IX-
REFLEXÃO DOMINICAL III
IGREJA: COMUNIDADE DE
PESSOAS QUE CONHECEM A CRISTO
“Combati o bom combate, completei a
corrida, guardei a fé.” (2Tm.
4,7)
Celebrar os Apóstolos Pedro e Paulo como testemunho de fé da Igreja una, santa,
católica e apostólica é recordar e ter consciência da vitalidade das raízes
perenes de onde nós surgimos. Os dois Apóstolos foram martirizados em Roma, na
perseguição de Nero, por volta do ano 64 d. C. Pedro é a Pedra que recebe
sua firmeza diretamente da pedra angular que é Cristo; Paulo, a Fonte de onde
flui o ardor missionário nascido do encontro com o Senhor Ressuscitado.
Celebrar sua memória em forma de Solenidade é recordar o caminho de nossa fé ao
longo destes dois milênios e pensar no nosso próprio seguimento de Jesus. Uma
solenidade que desde o século III nos convida a professar a fé e a assumir o
compromisso da missão.
A primeira leitura
(At. 12,1-11) narra um episódio das muitas perseguições
aos cristãos realizadas pelo governador Herodes na sua tentativa de agradar o
imperador romano e se aproximar das autoridades judaicas. Mais do que destacar
o personagem Pedro, deseja apresentar a vida dos primeiros cristãos logo após a
ressurreição de Jesus. Por isto, se enfatiza que a libertação de Pedro não é
resultado de forças da violência, mas da confiança em Deus que ouve a
intercessão através da oração (At.
12,5). A oração da comunidade é respondida com a intervenção de
um mensageiro de Deus (At.
12,7). A oração recebe a resposta de Deus de modo semelhante
como muitas vezes experimentamos quando pedimos ou agradecemos a Deus. Em
última instância, os fatos narrados – sobretudo a milagrosa libertação de Pedro
– desejam revelar, de modo catequético, a solicitude com que Deus cuida da sua
Igreja e dos discípulos que permanecem fielmente dando testemunho da salvação.
A segunda leitura
(2Tm. 4, 6-8.17-18) nos coloca diante de Paulo escrevendo
– a um amigo e colaborador missionário – o seu testamento espiritual. Timóteo
foi o mais valoroso e inseparável companheiro missionário de Paulo. Pela sua
coragem e servidão, Timóteo foi escolhido para ser o primeiro bispo da
comunidade cristã em Éfeso. Apesar da solidão que sente na prisão, da desilusão
com algumas pessoas e o cansaço físico imposto pela idade, o Apóstolo Paulo
permanece ciente de que Aquele que o chamou no caminho de Damasco esteve sempre
ao seu lado ao longo de sua jornada missionária.
Usando as imagens da oferta do sacrifício, da luta e da
competição esportiva, Paulo mostra o final de uma vida oferecida ao Evangelho.
Todavia, ao contrário da coroa de louros oferecida aos atletas (2Tm. 4,8), o Apóstolo
tem plena certeza de que receberá a Cristo. Compreendemos que no fim da vida,
um discípulo de Jesus, apesar dos perigos, desafios e provações, sempre
reconhecerá a permanente presença do Senhor em meio a todas elas. De modo
semelhante a Paulo, os cristãos de todas as épocas devem redescobrir a cada a
presença do Senhor em sua vida, confiar em sua Graça e permanecer fiel ao
Evangelho.
O Evangelho (Mt.
16,13-19) nos introduz no centro da fé dos discípulos em
Jesus. Ao fazer sua profissão de fé, Pedro se torna a voz que comunica a fé da
sua comunidade e recebe de Cristo, nova identidade e missão.
A questão que Jesus propõe é fundamental para a compreensão da sua
identidade (Mt.
16,13). A multidão compreendia e afirmava que Jesus falava em
nome de Deus. Apesar de O enxergar como um profeta enviado da parte de Deus,
faltava a eles o passo decisivo que levava ao encontro pessoal como acontecera
com Zaqueu, o cego Bartimeu ou a Samaritana. Por isso, a grande multidão
permaneceu como “discípulo da curiosidade”. Os discípulos caminhavam com Ele há
quase 3 anos e mesmo assim muitos ainda não sabiam quem Ele era e qual sua
missão.
Em resposta a sua profissão de fé, Pedro é chamado de bem-aventurado porque já
possuía no coração algo precioso que o restante dos discípulos ainda buscava
alcançar. Sua profissão de fé não é fruto puramente da inteligência humana, mas
da misericórdia de Deus (Mt.
16,17). Jesus então confere nova identidade ao discípulo.
Pedro torna-se como pedra, rocha. Recebe o compromisso de manter-se firme e
confirmar os outros discípulos na fé professada. Para ser capaz de tão grande
missão, Pedro recebe as chaves do Reino dos céus e o poder de ligar e desligar
as coisas dos céus e da terra (Mt.
16,19). As chaves representam a missão da Igreja de refletir e
anunciar o mistério do Reino anunciado por Jesus Cristo.
A vida e a evangelização das duas colunas da Igreja que hoje celebramos não se
apoiaram sobre uma mensagem intelectual, mas sobre uma experiência pessoal e
transformadora que resulta numa caminhada sofrida e testemunhada com a palavra
do Evangelho de Jesus Cristo. Hoje, graças aos meios de comunicação, muitos
cristãos tem acesso a todos os livros que a fé cristã produziu ao longo destes
dois milênios. No entanto, apesar da ampla leitura, são poucos que fazem esta
experiência pessoal com Cristo. Como resultado disto, conhecem doutrina moral,
teológica e canônica, mas se tornam incapazes de ter compaixão e solidariedade
como o próprio Cristo teve. O risco é nos tornamos intelectuais nos moldes dos
fariseus, mas distantes da humildade e mansidão do coração de Jesus.
O lugar de Pedro e dos seus sucessores não é um cargo de honra
ou o topo de uma escada para onde se corre afim de subir os degraus enquanto se
derruba os irmãos de fé. O Primado é um serviço. O serviço de apascentar as
ovelhas do Senhor (Jo.21,15ss).
O serviço de presidir a Caridade. Ser Testemunha de Cristo, pastor e servo dos
cristãos são direitos e deveres que Cristo passou a Pedro e a Paulo e aos seus
sucessores, os bispos de Roma e do mundo inteiro, mas também a todos nós que
uma vez batizados nos tornamos igualmente discípulos seus.
Por isto, ao longo de nossa vida e missão, o Senhor permanece mirando com amor
os nossos olhos e sorrindo, repete a pergunta: “E vós, quem dizeis que Eu sou? (Mt. 16,15). E afinal,
quem é Jesus? Nossa resposta como reflexo de nossa caminhada ao seu lado, de
modo semelhante a Pedro e Paulo, não pode ser algo mecânico e intelectual, mas
fruto da presença de Deus em nossa vida e eco da verdade que carregamos no
nosso coração.
Rezemos pelo Santo Padre, sucessor de Pedro, para que Deus Uno e Trino, que a
ele confiou tão desafiante e sublime missão, o ilumine e o torne, cada vez
mais, capaz de confirmar na fé a nós, os seus irmãos.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora
da Conceição – Farias Brito.
https://diocesedecrato.org/homilia-da-solenidade-de-sao-pedro-e-sao-paulo/
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