VIII-
REFLEXÃO DOMINICA III- SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA
Meus queridos Irmãos,
Este
domingo vai nos antecipar as meditações próprias do domingo de Pentecostes
sobre o Espírito Santo. João chama pelo “Paráclito”, ou seja, pelo “assistente judicial” no
processo do cristão com o mundo, pois o “mundo” indiciou o Cristo e seus
discípulos diante do Tribunal de Pôncio Pilatos. Nesta situação, precisamos do
Advogado que vem de Deus mesmo e que toma o lugar do Cristo, já que seu
testemunho vem da mesma fonte, que é o Pai. Graças a este Paráclito a despedida
de Jesus não nos coloca numa situação de órfãos. Jesus anuncia para breve seu
desaparecimento deste mundo; o mundo não mais o verá. Mas os fiéis o verão,
pois eles estão nele, como ele está neles. Tudo isso, com a condição de guardar
sua palavra, observar seu mandamento de amor: na prática da caridade, ele fica
presente no meio de nós e seu Espírito nos assiste. E o próprio Pai nos ama.
Irmãos e Irmãs,
A Primeira Leitura(cf. At.
15,1-2.22-29) apresenta o Concílio de Jerusalém. Nesse primeiro Concílio é
narrada a conversão de Cornélio(cf. At 10), a atividade de Paulo e Barnabé(cf.
At 13-14): o delicado problema da jovem Igreja, da admissão dos pagãos, sem que
passem pelo judaísmo, ou seja, sem que sejam circuncidados conforme prescrevia
a antiga lei judaica. O Concílio dos Apóstolos vê com clareza que não a Lei,
mas Cristo é que salva. Todavia, recomenda certas normas práticas para que não
sejam feridas as sensibilidades específicas dos cristãos vindos do judaísmo;
pois é para a fraternidade que Jesus nos salvou.
A questão de
cumprir ou não os ritos da Lei
de Moisés é uma questão ultrapassada, que hoje
não preocupa nenhum cristão. Mas este episódio da primeira leitura vale,
sobretudo, pelo seu valor exemplar. Nos leva o episódio a pensar, por exemplo,
em rituais ultrapassados, em práticas de piedade vazias e estéreis, em fórmulas
obsoletas, que exprimiram num certo contexto, mas já não exprimem o essencial
da proposta cristã. O essencial do cristianismo não
pode ser vivido sem o concretizar em formas
determinadas, humanas e, por isso, condicionadas e finitas. Mas é
necessário distinguir o essencial
do acessório; o essencial deve ser
preservado e o acessório deve ser constantemente atualizado.
É necessário ter presente que o essencial é Cristo e a sua proposta
de salvação. Essa é que é a proposta revolucionária que temos para
apresentar ao mundo. O resto são questões cuja importância não nos deve
distrair do essencial. Devemos, também, ter consciência da presença do
Espírito na caminhada da Igreja de Jesus.
Estimados amigos,
Vivemos um clima de despedida
de Jesus. Mais do que despedidas, temos presentes vários ensinamentos. Jesus
afirma que se manifesta a todos indistintamente e não somente aos apóstolos. Os
judeus queriam o Messias político e repleto de politicagem. Jesus vem na
contra-mão. Determina o fim do monopólio e das oligarquias e quer ser o
salvador de todos, sem exceção, de todos, pagãos e crentes, de todos os seres
humanos.
Jesus hoje nos ensina que a
experiência de Deus é a experiência do amor. Do amor em íntima união com Deus,
e isso só pode acontecer quando observamos e vivemos na prática os santos
Evangelhos.
Hoje o
Evangelho(cf. Jo 14,23-29) fala que nós devemos “guardar a Palavra”. O
que é “guardar a
Palavra”? Guardar as palavras de Jesus é guardar a
Palavra de Deus. Não se trata de coisa decorada, mas vivificada, vivida e
colocada em prática. A Bíblia diria: gravada e fincada no coração.
Como está a nossa relação com a
Palavra de Deus? Uns se escandalizam com ela. Outros a admiram. Outros,
simplesmente, a rejeitam. Outros, ainda, são indiferentes. Muitos tentam
adaptar a palavra de Deus. Outros a deturpam escancaradamente. Alguns são
infiéis na divulgação e na vivência da Palavra santa.
Graças
a Deus muitos vivem e guardam a PALAVRA
DE DEUS, não a letra, mas o espírito que vivifica a vida. Deus
monta morada e tenda em nosso meio pela vivência de sua palavra que é de
salvação.
Meus queridos irmãos,
O que é
guardar a palavra de Deus? É pura e simplesmente viver o AMOR E A PARTILHA. Só
ama aquele que sabe acolher a Palavra de Deus e colocá-la em prática a serviço
da solidariedade, da partilha e da paz!
Deus já havia feito uma aliança
com o povo do Antigo Testamento. O Deus do Antigo Testamento é um Deus que
dialoga, que fala, que se manifesta, que delega a palavra a outros, que faz
dela um ensinamento, uma doutrina, uma lei. É um Deus que se torna vivo e
presente pela Palavra da Salvação.
Assim, ontem e hoje, cada
profeta recebe a palavra a seu modo, mas há nela sempre um encontro muito
pessoal e um comportamento com Deus. A palavra do profeta passa a ser palavra
de Deus, ou seja, o profeta fala em nome de Deus.
