X-
REFLEXÃO DOMINICAL II
As obras do amor
incondicional
3º domingo da Páscoa, C
– At 5,27-41; Sl 29; Ap 5,11-14; Jo 21,1-19
Jo 21,1-19 é um texto
muito longo, por isso prefiro comentar os versículos de 15 a 19 que nos trazem
os diálogos de Pedro e de Jesus, porém no texto português não há diferença
entre as três perguntas de Jesus e as três respostas de Pedro. Desta feita,
iremos ao grego, a língua do Novo Testamento. Jesus perguntou: “Simão, filho de
João, “agapas me?” A resposta de São Pedro foi “philo se”. Ele não respondeu
com o mesmo verbo que Jesus utilizou para falar amor, mas utilizou outra.
No grego, existem três
palavras para expressar “amor”. O primeiro é o “eros”, daí vem erótico, um amor
mais sensual; o segundo, “philia”, como em filosofia, um amor de amizade; em
terceiro lugar, “agape”, um amor incondicional semelhante ao amor que existe
entre os esposos no matrimônio. Agape é, portanto, o amor mais elevado,
incondicional.
“Simão, “agapas me”?”
Pedro diz: “não, eu não consigo amar você com esse amor incondicional, mas
apenas com um amor de amizade: “philo se”. Jesus pergunta mais uma vez da mesma
maneira, Pedro responde da mesma maneira. Na terceira vez, Jesus desiste de
pedir um amor-agape a Pedro e contenta-se com um amor-philia. Jesus desce o
nível: “phileis me?” Você me ama com amor de amizade? Pedro responde: “philo
se”, “Eu amo você com amor de amizade”. O que está acontecendo aqui? Dias
atrás, Pedro tinha dido que amava Jesus com amor incondicional: “Ainda que
todos te neguem, eu jamais te deixarei”. Porém Pedro fracassou, pecou, mas
Pedro se arrependeu, pediu perdão, se conhece agora melhor e, portanto, é mais
humilde. Agora sim, Pedro está preparado para continuar a crescer no caminho do
amor, progressivamente, porque é mais humilde, se conhece melhor. E tudo isso é
muito importante.
Pedro reconhece que o
seu amor não é incondicional porque ele não conseguiu sacrificar-se pelo seu
Senhor, mas ele ainda vê que ama Jesus Cristo e aceita reparar suas ofensas. É
belo observar que diante das negativas de Pedro, que não consegue amar de
maneira incondicional, Jesus se rebaixa e pergunta se ele o ama com amor de
amizade. Pedro afirma que sim, ele ama Jesus, porém ele aprendeu que ele é
fraco, que seu amor é débil, mas que ele pode progredir no caminho do amor.
Outra realidade bela que
aparece em cada uma das três perguntas e respectivas respostas é que, em cada
caso, Jesus conecta o amor de Pedro ao trabalho de Pedro: apascentar as
ovelhas. De fato, nós amamos através das nossas obras. Infelizmente,
também na religião entrou um sentimentalismo que anda a professar um amor que
não pede as obras. Certamente não estou a condenar os sentimentos, mas o
sentimentalismo que é uma doença do sentimento. Seria ridículo se um marido
apaixonado dissesse à sua esposa que a ama, porém gastasse o dinheiro
necessário para sustentar a casa no jogo, se bebesse e maltratasse a mulher e
não fosse responsável em casa. Desta feita, qualquer esposa sensata pediria ao
seu marido que parasse de amá-la com esse amor sentimentalista, mas que
começasse a amá-la tomando vergonha na cara e mostrando que, de fato, ama a
esposa e a família, através das boas obras. O amor não é sentimentalismo, mas
obras, ações, trabalhos.
Se você ama a Deus, faça
algo por Deus! Estamos cheios de encontros na igreja, nos quais as pessoas
choram de amor por Deus, porém, depois nada fazem por Deus e por sua glória.
Aquelas pessoas que amam devem fazer como São Pedro (At 5), na qual o Apóstolo
está sendo ameaçado e logo será preso. Pedro ergue-se e diz: “Importa antes
obedecer a Deus do que aos homens!” Pedro cresceu no amor, pois ele já é capaz
de sofrer pelo nome de Jesus. Depois da vinda do Espírito Santo ele será cada
vez mais cheio do amor-ágape, a tal ponto de dar a sua vida pelo seu Senhor:
foi crucificado de cabeça para baixo, confessando o nome de Jesus até ao
derramamento do sangue. O Pedro da “philia” chegou a ser o Pedro do “ágape”.
Nós também precisamos
progredir no amor, porém são as obras que provam o amor à esposa ou ao esposo,
aos pais, aos filhos. Você é capaz de sacrificar algo do tempo ou da sua honra
pelo nome de Jesus? E se Jesus pedir a colaboração com a sua fortuna? Você entregaria
Jesus? Você me ama, então meta a mão no bolso. Certamente esse amor-ágape se
aplica a tudo: na família, na igreja, nas diversas obras de Deus, no estudo, na
obediência que os filhos têm aos pais.
Podemos ser muito
humildes, como Pedro, que reconheceu a fraqueza do seu amor, porém foi
crescendo no amor. Aprendamos com os fracassos de Pedro, porém vamos aprender
com a humildade, auto-conhecimento e seu amor grandioso a Jesus Cristo. Pedro é
fraco como nós, mas, com a graça de Deus, ele é forte. Ele é tão semelhante a
nós, mas também podemos ser muito semelhantes a ele, crescendo no amor de Deus.
As obras são aquelas coisas que provam o nosso amor por Deus.
Padre Françoá Costa
Instagram: @padrefcosta
https://presbiteros.org.br/homilia-domingo-iii-semana-da-pascoa-ano-c/
Nenhum comentário:
Postar um comentário