O SENTIDO DE CADA PARTE DA MISSA (I)
Para que
a Santa Eucaristia não se constitua em um mero rito mecânico, onde as pessoas
só “copiam” o que as outras fazem (gestos, sinal da cruz, genuflexão, etc.) sem
entender exatamente o que está acontecendo, é bom que cada fiel católico
entenda melhor a Santa Missa, pois só amamos aquilo que conhecemos.
A missa é
igual para toda a Assembleia, mas a maneira de cada um participar pode ser
diferente pois depende da fé que as pessoas têm e também do grau de formação na
religião. As vezes vamos fazendo muitas coisas sem saber por quê.
Para
participar da missa com fé e alegria, além da sua formação catequética básica,
o fiel deve conhecer todas as etapas da liturgia da missa pois ninguém ama o
que não conhece.
A palavra
MISSA vem do latim missio, que significa despedida ou envio. E, quando os
catecúmenos saíam antes do início da Liturgia Eucarística o celebrante os
despedia. Desta forma, toda a Celebração Eucarística acabou por ser denominada
missa.
A missa é
dividida em quatro partes principais: Ritos Iniciais, Liturgia da Palavra,
Liturgia Eucarística e Ritos Finais.
I RITOS INICIAIS
1. Monição Ambiental
Ao entrar
e sair de uma igreja com um sacrário, procedemos à genuflexão um gesto de
adoração a Jesus Eucarístico.
Feita
pelo comentarista, ao lado do altar. Um convite à Assembleia para participar da
Celebração, criando um clima de oração e fé. Solicita que todos, de pé, recebam
o celebrante.
2. Canto de Entrada e Sinal da
Cruz
Durante o
canto, o padre, os ministros e/ou acólitos dirigem-se ao altar. O padre faz uma
inclinação profunda e deposita o beijo no altar, endereçado a Cristo.
Em
seguida, o padre faz o sinal da cruz e o povo faz com ele (não precisa beijar a
mão após o sinal), mas sem dizer nada. Ao final, todos respondem o “Amém”.
A
expressão “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” quer dizer a pessoa,
não apenas o “nome”. Iniciamos a Missa colocando nossa vida e toda a nossa ação
invocando a Santíssima Trindade.
3. Acolhida e Saudação
É o “bom
dia” de inspiração divina dado pelo Presidente à Assembleia. Em uma das formas
litúrgicas, o padre saúda o povo com as palavras de São Paulo aos Coríntios
(2Cor 13,11-13):
– A graça
de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo
estejam convosco!
Independente
da forma utilizada, todos respondem:
– Bendito
seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!
4. Ato Penitencial
“Se estás
diante do altar para apresentar a tua oferta e ali te lembrares de que teu
irmão tem alguma coisa contra ti, deixa tua oferta lá diante do altar. Vai
primeiro reconciliar-te com teu irmão, depois volta para apresentares tua
oferta.” (Mt 5,23-24)
Convite
para cada um olhar para si (reconhecer os próprios pecados e não os dos
outros), buscando um arrependimento sincero.
Precisamos pedir que Jesus purifique nosso coração para termos parte com ele.
A
absolvição geral que o padre dá no Ato Penitencial é uma purificação das faltas
leves, e realmente nos purificam para participarmos da Ceia do Senhor. Os
pecados graves necessitam de uma confissão sacramental.
5. Hino de Louvor (Glória)
É um
cântico solene, uma das mais perfeitas formas de louvor à Santíssima Trindade,
porque se dirige ao Pai e a Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Vem
logo após o Ato Penitencial, porque o perdão de Deus nos faz felizes e
agradecidos.
Inspirado
no canto dos anjos que louvaram a Deus no nascimento de Jesus: “Glória a Deus
no mais alto dos céus e paz na terra aos homens de boa vontade.” (Lc 2,14)
O Glória
não é cantado (nem recitado) na Quaresma e no Advento, tempos que não são
próprios para se expressar alegria.
6. Coleta
Do latim
“collígere”, que quer dizer reunir, recolher, coletar. Tem o sentido de reunir,
numa só oração, todas as orações da Assembleia.
Por isso,
começa com o “Oremos um convite aos presentes para que se ponham em oração
seguida de uma pausa, para que cada um faça mentalmente a sua oração pessoal.
A seguir,
o padre eleva as mãos assumindo as intenções dos fiéis e elevando-as a Deus e
profere a oração em nome de toda a Igreja.
Por fim, todos dizem “Amém” para dizer que a oração do padre também é sua.
É uma
oração presidencial, feita apenas pelo padre, como representante de Cristo.
Todas as orações presidenciais são compostas por: invocação, pedido e
conclusão. As orações são dirigidas ao Pai, em nome de Jesus nosso mediador, na
unidade do Espírito Santo.
