terça-feira, 26 de maio de 2020

A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS

COVID 19 E SEUS EFEITOS PSICOSSOCIAIS, EM NEUROCIÊNCIAS

Prof. Adilson Luiz P. de Oliveira (*)

1-A temida quarentena.
    
Em princípio quarentena é um termo histórico aplicado às doenças epidêmicas quarentenárias, como cólera, ebola, febre amarela e o tifo exantemático, o termo “quarentena” tem como definição clássica a imposição de reclusão aos indivíduos suscetíveis (ou de animais hígidos) pelo período máximo de incubação de uma doença contagiosa, considerando a data do último contato com um caso clínico, portador ou fonte ambiental da infecção. E indica que determinado indivíduo ou animal deve permanecer isolado de outros de igual natureza durante determinado período pelo risco de transmissão de doenças contagiosas, com restrição à circulação. Tais medidas foram historicamente aplicadas em populações para controle de doenças como hanseníase e peste negra, e mais recentemente, síndrome respiratória aguda (SARS), ebola e as pandemia de influenza H1N1 (2009-2010).

Quando estamos com medo, por exemplo, o nosso corpo entra em estado de alerta, o conhecido estado de "fuga ou luta". No nosso cérebro são desencadeadas várias cascatas, que à luz da neurociência, sobretudo no campo da PsyNeuroImmune - a ciência que estuda as interações entre o comportamento, as funções neurais e endócrinas e os processos imunes─ já se sabe que existem relações diretas entre o sistema nervoso central e o sistema imune. Isso é justificado através da relação dos tipos de estímulos/ estados emocionais aos quais o indivíduo é exposto, como: estresse constante, medo, ansiedade e depressão e a modulação que é gerada no organismo a partir desses estímulos.


Os fatores estressores observados incluem: o próprio estado de quarentena, o qual implica em modificação da rotina e limitação da mobilidade, duração prolongada da quarentena, medo de infecções, frustração, tédio, suprimentos inadequados, informação limitada, perdas financeiras e estigma. Alguns autores sugerem que os impactos psicológicos prolongados gerados pela quarentena podem durar até três anos após, e que o histórico de transtorno mental consiste em fator de risco para a maior durabilidade dos impactos psicológicos negativos.

O temeroso e claustral isolamento social é defendido por especialistas e autoridades da saúde de todo o mundo como uma estratégia psicossocial eficiente contra a propagação do novo coronavírus e da mortandade defendido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde brasileiro. Medidas emergenciais como a quarentena, o fechamento de comércio e proibição de outras atividades sociais buscando evitar que as pessoas se encontrem ou se aglomerem, ajudando no controle da pandemia. Dessa forma, é possível frear a curva estatística de crescimento de casos, evitando totalmente que um grande número de pessoas fique infectada ao mesmo tempo e sobrecarregue os sistemas de saúde nas pré e nas UTI’s.

Apesar de contar com apoio praticamente unânime entre autoridades de saúde e especialistas, o isolamento social é criticado por quem acredita que ele prejudica a economia e a renda da população e usam a política do isolamento vertical.

O crítico mais notório dessa estratégia no Brasil e talvez no mundo é o presidente Jair Bolsonaro com sua logística militar aprovando até o uso com decreto da temida cloroquina. Seu discurso feito em cadeia nacional afirma sempre que: “nossa vida tem que continuar, empregos devem ser mantidos e o sustento da família deve ser preservado”. Estimulando o povo a sair de suas casas e ir para o campo de batalha se expondo ainda mais ao COVID- 19.

2- Distanciamento Social ou Ampliado, Quarentena

Os termos “isolamento social”, “distanciamento social” e “quarentena” vêm sendo usados livremente, às vezes como sinônimos. O Ministério da Saúde, no entanto, oferece definições específicas sobre eles.

