domingo, 27 de setembro de 2020

SEJA BEM-VINDO! DOMINGO, 27 DE SETEMBRO DE 2020

“ABRE TUA MÃO PARA O TEU IRMÃO” (Dt 15,11)

SETEMBRO: MÊS DA BÍBLIA

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM

O EVANGELHO DESTE 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM: OS DOIS FILHOS

OLÁ!

 

“Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no reino dos céus”, disse Jesus às autoridades judaicas que o escutavam no Templo. Podemos imaginar o escândalo que estas palavras causaram aos ouvidos dos “justos” de Israel! Ser precedido nos céus por uma prostituta ou um cobrador de impostos?!  No tempo de Jesus, os cobradores de impostos eram totalmente desonestos. Não poderia se ouvir ofensa maior. Ser colocado para trás logo por quem? Por pessoas de má fama?I

 

Mas, por que Jesus reprova tanto estes sacerdotes e anciãos? Onde foi que eles erraram? Exatamente na incoerência entre o “falar” e o “fazer”. E Jesus mostra isso claramente com a parábola dos dois filhos. Nela, para ambos os filhos, o pai pede cordialmente que trabalhem na vinha. O primeiro se prontifica imediatamente: “Sim, Senhor!”, mas não move uma palha. O segundo está decidido: “Não quero!”, mas pensa melhor e aparece lá para trabalhar.

 

No primeiro filho, as palavras são boas e gentis, mas falta a sua realização. No segundo, as palavras até parecem brutas, mas a ação é boa. As palavras por si só não salvam, é preciso praticá-las. O próprio Jesus já havia alertado: “Não quem me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Já o exemplo do segundo filho é autêntico: ele cumpre a vontade do pai não com palavras, mas com ações.

 

Os chefes judaicos até que estavam de acordo que a vontade do Pai só pudesse ser cumprida com ações, mas não estavam de acordo de jeito nenhum com a aplicação que Jesus fizera desta parábola. Assim, percebemos que tipo de distância abismal havia entre o dizer e o fazer na religiosidade farisaica e que é tão viva ainda hoje. A reprovação de Jesus é dirigida a quem dá mais valor às aparências do que à essência, mais às palavras que à prática, mas ao exterior que ao interior. Se formos fazer um exame de consciência bem feito, vamos perceber imediatamente como somos fariseus, como o primeiro filho pronto a dizer “sim” com os lábios, mas a não fazer quase nada quando o assunto é cumprir a vontade de Deus.


O Blog SB SABENDO BEM deste Domingo e desta semana reflete e noticia as seguintes temáticas:

01- LEITURAS DA MISSA DO 26º D.T.C E LITURGIA DA SEMANA;
02- REFLEXÃO DOMINICAL;
03- DIA DA BÍBLIA: AS SAGRADAS ESCRITURAS;
04- SÃO JERÔNIMO, DOUTOR DA IGREJA;
05- O EVANGELHO DE MATEUS – SEGUNDA PARTE;
06- ESPIRITUALIDADE: COMO UMA ABELHA PODE NOS AJUDAR A MEDITAR MELHOR A BÍBLIA;
07- EM SÃO PAULO A VOLTA ÀS AULAS DEVE SER DECIDIDA EM NOVEMBRO;
08- SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS: HISTÓRIA, DEVOÇÃO E ORAÇÃO;
09- DISSE SANTO AGOSTINHO;
10- PENSE NISSO!!! COM ALGUNS PENSAMENTOS DE JESUS CRISTO.

Pai, quero ser para ti um filho que escuta a tua Palavra e se esforça para cumpri-la com sinceridade. Que a minha resposta ao teu apelo não seja pura formalidade.


Caro(a) Leitor(a) amigo(a):

O meu abraço fraterno e uma ótima semana a todos!

ACESSE SEMPRE O BLOG: sbsabendobem.blogspot.com e divulgue aos seus amigos, conhecidos e contatos nas redes sociais. Comente, faça sugestões.  Agradeço!

O meu novo e-mail: sbbonadiman@gmail.com

Sérgio Bonadiman


LEITURAS DA MISSA

26.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

LEITURAS


Primeira Leitura (Ezequiel 18,25-28)
Leitura da profecia de Ezequiel.

18 25 Dizeis: “Não é justo o modo de proceder do Senhor. Escutai-me então, israelitas: ‘o meu modo de proceder não é justo? Não será o vosso que é injusto?’ 26 Quando um justo renunciar à sua justiça para cometer o mal e ele morrer, então é devido ao mal praticado que ele perece. 27 Quando um malvado renuncia ao mal para praticar a justiça e a eqüidade, ele faz reviver a sua alma. 28 Se ele se corrige e renuncia a todas as suas faltas, certamente viverá e não perecerá”.
— Palavra do Senhor!
— Graças a Deus!


Salmo Responsorial 24/25

Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e compaixão!

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação;
em vós espero, ó Senhor, todos os dias!

Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura
e a vossa compaixão que são eternas!
Não recordeis os meus pecados quando jovem,
nem vos lembreis de minhas faltas e delitos!
De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia
e sois bondade sem limites, ó Senhor!

O Senhor é piedade e retidão,
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
Ele dirige os humildes na justiça,
e aos pobres ele ensina o seu caminho.


Segunda Leitura (Filipenses 2,1-11 ou 1-5)
Leitura da carta de são Paulo aos Filipenses.

2 1 Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, 2 completai a minha alegria, permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. 3 Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. 4 Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros. 5 Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. 6 Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, 7 mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. 8 E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. 11 E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.
— Palavra do Senhor!
— Graças a Deus!


