A EUCARISTIA E OS TESTEMUNOS PRIMITIVOS DA IGREJA: IV SECULO
SANTO AMBRÓSIO DE MILÃO
(337 a 397 d.C.)
Sobre os Sacramentos, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C.):
“Vinhas, portanto, desejando, por teres visto tal graça; vinhas ao altar, desejando receber o sacramento. Tua alma diz: “Aproximar-me-ei do altar de Deus, do Deus que alegra a minha juventude” (Sl 42,4). Depuseste a velhice dos pecados, assumiste a juventude da graça. Foi isso que te concederam os sacramentos celestes. De novo, escuta o que Davi diz: “Tua juventude se renovará como a da águia” (Sl 102,5). Tu começaste a ser boa águia que se lança para o céu e despreza o que é terreno. As boas águias estão em torno do altar: de fato, “onde está o corpo, aí estão também às águias” (Mt 24,28). O altar tem a forma do corpo e o corpo de Cristo está no altar” (Sobre os Sacramentos [Livro IV] 2,7).
“Talvez digas: <Meu pão é comum>. Mas este pão é pão antes das palavras sacramentais; depois da consagração, o pão se transforma em carne de Cristo. Demonstremos isso. Como pode ser que o pão pode se tornar corpo de Cristo? Com quais palavras se fez a consagração e com palavras de quem? Do Senhor Jesus. Com efeito, todo o resto que se diz antes, é dito pelo sacerdote: louva-se a Deus, dirige-se-lhe oração, pede-se pelo povo, pelos reis (2 Tm 2,12) e pelos outros. No momento em que se realiza o venerável sacramento, o sacerdote já não usa as suas próprias palavras, mas as palavras de Cristo. Portanto, é a palavra de Cristo que produz o sacramento. Qual é a palavra de Cristo? É aquela pela qual todas as coisas foram feitas. O Senhor ordenou e o céu foi feito. O Senhor ordenou, e a terra foi feita. O Senhor ordenou, e os mares foram feitos. O Senhor ordenou e toda criatura foi criada. Vês, portanto, como é eficaz a palavra de Cristo!
Se há tanta força na palavra do Senhor Jesus, de modo que as coisas que não existiam começassem a existir, tanto mais é eficaz para que aquela coisa que existiu se transformasse em outra coisa. O céu não existia, o mar não existia, a terra não existia; ouve, porém, o que diz Davi: “Ele disse, e foram feitas; ele ordenou, e foram criadas” (Sl 32,9; 148,5). Portanto, para te responder, antes da consagração não era o Corpo de Cristo, mas te digo que depois da consagração já é corpo de Cristo. Ele disse, e foi feito; ele ordenou, e foi criado. Tu também existias, mas eras uma velha criatura; depois que foste consagrado, começaste a ser uma nova criatura. Queres saber quão grande é a nova criatura? Todo “aquele que está em Cristo é nova criatura” (2 Cor 5,17)” (Sobre os Sacramentos [Livro IV] 4,14-16).
“Tudo isso não faz com que entendas o que a palavra celeste realiza? Se a palavra celeste age na fonte terrena, se age em outras coisas, não agirá nos sacramentos celestes? Aprendeste, portanto, que o pão se transforma em corpo de Cristo, e que é o vinho, que é a água que se derrama no cálice, mas que pela consagração celeste se transforma em sangue. Talvez digas: “Não vejo aparência de sangue”. Mas há o símbolo. Do mesmo modo como assumiste o símbolo da morte, assim também bebes o símbolo do precioso sangue, para que não haja nenhum horror de sangue derramado e, no entanto, se realize o preço da redenção. Aprendeste, portanto, que aquilo que recebes é o corpo de Cristo” (Sobre os Sacramentos [Livro IV] 4,19-20).
