V-
REFLEXÃO
DOMINICAL II
HOMILIA DO XXIII DOMINGO
DO TEMPO COMUM- ANO C
Meus queridos Irmãos,
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
O livro da Sabedoria nos ensina, na primeira leitura(cf. Sb 9,13-18),
que a sabedoria nunca é conquistada para sempre. É a prece de Salomão pela
sabedoria, especialmente a segunda parte, que ensina o quanto à sabedoria é
indispensável e necessária para os embates chamados diários de nossa caminhada
neste mundo transitório. A sabedoria tão necessária nos dias hodiernos e nesta
sociedade utilitarista em que vivemos o hedonismo campear e a falta de
compromissos que sejam duradouros e sérios. O lucro reina pelo lucro e o
poder pelo poder, sempre se esquecendo que todos os dons devem ser colocados na
gratuidade da graça que provém de Deus Trindade. Assim, a sabedoria ensina a
dar a tudo o seu devido lugar, a ponderar o que é mais e o que é menos
importante. Isso nos leva a conduzir as conclusões que, aos olhos das pessoas
superficiais, parecem loucura.
A Primeira Leitura nos apresenta o discernimento e a ponderação, dons de
Deus. Saber discernir é o que Salomão pediu a Deus(1Rs 3,9). Também o autor do
livro da Sabedoria pede isso e ensina que se deve pedi-lo. Nosso esforço
intelectual não é o suficiente. As faíscas do Espírito Santo não se deixam
programar; devem ser recebidas como dádivas.
Essa sabedoria que é um dom de Deus permite ao homem compreender tudo,
fazer o que agrada a Deus e ser salvo. O livro sagrado parte da constatação da
nossa finitude, das nossas limitações, das nossas dificuldades típicas de seres
humanos, para concluir: por nós, não conseguimos compreender o alcance das
coisas, não conseguimos descobrir o verdadeiro sentido da nossa vida,
apercebermo-nos dos valores que nos levam, verdadeiramente, pelo caminho da
vida e da felicidade. Como chegar, portanto, a “conhecer os desígnios de Deus”?
A perícope só encontra uma resposta: o homem tem de acolher a “sabedoria”, dom
de Deus para todos aqueles que estão interessados em dar um verdadeiro sentido
à sua vida. Só a ação de Deus que derrama sobre os homens a “sabedoria” permite
encontrar o sentido da vida e discernir o verdadeiro do falso, o importante do
inútil.
Meus caros irmãos,
As exigências do seguimento de Jesus parecem loucura extrema: “Odiar
pai e mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs(cf Lc 14,26)”, por causa de
Cristo e de seu Evangelho, não é uma loucura? Não, isso nos ensina São Lucas em
seu Evangelho. É a conseqüência da sabedoria cristã, da ponderação a respeito
do investimento necessário para o Reino de Deus. Começar a construir a torre
sem o necessário capital é que é loucura, pois, todo mundo ficará gozando da
gente porque não conseguiu concluir a obra! O homem sábio e prudente faz o
devido orçamento, decidindo com prudência aonde irá aplicar e investir. No caso
de todos os cristãos, o único orçamento adequado de se investir é o SUPREMO
BEM, sem o qual os outros investimentos ficam sem sentido.
A Segunda Leitura(cf. Fm 9b-10.12-17) nos lembra que não haverá mais
escravo nem oprimido, mas será estabelecido que todos serão irmãos. O escravo
Onésimo fugira de seu dono, Filêmon, discípulo de Paulo. Paulo o envia de
volta, mas agora batizado, portanto, “filho” de Paulo, como o próprio Filêmon.
Por isso, Filêmon o deve receber não mais como escravo, mas como irmão. A
abolição da escravidão ainda não se impunha como perspectiva histórica no tempo
de Paulo, mas mesmo assim devia realizar-se, entre os cristãos, o “nem escravo,
nem livro” de Gl 3,28. Deste espírito novo surgiram também novas estruturas,
que nos fazem perfeitos filhos de Deus pelo batismo.