Vale lembrar que um grande destaque tem sido atribuído para a participação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, do sistema nervoso autônomo simpático e das citocinas nas sinalizações entre o sistema nervoso central (SNC) e o sistema imune. O sistema endócrino – e, em especial, o eixo hipotálamo-pituitária adrenal (HPA) – (desempenha funções relacionadas à fome, sede, libido e sono) é um dos responsáveis pela relação entre esses dois sistemas. Essa resposta é mediada também por endorfinas, prostaglandina, hormônio do crescimento e, principalmente, no sistema nervoso autônomo simpático (SNAS). É O SNAS quem apronta o organismo para reagir ao medo, estresse/ excitação, preparando o indivíduo e toda a sua "maquinaria interna" para um estado de prontidão.

É a medida que está sendo aplicada atualmente no país. Consiste no isolamento de todos os setores da sociedade, que devem ficar em casa para restringir ao máximo o contato entre as pessoas. O objetivo é reduzir a velocidade de propagação do vírus para ganhar tempo e equipar os hospitais. A desvantagem, segundo o ministério, é que, se prolongada, essa medida causa impactos significativos na economia.

O especialista Guilherme Cunha explica que, quando somos obrigados a nos isolar – como neste momento de pandemia – ou quando o isolamento é secundário a uma patologia (depressão, pânico), alterações neuroquímicas, hormonais e de expressão gênica atuam sobre o cérebro: “Os níveis de dopamina e serotonina se alteram, nos tornamos irritadiços, intolerantes. Nosso indexador temporal e registrador de memórias, o hipocampo, uma estrutura do lobo temporal, sofre estresse oxidativo e fenômenos inflamatórios. Mergulhamos na atemporalidade, não sabemos a hora do dia, esquecemos nossos compromissos”.

O DISTANCIAMENTO SOCIAL SELETIVO, visa uma estratégia, cujo fim é apenas os grupos que apresentam maiores riscos de desenvolver a doença, como os idosos e as pessoas com doenças crônicas (cardiopatias e diabetes, entre outros), ficariam isolados. Os mais jovens podem circular livremente, caso não tenham sintomas. O problema é que os grupos vulneráveis continuam tendo contato com infectados assintomáticos, o que dificulta o controle da epidemia.

Esse tipo de distanciamento foi tentado pelo Reino Unido, mas logo abandonado.

A vantagem, segundo o ministério, é que criaria gradualmente a chamada imunidade de rebanho, situação em que a população cria anticorpos. Mas projeções apontam que esse tipo de abordagem gera um alto número de mortes.

Já o BLOQUEIO TOTAL foi Chamado de lockdown em inglês, é o nível mais alto de segurança, geralmente usado quando há grave ameaça ao sistema de saúde. As restrições à circulação de pessoas são obrigatórias e monitoradas pelos agentes de segurança. É preciso ter permissão para entrar ou sair de uma área isolada. Embora tenha alto custo econômico, o bloqueio total, adotado em países como a China, é eficaz na redução da curva de casos. Segundo o ministério, os países que implementaram o lockdown saíram mais rápido do momento mais crítico da epidemia.

Em estados de fuga ou luta, aos sobreviventes da pandemia, o corpo funciona de uma forma mais seletiva, justamente para reforçar a batalha ou a "saída pela tangente". Por essa seletividade, o corpo tem alguns processos comprometidos, diante da cascata que o medo gera. Pois, a energia é direcionada para lugares específicos, como para músculos (para correr ou batalhar), algumas pessoas não sobrevivem a pandemia do pânico generalizado e se suicidam por não suportar o estresse, a angústia e as neuroses juntamente com as doenças psicossomáticas-cardiopatas-neurológicas-psiquiátricas.

3-Dependendo do tempo da quarentena, muitas empresas vão desaparecer

Desemprego e incerteza também foram consequências que impactaram as pessoas duramente a crise causada pelo novo coronavírus .Pessoas que trabalhavam no setor administrativo de  restaurantes  foram demitidos e outros funcionários a desculpa ou razão foi o motivo real que devido a pandemia obrigatoriamente iria fechar o restaurante sem noção de tempo e volta, e por , a aplicação da quarentena tornaria obrigatória o fechamento dos estabelecimentos cujas atividades não são consideradas essenciais, como bares e restaurantes, sob decreto que deveriam fechar as portas por isolamento e evitar aglomerações de pessoas.

