XI-
RFLEXAO DOMINICAL III
O homem da praia...
Um grande amigo que acompanha atentamente as reflexões, me
alertou sobre o evangelho desse terceiro Domingo da Páscoa: “Olha Diácono, é
aquele evangelho onde o “Pedrão”, joga a toalha e vai pescar..” “Pedrão” é o
jeito carinhoso que ele chama São Pedro, eu não o censuro porque, de fato, a
primeira impressão que se tem é essa: Que o apóstolo Pedro desistiu de tudo e
voltou á vidinha antiga, indo pescar. O mais interessante, é que a sua
reestréia na profissão de pescador, foi uma lástima: lidou a noite inteira com
a sua equipe de trabalho, e não pescaram nada, pelo que diz o texto.
Depois, um fato mais estranho aconteceu: Jesus, que era
carpinteiro e não pescador, aparece na praia, pede alimento e depois dá palpite
na atividade pesqueira de Pedro e dos outros pescadores experientes, mandando
jogar a rede do lado direito. Dá para imaginar a cara de “poucos amigos” que
Pedro fez, com aquele palpite de um estranho.Por que, vamos e convenhamos, que
diferença faz, jogar a rede do lado esquerdo ou direito da barca? Aquele
estranho não entende nada de pesca.
Entretanto, seguindo exatamente a sua palavra orientadora,
aconteceu uma pesca milagrosa, e as duas barcas ficaram tão cheias de peixes
graúdos, que por pouco não afundaram. Antes que alguém diga que isso mais
parece lorota de pescador, deixa-me informar que essa história é absolutamente
verdadeira, mas... É claro que não se trata de peixes...
Quando Jesus chamou Pedro, Thiago e João, um belo dia á beira
mar, prometeu que daquele dia em diante, iria fazer deles, pescadores de
homens. Não se pode também, imaginar que Pedro decidiu sair pelos lugarejos,
fazendo uma pregação meio louca, da sua própria cabeça, e que daí as coisas não
deram certo. Mas o evangelista se reporta aos primeiros tempos da comunidade
primitiva. Que dureza tentar cumprir a missão, sem Jesus por perto! A primeira
sensação é realmente de um grande fracasso, em nossas comunidades a gente
experimenta muito isso, a própria vida da comunidade, ás vezes se acha
comprometida e parece que todo trabalho não vai dar em nada.
Os apóstolos sabiam muito bem qual era a missão que o Senhor
lhes havia confiado, nós também nos dias de hoje, já estamos até carecas de
saber qual é a missão primária da igreja, e o que compete a cada batizado
fazer, para que o anúncio do evangelho aconteça, mas o problema são os métodos
que nós utilizamos, será que estão corretos, será que são os mais adequados,
será que não estamos querendo fazer as coisas do nosso jeito?
Há os que confundem o evangelho com ideologias políticas, ou com
uma Filosofia de vida, há os que pensam que o evangelho não tem nada a ver com
a nossa vida e a nossa história, com a realidade onde estamos inseridos, e
pensando desta forma, lá se vão noites e noites de uma pescaria infrutífera,
trabalhos pastorais, reuniões cansativas e desgastantes, projetos que não saem
das gavetas, catequese “arroz com Feijão”, normas e regras na Vida dos
Sacramentos, que não agregam nada. As pessoas chegam, procurando alimento, e
vão embora esfomeadas, esta é uma grande verdade.
Tudo isso porque falta ás vezes o essencial, o reconhecimento de
Jesus presente em nossa lida comunitária, aqui um detalhe extremamente
importante: para reconhecê-lo, só a fé não basta, é preciso uma relação amorosa
com Deus presente em Jesus, por isso João, o discípulo que Jesus amava, exclama
feliz, ao constatar o resultado surpreendente da “pescaria” “É o Senhor!”.
Jesus jamais será percebido na comunidade se faltar aquilo que é essencial: a
relação de amor para com ele. Há os que o buscam somente na razão, outros o
buscam e pensam tê-lo encontrado na emoção, qualquer um desses caminhos não
será válido, se faltar essa relação amorosa.
Mas o coitado do Pedro quase morreu de vergonha quando escutou
falar que aquele homem na praia era Jesus, e correu vestir-se porque estava nu.
Sem a consciência de que Jesus caminha conosco na igreja, a gente não se
reveste da graça santificadora, quando estamos nus, expomos a nossa vergonha,
pois não temos como ocultá-las, mas revestidos da roupa nova que Jesus nos
oferece com a Salvação, tornamo-nos homens novos, e a Luz da Graça Divina nos
dá a roupagem nova, ocultando nossas fragilidades e limites, somos enfim,
recriados, essa seria a palavra certa para o processo de salvação.
Comunidade é lugar de acolhimento, portanto de calor humano, que
aquece com brasas fumegantes alimentando todos os que a buscam, Na brasa
daquele homem misterioso á beira da praia, e que eles não sabiam ainda bem,
quem era, já tinha um peixe e pão, mas ele pede alguns dos peixes que eles
haviam pescado. Comunidade é lugar de alimentar e ser alimentado, de receber e
de dar. Feito isso, juntando o peixe de Jesus e o seu pão, e os peixes graúdos,
que são os frutos do trabalho em comunidade, seja ele qual for, o alimento está
assegurado a todos. Jesus indicou o lugar, isso é, o como fazer, e eles
acreditaram... Eis aí o eco das palavras da mulher das Bodas de Cana “Fazei o
que ele vos disser...”
Na comunidade, Deus e Homem se unem, em uma parceria misteriosa
chamada comunhão de vida, é isso, somente isso, que garante alimento em
abundância a todos...
José da Cruz é Diácono
da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0308.htm#msg01
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