ACLAMAÇÃO (Jo 10,27)
Aleluia, Aleluia, Aleluia. Minhas ovelhas escutam minha voz, minha voz estão elas a escutar; eu conheço, então, minhas ovelhas, que me seguem, comigo a caminhar!


Evangelho (Mateus 21,28-32)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!

21 28 Disse Jesus: "Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: ‘Meu filho, vai trabalhar hoje na vinha’. 29 Respondeu ele: ‘Não quero’. Mas, em seguida, tocado de arrependimento, foi. 30 Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: ‘Sim, pai!’ Mas não foi. 31 Qual dos dois fez a vontade do pai?" "O primeiro", responderam-lhe. E Jesus disse-lhes: "Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus! 32 João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as prostitutas creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele".
— Palavra da Salvação!
— Glória a Vós, Senhor!


LITURGIA DA SEMANA

28/09 (2ª feira) - Vd - Jó 1,6-22; Sl 16; Lc 9,46-50.
29/09 (3ª feira) - Br - Dn 7,9-10.13-14; Sl 137; Jo 1,47-51 – Santos Miguel, Gabriel e Rafael, Arcanjos.
30/09 (4ª feira) - Br - Jó 9, 1-12.14-16; Sl 87; Lc 9,57-62 – São Jerônimo.
01/10 (5ª feira) - Br - Jó 19,21-27; Sl 26; Lc 10,1-12 – Santa Teresinha do Menino Jesus.
02/10 (6ª feira) - Br- Ex 23,20-23; Sl 90; Mt 18,1-5.10 – Santos Anjos da Guarda.
03/10 (Sábado) - Vm - Jó 42, 1-3.5-6.12...; Sl 118; Lc 10,17-24.
04/10 (Domingo) - Vd -27ºDTC Is 5,1-7; Sl 79; Fl 4,6-9; Mt 21,33-43 – São Francisco de Assis.

Fonte:  http://www.npdbrasil.com.br/religiao/evangelho_do_dia_semana.htm


REFLEXÃO DOMINICAL

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Neste vigésimo sexto domingo do tempo comum, a liturgia nos oferece Mateus 21,28-32 para o Evangelho, texto que contém a curta parábola dos dois filhos chamados pelo pai a trabalhar na sua vinha. Embora haja um considerável intervalo espacial e temporal entre a parábola proposta no domingo passado (“parábola dos trabalhadores da vinha” – Mt 20,1-16) e a de hoje, é inegável a relação entre as duas, como veremos a seguir.

Iniciamos com a devida contextualização, para chegarmos a uma interpretação mais adequada do texto. A parábola está inserida no acirrado confronto entre Jesus e as autoridades religiosas de Jerusalém, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo. Com isso, concluímos que Jesus já se encontra em Jerusalém e, portanto, seu ministério está em sua última fase. Após uma entrada triunfante na cidade (cf. Mt 21,1-11), logo começaram os conflitos com as autoridades que não aceitavam sua proposta de Reino dos Céus, uma vez que esse compreendia uma verdadeira transformação da ordem vigente com a supressão de todas as estruturas de poder e formas de dominação vigentes.

O confronto com as autoridades começou com a denúncia do templo (cf. Mt 21,12-17); embora a maioria dos estudiosos intitulem esse episódio como “purificação do tempo”, preferimos usar o termo denúncia, uma vez que a atitude de Jesus em relação a essa instituição é de completa oposição, desejando, inclusive, a sua destruição (cf. Mt 24,1-2; Lc 21,6; ). Portanto, não tem sentido imaginar Jesus purificando algo que, para Ele, nem deveria mais existir. Esse episódio do templo foi o estopim para o conflito com as autoridades, e o Evangelho de hoje faz parte desse conflito.

Ao ver Jesus ensinar na área do templo, os sumos sacerdotes e anciãos lhe perguntaram com que autoridade Ele fazia aquilo (cf. 21,23). Ora, o ensinamento de Jesus divergia completamente do magistério oficial da época. Jesus não respondeu de modo afirmativo, mas também interrogando-os, partindo do exemplo de João Batista e seu batismo, deixando-os, assim, embaraçados (cf. 21,24-27). A nossa parábola de hoje está, portanto, inserida nesse confronto e, através dela, Jesus denuncia a falsa autoridade dos chefes religiosos de seu tempo, apresentando um novo caminho de relacionar-se com o Deus que é Pai, e reforçando o que já havia introduzido no discurso da montanha: “Não é aquele que diz: ‘Senhor! Senhor!’ que entrará no Reino dos céus, mas aquele que realiza a vontade do meu Pai que está nos céus.” (cf. Mt 7,21).

Como o início do texto sugere, “Que vos parece?”, o que vem a seguir visa reforçar algo já introduzido na discussão de Jesus com seus interlocutores, os sumos sacerdotes e anciãos do povo. Essa introdução interrogativa é uma chamada de atenção para o que vem a seguir; significa que se trata de um ensinamento de fundamental importância: “Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha”  (v. 28). A vinha é uma imagem clássica na tradição bíblica para designar o povo de Deus (cf. Is Is 5,1-7), e adaptada por Jesus como imagem do Reino dos Céus (cf. Mt 20,1-16) por Ele inaugurado. Diz o texto que o pai dirigiu-se também ao outro filho e fez a mesma proposta (v. 30a), ou seja, também pediu para ir trabalhar na sua vinha.


A imagem de Deus como pai já soava como provocação aos chefes religiosos do tempo de Jesus, afinal, o Deus deles era um patrão e juiz. Essa imagem se torna ainda mais chocante quando Jesus diz que aquele pai tinha dois filhos. Ora, Deus tinha escolhido um único povo, Israel, e nada tinha a dizer aos outros povos. Portanto, comparar Deus a um pai com dois filhos tratados da mesma maneira era uma proposta absurda, conforme a imagem de Deus cultivada e transmitida pela religião oficial da época.

O pai fez a mesma proposta aos dois filhos, ou seja, convidou-os para trabalhar na vinha, e recebeu respostas diferentes. Eis a reação do primeiro destinatário da ordem/convite do pai: “Não quero’. Mas depois mudou de opinião e foi” (v. 29). Aqui, é necessário fazer uma pequena correção à versão litúrgica do texto: ao invés de “mudou de opinião”, o evangelista diz, na língua original do texto, que ele “arrependeu-se”. Em outras palavras, podemos dizer que aquele filho “converteu-se e foi trabalhar na vinha”. Eis, agora, a resposta-reação do segundo filho: “Sim, Senhor, eu vou’. Mas não foi” (v. 30). Como vimos, tanto foram diferentes as respostas quanto as atitudes de cada um deles. O centro do ensinamento de Jesus com essa parábola está exatamente aqui, no contraste entre as respostas e os comportamentos dos dois filhos. Historicamente, Israel, como povo da aliança, disse sim a Deus com palavras, embora seu comportamento tenha se distanciado tanto da verdadeira vontade de Deus. Com esse contraste entre os dois filhos, Jesus provoca seus interlocutores e os convida a uma reflexão.

Como a parábola foi usada por Jesus para provocar em seus interlocutores uma reflexão, eis que Ele lhes pede um juízo, uma opinião sobre os dois filhos: “Qual dos dois fez a vontade do pai?” Os sumos sacerdotes sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “O primeiro” (v. 31a). Os sumos sacerdotes e anciãos do povo não poderiam responder de outra maneira: de fato, quem fez a vontade do pai foi o primeiro filho, aquele que disse “não”, verbalmente, ao convite do pai, mas mudou de ideia, ou seja, converteu-se e foi trabalhar na vinha. Ao ir trabalhar, esse primeiro filho fez verdadeiramente a vontade do pai, mesmo tendo respondido negativamente, uma vez que o importante para Deus não são as palavras, mas sim as atitudes. O segundo, pelo contrário, não fez a vontade do pai porque ficou apenas no discurso, não levou a solene resposta “Sim, Senhor” para a prática.

A resposta dos interlocutores de Jesus, os sumos sacerdotes e anciãos do povo, foi uma verdadeira sentença de autocondenação. Aplicando a imagem do pai a Deus e dos dois filhos a Israel e aos pagãos, Jesus queria levá-los a conscientização das contradições da religiosidade que praticavam. E, ao recordar isso, Mateus chama a atenção da sua comunidade para também não cair nos mesmos erros da antiga religião. Por sinal, Mateus já havia introduzido esse tema no discurso da montanha: “Não é aquele que diz: ‘Senhor! Senhor!’ que entrará no Reino dos céus, mas aquele que realiza a vontade do meu Pai que está nos céus.” (cf. Mt 7,21), e em uma discussão com os escribas e fariseus, ao citar diretamente o profeta Isaías: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (cf. Mt 15,8 = Is 29,13).

Com certeza os chefes religiosos de Jerusalém já tinham percebido a complexidade da situação em que tinham se envolvido ao questionar a autoridade de Jesus. Sem dúvidas, o clima piorou ainda mais com a continuação da resposta de Jesus a eles: “Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” (v. 31b). Dessa vez, Jesus passou dos limites, pensaram eles. Enquanto os acusava em linguagem simbólica, poderiam ignorar ou mudar o foco. Mas assim, de modo tão claro e objetivo, não era possível. Os cobradores de impostos e as prostitutas eram, de acordo com a mentalidade da época, as piores categorias de pessoas, a verdadeira escória da sociedade, e Jesus ousou dizer que elas herdariam primeiro o Reino de Deus do que as pessoas religiosas de Israel. Essa afirmação soava como absurdo para o auditório de Jesus.

A rejeição dos chefes à mensagem de Jesus é comparável a rejeição sofrida por João (v. 31). De fato, também o precursor viera “num caminho de justiça”, mas fora rejeitado pelos conhecedores da lei e dos profetas, ou seja, pelas pessoas religiosas como os sacerdotes e anciãos fechados ao arrependimento devido à autossuficiência de suas convicções religiosas. Já “os cobradores de impostos e as prostitutas” (v. 31b), rejeitados pela religião e abertos à conversão, sedentos de compreensão e acolhimento, acreditaram no Batista e em Jesus, tornando-se, assim, herdeiros do Reino dos Céus, a nova vinha do Pai, que é Deus. Desse modo, a máxima proverbial que concluía a parábola do domingo passado, é atualizada na parábola de hoje: “Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” (Mt 20,16).

É importante que, assim como a comunidade de Mateus soube atualizar essa mensagem, também as nossas comunidades de hoje saibam. Os primeiros de sempre, transformados em últimos na dinâmica do Reino serão sempre as pessoas autossuficientes, arrogantes, conhecedoras dos mínimos detalhes das leis religiosas, como eram os sacerdotes, anciãos e escribas da época de Jesus. Hoje, embora em outras modalidades, essas pessoas continuam presentes em nossas comunidades, com a mesma autossuficência, julgando, excluindo e determinando como o outro deve agir.