O
profeta sempre transmite um recado de Deus e não uma decisão ou uma reflexão
própria: “Ouvi,
céus, escuta, terra, porque o Senhor fala: criei filhos e os fiz crescer, mas
eles se rebelaram contra mim(cf Is 1,2)”.
Muitas
são as outras formas de ser colocada a Palavra de Deus, como por exemplo,
ameaça, julgamento e castigo, norma, lei, mandamentos, fidelidade, amor. Em
tudo devemos “deixar viver na observância da palavra de
Deus” (cf Sl 119,17).
Palavra de Deus dinâmica, viva
e concreta que deve ser vivida com amor e com grande carinho espiritual, em
perfeita comunhão com Deus.
Falar do “caminho” de
Jesus é falar de uma vida gasta em favor dos irmãos, numa doação total e
radical, até à morte. Os discípulos são convidados a percorrer, com Jesus, esse
mesmo “caminho”. Paradoxalmente, dessa entrega (dessa morte para si mesmo)
nasce o Homem Novo, o homem na plenitude das suas possibilidades, o homem que
desenvolveu até ao extremo todas as suas potencialidades.
Caros irmãos,
A Segunda Leitura(cf. Ap
21,10-14.22-23) nos apresenta o esplendor da nova Jerusalém. A nova Jerusalém,
vista pelo visionário, é, como a Igreja, fundada sobre o alicerce dos Apóstolos
e dos Profetas. Ela é totalmente diferente do mundo que conhecemos agora: ela é
santa, repleta de presença de Deus e do Cordeiro. A esta realidade deve aspirar
a História que fazemos. Por isso, é bom observarmos nessa Leitura os nomes das
doze tribos de Israel e dos doze Apóstolos, símbolos do novo povo de Deus
fundamentado nos apóstolos. A ausência do Templo – uma idéia cara ao Novo
Testamento, já que o Cristo substituiu o Templo de Jerusalém pelo seu corpo
ressuscitado(cf. Jo 2,18-22). Sua iluminação: a glória de Deus e o Cordeiro, a
sua lâmpada. Não se deve explicar muito estas imagens. Importa captar o que
elas querem sugerir, num espírito global. É uma cidade que tem doze portas com
os nomes das doze tribos, para acolhê-las no dia em que elas forem reunidas dos
quatro ventos, para existirem na paz messiânica, tendo por centro só e
exclusivamente Deus e o cordeiro. É a cidade para viver na presença de Deus e
de Cristo. E isto é a paz.
São João nos garante que as
limitações impostas pela nossa finitude, as perseguições que temos de enfrentar
por causa da verdade e da justiça, os sofrimentos que resultam dos nossos
limites, não são a última palavra; nos espera, para além desta terra, a vida
plena, face a face com Deus. Esta certeza tem de dar um sentido novo à nossa caminhada
e alimentar a nossa esperança. A Igreja em marcha pela história não é,
ainda, essa comunidade messiânica da vida plena de que fala esta
leitura; mas tem de apontar nesse sentido e procurar ser, apesar do
pecado e das limitações dos homens,
um anúncio e uma prefiguração dessa comunidade
escatológica da salvação, que dá testemunho da utopia e que acende no mundo a
luz de Deus. A humanidade necessita desse testemunho.
Meus queridos Irmãos,
O Novo
Testamento retoma a riqueza do Antigo Testamento no sentido de centrar na
pessoa de Jesus de Nazaré, profeta e legislador, juiz e revelação de Deus,
pois “A Palavra se
fez carne e habitou entre nós!”(cf Jo 1,14).
Há uma
fundamental diferença entre a Palavra dos Profetas e a Palavra de Jesus. No
Antigo Testamento a Palavra era dirigida ao profeta, que falava em nome de
Deus. Cristo, no Novo Testamento, é a palavra de Deus e fala com autoridade
divina a ponto de identificar sua pessoa e sua palavra. Acolher a palavra de
Deus é aceitar a pessoa de Jesus, crendo e fazendo de sua palavra CAMINHO, VERDADE E VIDA.
O discípulo de Jesus não procura os próprios interesses, mas a realização do
projeto de Jesus. O projeto de Jesus é a comunhão da criatura com o Criador.
Deus se manifesta nessa comunhão, em que não somos meros espectadores, mas
participantes: Deus em nós e nós em Deus!
Em miúdos, Deus todo Poderoso
se fez tão próximo de nós, fazendo de nós, comunidade crente, o seu espaço de
vida e de luz, não podemos deixar de louvá-lo e agradecê-lo por esta maravilha
que ele operou.
Um dia
os templos materiais desaparecerão: “Não
vi nenhum templo nela, pois o seu templo é o Senhor, o Deus todo-poderoso e o
Cordeiro”, conforme nos ensina a segunda leitura de hoje
retirada do Livro do Apocalipse.
A cidade santa, Jerusalém, que
descia do céu, de junto de Deus, com a glória de Deus, representa a Igreja,
toda ela impregnada da glória de Deus e do Cordeiro. Verdadeiramente o Cordeiro
imolado e glorioso nos mereceu a graça de podermos participar desta maravilhosa
realidade. Por isso graças e louvores sejam dadas a todo momento, ao Senhor da
Vida e da História, Amém, Aleluia!
Homilia
por: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.
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