II LITURGIA DA
PALAVRA
Após o
“Amém” da Coleta, a comunidade senta-se, aguardando, antes, o Presidente
dirigir-se à sua cadeira.
A
Eucaristia é o “mistério de nossa fé” e a fé vem pela Palavra de Deus (cf. Rm
10,14). Daí a importância da pregação, abrangida pela Liturgia da Palavra. “Não
só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” (Mt
4,4)
A Palavra
de Deus não é para ser apenas “lida”, mas “proclamada” solenemente. “A fé entra
pelo ouvido.”
As
leituras das missas dominicais variam a cada ano, repetindo-se a cada três
anos. São os chamados ANOS A, B e C. Em cada ano meditamos o Evangelho segundo
Mateus, Marcos e Lucas respectivamente. O Evangelho segundo João intercala-se
durante o ano em momentos fortes.
Os 3
primeiros Evangelhos fazem como que uma sinopse dos fatos acerca da vida de
Jesus são, por isso, chamados de “sinóticos”. O Evangelho escrito por São João
focaliza outros fatos e palavras de Jesus, destacando Sua divindade e
penetrando mais o Mistério do Filho de Deus.
A
Liturgia da Palavra é tão importante quanto a Liturgia Eucarística e deve ter
um lugar reservado para a proclamação a MESA DA PALAVRA.
1. Primeira Leitura
A
Primeira Leitura, em geral, é tirada no Antigo Testamento, onde se encontra o
passado remoto da História da Salvação. Em alguns tempos litúrgicos também são
tiradas de outros livros do Novo Testamento que não sejam os Evangelhos.
2. Salmo Responsorial
É uma
resposta cantada ou recitada à mensagem proclamada. Ou ainda, uma “oração” da
Leitura, ajudando o povo a rezar e a meditar na Palavra de Deus que acabou de
ser proclamada. Não pode ser substituída por outros cânticos que não sejam
inspirados no salmo previsto.
3. Segunda Leitura
Em geral,
é uma carta, retirada do Novo Testamento. Só é proclamada em missas dominicais
ou de dias festivos, não nas missas feriais (no meio da semana).
Assim, a
Liturgia da Palavra, no decorrer das missas do ano, nos dá uma visão de toda a
História da Salvação, recordando quase toda a Bíblia.
4. Canto de Aclamação ao
Evangelho
Jesus
Cristo é a Palavra de Deus. Ele se torna presente na proclamação do Evangelho.
Aclamar é aplaudir com alegria, então o canto de Aclamação ao Evangelho é uma
espécie de “aplausos” para o Senhor que vai nos falar.
Pode ser
antecedido por um breve comentário (não é uma homilia, que não deve antecipar o
que vai ser dito no Evangelho), convidando e motivando a Assembleia para ouvir
o Evangelho. Na Quaresma e no Advento, o canto não tem “Aleluia”.
5. Proclamação do Evangelho
Antes da
proclamação do Evangelho, pode-se fazer uma procissão com a Bíblia ou
Lecionário e as velas. Para se dar mais destaque ao anúncio da Palavra de
Jesus, dois ministros ou acólitos podem segurar uma vela em cada lado do ambão.
O
diácono, e na falta deste o padre, proclama em um lugar mais elevado, para ser
visto e ouvido por toda a Assembleia, que deve estar em pé, numa atitude de
expectativa para ouvir a Mensagem. É como se o próprio Jesus se colocasse
diante de nós para nos falar do que mais nos interessa.
O
diácono/padre saúda a Assembleia:
– O
Senhor esteja convosco!
– Todos: Ele está no meio de nós!
– Diácono/Padre: Evangelho de Jesus Cristo, escrito por …
– Todos: Glória a vós, Senhor!
E, ao final do Evangelho:
– Diácono/Padre: Palavra da Salvação! (E beija a Bíblia)
– Todos: Glória a vós, Senhor!
“Bem-aventurado
os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 11,28)
6. Homilia (Pregação)
É a
interpretação de uma profecia ou a explicação dos textos bíblicos das leituras
proclamadas.
