Por que o fanatismo é tão perigoso para os indivíduos e a sociedade
Luiz
Antonio Araujo Pierre
O fanatismo pode emergir da área pessoal
e se transformar em fenômeno coletivo, atingindo uma dimensão social de larga proporção,
conduzindo grupos ou até parte da população a atitudes impensáveis
A palavra
“fanático” vem do latim fanum: templo, lugar sagrado, santuário, e se referia
àquele que frequentava um destes locais, sem nenhuma outra conotação. A partir do
século XVIII, esse termo passa a expressar o excesso de zelo que beira a obsessão
e desencadeia atitudes extremistas. É a adesão cega a uma doutrina, a um sistema,
a um partido político, em que o sentimento pesa mais que a razão, gerando intolerância,
preconceito, irracionalidade, ou seja, o reverso do que é o diálogo.
A pessoa é
levada a considerar que existe somente a sua verdade, confundindo as relações e
se colocando como “dono desta verdade única”, como sendo a maneira correta de interpretar
e de agir. Não leva em conta o pensamento e a fundamentação do outro, considerando
como “inimigos” a serem combatidos todos os que possuam outra religião ou convicção
política.
Ódio
O fanático
perde o sentido de suas capacidades críticas e vê, em um objeto, pessoa ou ideia
– foco de sua opção – qualidades que não existem ou são superestimadas. Combate
o “outro lado” com ódio, dispondo-se até mesmo a arriscar a própria vida e negando
as evidências que são contrárias à sua causa.
Uma pessoa
pode possuir personalidade com tendência a esta “entrega” sem maiores questionamentos
ou a escolha da religião ou do partido político pode ocorrer de forma natural, baseada
na tradição familiar, mas, depois, se tornar uma participação fanática. Existem
também os grupos que induzem seus membros ao fanatismo.
Dimensão
O fanatismo
pode emergir da área pessoal e se transformar em fenômeno coletivo, atingindo uma
dimensão social de larga proporção, conduzindo grupos ou até parte da população
a atitudes impensáveis. Representa, no aspecto político, constante perigo à democracia,
quando a massa humana é manipulada por organismos poderosos para lutar por ideais
colocados por esses agentes.
O fanático
acredita em tudo que é divulgado a favor do tema que defende, sem checar fonte,
autoria ou veracidade. A aceitação das fakes news, sobretudo distribuídas
em larga escala no WhatsApp, é um exemplo contundente. As mensagens anônimas, sem
qualquer credibilidade, sem pesquisa sobre a fundamentação, são repassadas como
verdadeiras.
Desprezo
O fanático
tem total desprezo e desconsideração pela opinião alheia contrária à sua crença
e ou posição, o que traz em relevo um aspecto crucial e fundamental: o diálogo ou
a falta do diálogo, pois não há disposição para ouvir o outro em seus argumentos.
Na área política
com elementos religiosos, os líderes são considerados escolhidos e enviados por
Deus, e isso pontecializa de forma exponencial o fanatismo e leva a tomar decisões
de forma irracional, com adesão passional, impedindo o diálogo e criando uma ruptura
aparentemente insuperável.
Na realidade,
em nenhuma situação, a verdade, ainda que parcial, está na posse de alguém ou de
um grupo, pois esta possui muitas facetas e é muito mais complexa do que possamos
imaginar ou alcançar num debate caloroso e apaixonado.
Diálogo
De outro lado,
deixar de abordar assuntos polêmicos, para manter uma aparente situação de harmonia,
é omissão grave, pois podemos ignorar questões de urgência e importância para a
sociedade.
É possível
e salutar dialogar sobre ideias, possibilitando a coexistência harmônica entre pessoas
que tenham pensamentos diferentes; com isso se evita discutir sobre as paixões,
o que, na maioria das vezes, leva a resultados destrutivos e desagregadores.
Ouvir com
atenção, aprender com o outro, agir com humildade e grandeza, colocando-se no lugar
do outro, até conseguir pensar, analisar e interpretar um tema, levando em conta
os sentimentos e as experiências do interlocutor.
Indispensável
manter a pluralidade de opiniões, de pontos de vista, de opções, de escolhas, e
isso se consegue tendo como base o diálogo entre as muitas tendências e posições
pessoais e de grupos. Assim, é possível contribuir com a construção de uma sociedade
participativa, plural, democrática e justa.
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