I-
LITURGIA DO
QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA –ANO C
- A obra salvífica-escatológica a que se
refere o Apocalipse não é obra humana, mas unicamente de Deus. Não seremos nós
os edificadores dos novos céus e da nova terra. Entretanto, como discípulos
missionários de Jesus Cristo, somos enviados por Ele para realizar a sua obra
de amor neste mundo. Somos chamados a colaborar com o anúncio e a propagação do
"fulgor deste reino esplendoroso" (Sl 144,12) e, por especial graça
do Cristo Ressuscitado, podemos vivenciar, experimentar e, cada vez mais,
construir a graça de um novo céu e de uma nova terra (cf. Ap 21,1).
- No Apocalipse, João vê a Cidade Santa, a
nova Jerusalém, descendo do Céu como uma esposa enfeitada para seu marido (Ap
21,2). A cidade representa o ambiente das relações e vivências humanas.
Jerusalém é a cidade que Deus amou de maneira particular aqui na terra, a
cidade que escolheu para pôr o seu Nome (cf. 2Cr 6,6). A nova Jerusalém, a
Cidade-Esposa de Deus, é a imagem da Igreja, a Esposa pela qual Cristo, o
Noivo, se entregou por inteiro. É nessa nova cidade - onde Deus estabelece sua
morada para sempre e habita com seu povo - que Cristo, o Cordeiro que "faz
novas todas as coisas" (Ap 21,5), promove a renovação. Seus habitantes são
aqueles que estão em Cristo e se tornaram novas criaturas, os cidadãos do novo
céu e da nova terra: "Se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas
antigas passaram, e eis que surgiram coisas novas" (2Cor 5,17). Assim, é
por meio de Cristo e da abundante graça que Ele derrama em seus Sacramentos que
já podemos experimentar, neste tempo, as novidades do mundo vindouro. -
Caminhamos na vida nessa duplicidade - na dialética do "já e do ainda
não". Já vivemos da glória e da graça do novo céu e da nova terra, pois já
somos criaturas novas e habitamos a "Jerusalém celeste" (a Igreja).
Contudo, ainda transitamos neste primeiro céu e nesta primeira terra, onde o
mar - símbolo bíblico do mal - ainda existe. Enquanto peregrinamos neste mundo,
convivemos com suas dores, ambiguidades, injustiças e sofrimentos. Embora este
mundo esteja corrompido pelo pecado humano, ele é redimido pela vitória de
Cristo na Cruz, e nele convivemos tanto com desolações quanto com as
consolações de Deus. Ainda há dor, luto, choro e morte; porém, isso não deve
nos desanimar, pois somos "Peregrinos de Esperança". Nossa esperança
é o novo céu e a nova terra. E, tendo a certeza dessa esperança, quem poderá
nos desanimar?
- É vivendo no amor de Cristo que, desde já,
estabelecemos o novo céu e a nova terra. Não há outra lei para a Cidade Santa,
a nova Jerusalém, senão a Lei do Amor. Pois tudo passará, exceto a caridade - o
amor - que jamais cessará. Como está escrito: "Agora permanecem essas três
coisas: fé, esperança e amor. Destes, o maior é o amor" (1Cor 13,13).
- Esse ensinamento nos remete ao Evangelho
que ouvimos hoje. O contexto é a Última Ceia, logo após Jesus revelar a traição
de Judas, que então se retira. Naquele momento, Jesus inicia seu discurso de
despedida, preparando os discípulos para os fatos que se sucederiam,
confortando-os e incentivando-os para a missão que prosseguiria, mesmo sem sua
presença física entre eles. A lei que Jesus deixa é única, um mandamento novo,
não tanto por seu conteúdo, mas por seu significado, alcance e exemplo:
"Amaivos, como EU vos amei" (Jo 13,34). Esse é o diferencial dos que
estão em Cristo: viver o amor mútuo, à semelhança do Mestre que nos amou
primeiro. São João Crisóstomo, no século V, afirmava que o distintivo do
cristão não reside em milagres, como muitas Igrejas tendem a enfatizar, mas no
amor que nos conduz à salvação e ao ingresso na nova Jerusalém. Ele exclamava:
"Pelo amor, todos vos louvarão, ao verem que imitais a caridade do Senhor.
Mas então não são, principalmente, os milagres que distinguem os discípulos? De
forma alguma: 'Muitos me dirão: 'Senhor! Não foi em teu nome que expulsamos
demônios?' E quando os discípulos se alegravam por os demônios lhes obedecerem,
Jesus lhes dizia: 'Não vos alegreis de que os demônios se vos submetam, mas de
que os vossos nomes estão inscritos no céu'. Jesus não deixou este mandamento
somente para os apóstolos, mas para todos os que viriam a crer. E ainda hoje
nada escandaliza tanto os infiéis quanto a falta de amor."
- Nossa missão é sermos apóstolos do amor,
vivermos esse amor e proclamá-lo com nossas vidas, espalhando o grande prodígio
de Deus entre os homens, como afirmado no Salmo e na primeira Leitura. Paulo,
por onde passava, encorajava seus irmãos e os exortava a permanecer firmes na
fé que haviam recebido. O mandamento novo de Jesus não é fácil. Por isso, Paulo
lembrava seus filhos na fé: "É preciso que passemos por muitos sofrimentos
para entrarmos no Reino de Deus" (At 14,22). Cristo, inclusive, anuncia
hoje a sua glorificação, que se manifesta na libertação total, mesmo que essa
implique a Cruz. Quem quiser segui-lo deve estar disposto a tomar a sua cruz
(cf. Mt 16,24).
- Portanto, irmãos e irmãs, não desanimemos!
Nossa missão é edificar um mundo novo pelo preceito do amor. Não há outro
caminho para construir uma comunidade melhor, uma sociedade mais justa e um
país mais fraterno. Não atentemos às vozes que promovem o ódio e a discórdia
entre nós. Somos apóstolos do amor, enviados a amar uns aos outros e a difundir
o amor de Cristo.
https://diocesedesaomateus.org.br/wpcontent/uploads/2025/04/18_05_25.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário