sexta-feira, 27 de junho de 2025

IX- REFLEXÃO DOMINICAL III IGREJA: COMUNIDADE DE PESSOAS QUE CONHECEM A CRISTO

 

 

IX-     REFLEXÃO DOMINICAL III

 

IGREJA: COMUNIDADE DE PESSOAS QUE CONHECEM A CRISTO

Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.” (2Tm. 4,7)

            Celebrar os Apóstolos Pedro e Paulo como testemunho de fé da Igreja una, santa, católica e apostólica é recordar e ter consciência da vitalidade das raízes perenes de onde nós surgimos. Os dois Apóstolos foram martirizados em Roma, na perseguição de Nero, por volta do ano 64 d. C.  Pedro é a Pedra que recebe sua firmeza diretamente da pedra angular que é Cristo; Paulo, a Fonte de onde flui o ardor missionário nascido do encontro com o Senhor Ressuscitado. Celebrar sua memória em forma de Solenidade é recordar o caminho de nossa fé ao longo destes dois milênios e pensar no nosso próprio seguimento de Jesus. Uma solenidade que desde o século III nos convida a professar a fé e a assumir o compromisso da missão.

            A primeira leitura (At. 12,1-11) narra um episódio das muitas perseguições aos cristãos realizadas pelo governador Herodes na sua tentativa de agradar o imperador romano e se aproximar das autoridades judaicas. Mais do que destacar o personagem Pedro, deseja apresentar a vida dos primeiros cristãos logo após a ressurreição de Jesus. Por isto, se enfatiza que a libertação de Pedro não é resultado de forças da violência, mas da confiança em Deus que ouve a intercessão através da oração (At. 12,5). A oração da comunidade é respondida com a intervenção de um mensageiro de Deus (At. 12,7). A oração recebe a resposta de Deus de modo semelhante como muitas vezes experimentamos quando pedimos ou agradecemos a Deus. Em última instância, os fatos narrados – sobretudo a milagrosa libertação de Pedro – desejam revelar, de modo catequético, a solicitude com que Deus cuida da sua Igreja e dos discípulos que permanecem fielmente dando testemunho da salvação.

            A segunda leitura (2Tm. 4, 6-8.17-18) nos coloca diante de Paulo escrevendo – a um amigo e colaborador missionário – o seu testamento espiritual. Timóteo foi o mais valoroso e inseparável companheiro missionário de Paulo. Pela sua coragem e servidão, Timóteo foi escolhido para ser o primeiro bispo da comunidade cristã em Éfeso. Apesar da solidão que sente na prisão, da desilusão com algumas pessoas e o cansaço físico imposto pela idade, o Apóstolo Paulo permanece ciente de que Aquele que o chamou no caminho de Damasco esteve sempre ao seu lado ao longo de sua jornada missionária.

 Usando as imagens da oferta do sacrifício, da luta e da competição esportiva, Paulo mostra o final de uma vida oferecida ao Evangelho. Todavia, ao contrário da coroa de louros oferecida aos atletas (2Tm. 4,8), o Apóstolo tem plena certeza de que receberá a Cristo. Compreendemos que no fim da vida, um discípulo de Jesus, apesar dos perigos, desafios e provações, sempre reconhecerá a permanente presença do Senhor em meio a todas elas.  De modo semelhante a Paulo, os cristãos de todas as épocas devem redescobrir a cada a presença do Senhor em sua vida, confiar em sua Graça e permanecer fiel ao Evangelho.

            O Evangelho (Mt. 16,13-19) nos introduz no centro da fé dos discípulos em Jesus. Ao fazer sua profissão de fé, Pedro se torna a voz que comunica a fé da sua comunidade e recebe de Cristo, nova identidade e missão.

            A questão que Jesus propõe é fundamental para a compreensão da sua identidade (Mt. 16,13). A multidão compreendia e afirmava que Jesus falava em nome de Deus. Apesar de O enxergar como um profeta enviado da parte de Deus, faltava a eles o passo decisivo que levava ao encontro pessoal como acontecera com Zaqueu, o cego Bartimeu ou a Samaritana. Por isso, a grande multidão permaneceu como “discípulo da curiosidade”. Os discípulos caminhavam com Ele há quase 3 anos e mesmo assim muitos ainda não sabiam quem Ele era e qual sua missão.

            Em resposta a sua profissão de fé, Pedro é chamado de bem-aventurado porque já possuía no coração algo precioso que o restante dos discípulos ainda buscava alcançar. Sua profissão de fé não é fruto puramente da inteligência humana, mas da misericórdia de Deus (Mt. 16,17). Jesus então confere nova identidade ao discípulo. Pedro torna-se como pedra, rocha. Recebe o compromisso de manter-se firme e confirmar os outros discípulos na fé professada. Para ser capaz de tão grande missão, Pedro recebe as chaves do Reino dos céus e o poder de ligar e desligar as coisas dos céus e da terra (Mt. 16,19). As chaves representam a missão da Igreja de refletir e anunciar o mistério do Reino anunciado por Jesus Cristo.

            A vida e a evangelização das duas colunas da Igreja que hoje celebramos não se apoiaram sobre uma mensagem intelectual, mas sobre uma experiência pessoal e transformadora que resulta numa caminhada sofrida e testemunhada com a palavra do Evangelho de Jesus Cristo. Hoje, graças aos meios de comunicação, muitos cristãos tem acesso a todos os livros que a fé cristã produziu ao longo destes dois milênios. No entanto, apesar da ampla leitura, são poucos que fazem esta experiência pessoal com Cristo. Como resultado disto, conhecem doutrina moral, teológica e canônica, mas se tornam incapazes de ter compaixão e solidariedade como o próprio Cristo teve. O risco é nos tornamos intelectuais nos moldes dos fariseus, mas distantes da humildade e mansidão do coração de Jesus.

O lugar de Pedro e dos seus sucessores não é um cargo de honra ou o topo de uma escada para onde se corre afim de subir os degraus enquanto se derruba os irmãos de fé. O Primado é um serviço. O serviço de apascentar as ovelhas do Senhor (Jo.21,15ss). O serviço de presidir a Caridade. Ser Testemunha de Cristo, pastor e servo dos cristãos são direitos e deveres que Cristo passou a Pedro e a Paulo e aos seus sucessores, os bispos de Roma e do mundo inteiro, mas também a todos nós que uma vez batizados nos tornamos igualmente discípulos seus.

            Por isto, ao longo de nossa vida e missão, o Senhor permanece mirando com amor os nossos olhos e sorrindo, repete a pergunta: “E vós, quem dizeis que Eu sou(Mt. 16,15). E afinal, quem é Jesus? Nossa resposta como reflexo de nossa caminhada ao seu lado, de modo semelhante a Pedro e Paulo, não pode ser algo mecânico e intelectual, mas fruto da presença de Deus em nossa vida e eco da verdade que carregamos no nosso coração.

            Rezemos pelo Santo Padre, sucessor de Pedro, para que Deus Uno e Trino, que a ele confiou tão desafiante e sublime missão, o ilumine e o torne, cada vez mais, capaz de confirmar na fé a nós, os seus irmãos.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

https://diocesedecrato.org/homilia-da-solenidade-de-sao-pedro-e-sao-paulo/

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