A Carta a Filêmon é a mais breve e pessoal das cartas de São Paulo. É
endereçada a um tal Filêmon, aparentemente um membro destacado da Igreja de
Colossos. A partir dos dados da carta, podemos reconstruir as circunstâncias em
que o texto aparece. Onésimo, escravo de Filêmon, fugiu de casa do seu senhor.
Encontrou Paulo, ligou-se a ele e tornou-se cristão. São Paulo, que nessa
altura estava na prisão (em Éfeso? Em Roma?), fê-lo seu colaborador e manteve-o
junto de si. No entanto, a situação podia tornar-se delicada se Filêmon se
ofendesse com Paulo; e, do ponto de vista legal, ao dar guarida a um escravo
fugitivo, São Paulo era cúmplice de uma grave infracção ao direito privado.
Enfim, Onésimo corria o risco de ser preso, devolvido ao seu senhor e
severamente castigado. É neste contexto que Paulo resolve enviar Onésimo a
Filêmon. Onésimo leva consigo uma carta, em que Paulo explica a Filêmon a
situação e intercede pelo escravo fugitivo. Com extrema delicadeza, São Paulo
insinua a Filêmon que, sendo possível, lhe devolva Onésimo, já que este lhe vem
sendo de grande utilidade; no entanto, Paulo pede, sugere, mas sem impor nada e
deixando a decisão nas mãos de Filêmon. Para o Apóstolo Paulo o amor deverá ser
a suprema e insubstituível norma que dirige e condiciona as palavras, os
comportamentos, as decisões dos crentes. Ora, o amor tem consequências bem práticas,
que os membros da comunidade cristã não podem olvidar: implica o ver em cada
homem um irmão – independentemente da sua raça, da sua cor, ou do seu estatuto
social. Vistas as coisas nesta perspectiva, não é de estranhar que Paulo
solicite a Filêmon que receba Onésimo não como o que era antes (um escravo),
mas sim como é agora – um irmão em Cristo. Se Filêmon é, de fato, cristão, é
essa a atitude que deve assumir para com Onésimo.
O amor – elemento que está no centro da experiência cristã – exige ao
cristão o reconhecimento efetivo da igualdade de todos as pessoas, apesar das
diferenças de cor da pele, de estatuto social, de sexo, de opções políticas. O
amor exige que as nossas comunidades sejam espaços de comunhão, de
fraternidade, de acolhimento, sejam quais forem os defeitos dos irmãos. Como eu
acolho, nas comunidades, os irmãos? Acolho com carinho e sem distinção?
Irmãos e Irmãs,
O Evangelho de hoje(Lc 14,25-33) nos ensina que o ponto de partida para
a autêntica vivência cristã é o DESAPEGO. Desapego que, inicialmente, foi
pedido aos discípulos e apóstolos, mas que paulatinamente foi entendido como
desejo de Cristo que fosse assumido por toda a COMUNIDADE ECLESIAL. Desapego a
exemplo de Jesus que deixou tudo para trás, não acumulou riquezas, e distribuiu
tudo para os outros, até a sua preciosa vida na Cruz pela salvação de todo o
gênero humano.
A mania das pessoas de possuir bens chega a ser uma doença. Doença que
nos interpela a ficarmos livres de tudo o que nos oprime. O dinheiro em si não
é mal e nem os bens. A maneira como se usa o dinheiro ou se usa os bens
materiais deve ter uma finalidade comunitária, de servir a quem precisa e ao
nosso semelhante. E aceitar a Jesus, na sua totalidade, para sermos um só com
ele, como o verso e o reverso de uma medalha fazem uma unidade nos pede o
DESAPEGO dos bens materiais.
Assim, o Evangelho de hoje nos coloca quatro condições radicais postas por
Jesus para ser cristão:
1. O desprendimento das coisas
familiares;
2. O desprendimento da própria vida e
dos próprios interesses;
3. O desprendimento de qualquer tipo de
posse material ou espiritual;
4. O assumir da cruz, isto é, a própria
história em suas situações concretas no nosso quotidiano.
Jesus por sua vez fez tudo o que falamos acima: deixou a glória do
Paraíso, assumiu a pobreza em todos os sentidos, aniquilou-se a si mesmo,
tomando a condição de servo sofredor, sofreu todas as vicissitudes do seu tempo
e de seu povo e morreu na Cruz pela nossa salvação.
