sábado, 29 de janeiro de 2022

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DOMINGO, 30 DE JANEIRO DE 2022

4.º DOMINGO DO TEMPO COMUM -  ANO C

“Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”. (Lc 4,24).

OLÁ: PRA COMEÇO DE CONVERSA...

1- Liturgia do 4.º Domingo do Tempo Comum- ANO C

O tema da liturgia deste domingo convida a refletir sobre o “caminho do profeta”: caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de esperança, porque é um caminho onde Deus está. A liturgia de hoje assegura ao “profeta” que a última palavra será sempre de Deus: “não temas, porque Eu estou contigo para te salvar”.

A primeira leitura apresenta a figura do profeta Jeremias. Escolhido, consagrado e constituído profeta por Jahwéh, Jeremias vai arrostar com todo o tipo de dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão e de tornar uma realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus.

O Evangelho apresenta-nos o profeta Jesus, desprezado pelos habitantes de Nazaré (eles esperavam um Messias espetacular e não entenderam a proposta profética de Jesus). O episódio anuncia a rejeição de Jesus pelos judeus e o anúncio da Boa Nova a todos os que estiverem dispostos a acolhê-la – sejam pagãos ou judeus.

A segunda leitura parece um tanto desenquadrada desta temática: fala do amor – o amor desinteressado e gratuito – apresentando-o como a essência da vida cristã. Pode, no entanto, ser entendido como um aviso ao “profeta” no sentido de se deixar guiar pelo amor e nunca pelo próprio interesse… Só assim a sua missão fará sentido.

SB SABENDO BEM DESTE DOMINGO E DESTA SEMANA


01-  OLÁ PRA COMEÇO DE CONVERSA

 . Liturgia do 4.º Domingo do Tempo Comum-  Ano C;

02- LEITURAS DA MISSA DO 4.º DOMINGO DO TEMPO COMUM- C;

03-  LITURGIA DA SEMANA E DATAS COMEMORATIVAS;

04-  REFLEXÃO DOMINICAL I : VOCAÇÃO E PRÁTICA DA CARIDADE;

05-  REFLEXÃO DOMINICAL II: “SER PROFETA EM SUA TERRA”;

06-  A EFICÁCIA DA MISERICÓRDIA (I);

07-  SERÁ QUE VIVEMOS A VERDADEIRA CARIDADE? VEJAMOS O QUE SÃO BERNARDO NOS ENSINA;

08-  TEOLOGIA PATRÍSTICA

09-  SANTO AGOSTINHO E O CAMINHO DO HOMEM ATÉ DEUS;

10-  SUGESTÃO DE LEITURA:

 . A Igreja Corpo de Cristo – Síntese da Eclesiologia de Santo Agostinho (Pe. Charles Lamartine).

Caro(a) Leitor(a) amigo(a):

O meu abraço fraterno e uma ótima semana a todos!

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JANEIRO BRANCO: QUEM CUIDA DA MENTE, CUIDA DA VIDA

LEITURAS DA MISSA

4º DOMINGO DO TEMPO COMUM- ANO C

1ª Leitura - Jr 1,4-5.17-19

Eu te consagrei e te fiz profeta das nações.

Leitura do Livro do Profeta Jeremias 1,4-5.17-19

Nos dias de Josias, rei de Judá, 4Foi-me dirigida a palavra do Senhor, dizendo: 5 'Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações'. 17Vamos, põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer: não tenhas medo, senão, eu te farei tremer na presença deles. 18Com efeito, eu te transformarei hoje numa cidade fortificada, numa coluna de ferro, num muro de bronze contra todo o mundo, frente aos reis de Judá e seus príncipes, aos sacerdotes e ao povo da terra; 19eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te', diz o Senhor.
– Palavra do Senhor. – Graças a Deus!

Salmo - Sl 70,1-2.3-4a.5-6ab.15ab.17 (R.15ab)

R. Minha boca anunciará todos os dias,
vossas graças incontáveis, ó Senhor.

1Eu procuro meu refúgio em vós, Senhor:*
que eu não seja envergonhado para sempre!
2Porque sois justo, defendei-me e libertai-me!*
Escutai a minha voz, vinde salvar-me! R.

3Sede uma rocha protetora para mim,*
um abrigo bem seguro que me salve!
Porque sois a minha força e meu amparo,
o meu refúgio, proteção e segurança!
4aLibertai-me, ó meu Deus, das mãos do ímpio. R.

5Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança,*
em vós confio desde a minha juventude!
6aSois meu apoio desde antes que eu nascesse,
6bdesde o seio maternal, o meu amparo. R.

15aMinha boca anunciará todos os dias*
15bvossa justiça e vossas graças incontáveis.
17Vós me ensinastes desde a minha juventude,*
e até hoje canto as vossas maravilhas. R.

2ª Leitura - 1Cor 12,31-13,13

Permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior delas é a caridade.