É preciso identificar quem são os últimos de hoje para os reconhecermos como primeiros no Reino. Na época, Jesus identificou os cobradores de impostos e as prostitutas, exemplos máximos de perversão para a época. Hoje, certamente há uma relação muito maior de categorias de pessoas excluídas pelas religiões e comunidades eclesiais que Jesus as colocaria como primeiras no Reino dos céus. Todos os que sofrem descriminações e exclusões por quem controla e impõem as normas de comportamento: as prostitutas, a população LGBT, ex-presidiários, moradores de rua, mães solteiras, menores infratores e tantas outras categorias, estariam na lista de Jesus, precedendo aqueles que louvam com os lábios, mas pouco fazem para o Reino de fato acontecer, ou seja, não fazem a vontade do pai!


Fonte: https://fiquefirme.com.br/multimedia-archive/21_reflexao_para_o_26_domingo_do_tempo_comum_mt_2128_32/

 

DIA DA BÍBLIA

27.09.2020 - 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM – DIA DA BÍBLIA

AS SAGRADAS ESCRITURAS

A CARTA DO AMOR DE DEUS DIRIGIDA AOS HOMENS


Sabemos que a Sagrada Escritura é o maior documento e prova da revelação divina para nós cristãos, pois nela estão escritas as leis, ensinamentos, exortações, os milagres e prodígios do Senhor e muitas outras coisas que são para nós um alimento de fé.

“Os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras. Por isso, «toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas» ( Tim. 3, 7-17 gr.).”(Dei Verbum, 11).

É importante lembrar que a Bíblia (do grego biblios = livro), apesar de ser tantas vezes usada como livro histórico, não transmite uma precisão acerca da história e nem de conhecimentos científico-naturais, pois cada autor vivia conforme seu tempo e de acordo com o modo de viver do povo judeu da época. Mas tudo aquilo que nós seres humanos precisamos saber acerca de Deus está, sem dúvida, descrito nas Sagradas Escrituras desde a criação às primícias da Igreja. É na bíblia que o Senhor Se revela amoroso e compassivo, por isso “A Bíblia é a carta do amor de Deus dirigida a nós.” (Sören Kierkegaard, filósofo).

Por ser então a Escritura uma carta de amor, devemos acolher seus textos com muito zelo e amor, pois se você ao escrever uma carta para alguém com muito carinho, soubesse que este alguém desprezou suas palavras, certamente não ficaria feliz. Saiba que Deus também não fica feliz quando desprezamos ou zombamos de Suas palavras, pois assim como um jovem apaixonado escreve cartas de amor para sua amada, Deus escreveu cada letra pensando em cada um de nós de forma pessoal, com e por amor. “Portanto devemos ler as Sagradas Escrituras com a mesma fé viva da Igreja em que elas surgiram.” (YOUCAT, 16).

No Antigo Testamento (do latim testametum = legado), que é formado por 46 livros, Deus Se mostra como o Criador de tudo que existe e como guia, sustento e educador do mundo. Nele o Senhor começa seu plano de salvação para nós, que se cumpre no Novo Testamento.  Além disso, os livros da Antiga Aliança são de grande riqueza em orações, profecias, ensinamentos e também nos salmos que são usados ainda hoje nas orações e celebrações diárias. “A Igreja sempre rechaçou vigorosamente a ideia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo o teria feito caducar.” (CIC 123).

O Novo Testamento, por sua vez, é composto por 27 livros que vêm completar aquilo que estava no antigo. É nele que estão os quatro evangelhos, que são o coração da Sagrada Escritura, pois é ai que Deus se mostra como é, e como veio ao nosso encontro no Seu Filho. Os Atos dos Apóstolos mostram aquilo que era a Igreja primitiva que vivia na caridade e na potência do Espírito Santo. As cartas apostólicas vêm como reflexo da luz de Cristo para iluminar o homem em todas as suas dimensões. E, finalmente, o Apocalipse de São João nos ajuda a antever aquilo que será o fim dos tempos.

“Toda a Escritura divina é um único livro, e este livro único é Cristo, já que toda Escritura divina fala de Cristo, e toda Escritura divina se cumpre em Cristo.” (Hugo de São Vitor, Noe 2,8 In CIC 134). Nesta frase tudo se resume e, mais objetivo ainda foi São Jeronimo ao dizer: “Desconhecer a Escritura é desconhecer Cristo.” Ou seja, para conhecer a Jesus é necessário fazer a experiência da leitura e meditação dos Sagrados textos Bíblicos, tentando assim escutar a voz do próprio Cristo, pois como São Francisco de Assis disse: “Ler a Sagrada Escritura significa pedir o conselho de Cristo.” Aí então, voltamos àquela carta de amor, onde o autor não só ama, mas educa, ensina e fortalece, pois Jesus é sem dúvida o maior conselheiro para qualquer situação.

Para a Igreja de Cristo as Sagradas Escrituras são tão Sagradas e importantes como a Eucaristia, pois ambos alimentam e dirigem a vida daqueles que comungam da palavra e do corpo e sangue do Senhor. Na Santa Missa, primeiro temos a partilha da palavra na mesa que é chamada ambão e depois a partilha do pão da vida na mesa do altar. Em ambos nos encontramos com Cristo, mas os dois se completam e geram em nós uma perfeita comunhão.

Portanto, vivamos o que nos é proposto pela palavra de Deus e comunguemos dela com ardor e amor, esperando e confiando sempre que Deus irá nos falar algo e dar-nos uma mensagem de amor e de paz, pois “A Sagrada Escritura não é algo que pertence ao passado. O Senhor não fala no passado, mas no presente; ele fala conosco hoje, dá-nos a Luz, mostra-nos o caminho da Vida, concede-nos a comunhão, e, assim, prepara-nos e abre-nos para a Paz.” (Bento XVI, 29.03.2006).