Jesus repartiu tudo o que era e o que tinha com os discípulos, até mesmo
o seu poder divino de perdoar os pecados e de santificar o povo de Deus. Mas
quer repartir hoje e agora também a cruz e a morte, partes integrantes de sua
missão salvadora, e partilhar a ressurreição e a glorificação, nova meta da
criatura redimida.
Irmãos e Irmãs,
Jesus não é contra a família. Jesus não vai na contramão de um cultivo
dos valores pessoais. Tudo o que os homens possuem vem da misericórdia de Deus.
A família é um dom sagrado, a Igreja doméstica. A família vai mal quando ela está
sem Jesus. A família com Jesus é querida e incentivada. Jesus está presente na
família para transformá-la e não somente visitando-a nos batizados, primeiras
eucaristias, missas de exéquias ou matrimônios. Jesus quer caminhar com as
famílias no cotidiano, no dia a dia, sendo presença-presente e viver segundo o
seu Evangelho todos os momentos.
Jesus não vai contra uma vida confortável do ponto de vista individual
ou pessoal. O que Jesus é contra é o egoísmo, a ausência de partilha, da
misericórdia e do perdão. Jesus nos quer misericordiosos, mansos e compassivos.
Jesus não quer uma religião de orações apenas pessoais, mas quer que nós nos
engajemos na vida de comunidade, na Paróquia e na vida da Igreja Particular.
O discípulo renuncia a tudo, principalmente ao seu eu, as suas
exigências, caprichos. O verdadeiro e autentico discípulo pega a cruz de Cristo
e a carrega na dimensão comunitária e pastoral.
O Reino dos Céus é como a torre a ser construída. Tem que ser iniciada
do alicerce, fazendo as bases para que se tenha uma boa sustentação. Assim,
também, é o Reino de Deus que pede o esvaziamento do eu, coisa que exige muito
mais esforço e trabalho do que levantar uma catedral ou arrasar uma montanha. É
preciso assumir a Cruz e estar preparado para a morte, para as perseguições,
para as calúnias, para as fofocas e para as intrigas. E estas surgindo vão nos
purificando, deixando aquilo que realmente é o mais importante, a graça de Deus
que nos embala e nos anima na missão.
Jesus é o Deus que veio ao nosso encontro com uma proposta de salvação,
de vida plena; no entanto, essa proposta implica uma adesão séria, exigente,
radical, sem “paninhos quentes” ou “meias tintas”. O caminho que Jesus propõe
não é um caminho de “massas”, mas um caminho de “discípulos”: implica uma
adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é
para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente
essa opção.
O que Jesus critica nos dois personagens das parábolas é o fato de não
terem tomado tempo para se sentar. Ora, Ele propõe estas duas parábolas no
momento em que convida os seus discípulos a segui-l’O sem condições, e mesmo a
levar a sua cruz, isto é, a aceitar as provas que seguirão ao seu compromisso.
Quer dizer que, antes de seguir Jesus, é preciso reservar tempo para a
reflexão. Jesus não esconde as exigências, mas é preciso perguntar porque O
seguimos, até onde O podemos seguir. É a maneira de Jesus respeitar a liberdade
do homem. Ele não quer discípulos que decidem segui-l’O sem mais nem menos. Ele
não pede a mesma coisa a todas as pessoas, mas a cada um Ele pede para
segui-l’O em função dos seus carismas. Mais uma razão para nos sentarmos e
perguntar: quais são os meus carismas que quero pôr ao serviço do Reino?
Irmãos e Irmãs,
Paulo hoje é focalizado preso. Mesmo na prisão, coloca-se a serviço dos
irmãos, implorando pela liberdade do escravo Onésimo. A comunidade eclesial
deste Domingo dará graças a Deus pela graça de seguir a Cristo, de carregar as
cruzes no seu seguimento, pela liberdade no uso das coisas, sem a elas se
apegar. Pedirá o dom da sabedoria para ser fiel ao seguimento de Cristo. São as
experiências pascais transformadas em ritos no memorial eucarístico que
celebramos. Amém!