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 12,31-13,13

Irmãos: 31Aspirai aos dons mais elevados. Eu vou ainda mostrar-vos um caminho incomparavelmente superior. 13,1Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, mas não tivesse caridade, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. 2Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, mas se não tivesse caridade, eu não seria nada. 3 Se eu gastasse todos os meus bens para sustento dos pobres, se entregasse o meu corpo às chamas, mas não tivesse caridade, isso de nada me serviria. 4A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é vaidosa, não se ensoberbece; 5não faz nada de inconveniente, não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor; 6não se alegra com a iniqüidade, mas se regozija com a verdade. 7Suporta tudo, crê tudo, espera tudo, desculpa tudo. 8A caridade não acabará nunca. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá. 9Com efeito, o nosso conhecimento é limitado e a nossa profecia é imperfeita. 10Mas, quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito. 11Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. 12Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face. Agora, conheço apenas de modo imperfeito, mas, então, conhecerei como sou conhecido. 13Atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade.
– Palavra do Senhor. – Graças a Deus!

Evangelho - Lc 4,21-30

Jesus, assim como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 4,21-30

Naquele tempo: Entrando Jesus na sinagoga disse: 21'Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir.' 22Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: 'Não é este o filho de José?' 23Jesus, porém, disse: 'Sem dúvida, vós me repetireis o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum.' 24E acrescentou: 'Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. 27E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio.' 28Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.
– Palavra da Salvação. – Glória a Vós, Senhor!

LITURGIA DA SEMANA E DATAS COMEMORATIVAS

 


LITURGIA DA SEMANA: DE 31 DE JANEIRO A 06 DE FEVEREIRO DE 2022

31- 2.ª f.- da 4.ª Semana do Tempo Comum: 2Sm 15,13-14.30;16,5-13 a; Sl 3,2-3.4-5.6-7; Mc 5,1-20- São João Bosco.

01/02-3ª f.- da 4.ª Semana do Tempo Comum: 2Sm 18,9-10.14.24-25 a.30; Sl 85, 1-2.3-4.5-6; Mc 5,21-43.

02/02-4ªf.- Apresentação do Senhor, Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Candelária.- Ml 3,1-4; Sl 23(24),7.8.9.10; Hb 2,14-18; Lc 2,22-40.

03/02-5ªf.- São Brás, bispo e mártir; Beato Estêvão Bellesini, presbítero (Santoral Agostiniano).- 1Rs ,2,1-4.10-12; Sl 1Cr 29,10.11b.11d.12 a.12bcd; Mc 6,7-13.

04/02-6.ªf.- São João de Brito, presbítero e mártir. – Eclo 47,2-13; Sl 17,31.47.50-51; Mc 6, 14-29.

05/02-Sáb.-Santa Águeda, virgem e mártir. – 1Rs 3,4-13; Sl118,9-10.11.12.13.14; Mc 6,30-34.

06/02-Dom.- 5.º Domingo do Tempo Comum: Is 6,1-2 a.3-8; Sl 137,1-2 a.2bc.4-5.7c-8; Cor 15, 1-11; Lc 5,1-11. Santa Doroteia, virgem e mártir; São Paulo Miki e companheiros.    


DATAS COMEMORATIVAS: DE 31/01 A 06 DE FEVEREIRO DE 2022

31/01- Dia da Solidariedade Dia Internacional do Mágico.

01/02- Dia do Publicitário.

02/02- Dia de Iemanjá, Dia do Agente Fiscal, Dia Mundial das Zonas Úmidas.

03/02- Dia da Navegação no Rio São Francisco.

04/02- Dia do Amigo do Facebook, Dia Mundial do Câncer.

05/02- Dia do Datiloscopista, Dia do Dermatologista, Dia Nacional da Mamografia.

06/02- Dia do Agente de Defesa Ambiental, Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina.

REFLEXÃO DOMINICAL I

Vocação e prática da caridade

Por Monsenhor José Maria Pereira

No Evangelho (Lc 4,21-30) encontramos Jesus na Sinagoga, onde Jesus disse: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir. Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíram da sua boca” (Lc 4,22). Mas, os nazarenos logo se deixaram envolver em considerações demasiadamente humanas: E diziam: “Não é este o filho de José? E se era realmente o Messias, porque não fazia ali os mesmos milagres que tinha feito em outros lugares? Não tinham igual direito os seus conterrâneos?

