sábado, 24 de maio de 2025

VI- REFLEXÃO DOMINICAL L O AMOR E O ESPÍRITO QUE NOS ENSINAM TODAS AS COISAS

 

VI-      REFLEXÃO DOMINICAL L

 

O AMOR E O ESPÍRITO QUE NOS ENSINAM TODAS AS COISAS

 

O Evangelho deste sexto domingo de Páscoa é extraído do primeiro dos três “discursos de despedida” contidos no quarto Evangelho: um discurso inteiramente dedicado ao tema do seu iminente retorno ao Pai. O clima só podia ser de preocupação e tristeza porque o destino de Jesus estava prestes a se cumprir. Sua “partida” era iminente. E as palavras do Mestre se referiam a esta circunstância. O raciocínio, porém, não tinha e não poderia ter como objeto o destino de Jesus, mas o dos discípulos que permaneceriam. De fato, uma nova história estava prestes a começar para os seguidores de Cristo. A história daqueles que teriam aderido ao Senhor mesmo sem tê-lo visto. Os temas que se cruzam e são compreendidos são essencialmente dois: o amor a Jesus e o dom do Espírito Santo. Entretanto, os apóstolos ficaram perturbados com as palavras de despedida que ouviram: palavras como “órfãos”, “abandonados”, “vocês não me verão mais”. Só lhes restava uma palavra de consolo: amor! O amor a Cristo não é mais expresso por um mandamento, mas por um firme condicional “se...” do qual surge a escolha de um seguimento fundamental para a salvação: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (Jo 14,23). Jesus ofereceu aos seus discípulos o centro do seu ensinamento ao apresentar o vínculo indissolúvel entre o amor a Jesus e a observância da sua Palavra. O importante para Jesus não é que alguém se lembre dele como um milagreiro ou como um fazedor de milagres. Jesus pede um relacionamento pessoal de amor. A prova de que se ama verdadeiramente o Senhor é a obediência. Não se pode falar de verdadeiro amor ao Senhor se não se observa a sua Palavra. Assim, o amor não é uma declaração de intenção. O amor é um estilo de vida! Quem ama obedece: observa a Palavra do Senhor. As palavras de João em sua primeira carta são reconfortantes, quando ele afirma: “Todo aquele que guarda a palavra de Jesus, nele o amor de Deus é aperfeiçoado” (1Jo 2,5). Existe uma estreita relação entre o amor a Jesus e a observância da sua palavra. Observar a Palavra não é uma obediência anônima, mas significa deixar- -se proteger por ela para que ela nos defenda e nos distinga. A Palavra de vida proclamada por Cristo e acolhida no coração do homem faz do coração a morada terrena do Pai, que ali habita com o Filho e com o Espírito. Que envolve ouvir, meditar, orar e fazer. Estes são os compromissos que caracterizam a comunidade apostólica. Traduzir os ensinamentos de Cristo em experiência de vida cristã é prova da autenticidade do nosso amor por ele. Com esta declaração exigente, Jesus estabelece uma diferença entre aqueles que creem e aqueles que não creem. Quem ama verdadeiramente o Senhor escuta-o, segue-o, deixa-se guiar por Ele, porque sabe que obedecer-lhe não é um peso, mas um sinal de amor. O segundo tema diz respeito à obra do Espírito Consolador que “ensinará todas as coisas”. Após sua morte, Jesus enviará seu Espírito, por meio do qual o Pai e ele mesmo habitarão em seus discípulos. A tarefa do Espírito é ensinar e lembrar. Este é um ensinamento compreendido em sua plenitude. “Tudo” significa sua plenitude, sua razão profunda. Não é apenas uma memória repetitiva, mas uma memória que se atualiza. O Espírito ajuda o discípulo do Senhor a interpretar a própria história à luz da Palavra, para que cada acontecimento se torne lugar de revelação e salvação. Portanto, o trecho do Evangelho indica as diretrizes para um bom caminho que Jesus confiou à comunidade dos discípulos para sua caminhada na história: Palavra, Espírito Santo, Paz, coragem. Jesus, antes de sua paixão, disse aos seus seguidores o que eles deveriam fazer enquanto esperavam seu retorno. Suas palavras não eram destinadas apenas aos doze, mas também aos discípulos de todos os tempos. Devemos então nos perguntar: depois de vinte séculos de cristianismo, o que fizemos com o Evangelho de Jesus? Nós o observamos e praticamos fielmente ou o usamos para nossos próprios interesses? Acolhemos as palavras do Evangelho em nossos corações ou as esquecemos sem qualquer escrúpulo? Nós a proclamamos autenticamente ou a confundimos com outras doutrinas? Deixemos que o Espírito seja o protagonista que mantém a história de Jesus aberta, tornando-a perpetuamente atual e salvífica em nossa vida. Afinal, sem o Espírito, a história de Jesus – incluindo sua ressurreição – teria permanecido uma história encerrada no passado, não um evento perpetuamente contemporâneo que pede cotidianamente que amemos e guardemos Sua Palavra.

 

Dom Cícero Alves de FrançaBispo Auxiliar de São Paulo Vigário Episcopal Região Belém

 

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