Tua Palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 118,105).

Fonte: http://avozdelourdes.blogspot.com/2014_09_01_archive.html

 

SÃO JERÔNIMO, DOUTOR DA IGREJA

Nasceu na Dalmacia (Iugoslávia) no ano 342. São Jerônimo cujo nome significa "que tem um nome sagrado", consagrou toda sua vida ao estudo das Sagradas Escrituras e é considerado um dos melhores, se não o melhor, neste ofício.

Em Roma estudou latim sob a direção do mais famoso professor de seu tempo, Donato, que era pagão. O santo chegou a ser um grande latinista e muito bom conhecedor do grego e de outros idiomas, mas muito pouco conhecedor dos livros espirituais e religiosos. Passava horas e dias lendo e aprendendo de cor aos grandes autores latinos, Cicero, Virgilio, Horácio e Tácito, e aos autores gregos: Homero, e Platão, mas quase nunca dedicava tempo à leitura espiritual.

Jerônimo se dispôs ir ao deserto a fazer penitência por seus pecados (especialmente por sua sensualidade que era muito forte, por seu terrível mau gênio e seu grande orgulho). Mas lá embora rezava muito, jejuava, e passava noites sem dormir, não conseguiu a paz, descobrindo que sua missão não era viver na solidão.

De volta à cidade, os bispos da Itália junto com o Papa nomearam como Secretário a Santo Ambrósio, mas este adoeceu, e decidiu nomear a São Jerônimo, cargo que desempenhou com muita eficiência e sabedoria. Vendo seus extraordinários dotes e conhecimentos, o Papa São Dâmaso o nomeou como seu secretário, encarregado de redigir as cartas que o Pontífice enviava, e logo o designou para fazer a tradução da Bíblia. As traduções da Bíblia que existiam nesse tempo tinham muitas imperfeições de linguagem e várias imprecisões ou traduções não muito exatas. Jerônimo, que escrevia com grande elegância o latim, traduziu a este idioma toda a Bíblia, e essa tradução chamada "Vulgata" (ou tradução feita para o povo ou vulgo) foi a Bíblia oficial para a Igreja Católica durante 15 séculos.

Ao redor dos 40 anos, Jerônimo foi ordenado sacerdote. Mas seus altos cargos em Roma e a dureza com a qual corrigia certos defeitos da alta classe social lhe trouxeram invejas e sentindo-se incompreendido e até caluniado em Roma, onde não aceitavam seu modo enérgico de correção, dispôs afastar-se daí para sempre e se foi a Terra Santa.

Seus últimos 35 anos os passou em uma gruta, junto à Cova de Presépio. Várias das ricas matronas romanas que ele tinha convertido com seus pregações e conselhos, venderam seus bens e se foram também a Presépio a seguir sob sua direção espiritual. Com o dinheiro dessas senhoras construiu naquela cidade um convento para homens e três para mulheres, e uma casa para atender aos que chegavam de todas partes do mundo a visitar o lugar onde nasceu Jesus.

Com tremenda energia escrevia contra os hereges que se atreviam a negar as verdades de nossa Santa religião. A Santa Igreja Católica reconheceu sempre a São Gerônimo como um homem eleito Por Deus para explicar e fazer entender melhor a Bíblia, por isso foi renomado Patrono de todos os que no mundo se dedicam a fazer entender e amar mais as Sagradas Escrituras. Morreu em 30 de setembro do ano 420, aos 80 anos.

Fonte: www.acidigital.com

 

EVANGELHO DE SÃO MATEUS – SEGUNDA PARTE

 

6. Ensinar a valorizar o cotidiano, onde a salvação acontece nos pequenos gestos de misericórdia

A sexta lição para nós diz respeito à valorização do cotidiano. Na comunidade de Mateus havia gente preocupada em conhecer o momento preciso do fim do mundo (Mt 24,3). Esse tipo de preocupação leva as pessoas se concentrarem no futuro e se esquecerem do presente. Cada vez que alguém “prevê” o fim do mundo, tem gente que fica angustiada e se deixa seduzir por líderes religiosos fanáticos, com suas propostas estapafúrdias. Na catequese de Mateus, os discípulos do Reino são ensinados e perceber a presença de Jesus Ressuscitado, mesmo nas pequenas ações. Por isso, quando alguém dá de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede, acolhe os peregrinos, oferece roupa a quem está nu, visita os doentes e prisioneiros está sendo misericordioso com o próprio Jesus. Por isso, no final de sua caminhada, ouvirá as palavras de acolhida: “Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo” (Mt 25,34). Um elemento chama a atenção nas palavras de Jesus: “Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40).

 

A salvação acontece no cotidiano, de modo muito especial, quando o discípulo do Reino se mostra sensível ao sofrimento dos irmãos e das irmãs sem reconhecimento social e religioso. Os pequenos passos do dia a dia vão se direcionando para Deus, autor da nossa salvação.


Quem opta pelo egoísmo e pela insensibilidade no trato com os irmãos e irmãs “mais pequeninos” afasta-se cada vez mais da salvação. Resultará daí a infeliz experiência de escutar do Senhor do Reino as terríveis palavras: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos” (Mt 25, 41). A certeza de estar no caminho da salvação, talvez, pela fidelidade à Lei de Moisés e às práticas cultuais, se mostrará enganosa, quando o discípulo passar pelo crivo da misericórdia. Vale a pena ler Mt 7,21-23 – “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim, aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres? Então, sem rodeios, eu lhes direi: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’”.