Pressentindo os seus protestos, Jesus responde: “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc. 4,24). Mas, nem por isso muda de atitude. Pelo contrário procura demonstrar-lhes que o homem não pode ditar leis a Deus e que Deus tem a liberdade de distribuir os seus dons a quem quer. Recorda o caso da viúva de Sarepta, a quem foi enviado o profeta Elias, com preferência a todas as viúvas de Israel; e do estrangeiro Naamã único leproso curado por Eliseu. Jesus quer fazer compreender aos seus conterrâneos que veio trazer a salvação, não a uma cidade ou a um povo concreto, mas a todos os homens, e que a graça divina não se vincula a uma pátria a uma raça, ou a méritos pessoais, mas é totalmente gratuita. A oposição dos nazarenos torna-se violenta. Cegos pela pequenez de suas mentes e despeitados por não conseguirem o que pretendiam, “levantaram-se e o expulsaram da cidade”. Levaram-no até alto do monte…, com a intenção de lança-lo no precipício (Lc 4,29).
Tal é a sorte que o mundo guarda para aqueles que, como Cristo têm por missão o anúncio da verdade. Confirma-o o episódio bíblico da Vocação de Jeremias (cf. Jr 1,4-5. 17-19). Deus tinha escolhido Jeremias como profeta, antes de nascer, mas, ao tomar conhecimento, por revelação divina, quando jovem, desta eleição, treme e, pressentindo futuras contrariedades, quer recusar. Mas Deus anima-o: “Não temas porque estarei contigo para te livrar” (Jr 1,8). O homem escolhido por Deus, para ser porta-voz da Sua palavra, pode contar com a graça de Deus que se lhe antecipa e o acompanhará em todas as situações. Não lhe faltarão contrariedades, perigos e riscos, tal como não faltaram aos profetas e ao próprio Jesus. Apesar disso, Deus também o anima, tal como aconteceu a Jeremias: “eles farão guerra contra ti, mas não te vencerão, porque eu estou contigo para defender-te” (Jr 1,19).

Numa das mais belas páginas das Cartas de São Paulo (1 Cor 12,30 – 13,13), o Espírito Santo fala-nos de umas relações entre os homens completamente desconhecidas do mundo pagão, pois têm um fundamento totalmente novo: o amor a Cristo. Todas as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes (Mt 25,40).

A virtude sobrenatural da caridade não é um mero humanitarismo. “O nosso amor não se confunde com a atitude sentimental, nem com a simples camaradagem nem com o propósito pouco claro de ajudar os outros para provarmos a nós mesmos que somos superiores. É conviver com o próximo, venerar […] a imagem de Deus que há em cada homem, procurando que também ele a contemple, para que saiba dirigir-se a Cristo”.

O senhor deu um conteúdo inédito e incomparavelmente mais alto ao amor ao próximo, destacando-o como mandamento novo e verdadeiro distintivo dos cristãos. A medida do amor que devemos ter pelos outros é o próprio amor divino: como eu vos amei; trata-se, portanto, de um amor sobrenatural, que o próprio Deus põe em nossos corações. É ao mesmo tempo um amor profundamente humano, enriquecido e fortalecido pela graça.

Sem caridade, a vida ficaria vazia… A eloquência mais sublime e todas as boas obras – se pudessem dar-se – seriam como o som de um sino ou de um címbalo, que dura um instante e desaparece. Sem caridade, diz-nos o Apóstolo, de pouco servem os dons mais preciosos: Se não tiver caridade, nada sou. Muitos doutores e escribas sabiam mais de Deus, imensamente mais, que a maioria daqueles que acompanhavam Jesus – gente que ignora a lei -, mas a sua ciência ficou sem fruto. Não entenderam o fundamental: a presença do Messias entre eles e a sua mensagem de compreensão, de respeito, de amor.

A falta de caridade embora a inteligência para o conhecimento de Deus e da dignidade do homem. O amor pelo contrário, desperta, afina e aguça as potências. Somente a caridade – amor de Deus e ao próximo por Deus – nos prepara e dispões para entender Deus e o que Deus se refere, até onde uma criatura pode fazê-lo. Quem não ama não conhece a Deus – ensina São João -, porque Deus é maior. A virtude da esperança também se torna estéril sem a caridade, “pois é impossível alcançar aquilo que não se ama”; e todas as obras são vãs sem a caridade, mesmo as mais custosas e as que comportam sacrifícios; Se eu repartir todos os meus bens e entregar o meu corpo ao fogo, mas não tiver a caridade, isso de nada me aproveita. A caridade não pode ser substituída por nada.

São Paulo aponta as qualidades que adornam a caridade e diz em primeiro lugar que a caridade é paciente. Para fazer o bem, deve-se antes de mais nada saber suportar o mal.

A paciência denota uma grande fortaleza. É necessária para nos fazer aceitar com serenidade os possíveis defeitos, as suscetibilidades ou o mau-humor das pessoas com quem convivemos. É uma virtude que nos levará a esperar o momento adequado para corrigir; a dar resposta afável, que muitas vezes será p único meio de conseguir que as nossas palavras calem fundo no coração das pessoas a quem nos dirigimos. É uma grande virtude para a convivência. Por meio dela imitamos a Deus, que é paciente com os nossos inúmeros erros e sempre tardo em irar-se; imitamos Jesus Cristo que, conhecendo bem a malícia dos fariseus, “condescendeu com eles para ganha-los, à semelhança dos bons médicos, que dão os melhores remédios aos doentes mais graves”.

A caridade é benigna, isto é, esta disposta de antemão a acolher a todos com benevolência. A benignidade só se enraíza num coração grande e generoso; o melhor de nós mesmos deve ser para os outros.

