança, incluindo os sacerdotes e
os sacrifícios do templo.
No trecho de hoje, o
autor enfatiza a humanidade de Jesus. Este assume a carne e o sangue,
partilhando da condição humana em sua totalidade. A encarnação de Cristo é
percebida como ato de profunda solidariedade.
Jesus se torna “irmão”
de todos os humanos, no sentido mais concreto do seu projeto: experimenta a
tentação e o sofrimento e, por isso mesmo, entende e socorre todos os que
buscam e estão sendo tentados. Ele transcende o papel tradicional segundo o
qual o sumo sacerdote é o mediador entre Deus e o povo, ao oferecer sacrifícios
pelos seus pecados.
Então, Jesus vai muito
além do modelo tradicional, que é pura ritualidade no tem plo. O poder da morte
e das forças opressivas é destruído por meio da humanidade de Jesus, um irmão
solidário que caminha ao lado de cada pessoa.
3. Evangelho (Lc 2,22-40)
Conforme prescrito na
Lei de Moisés, Maria e José se dirigem ao templo para ali apresentar Jesus,
cumprindo a Lei ao oferecer um par de pombinhos, sacrifício permitido aos
pobres. A narrativa é inclusiva: os mais pobres são parte do projeto do Deus da
vida.
Simeão e Ana são
personagens que representam o remanescente fiel de Israel, aguardando a
redenção e consolação de Jerusalém. Simeão profetiza, por meio do Espírito, que
Jesus será a salvação preparada por Deus para todos os povos. O reconhecimento
público de que Jesus será “luz para revelação aos gentios e glória de Israel”
faz parte dessa profecia, carregada de significado histórico e teológico.
Aqui se faz presente o
cumprimento das promessas do Deus da vida e a expectativa da chegada do
Messias, tão enraizada na cultura judaica. Ana, profetisa já idosa, confirma
que Jesus é o Messias, simbolizando a perseverança e a esperança do povo de
Deus ao longo dos séculos. O testemunho feminino no seio das primeiras
comunidades cristãs possibilita a continuidade do espírito profético presente
em Israel.
A inclusão de Simeão e
Ana na narrativa mostra a ênfase de Lucas em que o Evangelho é para todos,
principalmente para os mais pobres, que esperam a redenção. A Nova Aliança se
faz presente por meio de Jesus, e essa aliança traz luz e glória para todas as
nações, principalmente para aqueles que desejam seguir o projeto de Cristo.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
– Jesus
como luz e revelação. A apresentação de Jesus no templo revela
como sua presença será a luz que ilumina as nações e possibilita o bem para
Israel. Queremos ser portadores dessa luz em nossa vida e em nossas
comunidades, trazendo esperança e revelação às pessoas ao nosso redor?
– Purificação
e renovação. A profecia de Malaquias e o rito de apresentação
no templo sublinham a necessidade de purificação e renovação da amplitude da
vida. Queremos adotar uma fé mais autêntica e alinhada com os ensinamentos de
Jesus?
– Solidariedade
e serviço. A carta aos Hebreus fomenta a solidariedade de
Jesus com a humanidade. Em que aspectos podemos refletir essa solidariedade em
nossa vida diária, estendendo a mão aos necessitados e sendo instrumentos de
reconciliação?
– Testemunho
e esperança. Simeão e Ana nos mostram que a perseverança e a fé
devem persistir em nossas escolhas diárias. Como podemos nos tornar testemunhas
fiéis da esperança cristã, especialmente em tempos de dificuldades e
incertezas, portadores de um conservadorismo que muitas vezes nos leva à
intolerância e à morte?
– Convite
ao compromisso. A festa da Apresentação do Senhor nos convida
a celebrar Jesus como luz para nossa vida e a espalhar seu amor, a fim de que o
mundo seja pleno em sua luz, livre de tantas guerras e de toda forma de
hostilidade contra a obra criadora de Deus. Por meio de sua encarnação, o
Senhor se solidariza com a humanidade, trazendo purificação, renovação e
esperança. Somos convocados para refletir essa luz em nossa vida, vivendo de
acordo com o projeto do Evangelho e sendo testemunhas fiéis da salvação que nos
livra de todo ódio e intolerância para com o diferente. Que possamos, como
Simeão e Ana, reconhecer a presença de Jesus em nosso meio e proclamar a
Boa-nova da redenção a todos.
Gisele Canário*
*é mestra em Teologia, com ênfase em Exegese Bíblica (Antigo
Testamento), pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Possui graduação em Teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores. É
licenciada em Geografia pela Universidade Cruzeiro do Sul e assessora no Centro
Bíblico Verbo, onde atua, desde 2011, com a confecção de material para estudos
bíblicos, gravação de vídeos, formação em comunidades eclesiais e cursos
bíblicos on-line.
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/2-de-fevereiro-apresentacao-do-senhor-3/
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