Preocupantemente as dívidas acumuladas, os fechamentos de bares e restaurantes culminaram também no desemprego de quem trabalha em fábricas e pessoas responsáveis pelo almoxarifado cuja dispensa se darão em razão da queda nas vendas. Ser e receber um comunicado de dispensa por corte de gastos, são reais e verdadeiros relatos em tempos de Covid 19. Até motoristas com seu caminhão de entregas foram demitidos se as fábricas suspenderam as atividades de produção comprometendo o sustento de trabalhadores.

Obviamente o 'Cenário catastrófico' irá para outros setores que também prevê demissões em massa que é o de lojas. A Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos) estima que cerca de 4 milhões de pessoas que trabalham na área podem ficar desempregadas, pois quase todos os centros de compras do país fecharam suas portas por tempo indeterminado nas últimas semanas. O cenário da real pandemia é catastrófico. A gente não sabe quanto tempo os shoppings mofando e os comércios de rua vão ficar fechados. As pessoas vão ficar sem trabalhar e sem retorno financeiro com algumas casses podendo contar com o Auxílio Emergencial do governo federal de 600 reais por 3 meses desesperadores. A população vai empobrecer, definhar, adoecer por falta de nutrientes se ONGs e movimentos caritativos populacionais não chegar nos lugares onde o governo desconhece sua real situação de pobreza e empobrecimento vitimizando um número enorme de pessoas já debilitadas pela sua psicossocial vida precária. Muita gente passando o ponto em cidades e outros literalmente falindo comercialmente até chegar uma ajuda governamental como empréstimo a pequenas e grandes empresas.

Nestes cenários de pandemia é impossível não sentir medo, estresse, pânico, levam à diminuição da resposta imune celular e um aumento na resposta humoral, o que favorece a susceptibilidade às infecções!!! É preciso manter a calma diante da pandemia e não "desperdiçar" a bendita imunidade à toa!  Cuidemos da nossa saúde mental, sejamos empáticos com o outro (mesmo de longe).

Perdemos o sono, ou dormimos demais. Comemos pouco, ou comemos demais. Segundo ele, a pandemia do coronavírus tem nos ensinado, mais do que nunca, que Hebb estava certo. “Valorize suas conexões. Seus neurônios agradecem. ”

Neurocientistas, recomendam que o isolamento agressivo já é fonte de vários estudos e pesquisas pelo mundo para saber como o cérebro reage nessa situação de pânico psicossocial empresarial. Há casos extremos com prisioneiros de guerra, com a privação de estímulo em solitárias chegando ao estado de alucinações; até com ratos, que entram em depressão e depois têm dificuldade de se relacionar novamente. No caso imposto pelo risco de contágio da COVID-19, ela explica que quando se tem uma situação de estresse provocada pela mudança abrupta, o sistema nervoso produz substâncias que preparam o corpo para lidar com aquela situação que se apresenta. “Assim, o sistema nervoso simpático é o primeiro a ser ativado, é o que chamamos de luta e fuga, quando há liberação do cortisol, conhecido como o hormônio do estresse.

A pupila dilata, relaxa os brônquios, acelera os batimentos cardíacos, estimula a liberação de glicose pelo fígado, entre outras ações. ” Em vista disto muitos infartos e acidentes vasculares encefálicos acometeram nos que estão ou iram ficar sem chão nesta pandemia.

4- Morte por fome e doenças adversas paralelamente

A crise do coronavírus poderá jogar mais de 265 milhões de pessoas para uma situação de fome. O alerta está sendo publicado nesta terça-feira pela ONU e pela FAO, num informe sobre a desnutrição no mundo em 2019 e as projeções para 2020. Se no ano passado a estimativa era de 130 milhões de pessoas estavam em uma situação severa de fome. Para 2020, porém, as estimativas apontam para a possibilidade de que esse número dobre, principalmente nos países mais pobres do mundo.