A caridade não é invejosa. Da inveja nascem inúmeros pecados contra a caridade; a murmuração, a detração, a satisfação perante a adversidade do próximo e a tristeza perante a sua prosperidade. A inveja é frequentemente a causa de que se abale a confiança entre amigos e a fraternidade entre irmãos. É como câncer que corrói a convivência e a paz. São Tomás de Aquino chama-a “mãe do ódio”.

A caridade não é soberba. Sem humildade, não pode haver nenhuma outra virtude, e particularmente houve previamente outras de vaidade e orgulho, de egoísmo, de vontade de aparecer. “O horizonte do orgulhoso é terrivelmente limitado: esgota-se em si mesmo. O orgulhoso não consegue olhar para além da sua pessoa, das suas qualidades, das suas virtudes, do seu talento. É um horizonte sem deus. E neste panorama tão mesquinho, nunca aparecem os outros, não há lugar para eles”.

A caridade não é interesseira. Não pede nada para a própria pessoa; dá sem calcular o que pode receber de volta. Sabe que ama a Jesus nos outros e isso lhe basta. Não só não é interesseira, mas nem sequer anda à busca do que lhe é devido: busca Jesus.

A caridade não guarda rancor, não conserva listas de agravos pessoais; tudo desculpa. Não somente nos leva a pedir ajuda ao Senhor para desculpar a palha que possa haver no olho alheio, mas nos faz sentir o peso da trave no nosso, as nossas muitas infidelidades.

A caridade tudo crê, tudo espera, tudo tolera. Tudo, sem nenhuma exceção.

Podemos dar muito aos outros: fé, alegria, um pequeno elogia, carinho… Nunca esperemos nada em troca, nem sequer um olhar de agradecimento. Não nos incomodemos se não somos correspondidos; a caridade não busca o seu, aquilo que, considerando humanamente, poderia parecer que lhe é devido. Não busquemos nada e teremos encontrado Jesus.

Recorramos frequentemente à Virgem Maria, Ela nos ensinará a relacionar-nos com os outros e a amá-los, pois é mestra da caridade.

https://diocesepetropolis.com.br/liturgia/4o-domingo-tempo-comum-lc-421-30/

REFLEXÃO DOMINICAL


"SER PROFETA EM SUA TERRA"

 

Um dos maiores desafios do Ser Humano é aceitar o Mistério Divino presente na segunda pessoa da Trindade Santa, manifestado e revelado em Jesus de Nazaré. A dificuldade vem desde aqueles tempos em que o Filho de Deus, sob a forma humana, convivia com as pessoas do seu tempo, falando, ajudando, caminhando junto, e sobretudo ensinando. Na sua comunidade de origem, onde ele cresceu e foi criado, as pessoas primeiro se admiraram da sua sabedoria e dos milagres que tinham ouvido dizer que ele havia realizado em outras regiões. Mas em um segundo momento, pensaram em sua origem humilde, como Filho de Maria e do Carpinteiro José, alguém tão simples, criado no meio deles, não poderia ser o grande Messias.


Esse é na verdade o grande problema colocado por São Lucas neste evangelho: Jesus de Nazaré frustra a expectativa Messiânica, que seus conterrâneos tinham a seu respeito e por isso o rejeitam e até o expulsam da Comunidade. Nos dias de hoje Jesus tem milhares de seguidores e admiradores no mundo inteiro, entretanto, na primeira ocasião em que ele não corresponder a ideia que Dele se faz, o então discípulo abandona a comunidade e a sua Fé, indo a procura de um outro Jesus que atenda melhor suas expectativas. Igrejas com fachada cristão, que oferece um Jesus Cristo bem á gosto do freguês, tem inúmeras em todo lugar.


A tendência hoje é a mesma daquele tempo: destruir o Cristo do Evangelho, muito radical e exigente no Discipulado, e em seu lugar colocar um Jesus que atenda as nossas necessidades materiais, sem muita exigência de uma mudança em nosso comportamento. Igrejas que têm um Jesus Cristo com este perfil estão sempre lotadas de Fiéis que aceitam ser ludibriados por espertalhões da Fé, desde que obtenham alguma vantagem.


A verdadeira Fé e confiança em Deus, não coloca Deus a nosso dispor, ao contrário, nos submetemos á vossa Vontade, exatamente como fizeram: a viúva de Serepta, que obedeceu a ordem do Profeta Elias, e o Sírio Naamã, que mesmo a contragosto, fez o que o Profeta Eliseu lhe ordenará, e ficou totalmente purificado da lepra que o atormentara. 


Tenhamos sempre a consciência de que, na maioria das vezes a Vontade Divina não coincide com a nossa, pois sempre preferimos o caminho mais fácil, o atalho mais curto, o comodismo e as facilidades que a Vida Terrena nos oferece. Que saibamos e aprendamos a aspirar os dons superiores colocando em nossa vida a virtude da caridade, acima de tudo, como nos ensina o apóstolo Paulo.


E que também nunca nos falte a consciência de que somos Profetas, chamados por Deus desde o ventre de nossa mãe, e que a nossa Força vem do Senhor, que nos envia em missão em meio ao mundo, onde na maioria das vezes, exatamente como Jesus em sua cidade, seremos rejeitados.