Os
próprios Apóstolos, depois de ouvirem as parábolas, pediam a Jesus que lhes
explicasse o que elas queriam dizer. Assim também é o Povo de Deus, que precisa
de alguém que lhes explique as Escrituras, do mesmo modo que Filipe explicou ao
ministro da Rainha Candace, da Etiópia, uma passagem do AT:
“Ouvindo
que lia o profeta Isaías, disse-lhe: “Porventura entendes o que lês?” Ele
respondeu: “Como é que vou entender se ninguém me explicar?”.” (At 8,30b-31a)
As
Escrituras não são de simples compreensão e não estão sujeitas a interpretações
particulares, mas tão somente da Igreja que Cristo fundou, sob o Primado de
Pedro:
“Pois,
antes de tudo, deveis saber que nenhuma profecia da Escritura é de
interpretação pessoal, porque jamais uma profecia se proferiu por vontade
humana, mas foi pelo impulso do Espírito Santo que homens falaram da parte de
Deus.” (2Pd 1,20-21)
“É o que
ele faz em todas as epístolas em que vem a tratar do assunto. Nelas há alguns
pontos de difícil inteligência, que homens ignorantes e sem firmeza deturpam,
não menos que as demais Escrituras, para sua própria perdição.” (2Pd 3,16)
Além do
que, a Bíblia não é a única fonte de doutrina para o cristão, mas, inclusive, a
Tradição (Oral e Escrita) e o Magistério da Igreja fundada por Jesus:
“Jesus
fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o
mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever.” (Jo 21,25)
“Assim,
pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes,
seja por palavras seja por carta.” (2Ts 2,15)
7. Creio (Profissão de Fé)
Crer em
Deus é confiar nele! Com o Creio, a comunidade afirma que crê na Palavra de
Deus que foi proclamada e está pronta para pô-la em prática. É como um
juramento público.
Há dois
textos diferentes para a Profissão de Fé: o Símbolo Apostólico e o Símbolo
Niceno- Constantinopolitano.
O
primeiro vem do tempo dos Apóstolos. É um resumo das verdades de fé professada
pelos primeiros cristãos. É também mais curto e mais recitado nas missas no
Brasil.
O Símbolo
Niceno-Constantinopolitano surgiu no séc. IV, a partir da heresia de Ário,
que, em sua heresia (negação de verdades de fé), disse que Jesus era apenas
homem, não Deus (como hoje o fazem os espíritas e os “Testemunhas de Jeová”).
Então a Igreja, no Concílio de Nicéia (ano 325), colocou no “Creio” algumas
palavras a mais, acentuando a divindade de Jesus:
“Deus de
Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro…”
Alguns anos depois, Macedônio, outro herege, negou a divindade do Espírito
Santo. A Igreja reafirmou essa divindade, a partir do
Concílio
de Constantinopla (ano 381):
“Senhor
que dá a vida e procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e
glorificado; ele que falou pelos profetas.”
Assim se
formou esse Símbolo, surgido após os Concílios de Nicéia e Constantinopla. É
uma síntese das verdades fundamentais da fé, para manter os cristãos unidos, à
medida que iam se espalhando pelo mundo.
No
Brasil, o Símbolo Niceno-Constantinopolitano é recitado apenas em alguns
domingos, geralmente quando se fala de Jesus como Messias, o Filho de Deus. Eis
o símbolo completo:
“Creio em um só Deus, Pai
Todo-Poderoso, criador do céu e da terra; de todas as coisas visíveis e
invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por
ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação desceu
dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez
homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi
sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos
céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória,
para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito
Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja, una,
santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados.
E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém!”.
8. Oração dos Fiéis (Oração
Universal)
No início
da missa existe a Oração Coleta uma oração presidencial breve, a fim de colocar
a Assembleia em clima de fé para ouvir a Palavra de Deus. A Oração dos Fiéis é
um espaço mais abrangente para que os fiéis coloquem publicamente suas
intenções.
Após
ouvirmos a Palavra de Deus e de professarmos nossa fé nessa Palavra, nós
colocamos em Suas mãos as nossas preces de modo oficial e coletivo.
Nessa
oração, o povo exerce sua função sacerdotal, suplicando por todos os homens,
incluindo as seguintes intenções:
– pelas
necessidades da Igreja e do Papa;
– pelos governantes, legisladores e magistrados; (pois eles têm um poder
temporal, e devem servir ao povo)
– pelos que sofrem qualquer necessidade, especialmente pelos doentes; e
– pelas necessidades da comunidade local.
A Equipe
de Liturgia deve tomar a iniciativa de ver as intenções da comunidade incluídas
na oração, possibilitando que a fé expresse algo mais concreto e vivencial.
O que não
se pode fazer na missa são as orações particulares, como leitura de livros
piedosos, novenas e o terço.
Na Oração
dos Fiéis, a introdução e a conclusão são feitas pelo Presidente. As outras
preces são feitas pelos fiéis, em voz alta, expressando a fé viva e alegria de
toda a comunidade, unidade num só coração e numa só alma.
Durante a Oração dos
Fiéis, todos ficam de pé a posição própria do orante e como rezavam os
primeiros cristãos
________________
Bibliografia:
A Missa
Parte por Parte -Pe. Luiz Cechinato, 18ª ed.,
Ed. Vozes,
1992
Celebrar a Vida Cristã – Ed. Vozes
Catecismo da Igreja Católica
Riquezas da Mensagem Cristã – Ed. Lumen Christi
https://pt.aleteia.org/2018/07/02/o-sentido-de-cada-parte-da-santa-missa/
(Continua no próximo Domingo...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário