I-
VIII- REFLEXÃO DOMINICAL II
VII DOMINGO DO TEMPO DA PÁSCOA C
– Ascensão do Senhor
Lc 24,46-53
Caros irmãos e irmãs,
A Igreja celebra neste
domingo a solenidade da Ascensão do Senhor, que deve significar para nós um
canto de vitória e de esperança. Neste dia Jesus sobe ao céu, quarenta
dias após a Páscoa. Contemplamos o mistério de Jesus que deixa o nosso espaço
terreno para entrar na plenitude da glória de Deus. Também nós podemos
olhar para o alto e reconhecer o nosso futuro. Na Ascensão de Jesus, o
Crucificado Ressuscitado, há a promessa da nossa participação na plenitude de
vida junto de Deus. Jesus vai para junto de Deus, mas, ao mesmo tempo,
permanece conosco, ele continua sendo o Deus conosco, o Emanuel, e não nos
deixa sós (cf. Jo 14,19).
A liturgia da Palavra
traz uma passagem do Evangelho de São Lucas, onde podemos ler: “Eu enviarei
sobre vós aquele que meu Pai prometeu, por isso, permanecei na cidade, até que
sejais revestidos da força do alto. Então Jesus levou-os para fora, até perto
de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava,
afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em seguida
voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no Templo,
bendizendo a Deus” (Lc 24,49-52).
São Lucas descreve o
acontecimento da Ascensão também no início do Livro dos Atos dos Apóstolos,
para frisar que tal evento é como o elo que une a vida terrena de Jesus à vida
da Igreja. São Lucas refere-se também à nuvem que subtrai Jesus à vista dos
discípulos, os quais permanecem a contemplar Cristo que sobe para junto de
Deus: “Foi elevado ao céu à vista deles e uma nuvem subtraiu-o ao seu olhar”. E
eles “estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava” (At
1,9-10). Neste instante aparecem dois homens com vestes brancas que os convidam
a não permanecer imóveis a contemplar o céu, mas a alimentar a sua vida e o seu
testemunho com a certeza de que Jesus voltará do mesmo modo como o viram subir
ao céu (cf. At 1,10-11).
Estes dois homens com as
vestes brancas são os mesmos que aparecem no sepulcro, no dia da Páscoa (cf. Lc
24,4). A cor branca representa, de acordo com o simbolismo bíblico, o
universo de Deus. As palavras pronunciadas pelos dois homens constituem a
explicação dada por Deus à ressurreição de Cristo. Indica que Jesus,
condenado à morte pelos homens, foi glorificado. E o fato de serem duas
testemunhas indica a veracidade do fato.
Com o olhar da fé, os
apóstolos compreendem que, não obstante tenha sido subtraído aos seus olhos,
Jesus permanece para sempre com eles e, na glória do Pai, não os abandona. Por
isto, a Ascensão não indica a ausência de Jesus, mas nos diz que Ele está vivo
no meio de nós de um novo modo. E esta é a razão pela qual os discípulos se
alegram. Jesus não se encontra em um lugar específico do mundo, como
antes, agora está no Senhorio de Deus, presente em cada espaço e tempo, próximo
de cada um de nós. Na nossa profissão de fé dizemos que Jesus “subiu ao Céu,
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso”. A vida terrena de Jesus
culmina com o evento da Ascensão, ou seja, quando Ele passa deste mundo para o
Pai e é elevado à sua direita.
A solenidade da Ascensão
do Senhor também nos convida a sermos testemunhas de Jesus que vive na Igreja e
nos corações de todos os povos. No dia da sua ascensão ao céu disse Jesus aos
Apóstolos: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a
criatura… Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com
eles, confirmando a palavra com os sinais que o acompanhavam” (Mc 16,15.20).
Com isto, podemos
observar que a Ascensão de Jesus não indica sua ausência temporária do mundo,
mas, principalmente, inaugura a nova e definitiva forma da sua presença entre
nós; uma realidade, em virtude da sua participação no poder régio de Deus.
Caberá precisamente aos discípulos, fortalecidos pelo poder do Espírito Santo,
tornar perceptível a presença do Cristo entre os homens, mediante o testemunho,
a pregação e o compromisso missionário.
Somos chamados a
testemunhar com coragem o Evangelho perante o mundo, levando a esperança aos
necessitados, aos que sofrem, aos abandonados, aos desesperados, a todos os que
têm sede de verdade e de paz. Fazendo o bem a todos, e sendo solícitos pelo bem
comum, estarão eles testemunhando que Deus é amor.
Como eles, também nós,
aceitando o convite dos “dois homens em trajes resplandecentes”, não devemos
permanecer com os olhos fixos no céu, mas, sob a guia do Espírito Santo, temos
que ir a toda a parte e proclamar o anúncio da morte e ressurreição de Cristo.
A sua própria palavra constitui um conforto para todos nós: “Eu estarei sempre
convosco, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
Em cada Eucaristia que
celebramos é Cristo que se dá a nós, nos edificando com o seu corpo. Os
discípulos de Emaús reconheceram o Cristo na partilha do pão e voltaram
apressadamente a Jerusalém a fim de partilhar a alegria com os irmãos na
fé. Com efeito, a verdadeira alegria é reconhecer que o Senhor permanece
no nosso meio, companheiro do nosso caminho. A Eucaristia nos faz
descobrir que Cristo, morto e ressuscitado, se manifesta como nosso
contemporâneo e caminha com cada um de nós.
A solenidade da Ascensão
do Senhor também nos exorta a consolidar a nossa fé na presença real de Jesus
na história; sem Ele, nada podemos realizar de eficaz na nossa vida e no nosso
apostolado. Como recorda o Apóstolo São Paulo na segunda leitura, a nossa
vocação na Igreja é também a de formar “um só corpo e um só Espírito, como
existe uma só esperança no chamamento que recebestes” (Ef 4,4).
Esta solenidade nos faz
lembrar também que Jesus completa seu itinerário: “Saí do pai e vim ao mundo:
outra vez deixo o mundo e volto para o Pai. Subo para meu Pai e vosso pai,
disse também Jesus a Maria Madalena no mesmo dia de sua ressurreição” (Jo
16,28; 20,17).
Chama a nossa atenção
este último gesto dos discípulos de Jesus: “Eles o adoraram”. Que
saibamos também nós reconhecer o senhorio de Cristo e que saibamos dedicar a
ele, em oração, um pouco do nosso tempo. Com a Ascensão do Senhor, podemos
afirmar que em Cristo a nossa humanidade é levada à altura de Deus; deste modo,
todas as vezes que rezamos, a terra se une ao Céu. E assim como o incenso
queimado faz subir para o alto o seu fumo, também quando elevamos ao Senhor a
nossa oração confiante em Cristo, ela atravessa o céu e alcança o próprio Deus,
e por Ele é ouvida e atendida.
Supliquemos, por fim, a
Virgem Maria, para que nos ajude a contemplar os bens celestes e a sermos
autênticas testemunhas da Ressurreição do seu filho Jesus, que é o caminho, a
verdade e a Vida. E que possamos estar também unidos a Maria em oração,
como ela esteve no Cenáculo, para a Solenidade de Pentecostes, que celebraremos
no próximo domingo. Assim seja.
Anselmo Chagas de Paiva,
OSB
Mosteiro de São Bento/RJ
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