José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  
jotacruz3051@gmail.com

A EFICÁCIA DA MISERICÓRDIA (I)


Por Luiz Alexandre Solano Rossi(*)

 

A misericórdia exige a aproximação; somos sempre misericordiosos em relação a alguém; no isolamento enclausuramos a misericórdia e acrisolamos a própria vida. Todas as vezes que não caminhamos misericordiosamente em direção às pessoas estamos, na verdade, sonegando a elas porção generosa da misericórdia de Deus.

 

Introdução

 

Vivemos num mundo que é marcado por feridas abertas que tendem a afetar a todos. Ninguém está imune numa sociedade repleta de predadores sociais. Vivemos num ambiente tão competitivo que nos leva a perceber o outro como um competidor que deve ser vencido; deixamos de olhar aqueles (as) que estão ao nosso redor como se fossem irmãos, e presumimos que sejam nossos adversários. E diante de adversários, a única arma possível seria partir para o ataque. Como viver num ambiente em que nos movemos pelo medo de ser surpreendido por um ataque? Como gerar misericórdia numa sociedade que respira violência?

 

Duas expressões, entre tantas, se sobressaem, na Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia: “um programa de vida” e “estilo de vida” (MV, n. 13). Faço destaque a fim de salientar que a misericórdia deveria ser entendida como se fosse uma segunda pele do cristão. No entanto, somos mais ágeis na arte de condenar e criticar as pessoas do que na arte da misericórdia. Gastamos em uma e economizamos na outra. Até parece que falta espaço para prática da misericórdia em nossa agenda.

 

  1. Profetismo e conversão para a misericórdia

A única possível resposta à pergunta inicial que posso encontrar na literatura bíblica pode ser resumida numa expressão: conversão. De uma cultura de violência e de agressões, deveríamos nos converter a uma cultura de misericórdia. Porém, certa atenção é necessária: toda conversão deveria ser vista, simultaneamente, como pessoal e comunitária. É possível dizer que foram especialmente os profetas que convocaram o povo de Deus à conversão. Ao lermos Amós 5,14-15, Isaías 1,16-17 e Oseias 10,12 e 12,7, ficamos com a nítida impressão de que a conversão não se limita à esfera privada. Ao romper com os limites da esfera privada, a conversão nos leva a uma decisão que tem implicações políticas e econômicas. Talvez pudéssemos dizer que a fé possui uma função pública. Afinal, não somos chamados a viver dentro de quatro paredes e, dessa forma, isolados de tudo e de todos. O espaço por excelência do exercício da fé se encontra na realidade do cotidiano.

 

Os profetas acreditavam que tudo na vida, inclusive as instituições públicas, poderiam ser orientadas de tal forma que servissem aos objetivos de Deus, com quem Israel havia selado uma aliança. A vida transformada de Israel, diferentemente dos valores que imperavam ao seu redor, centrava-se na justiça, na virtude e na constância do amor, ou seja, numa organização que transcendia a egolatria. Os profetas faziam um radical chamado ao povo de Deus para que vivesse sua vida, tanto pessoal quanto coletiva, em consonância com os objetivos de propiciar justiça, fraternidade, solidariedade e misericórdia.

 

Um profeta posterior aos já citados, Joel (2,12-13), faz, por sua vez, uma convocação radical para a conversão. No entanto, para ele não bastava mudar unicamente a aparência externa: era necessário converter o coração. Mas vale lembrar que o coração não deve ser interpretado simplesmente como uma experiência interior. Na Bíblia, o coração representa o órgão responsável por tomar decisões e determinar a orientação da vida. O profeta Joel refuta, portanto, tanto uma mudança meramente externa (as vestes) quanto uma mudança meramente interna, que não leve a nenhuma conseqüência visível.

 

Sicre (1990, p. 126-127) acentua que a vocação do profeta era uma relação eu-tu-eles. “O profeta não é eleito para gozar de Deus, mas para cumprir uma missão em relação ao povo”. Uma função direcionada especificamente para a sociedade. Numa experiência inserida na relação Deus, profeta e sociedade em que vive, o profeta anunciava um Deus comprometido com a história, que amava a justiça, pai dos órfãos, aquele que protegia as viúvas, senhor soberano de toda a natureza e que possuía o controle da vida e da morte. Deus está presente na história para provocar nossa existência a sair de si mesma. A face de Deus que se revela em Jesus Cristo é um rosto totalmente voltado para o ser humano. Por isso, ao invés de nos inclinarmos sobre o rosto do filho de Deus, deveríamos procurar o rosto dos seres humanos e amá-los com amor intenso. Contrariamente ao que muitos pensam, não precisamos nos encontrar com Deus negando o mundo e a sua história. Encontramos com Jesus justamente no mundo.