Esse ensinamento da catequese de Mateus desmascara aquelas pessoas que se consideram muito religiosas, por praticarem uma religião moralista, legalista e excludente, serem fidelíssimas às normas das igrejas, porém, despreocupados com a misericórdia e o cuidado com o semelhante (Mt 23,23). As palavras de Jesus, na catequese de Mateus, devem servir de alerta para quem investe num tipo de religião vazia, sem força de salvação, a religião dos escribas e fariseus hipócritas de todos os tempos.

 

7. Motivar a prática da fraternidade, do perdão e da acolhida ao interno da comunidade de fé, a igreja dos discípulos e discípulas do Reino

 

A sétima lição que Mateus nos oferece toca o tema da vida em comunidade, em outras palavras, nosso modo de ser Igreja. Vou me deter apenas num aspecto: a questão das lideranças das comunidades cristãs. O princípio das relações na comunidade está formulado em Mt 23,8-12: “Não permitais que vos chamem de ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o Pai dos céus. Nem permitais que vos chamem ‘Guias’, pois um só é o vosso guia, Cristo. Antes, o maior dentre vós será aquele que vos serve. Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado”.

 

A declaração “Vós sois irmãos” coloca todos os membros da comunidade em pé de igualdade, sem hierarquias nem classes. O batismo iguala todos os discípulos e discípulas do Reino. Na igreja do Reino, não existem maiores e menores em dignidade. Existe sim distinção de ministérios, de serviços. Porém, em nome do ministério, ninguém tem o direito de se considerar superior aos irmãos. Falando fora da catequese de Mateus, podemos dizer que o sacramento da ordem não pode ser considerado superior ao sacramento do batismo; e os padres e bispos não podem se considerar superiores aos demais batizados e, sim, servidores das comunidades dos discípulos do Reino, a Igreja.

Em Mt 18, Jesus ordena: “Não desprezeis nenhum desses pequeninos” (v. 10), pois “não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca” (v. 14). Portanto, todos devem ser valorizados na comunidade. Quem cair na tentação de maltratar os membros mais frágeis da comunidade, estará agindo na contramão do Mestre Jesus. A atitude correta consistirá em incentivá-los a perseverar na caminhada de fé, cuidando para que não desanimem. Se, por acaso, fraquejarem, a comunidade com seus líderes deve estar disposta a perdoar o faltoso “até setenta vezes sete vezes” (v. 22), ou seja, sempre.

 

Para evitar que algum membro desviado caia nas mãos de líderes autoritários, Jesus aponta um expediente no qual a comunidade conduz o processo, sem depender do ponto de vista dos líderes (Mt 18,15-20). O primeiro passo consiste em alguém conversar com o irmão faltoso em particular. Se esse primeiro passo não surtir efeito, então, será abordado por mais uma ou duas pessoas, conjuntamente. Se o segundo passo também se mostrar ineficaz, então, toda a comunidade se reunirá, em oração, para se perguntar: o que o Pai dos Céus quer que façamos com esse irmão transviado? A comunidade em discernimento deverá estar consciente de ter Jesus em seu meio, pois ele mesmo garantiu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (v. 20). Ou seja, trata-se de fazer a vontade do Pai dos Céus e a não dos líderes. A função desses consiste em ajudar a comunidade a ser o máximo fiel à vontade de Deus, que deve ser realizada “assim na terra como no céu” (Mt 6,10), porém, sem impor suas ideias.

 

8. Criar uma visão aberta de humanidade, superando a atitude de seita, gueto e “panelinha”

A oitava lição que nos oferece a catequese de Mateus refere-se à visão aberta de humanidade, superando a mentalidade sectária, de guetos, de panelinhas, tão cultivada por muitos que se dizem cristãos. Esse tema abre e fecha a catequese de Mateus. A isso os estudiosos de Mateus chamam de inclusão. A inclusão serve de moldura para a mensagem e se torna uma pista para interpretá-la. Nesse caso, significa que só terá entendido a catequese quem tiver a mente e o coração abertos para compreender o amor do Pai dos céus abarcando a humanidade inteira, sem qualquer discriminação, pois todos os seres humanos são filhos e filhas, para além da classificação de “maus e bons”. Por isso, “o Pai que está nos céus, faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).

 

Na abertura da catequese de Mateus, encontramos a figura dos “magos do Oriente” vindos a Jerusalém em busca do recém-nascido, rei dos judeus, guiados por uma estrela, com o propósito de adorá-lo (Mt 2,1-2). Em meio a muitas peripécias, afinal, chegam ao destino: “Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Em seguida, abriram seus cofres, e ofereceram-lhes presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11). É o que acontece com muitas pessoas de boa-vontade que, ao se colocarem em busca da salvação, se defrontam com a pobreza e a simplicidade do Messias Jesus, que tem consciência de ser o Filho de Deus.

 

Na conclusão da catequese, temos dois episódios interessantes. O primeiro diz respeito à reação do oficial romano e seus subordinados, em face da ressurreição de Jesus. A primeira confissão de fé – “De fato, este era filho de Deus!” (Mt 27,54) – brota da boca de um não-judeu, ou seja, um pagão. O segundo refere-se ao envio missionário, os discípulos recebem a missão de fazer outros discípulos “em todas as nações” (Mt 28,19). Nenhum povo, cultura, grupo tem privilégio no tocante ao anúncio do Reino. Jesus estende a fraternidade do Reino a toda a humanidade. Se os membros da comunidade são “todos irmãos e irmãs”, como está dito em Mt 23,8, também se pode dizer da humanidade em seu conjunto: todos os seres humanos são irmãos e irmãs. O discípulo do Reino jamais deixará que a xenofobia (ódio aos estrangeiros) tome conta do seu coração, pois tem um coração ecumênico e aberto ao diálogo com todas as religiões e culturas.