“Queres saber mediante quais palavras celestes se consagra? Escuta quais são as palavras. O sacerdote diz: <Faze para nós com que esta oferta seja aprovada, espiritual, aceitável, porque é a figura do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. O qual, antes de sua paixão, tomou o pão em suas santas mãos, olhou para o céu, para ti, Pai santo, Deus todo-poderoso e eterno, deu graças, o abençoou, o partiu, e partindo o deu a seus apóstolos e discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei disso todos, porque isto é o meu corpo que será partido para muitos’>. Presta atenção. <Do mesmo modo, tomou também o cálice depois da ceia, antes de sua paixão, olhou para o céu, para ti, Pai santo, Deus todo-poderoso e eterno, deu graças, o abençoou, deu a seus apóstolos e discípulos, dizendo: ‘Tomai e bebei disso todos, porque este é o meu sangue’> (Mt 26,26-28; Lc 22,19; 1Cor 11,23).
Vê que são todas palavras do evangelista até <tomai>, seja o corpo, seja o sangue. A partir daí, são palavras de Cristo: <Tomai e bebei disso todos, porque este é o meu sangue>. Repara também nos pormenores. O qual, antes de sua paixão, tomou o pão em suas santas mãos. Antes da consagração, é pão; mas quando as palavras de Cristo aparecem, é corpo de Cristo. Escuta então o que ele diz: <Tomai e comei disso todos, porque isto é o meu corpo>. Antes das palavras de Cristo, também o cálice está cheio de vinho e de água; do momento em que as palavras de Cristo são usadas, isso torna-se o sangue que redimiu o povo. Vede, portanto, de quais maneiras a palavra de Cristo tem poder para transformar tudo.
Além disso, o próprio Senhor Jesus testemunhou-nos que recebemos seu corpo e seu sangue. Por acaso, devemos duvidar da fidelidade do seu testemunho? Volta comigo agora ao meu assunto. De fato, é grande e venerável que o maná tenha chovido do céu para os judeus. Mas procura entender. O que é maior: o maná do céu ou o Corpo de Cristo? Sem dúvida, o corpo de Cristo, que é o criador do céu. Com efeito, aquele que comeu o maná, morreu; quem comer este corpo terá a remissão dos pecados e <não morrerá para sempre> (Jo 6,49-59). Não é sem razão que dizes: <Amém>, confessando em espírito que recebes o corpo de Cristo. Quando te apresentas, o sacerdote te diz: <Corpo de Cristo>, e tu respondes: <Amém>, isto é, <é verdadeiro>. O que a língua confessa, que a convicção o conserve. Para que saibas: este é o sacramento, cuja figura veio antes” (Sobre os Sacramentos [Livro IV] 5,21-25).
“Conhece então qual é a grandeza do sacramento. Vê o que ele diz: <Todas as vezes que fizerdes isso, fazei-o em minha memória, até o dia em que eu retornar> (1 Cor 11,26). O sacerdote também diz: <Celebrando, pois, a memória de sua gloriosíssima paixão, da ressurreição dos infernos e da ascensão ao céu, nós te oferecemos esta hóstia imaculada, hóstia espiritual, hóstia incruenta, este pão santo e o cálice da vida eterna, e te pedimos e suplicamos para que aceites esta oferta no teu sublime altar pelas mãos dos teus anjos, assim como dignaste aceitar as ofertas do teu servo o justo Abel, o sacrifício do nosso patriarca Abraão e o que te ofereceu o sumo sacerdote Melquisedec>.
Portanto, todas as vezes que o recebes, o que é que o apóstolo te diz? Todas as vezes que o recebemos, anunciamos a morte do Senhor (1 Cor 11,26). Se (anunciamos) a morte, anunciamos a remissão dos pecados. Se, todas as vezes que o sangue é derramado, é derramado para a remissão dos pecados, devo recebê-lo sempre, para que perdoe sempre os meus pecados. Eu que peco sempre, devo sempre ter um remédio” (Sobre os Sacramentos [Livro IV] 6,26-28).
“Portanto, te aproximaste do altar, recebeste o corpo de Cristo. Escuta de novo quais sacramentos recebeste. Ouve o que diz o santo Davi. Ele previa no Espírito estes mistérios, alegrava-se e dizia que nada lhe faltava. Por quê? Porque quem recebe o corpo de Cristo jamais passará fome (Jo 6,35)” (Sobre os Sacramentos [Livro V] 3,12).
CONTINUA NO PRÓXIMO
DOMINGO...
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