 

Os profetas não se relacionavam com situações abstratas. Diante deles se encontravam uma série de problemas concretos. Eles denunciavam a pobreza como um mal, como resultado da injustiça praticada pelos poderosos. O pobre se torna não somente sujeito, mas também um lugar teológico. A partir do critério utilizado pelos profetas, não é possível aceitar a pobreza, a violência e a injustiça que a gera. Dessa forma, eles acabaram por demonstrar que a pobreza e a violência não eram o resultado do destino ou da vontade de Deus. Basicamente entenderam que era consequência da ação daqueles que estavam denunciando. Não há espaço na teologia dos profetas para aquilo que chamo de naturalização da pobreza e da violência. Penso que os textos bíblicos, em sua grande e maior extensão, para falar de Deus se expressam através da vida das pessoas. Somente encontramos Deus no outro! Não se encontra e não se conhece o Deus bíblico sem a intermediação do pobre e na história do pobre.

 

Sendo assim, duas questões saltam em importância, a fim de se refletir: a primeira delas é o conceito de história e a segunda, o conceito de pobre. O primeiro faz com que historicizemos a fé, ou seja, vive-se a fé para dentro da história, a fim de transformá-la, e não a negando ou desejando ardentemente abandoná-la; o segundo nos leva a compreender que é a partir do encontro com os pobres, da solidariedade com eles e da vida construída a partir da justiça que nos humanizamos e alcançamos a salvação. É inevitável pensarmos o papel da Igreja em meio a essa situação. Quero me valer de um belíssimo texto de Bonino (1975, p. 44) por causa de sua fluidez e exemplaridade, e que reafirma que a autenticidade da mensagem evangélica está, de fato, ligada à maneira pela qual ela se relaciona com o tema da pobreza:

 

[…] a Igreja não se identifica a si mesma entre os pobres. Reconhece os pobres como uma parte muito importante do mundo, mas a Igreja não se reconhece a si mesma entre os pobres e os pobres não reconhecem a presença de Cristo na Igreja. Esta é uma situação de identidade perdida, de autoalienação para a Igreja. Uma situação em que a Igreja não é totalmente Igreja. E a Igreja que não é a Igreja dos pobres coloca em séria suspeita seu caráter eclesiástico.

 

É significativo o uso que Jesus faz do texto do profeta Oseias (que lembra também Provérbios 21,14). É possível compreender que, para Jesus, mais importante é a ação que preserva a dignidade da pessoa, e não possíveis atividades para Deus. A importância para Jesus recai no primado da misericórdia. Afinal, tudo quanto fazemos para os pequeninos é a ele que fazemos. Observa-se, portanto, que a prática da misericórdia com o pobre é também conhecimento de Deus (o profeta Oseias apresenta a mesma chave de leitura em 4,1 (“Ouçam a palavra de Javé, filhos de Israel! Javé abre um processo contra os moradores do país, pois não há mais fidelidade, nem amor, nem conhecimento de Deus no país”), em 6,6 (“Pois eu quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos”) e em 8,2-3 (“Eles gritam: ‘Deus de Israel, nós te conhecemos!’ No entanto, Israel recusou o bem, e o inimigo o perseguirá”).

 

Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício Porque não vim chamar os justos, mas os pecadores(Mt 9,13).

Eu quero misericórdia e não os sacrifícios(Os 6,6).

Para Javé, a prática da justiça e do direito vale mais que os sacrifícios(Pv 21,14).

 

Bibliografia

 

BONINO, J. M. The Struggle of the Poor and Church. Ecumenical Review. Vol. XXVII, n. 1, p. 44, jan. 1975.

BOVON, F. El Evangelio segun Lucas. Lc 1-9. Vol. 1. Salamanca: Sigueme, 1995

FITZMEYER, J. A. El Evangelio segun Lucas. Vol. II. Traduccion y Comentario. Capítulos 1-8,21. Madri: Cristiandad, 1987.

PAPA FRANCISCO. Misericordiae Vultus. O rosto da misericórdia. Bula de proclamação do jubileu extraordinário da misericórdia. São Paulo: Paulinas, 2015.

SICRE, J. L. Justiça social nos profetas. São Paulo: Paulinas, 1990.

STOGER, A. El Evangelio segun Lucas. Vol. 1. Barcelona: Herder, 1979.

 

(*) Luiz Alexandre Solano Rossi
Doutor em Ciências da Religião pela UMESP e pós-doutor em História Antiga pela UNICAMP e em Teologia pelo Fuller Theological Seminary. É professor no mestrado e doutorado em Teologia da PUCPR e coordenador da graduação em Teologia da PUCPR. E-mail: luizalexandrerossi@yahoo.com.br

https://www.vidapastoral.com.br/artigos/a-eficacia-da-misericordia/

 

(Este artigo terá sua continuação no próximo Domingo...)

ESPIRITUALIDADE

Será que vivemos a verdadeira caridade? Vejamos o que São Bernardo nos ensina

© Fred de Noyelle / Godong

 

La main de Dieu a été peinte sur la clé de voûte située au dessus du choeur dans la cathédrale d'Orléans.