 

Para inculcar essa consciência em seus irmãos de comunidade, o catequisa Mateus recuperou uma cena no ministério de Jesus de Nazaré. Certa vez, ele foi procurado por um oficial romano que lhe pedia a cura de seu empregado paralítico. Em face da disposição do Mestre de atender o pedido, indo curar o enfermo, o pagão faz uma comovente profissão de fé: “Senhor, não sou digno de receber-te sob o meu teto; basta que digas uma palavra e o meu criado ficará são” (Mt 8,8). Essas palavras tocaram no fundo do coração de Jesus e o moveu a declarar: “Em verdade vos digo que, em Israel, não achei ninguém que tivesse tal fé!” (Mt 8,10). Como Jesus, os discípulos do Reino são convidados a perceber a presença da fé para além dos limites de suas igrejas, grupos ou movimentos. Talvez, os de fora vivam a fé com mais verdade que os de dentro, ao praticarem a misericórdia em favor dos irmãos, à margem das práticas religiosas vazias, quando não estridentes e espalhafatosas, bem ao gosto dos escribas e fariseus denunciados na catequese evangélica.

 

Esse tipo de religião desfocada foi denunciado com a parábola dos vinhateiros homicidas, contada por Jesus para os sumos sacerdotes e os fariseus, em plena Cidade Santa, Jerusalém, onde a liderança religiosa se sentia em casa, como se fosse proprietária de Deus. Jesus conclui a parábola com uma afirmação que tirava o tapete de debaixo dos pés de seus acusadores: “Eu vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que produza seus frutos” (Mt 21,43). Os “cabritos” colocados à esquerda do Filho do Homem ficarão chocados quando virem as “ovelhas” sendo acolhidas festivamente no Reino (Mt 25,31-46). Quanta frustração haverá para quem fecha a porta do Reino a quem não pertence a seu grupinho, povo, igreja, movimento... Não pertence à sua “seita”!

 

espírito “católico” do projeto de Jesus de Nazaré não se limita a uma Igreja em particular. Toda comunidade que pretenda ser herdeira do espírito de Jesus e se coloca em seus passos deverá abrir-se para acolher a humanidade que se encarna em todos os seres humanos, sem qualquer exceção.

 

9. Ensinar a arte do discernimento cristão dos “sinais dos tempos”, para não se deixar enganar pelos falsos messias e falsos profetas, anunciadores do fim do mundo

 

A nona lição abre-nos para o tema do discernimento dos sinais dos tempos, que permite aos discípulos do Reino caminharem com segurança, em meio aos muitos percalços da vida e da história. Em Mt 24–25, chamado Discurso Escatológico, Jesus faz um alerta contra “os falsos messias e os falsos profetas” (Mt 24,23) e seus discursos enganadores, à revelia de Deus. A sensatez exige “vigilância”, “porque o Filho do Homem virá numa hora que não pensais” (Mt 24,44) e o discípulo do Reino corre o risco de ser pego de surpresa.

metáfora do ladrão serve de chave de leitura para a realidade do discípulo do Reino, no seu cotidiano. “Se o dono da casa soubesse em que vigília da noite viria o ladrão, vigiaria e não permitiria que a sua casa fosse arrombada” (Mt 24,43). Igualmente, a imagem do “servo fiel e prudente que o senhor constituiu sobre sua criadagem, para dar-lhe o alimento em tempo oportuno”. Esse servo cumpre sua tarefa e está pronto a prestar contas a seu senhor a qualquer momento em que chegar, mesmo de improviso. Já o servo mau, desconhecendo quando seu senhor voltaria, “começa a espancar os seus companheiros, a comer e beber em companhia dos bebedores”, será punido severamente, com “a sorte dos hipócritas” (Mt 24,45-50). Outra imagem é a das dez virgens, metade insensatas e metade prudentes, à espera da chegada do noivo. Quem não contou com a possibilidade de o noivo chegar muito tarde e, por isso, deixou de providenciar óleo de reserva, ficará fora da festa (Mt 25,1-12).

 

advertência do Mestre dispensa explicações: “Vigiai, porque não sabeis nem o dia nem a hora” (Mt 25,13). A virtude da vigilância, fruto do discernimento continuado, exige engajamento na construção do mundo querido por Deus – o Reinado de Deus – pelo viés da caridade, da misericórdia e do cuidado com os pequeninos e fragilizados de nosso mundo. O papa Francisco, um grande discípulo de Jesus de Nazaré, alarga o horizonte da misericórdia e do cuidado para inserir nele a Casa Comum, como componente obrigatório do modo de proceder dos discípulos do Reino. Quando o Senhor vier, deverá louvar nossa atenção com a sustentabilidade da criação preparada pelo Pai dos céus para seus filhos e filhas.

 

10. Insistir com a comunidade para ser Igreja em saída, para anunciar a Boa-Nova até os confins do mundo, a todos os povos, consciente da presença do Ressuscitado

A décima lição aprendida do catequista Mateus tem muito a ver com um tema caro ao papa Francisco: fazer-nos ser Igreja em saída. O evangelista conclui sua catequese com a cena do Ressuscitado reunido com os discípulos em um monte na Galileia. É o momento em que ouvirão o imperativo que ressoa nos ouvidos e nos corações dos apóstolos: “Ide”. No capítulo 10, conhecido como Discurso Missionário, lemos que Jesus “chamou os doze discípulos, deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a sorte de males e enfermidades [...] Esses Doze enviou Jesus com estas recomendações. [...]” (Mt 10,1.5). Diferentemente do que acontece em Marcos e Lucas, onde os discípulos são enviados, cumprem a missão e voltam para prestar contas ao Mestre, em Mateus a execução do mandato missionário só acontecerá no final do evangelho. Aí, sim, os apóstolos são enviados com a tarefa de “fazer com que todas as nações se tornem discípulos” (Mt 28,19). Ninguém pode ser excluído. Os apóstolos devem proclamar o evangelho, “até a consumação dos séculos” (Mt 28,20), seguros de terem consigo o Senhor que prometeu estar com eles todos os dias.