Pe. Wagner Augusto Portugal
Homilia Recebida Por Email
https://catequisar.com.br/liturgia/23o-domingo-do-tempo-comum-c-2/
O livro da Sabedoria nos ensina, na primeira leitura(cf. Sb 9,13-18),
que a sabedoria nunca é conquistada para sempre. É a prece de Salomão pela
sabedoria, especialmente a segunda parte, que ensina o quanto à sabedoria é
indispensável e necessária para os embates chamados diários de nossa caminhada
neste mundo transitório. A sabedoria tão necessária nos dias hodiernos e nesta
sociedade utilitarista em que vivemos o hedonismo campear e a falta de
compromissos que sejam duradouros e sérios. O lucro reina pelo lucro e o
poder pelo poder, sempre se esquecendo que todos os dons devem ser colocados na
gratuidade da graça que provém de Deus Trindade. Assim, a sabedoria ensina a
dar a tudo o seu devido lugar, a ponderar o que é mais e o que é menos
importante. Isso nos leva a conduzir as conclusões que, aos olhos das pessoas
superficiais, parecem loucura.
A Primeira Leitura nos apresenta o discernimento e a ponderação, dons de
Deus. Saber discernir é o que Salomão pediu a Deus(1Rs 3,9). Também o autor do
livro da Sabedoria pede isso e ensina que se deve pedi-lo. Nosso esforço
intelectual não é o suficiente. As faíscas do Espírito Santo não se deixam
programar; devem ser recebidas como dádivas.
Essa sabedoria que é um dom de Deus permite ao homem compreender tudo,
fazer o que agrada a Deus e ser salvo. O livro sagrado parte da constatação da
nossa finitude, das nossas limitações, das nossas dificuldades típicas de seres
humanos, para concluir: por nós, não conseguimos compreender o alcance das
coisas, não conseguimos descobrir o verdadeiro sentido da nossa vida,
apercebermo-nos dos valores que nos levam, verdadeiramente, pelo caminho da
vida e da felicidade. Como chegar, portanto, a “conhecer os desígnios de Deus”?
A perícope só encontra uma resposta: o homem tem de acolher a “sabedoria”, dom
de Deus para todos aqueles que estão interessados em dar um verdadeiro sentido
à sua vida. Só a ação de Deus que derrama sobre os homens a “sabedoria” permite
encontrar o sentido da vida e discernir o verdadeiro do falso, o importante do
inútil.
Meus caros irmãos,
As exigências do seguimento de Jesus parecem loucura extrema: “Odiar
pai e mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs(cf Lc 14,26)”, por causa de
Cristo e de seu Evangelho, não é uma loucura? Não, isso nos ensina São Lucas em
seu Evangelho. É a conseqüência da sabedoria cristã, da ponderação a respeito
do investimento necessário para o Reino de Deus. Começar a construir a torre
sem o necessário capital é que é loucura, pois, todo mundo ficará gozando da
gente porque não conseguiu concluir a obra! O homem sábio e prudente faz o
devido orçamento, decidindo com prudência aonde irá aplicar e investir. No caso
de todos os cristãos, o único orçamento adequado de se investir é o SUPREMO
BEM, sem o qual os outros investimentos ficam sem sentido.
A Segunda Leitura(cf. Fm 9b-10.12-17) nos lembra que não haverá mais
escravo nem oprimido, mas será estabelecido que todos serão irmãos. O escravo
Onésimo fugira de seu dono, Filêmon, discípulo de Paulo. Paulo o envia de
volta, mas agora batizado, portanto, “filho” de Paulo, como o próprio Filêmon.
Por isso, Filêmon o deve receber não mais como escravo, mas como irmão. A
abolição da escravidão ainda não se impunha como perspectiva histórica no tempo
de Paulo, mas mesmo assim devia realizar-se, entre os cristãos, o “nem escravo,
nem livro” de Gl 3,28. Deste espírito novo surgiram também novas estruturas,
que nos fazem perfeitos filhos de Deus pelo batismo.
A Carta a Filêmon é a mais breve e pessoal das cartas de São Paulo. É
endereçada a um tal Filêmon, aparentemente um membro destacado da Igreja de
Colossos. A partir dos dados da carta, podemos reconstruir as circunstâncias em
que o texto aparece. Onésimo, escravo de Filêmon, fugiu de casa do seu senhor.