 

Vitor Roberto Pugliesi Marques 


Viemos a esse mundo simplesmente para a superficialidade do corpo ou viemos para nos santificar e nos configurarmos a Deus?

Quando se fala em santidade, fala-se do estado de alma de pessoas que exerceram neste mundo as virtudes da fé, esperança e caridade, não de modo parco e insosso, mas sim de modo heroico e admirável.


Para isso, é necessário um esforço continuado, esforço este que vai nos transformando, nos configurando a Cristo, de modo a terminarmos dizendo as mesmas palavras de São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vice em mim” (Gl 2,20). Nesse texto, gostaria de refletir um pouco sobre como São Bernardo, ilustre monge cisterciense, escrevendo aos religiosos Cartuxos de seu tempo, expressa o modo como os santos exercem a caridade.


Primeiramente, São Bernardo nos explica que se não estamos diante de uma pessoa santa não veremos a verdadeira caridade. A caridade verdadeira e sincera provém daqueles que têm um “coração puro, uma consciência boa e uma fé sincera” (São Bernardo de Claraval. Tratado sobre o Amor de Deus. São Paulo: Paulus, 2015, p. 79). Vejamos que é um tripé mutuamente dependente. Aqueles que não possuem um dos elementos não consegue expressar a verdadeira caridade. E vemos isso expresso cotidianamente em nosso meio. Quantos não são aqueles que vemos exercer uma filantropia com os pobres, mas, por não a fazerem na fé ao Cristo, não conseguem fazer brilhar uma luz maior em seu ato? Quantos ainda não são os que têm dentro de si a luz da fé, mas só conseguem expressá-la por meio de atos pueris por não terem uma boa consciência?


Desse modo, o amor a Deus exercido por aqueles que não são santos assume modos nada meritórios. Vai nos dizer São Bernardo: “Há homens que glorificam o Senhor porque Ele é poderoso, há os que o glorificam porque é bom para eles; enfim, veem-se os que o louvam simplesmente porque é bom. Os primeiros são escravos que temem por si; os segundos, mercenários que buscam a própria vantagem; e os últimos são os filhos verdadeiros que não pensam senão em seu Pai” (idem, p. 80). Cabe-nos aqui refletir o modo como estamos exercendo a caridade, sendo que esta, em última análise, deve ser uma expressão de amor genuíno a Deus, pois “aquele que não ama senão o que lhe concerne, mostra bem que não tem um amor puro e que não ama o bem pelo bem, mas por si mesmo” (idem, p. 79).


É certo que, como nos diz São Bernardo, “às vezes uma alma servil faz a obra de Deus, mas como não age espontaneamente, persevera em sua indiferença” (idem, p. 81). São aqueles casos em que vemos a “utilidade pública” da coisa. É o exemplo da cesta básica distribuída aos pobres nas campanhas políticas; tem serventia para aquele estado agudo de fome, mas sabemos que esse ato provavelmente não vai deixar raiz alguma, pois não foi feito em Cristo e por Cristo. Mas daí cabe a pergunta: viemos a esse mundo simplesmente para a superficialidade do corpo ou viemos para nos santificar e nos configurarmos a Deus? Sabemos pela fé que a segunda assertiva é a correta.


Tenhamos, então, a disposição de exercer a verdadeira caridade. Esta consiste em equiparar a nossa vontade à vontade de Deus. Nisso não há trivialidades, não há superficialidade, não há interesses egoístas, mas sim uma plenitude sem mácula a nos elevar, de fato, a Deus.

 

https://pt.aleteia.org/2021/09/06/sera-que-vivemos-a-verdadeira-caridade-vejamos-o-que-sao-bernardo-nos-ensina/

PATRÍSTICA

Teologia Patrística: Diálogo com as culturas e inculturação, ontem e hoje

Por Frei Carlos Josaphat, op

Os santos Padres foram os corajosos e sábios pioneiros da difusão do evangelho, da sua apresentação bem adaptada para a vida dos fiéis e das comunidades, nos primeiros séculos do cristianismo.

Eles inauguraram o diálogo com as formas de pensamento e com as correntes filosóficas de seu tempo e realizaram, de maneira exemplar, a primeira e bem-sucedida inculturação do evangelho.

Assim se realizava a consolidação da Igreja na fidelidade criativa ao seu divino fundador, na docilidade ao Espírito de amor e de santidade e na estima dos grandes valores culturais, éticos e espirituais da humanidade.

Os primeiros santos Padres — são Clemente de Roma, santo Inácio de Antioquia, são Policarpo de Esmirna — prolongaram o labor dos apóstolos, organizando e estruturando as comunidades eclesiais. Com zelo e inteligência, esses pastores e doutores dotavam a jovem Igreja com os elementos e recursos necessários para que o evangelho, os sacramentos, os ministérios pudessem estar presentes e bem ajustados ao mundo de então.