 

Essa missão não tem volta, pois não será mais necessário retornar e prestar contas ao Mestre da tarefa realizada. Afinal, os discípulos-missionários são acompanhados pelo Senhor que os enviou.

 

A conclusão da catequese de Mateus alerta-nos para nossa vocação de estar sempre a caminho, em vista de trilhar todas as veredas e atalhos do mundo, onde se encontra a humanidade carente da Palavra da Salvação, que chegou até nós pela mediação de Jesus de Nazaré. Supõe-se do discípulo-missionário uma fé adulta, livre das amarras do moralismo dos líderes das igrejas, capaz de enfrentar os desafios da missão, na certeza de ter consigo o mesmo Espírito que acompanhou o missionário Jesus de Nazaré. Com ele, será capaz de viver as bem-aventuranças sem se deixar abater. E, com o seu testemunho de vida, nos passos do Mestre, será um sinal do Reino de Deus, acontecendo entre nós.

 

Os rumos tomados pela catequese em nossas Igrejas, ao longo dos séculos, exigem que se volte às fontes da catequese cristã, centrada na formação de discípulos–missionários. A catequese preocupada em preparar a recepção de sacramentos, pela transmissão de dogmas e doutrinas, mostrou-se ineficaz quando se trata de levar adiante a missão inaugurada pelo Mestre de Nazaré.

Evangelho de Mateus, catequese narrativa voltada ao discipulado do Reino, contém em suas entrelinhas pistas preciosas para a tarefa catequética das comunidades cristãs de todos os tempos. Sua leitura atenta pode servir de inspiração para os catequistas de hoje, que se dispõem a crescer enquanto discípulos-missionários e, nos passos de Jesus de Nazaré, anunciar o Reino de Deus a todas as gentes, até a consumação dos tempos (Mt 28,16-20).

 

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/594727-o-evangelho-de-mateus-uma-catequese-para-os-nossos-dias

 

 

ESPIRITUALIDADE

Como uma abelha pode nos ensinar a meditar melhor a Bíblia

De acordo com os autores monásticos, a abelha possui qualidades importantes para aprender a ler e meditar bem a Bíblia. E se seguíssemos o exemplo dela?


Quando o diplomata e poeta francês Paul Claudel percorreu a Bíblia página por página por muitos anos, ele lia ela com um olhar aguçado e sua caneta tão alerta quanto uma varinha. Tudo, segundo ele, falava com um dos nossos cinco sentidos, evocava uma imagem, uma emoção espiritual, uma lição. Praticamente faltou apenas encostar o ouvido na página para ouvi-la respirar como por um estetoscópio.

 

“A Bíblia respira”, ele dizia. Contém o sopro de Deus, seu Espírito que atua na história do seu povo e, sobretudo, no nosso presente, na nossa vida aqui e agora. Usando a inteligência do coração, podemos inalar essa respiração, como uma espécie de boca a boca de avivamento espiritual.

 

Mas essa insuflação requer paciência. Bento XVI, ao inaugurar o Colégio dos Bernardinos em Paris no ano 2008, traçou a origem de nossa cultura nesta fraternidade de monges inquietos, em sua unidade, para buscar a Deus e compartilhar sua palavra com o mesmo amor pelos textos sagrados.

 

A erudição, o treinamento, o domínio de línguas e as gramáticas foram colocados a serviço da arte da leitura. Não como uma forma única de leitura, mas graças aos múltiplos níveis de significação das palavras, com uma cascata de referências de um texto a outro e uma sinfonia de entendimentos agregados. Porque, como dizem os monges, o conhecimento acumulado em si nada mais é do que ostentação.

 

Como uma abelha

 

Ler está a serviço do desejo de Deus. Ao encontrá-lo, encontramos a nós mesmos. À medida que nos encontramos um pouco, buscamos Ele ainda mais. O teólogo Guillermo de Saint-Thierry, discípulo e amigo de São Bernardo de Clairvaux, explicou aos irmãos da abadia que é preciso ruminar a Palavra, “dando uma mordida” todos os dias e confiando-a “ao estômago da memória”. Sem gula, sem leitura na superfície das palavras, sem olhares de passagem. Em vez disso, uma luta amorosa para, como Jacó com o anjo, buscar o reconhecimento que terá de ser retomado um pouco mais tarde.

 

Então, que qualidade você precisa ter para ler bem e respirar a Bíblia? Os autores monásticos são claros: a da abelha! A abelha pecoréia, vai buscar seu alimento em toda parte, em todas as flores de Deus e, a partir disso, faz mel. Essa inteligência da abelha, sua paciência, sua capacidade de fazer do pólen um alimento macio, são todas as qualidades de uma leitura exigente. Tudo isto permite, através desta amizade familiar com a palavra de Deus, aprender a “conhecer o coração de Deus”, como dizia São Gregório Magno.

 

Damien Le Guay

 

Fonte: https://pt.aleteia.org/cp1/2020/09/18/como-uma-abelha-pode-nos-ensinar-a-meditar-melhor-a-biblia/