Encontrou Paulo, ligou-se a ele e tornou-se cristão. São Paulo, que nessa
altura estava na prisão (em Éfeso? Em Roma?), fê-lo seu colaborador e manteve-o
junto de si. No entanto, a situação podia tornar-se delicada se Filêmon se
ofendesse com Paulo; e, do ponto de vista legal, ao dar guarida a um escravo
fugitivo, São Paulo era cúmplice de uma grave infracção ao direito privado.
Enfim, Onésimo corria o risco de ser preso, devolvido ao seu senhor e
severamente castigado. É neste contexto que Paulo resolve enviar Onésimo a
Filêmon. Onésimo leva consigo uma carta, em que Paulo explica a Filêmon a
situação e intercede pelo escravo fugitivo. Com extrema delicadeza, São Paulo
insinua a Filêmon que, sendo possível, lhe devolva Onésimo, já que este lhe vem
sendo de grande utilidade; no entanto, Paulo pede, sugere, mas sem impor nada e
deixando a decisão nas mãos de Filêmon. Para o Apóstolo Paulo o amor deverá ser
a suprema e insubstituível norma que dirige e condiciona as palavras, os
comportamentos, as decisões dos crentes. Ora, o amor tem consequências bem práticas,
que os membros da comunidade cristã não podem olvidar: implica o ver em cada
homem um irmão – independentemente da sua raça, da sua cor, ou do seu estatuto
social. Vistas as coisas nesta perspectiva, não é de estranhar que Paulo
solicite a Filêmon que receba Onésimo não como o que era antes (um escravo),
mas sim como é agora – um irmão em Cristo. Se Filêmon é, de fato, cristão, é
essa a atitude que deve assumir para com Onésimo.
O amor – elemento que está no centro da experiência cristã – exige ao
cristão o reconhecimento efetivo da igualdade de todos as pessoas, apesar das
diferenças de cor da pele, de estatuto social, de sexo, de opções políticas. O
amor exige que as nossas comunidades sejam espaços de comunhão, de
fraternidade, de acolhimento, sejam quais forem os defeitos dos irmãos. Como eu
acolho, nas comunidades, os irmãos? Acolho com carinho e sem distinção?
Irmãos e Irmãs,
O Evangelho de hoje(Lc 14,25-33) nos ensina que o ponto de partida para
a autêntica vivência cristã é o DESAPEGO. Desapego que, inicialmente, foi
pedido aos discípulos e apóstolos, mas que paulatinamente foi entendido como
desejo de Cristo que fosse assumido por toda a COMUNIDADE ECLESIAL. Desapego a
exemplo de Jesus que deixou tudo para trás, não acumulou riquezas, e distribuiu
tudo para os outros, até a sua preciosa vida na Cruz pela salvação de todo o
gênero humano.
A mania das pessoas de possuir bens chega a ser uma doença. Doença que
nos interpela a ficarmos livres de tudo o que nos oprime. O dinheiro em si não
é mal e nem os bens. A maneira como se usa o dinheiro ou se usa os bens
materiais deve ter uma finalidade comunitária, de servir a quem precisa e ao
nosso semelhante. E aceitar a Jesus, na sua totalidade, para sermos um só com
ele, como o verso e o reverso de uma medalha fazem uma unidade nos pede o
DESAPEGO dos bens materiais.
Assim, o Evangelho de hoje nos coloca quatro condições radicais postas por
Jesus para ser cristão:
1. O desprendimento das coisas
familiares;
2. O desprendimento da própria vida e
dos próprios interesses;
3. O desprendimento de qualquer tipo de
posse material ou espiritual;
4. O assumir da cruz, isto é, a própria
história em suas situações concretas no nosso quotidiano.
Jesus por sua vez fez tudo o que falamos acima: deixou a glória do
Paraíso, assumiu a pobreza em todos os sentidos, aniquilou-se a si mesmo,
tomando a condição de servo sofredor, sofreu todas as vicissitudes do seu tempo
e de seu povo e morreu na Cruz pela nossa salvação.
Jesus repartiu tudo o que era e o que tinha com os discípulos, até mesmo
o seu poder divino de perdoar os pecados e de santificar o povo de Deus. Mas
quer repartir hoje e agora também a cruz e a morte, partes integrantes de sua
missão salvadora, e partilhar a ressurreição e a glorificação, nova meta da
criatura redimida.
Irmãos e Irmãs,
Jesus não é contra a família. Jesus não vai na contramão de um cultivo
dos valores pessoais. Tudo o que os homens possuem vem da misericórdia de Deus.
A família é um dom sagrado, a Igreja doméstica. A família vai mal quando ela está
sem Jesus. A família com Jesus é querida e incentivada. Jesus está presente na
família para transformá-la e não somente visitando-a nos batizados, primeiras
eucaristias, missas de exéquias ou matrimônios. Jesus quer caminhar com as
famílias no cotidiano, no dia a dia, sendo presença-presente e viver segundo o
seu Evangelho todos os momentos.
Jesus não vai contra uma vida confortável do ponto de vista individual
ou pessoal. O que Jesus é contra é o egoísmo, a ausência de partilha, da
misericórdia e do perdão. Jesus nos quer misericordiosos, mansos e compassivos.
Jesus não quer uma religião de orações apenas pessoais, mas quer que nós nos
engajemos na vida de comunidade, na Paróquia e na vida da Igreja Particular.
O discípulo renuncia a tudo, principalmente ao seu eu, as suas
exigências, caprichos. O verdadeiro e autentico discípulo pega a cruz de Cristo
e a carrega na dimensão comunitária e pastoral.
O Reino dos Céus é como a torre a ser construída. Tem que ser iniciada
do alicerce, fazendo as bases para que se tenha uma boa sustentação. Assim,
também, é o Reino de Deus que pede o esvaziamento do eu, coisa que exige muito
mais esforço e trabalho do que levantar uma catedral ou arrasar uma montanha. É
preciso assumir a Cruz e estar preparado para a morte, para as perseguições,
para as calúnias, para as fofocas e para as intrigas. E estas surgindo vão nos
purificando, deixando aquilo que realmente é o mais importante, a graça de Deus
que nos embala e nos anima na missão.
Jesus é o Deus que veio ao nosso encontro com uma proposta de salvação,
de vida plena; no entanto, essa proposta implica uma adesão séria, exigente,
radical, sem “paninhos quentes” ou “meias tintas”. O caminho que Jesus propõe
não é um caminho de “massas”, mas um caminho de “discípulos”: implica uma
adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é
para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente
essa opção.
O que Jesus critica nos dois personagens das parábolas é o fato de não
terem tomado tempo para se sentar. Ora, Ele propõe estas duas parábolas no
momento em que convida os seus discípulos a segui-l’O sem condições, e mesmo a
levar a sua cruz, isto é, a aceitar as provas que seguirão ao seu compromisso.
Quer dizer que, antes de seguir Jesus, é preciso reservar tempo para a
reflexão. Jesus não esconde as exigências, mas é preciso perguntar porque O
seguimos, até onde O podemos seguir. É a maneira de Jesus respeitar a liberdade
do homem. Ele não quer discípulos que decidem segui-l’O sem mais nem menos. Ele
não pede a mesma coisa a todas as pessoas, mas a cada um Ele pede para
segui-l’O em função dos seus carismas. Mais uma razão para nos sentarmos e
perguntar: quais são os meus carismas que quero pôr ao serviço do Reino?
Irmãos e Irmãs,
Paulo hoje é focalizado preso. Mesmo na prisão, coloca-se a serviço dos
irmãos, implorando pela liberdade do escravo Onésimo. A comunidade eclesial
deste Domingo dará graças a Deus pela graça de seguir a Cristo, de carregar as
cruzes no seu seguimento, pela liberdade no uso das coisas, sem a elas se
apegar. Pedirá o dom da sabedoria para ser fiel ao seguimento de Cristo. São as
experiências pascais transformadas em ritos no memorial eucarístico que
celebramos. Amém!
Pe. Wagner Augusto Portugal
Homilia Recebida Por Email
https://catequisar.com.br/liturgia/23o-domingo-do-tempo-comum-c-2/