Esse belo trabalho foi continuado e ampliado pelos grandes luminares da Igreja. Que se pense em santo Atanásio, santo Hilário, santo Ambrósio, são Jerônimo, santo Agostinho, são João Crisóstomo, são Basílio, são Cirilo de Alexandria, são Gregório Magno. Eles resplandeceram no que se chama de a idade de ouro da época patrística. Assim, esses discípulos e missionários da sabedoria levaram a cabo a primeira inculturação mundial da mensagem de Cristo.

Poderíamos dizer que essa grande façanha, realizada em todos os cantos da terra, na Europa, na Ásia e na África, já evocava uma primeira globalização, que nada tinha de uma invasão pelas armas ou de dominação pelo dinheiro. Era o reino da inteligência e do amor, contando com os guias espirituais que se davam quais mestres pacíficos do pensar, do orar e do benfazer.

Com eles e por eles, o evangelho se difunde como a força renovadora do reino de Deus. A verdade e o amor do evangelho produzem a grande virada qualitativa, a mudança profunda e renovadora nos corações e na história da humanidade. Pois a pregação de Jesus de Nazaré se universaliza, suscitando uma rede de comunidades que são outras tantas escolas de perfeição e de elevação espiritual e cultural.

A palavra de Deus, anunciada pelos apóstolos, insere-se em novas formas de linguagem e de cultura, as quais, para além do perfil judaico primitivo, lhe dão novos rostos, fazendo surgir bem unida uma humanidade multicor, multirracial e multicultural. Vai se estabelecendo a fraternidade e vão se desfazendo as discriminações que ameaçam dividir e opor as raças, os povos, as classes sociais e até mesmo as religiões. É a bela lição que nos deixaram os santos Padres e as comunidades por eles edificadas, formando a imensa comunidade da Igreja universal, fonte de graça e de paz para as pessoas e para os povos.

É útil e proveitoso acompanhar, em todos os seus aspectos e em toda sua riqueza divina e humana, os primórdios daquele processo pacífico, mas por vezes acidentado, que vem a ser a inculturação do evangelho.

Mantendo contato com os santos Padres, contemplamos e admiramos a evolução harmoniosa, porque cuidadosamente estimulada e vigiada, das doutrinas, dos costumes, do culto e do conjunto das instituições.

No centro, está a liturgia, o solene culto da Igreja, a expressão primeira de sua vida, de suas comunidades e de seus fiéis. Que preciosidade de doutrina e de graça não resplandece nos ritos dos sacramentos da iniciação cristã, inaugurada e aprimorada nas grandes comunidades patrísticas! No coração da Igreja, qual força primordial de seu crescimento, a eucaristia é celebrada de maneira fiel e criativa.

Desde o primeiro século e cada vez com maior beleza, o domingo, o dia do Senhor, refulge como o núcleo transformador de todo o ciclo litúrgico, que se vai constituindo e ampliando pela fecundidade da palavra, dos sacramentos, do martírio e de outros modelos de santidade dos fiéis de Cristo e seus pastores, guias e mestres de perfeição.

Um dos aspectos mais visíveis, de importância decisiva e duradoura na inculturação do evangelho realizada na época patrística, vem a ser a elaboração e proclamação dos dogmas fundamentais da fé cristã.

Foi a obra dos primeiros e grandes concílios ecumênicos, desde a primeira metade do século IV, reunindo e empenhando a autoridade do conjunto dos bispos em comunhão de fé com toda a Igreja. A Bíblia e a primeira tradição apostólica haviam transmitido a mensagem dessa fé em termos concretos, no processo da história da salvação e da experiência de vida das comunidades e dos fiéis. O que estava em jogo era, portanto, a vida mesma da Igreja, consciente de ser a comunidade que, pela fé e pela graça, tornava presente no mundo a própria comunhão trinitária.

Os concílios e o ensino dos santos Padres deram a essa mensagem e a essa experiência de vida uma elaboração dogmática e doutrinal em sintonia com a filosofia e a cultura, encetando um diálogo que continuaria pelos séculos. Com base no evangelho, a evolução harmoniosa da liturgia, do dogma e da moral foi acompanhada e articulada pelo desenvolvimento das doutrinas, dos ministérios, da hierarquia. A Igreja há de guardar memória perene dessa sua primeira juventude patrística.

No decorrer da história — constatação válida também para os dias de hoje —, todo movimento de renovação da Igreja teve necessidade de começar por um reviver da palavra e da graça de Deus, reencontradas nesta primavera do Espírito que são as comunidades e a figura dos santos Padres, os Pais por excelência, os primeiros educadores de nossa fé.

O Concílio Vaticano II (1962-1965) inaugurou uma época de mais decidida e esclarecida fidelidade à tradição em sua inspiração evangélica e em sua expressão patrística.

Apontou para a Igreja atual os caminhos da colegialidade, do diálogo, da partilha e da comunhão da graça do Espírito, bem como da valorização dos carismas e dos ministérios, na diversidade dos serviços e vocações. Lembrou sobretudo o grande tema da pregação patrística, a qual jamais se contentou em impor simples moral, mas propôs e enalteceu “a vocação universal dos fiéis de Cristo à santidade”, para a plena realização da Igreja e para a felicidade de toda a humanidade.

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