"O
AMOR ÚNICO!"
O Doutor da Lei indaga de Jesus, com segundas
intenções, qual entre os 680 mandamentos originados do Decálogo, é o mais importante.
Jesus, sempre de maneira sábia surpreende seu interlocutor, pois muda a conversa
de direção, saindo do mero legalismo para uma atitude concreta de vida, que supõe
naturalmente uma decisão e uma vontade.
"Amarás o Senhor teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento". O amor de Deus
por nós, manifestado em Jesus de Nazaré, não é um mero sentimentalismo, o nosso
amor a Deus também não pode ser um sentimento piegas, senão ele não sobrevive ao
tempo, amar do modo como está na lei, envolvendo coração, alma e entendimento, é
amar integralmente, de maneira gratuita e incondicional, a cada dia decidindo e
direcionando a nossa vontade a esse amor. O amor não pode ser um gesto de gratidão,
de pena ou compaixão, e muito menos de retribuição, o outro não precisa me dar razões
para o amar, devo amá-lo por decisão e vontade, mesmo que ele não mereça e nunca
vá me retribuir: esse é precisamente o amor cristão.
E se esse amor fosse só para com Deus estava
resolvido, bastasse cumprir as obrigações religiosas, rezar, ir à igreja, dar o
dízimo, receber os sacramentos, ouvir a palavra, visitar o Santíssimo etc. Tem cristão
que pensa amar a Deus fazendo todas essas coisas.
Não são dois amores ou dois modos de amar,
mas um só, Amar a Deus e ao próximo, porque Deus se deixa amar no outro e manifesta
o seu amor através do outro, é como se o homem fosse o intérprete do amor de Deus,
dando-lhe visibilidade. Nas coisas que Deus nos faz sempre há alguém envolvido...
Decisão e vontade de amar são fatores determinantes do AMOR, aos irmãos e irmãs
da comunidade, na vida conjugal e familiar, que precisa ser renovado a cada dia,
a cada momento, pois se não iluminarmos o amor com a luz da Fé, ele será um sentimento,
uma nuvem passageira, um amor de vidro, que facilmente se quebra...
Amar a Deus de todo o coração, de toda a
alma e de todo o entendimento, eis o primeiro e o maior de todos os mandamentos,
na resposta que Jesus dá aos fariseus, no evangelho desse domingo. Em meio a relações
amorosas tão distorcidas, temos aí o modo de amar, em sua essência. Pertencemos
a uma sociedade onde até crimes monstruosos são cometidos em nome do amor.
Amar de todo o coração significa uma decisão
tomada a favor da outra pessoa, significa uma vontade manifestada em gestos e atitudes,
de toda a alma significa que o amor adquire um caráter sagrado, algo que só podia
mesmo ser divino, e de todo o entendimento, amor que pauta pela razão, pela compreensão
do outro, trata-se de uma entrega total, não por imposição, mas dentro de uma total
liberdade.
Talvez possamos nos perguntar, será que Deus
precisa de um amor assim, da parte do homem?
Pois sendo Todo Poderoso e Onipotente, que
necessidade tem Deus de querer ser amado desta maneira? O contexto desse mandamento
que está no cerne da lei, é que Israel tem muitas opções de divindades, deuses dos
povos pagãos, e que acabavam influenciando o Israelita, esse amor da totalidade
é apenas a atitude de fé, de quem crê em um único Deus, e que não precisa de nenhum
outro, mesmo porque, não há outro Deus senão o Deus da Aliança. Tal como naquele
tempo, há em nossos tempos mil opções de pequenos deusinhos que se apresentam diante
de nós, querendo submissão e oferecendo-nos em troca algo ilusório.
Já o Deus dos cristãos, que mostra o seu
rosto em Jesus de Nazaré, pede aos seus seguidores algo muito simples, e ao mesmo
tempo revolucionário e inédito: o amor gratuito e incondicional, o amor total da
entrega ao outro, respeitando a sua dignidade de Filho de Deus, o amor que sempre
sorri e nada cobra o amor paciente, compreensivo, que sabe sempre esperar, perdoar,
que suscita no outro, essa vida nova, que orienta, exorta, mostra o caminho, toma
pelas mãos, cura, renova, liberta e salva.
Entretanto, se compreendermos que Jesus restaurou
cada homem, tornando-o Filho de Deus, e dando-lhe a dignidade de ser novamente sua
imagem e semelhança, concluímos que Deus está em cada homem, no mais profundo do
seu ser existencial, independente da sua fé, da sua condição social ou moral, logo,
fica muito claro, porque o segundo mandamento é semelhante ao primeiro e tem o mesmo
peso – Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Deus está no outro, e ama a todos,
então, se eu deixo de amar o outro, estou indo contra Deus, ao contrário, se eu
amo o outro, de todo o coração, isso é, por minha vontade e decisão (mesmo que o
outro não mereça) de toda a minha alma, porque o amor destinado ao próximo é também
sagrado, porque Deus está nele, e de todo o meu entendimento, não ao sabor das paixões
e interesses, mas á luz da razão.
Essa é a única e verdadeira forma de se amar
a Deus, a ponto de João afirmar categoricamente “Se alguém disser que ama a Deus,
que não vê, e não ama o irmão que está ao seu lado, é mentiroso e enganador”.
Portanto, que ninguém mais diga – Não vou
a Igreja por causa das pessoas, mas por causa de Jesus, falar essa frase e defendê-la,
é próprio de quem tem uma espiritualidade vazia, de quem ainda não entendeu de que
todo o ensinamento cristão está concentrado nesta grande verdade.
Para compreender esse evangelho, que aliás,
é bem simples, vamos conversar com um especialista em trânsito:
___O que é uma placa normativa e qual delas
é a mais importante?
___Placa normativa é, por exemplo, uma placa
que determina a velocidade a ser desenvolvida em um local de muito trânsito, por
exemplo. Sobre qual delas é a mais importante, poderíamos dizer que, todas e nenhuma...
___Como assim, a resposta está confusa, ou
é todas ou é nenhuma...
___Veja bem, se você é um motorista consciente,
que tem percepção da realidade que o cerca, sabendo, portanto, que o local é de
trânsito intenso, por exemplo, de pessoas, essa consciência vai fazer automaticamente
reduzir a velocidade, exista ou não uma placa no local. O motorista que não tem
consciência só sabe obedecer a placa, diminui a velocidade por causa dela, é aquele
que ao passar pelo radar eletrônico vai devagar, mas depois acelera e tira o atraso...
esse é o legalista, o que obedece para não sofrer uma punição, só isso.
O que o Doutor da Lei apresenta a Jesus é
uma questão legalista, mas a sua resposta ultrapassa o meramente legal, vai além
de qualquer norma ou Lei.
José
da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata
– Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Fonte:
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0348.htm#msg01