O "Covid-19 é potencialmente catastrófico para milhões de pessoas que estão por um fio", da pobreza e doenças autoimunes. Numa reunião mantida pelo G-20, o governo americano bloqueou uma declaração final sob a alegação de que não aceitaria o papel central dado para a OMS, organização mundial da saúde, numa resposta à pandemia. Entretanto, se você comparar o coronavírus com a gripe, podemos ver que o covid-19 é cerca de 10 vezes mais grave, em média, porque a mortalidade da gripe é muito baixa, apenas uma pessoa em cada 10 mil morre. Logo, o cenário muda radicalmente se o novo coronavírus for comparado com outras doenças infecciosas graves, como a raiva (que é transmitida ao homem normalmente pela mordida de animais domésticos) e o Ebola. "A raiva tem uma taxa de mortalidade de aproximadamente 95%, enquanto a do Ebola é de 50%. Essas são doenças muito graves e conhecidas, definitivamente apavorantes e mais graves que o coronavírus". Ainda assim, especialistas acrescentam que a propagação dessas doenças não é tão eficaz quanto a da covid-19.

Por sua vez, temos outros vírus que são mais bem-sucedidos em matar pessoas e que não se espalham facilmente. Portanto, não esperamos que ocorram pandemias globais dessas outras infecções graves. A pesquisa do CCDC afirma que cerca de 80,9% das novas infecções por coronavírus são classificadas como leves, 13,8% como graves e apenas 4,7% como críticas, o que inclui quadro de insuficiência respiratória, falência múltipla dos órgãos e sepse. Diante desses dados, o então presidente da OMS, Tedros Adhan sinalizou-nos em sua fala que a covid-19 não é tão mortal quando comparada a outros corona-vírus previamente registrados, como a síndrome respiratória aguda grave (Sars) e a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers). Mas, o risco de morte no caso da Sars, por exemplo, era muito maior quando o surto eclodiu em 2003, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 10% — foram contabilizados 8 mil casos, sendo 774 mortes. Já a taxa de mortalidade da Mers girava em torno de 20% a 40%, dependendo do local.

Para nosso espanto Benjamin Cowling, professor de Epidemiologia da Universidade de Hong Kong, disse à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que a covid-19 é "definitivamente menos grave que outros coronavírus".

Por fim as atitudes que todos deveriam ter para evitar este descompasso e sobreviver na pandemia:

Primeiro, não durma demais. Ou seja, não pule as alimentações. Se quiser dormir um pouco mais, faça-o, mas sem deixar de tomar o café da manhã, se está acostumado a agir assim. Em segundo lugar, obedeça a um padrão de café da manhã, almoço e jantar. “O cérebro vai entender que você está numa rotina. E mantê-la funcionando é fundamental para não desregular a dopamina e a serotonina, dois hormônios importantes que regulam o bem-estar e a motivação.”

Em terceiro lugar, Luiz Garcia chama a atenção para a importância de se organizar, ou seja, planeje sua semana. O que vai fazer na parte da manhã, à tarde e à noite. E, por último, prepare-se para o trabalho. Se está acostumado a tomar banho e ir trabalhar, faça isso. Mesmo que seja para mudar de cômodo. Só a roupa não tem de ser a formal, de trabalho.

Portanto, para proteger a sua sanidade e manter o cérebro trabalhando sem sobrecarregá-lo com mais mudanças do que as já impostas e incontroláveis diante das circunstâncias, procure cuidar da alimentação, não negligencie o sono,  mexa-se (é possível, sim, mesmo dentro de casa) e encontre uma maneira de se conectar com as pessoas (WhatsApp, crie grupos, Facebook, e-mail, telefone, skype, da janela, chamada de vídeo), sempre respeitando as regras de segurança para evitar a contaminação pela COVID-19.

REFERÊNCIAS
 ALVES, Glaucie Jussilane; PALERMO-NETO, João. Neuroimunomodulação: sobre o diálogo entre os sistemas nervoso e imune Neuroimmunomodulation: the cross-talk between nervous and immune systems. Rev Bras Psiquiatr, v. 29, n. 4, p. 363-9, 2007.
CATTANEO, A.; RIVA, M. A. Stress-induced mechanisms in mental illness: a role for glucocorticoid signalling. The Journal of steroid biochemistry and molecular biology, v. 160, p. 169-174, 2016.
 Kandel, E., Schwartz, J., & Jessel, T. Principles of Neural Science, ed. 4. 2014.
(*) (Neuropsicanálista-pesquisador e bolsista de Neurociências em Harvard/2019-2020)
adisonlpo@gmail.com (022)988200603


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