A EUCARISTIA E OS TESTEMUNHOS PRIMITIVOS DA IGREJA: IV SECULO
SANTO AMBRÓSIO DE MILÃO (337 a 397
d.C)
(Continuação do Domingo passado)
“Assim como nosso Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro Filho de Deus, não pela graça como os homens, mas como Filho de Deus da substância do Pai, assim também, como ele mesmo disse, o que recebemos é verdadeira carne e a bebida é o seu verdadeiro sangue (Jo 6,56)” (Sobre os Sacramentos [Livro VI] 1,1).
“Ele diz: <Eu sou o pão vivo que desci do céu> (Jo 6,41). A carne, porém, não desce do céu, isto é, foi da virgem que ele assumiu a carne na terra. Como então o pão, e o pão vivo, desceu do céu? Porque nosso Senhor Jesus Cristo participa tanto da divindade como do corpo, e tu, que recebes a carne, participas de sua substância divina por esse alimento” (Sobre os Sacramentos [Livro VI] 1,4).
Sobre os Mistérios, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):
“Está provado, que os sacramentos da Igreja são mais antigos. Agora, reconhece que eles são superiores. É, de fato, admirável que Deus tenha feito chover o maná para os pais e que eles tenham ficado satisfeitos diariamente com o alimento do céu. É, por isso, que se diz: <O homem comeu o pão dos anjos> (Sl 77,25). Todavia, os que comeram esse pão, morreram todos no deserto. Ao contrário, este alimento que recebes, este <pão vivo que desceu do céu> oferece a substância da vida eterna, e todo aquele que dele comer, <jamais morrerá> (Jo 6,50), pois ele é o corpo de Cristo. Considera, o que é superior: o pão dos anjos ou a carne de Cristo, que certamente é o corpo da vida. Aquele maná vinha do céu; este vem de acima do céu. Aquele era celeste; este é do senhor do céus. Aquele estava sujeito à corrupção se fosse guardado para o dia seguinte; este é estranho a qualquer corrupção: todo aquele que o saborear com respeito não pode experimentar a corrupção. Para eles, correu água do rochedo; para ti, flui o sangue de Cristo. A água os saciou por um momento; para ti, o sangue te lava para sempre. O judeu bebe e tem sede; tu, porém, quando bebes, não poderás mais ter sede” (Sobre os Mistérios 8,47-48).
“Talvez digas: <Estou vendo outra coisa. Como podes afirmar que estou recebendo o corpo de Cristo?> É o que ainda nos resta provar. Usaremos grandes exemplos, para provar que não se trata daquilo que a natureza produziu, mas daquilo que a bênção consagrou, pois o poder da bênção é maior do que o da natureza, porque a bênção muda a própria natureza. Moisés segurava sua vara, depois a jogou e ela se transformou em serpente. Depois, pegou a cauda da serpente que voltou à sua natureza de vara. Vês, portanto, que, por causa da graça profética, a natureza foi mudada duas vezes: a da serpente e a da vara. Os rios do Egito faziam correr ondas de água limpa. De repente, o sangue começou a jorrar dos cursos das fontes. Não havia mais água potável nos rios. De novo, a pedido do profeta, o sangue parou e a natureza das águas voltou. O povo hebreu estava cercado por todos os lados. De uma parte, era assediado pelos egípcios; de outra, fechado pelo mar. Moisés levantou a vara: a água se separou e se congelou numa espécie de muralha, e apareceu entre as ondas um caminho onde se podia andar. O Jordão, contra a sua natureza, voltou para a fonte de onde nasce. Não é evidente que a natureza das ondas do mar ou do curso dos rios foi mudada? O povo dos pais sentia sede; Moisés tocou a pedra e a água correu da pedra. Por acaso, a graça não agiu de maneira superior, para que a pedra vomitasse a água que a sua natureza não possuía? Mara era um rio amaríssimo, de modo que o povo sedento não podia beber. Moisés pôs madeira na água e a natureza das águas perdeu seu amargor, que a graça espalhada temperou imediatamente. Sob o profeta Eliseu aconteceu a um filho de profeta que o ferro do machado soltou- se e imediatamente afundou. Aquele que perdera o ferro, rogou a Eliseu. Eliseu colocou madeira na água e o ferro veio à tona. Sabemos que também isso foi feito de modo superior à natureza, pois o ferro é mais pesado do que o líquido da água. Constatamos, portanto, que a graça tem maior poder do que a natureza e ainda medimos a graça da bênção profética. Com efeito, se a bênção de um homem teve poder suficiente para mudar a natureza, que diremos da consagração feita pelo próprio Deus, onde agem as próprias palavras do Senhor Salvador? De fato, este sacramento que recebes é produzido pela palavra de Cristo. Se a palavra de Elias teve tanto poder, de modo a fazer o fogo descer do céu, a palavra de Cristo não terá poder de mudar a natureza dos elementos? A respeito das obras do universo inteiro leste que “ele disse, e as coisas foram feitas; ele ordenou, e elas foram criadas” (Sl 32,9; 148,5). A palavra de Cristo, que pode fazer do nada o que não existia, não poderá mudar as coisas que existem naquilo que elas não eram? Não é coisa menor produzir coisas novas do que mudar as naturezas. Mas para que nos servir de argumentos? Sirvamo-nos de seus exemplos e estabeleçamos pelos mistérios da encarnação a verdade do mistério. Por acaso, o curso da natureza precedeu o nascimento do Senhor Jesus de Maria? Se procurarmos a ordem, a mulher costuma conceber depois das relações com um homem. É evidente, portanto, que a Virgem concebeu fora da ordem da natureza. E aquilo que nós produzimos é corpo nascido da Virgem. Por que procuras a ordem da natureza no corpo de Cristo, quando o próprio Senhor Jesus foi concebido por uma virgem fora do curso da natureza? É a verdadeira carne de cristo que foi crucificada, que foi sepultada. Portanto, é de fato o sacramento da carne dele” (Sobre os Mistérios 9,50-53).
“O
próprio Senhor Jesus proclama: <Isto é o meu corpo>. Antes da bênção com
as palavras celestes é chamada por outra espécie; depois da consagração, é o
corpo que é designado. Ele mesmo diz que é o seu sangue. Antes da consagração é
chamado de outro modo; depois da consagração, é chamado sangue. E tu dizes:
<Amém>, isto é: É verdadeiro. O que a boca pronuncia seja reconhecido
pela mente interna; que o íntimo sinta o que a palavra exprime. É, portanto,
com esses sacramentos que Cristo alimenta a sua Igreja; por eles é fortalecida
a substância da alma. E com razão, ao ver seus progressos constantes na graça,
ele lhe diz: <Como teus seios são belos, minha irmã, minha esposa! São mais
belos do que o vinho, e como o odor de tuas vestes ultrapassa o de todos os
perfumes! Teus lábios destilam mel, ó esposa. Há mel e leite sob a tua língua,
e o odor das tuas vestes é como o odor do Líbano. És um jardim fechado, minha
irmã, minha esposa. Um jardim fechado, uma fonte lacrada> (Ct 4,10-12). Isso
significa que o mistério deve permanecer selado em ti, de modo a não ser
violado pelas obras de uma vida má, nem pela perda da castidade, nem divulgado
para aqueles aos quais não convém, nem seja espalhado entre os descrentes com
palavras banais. Deves guardar bem a tua fé, a fim de que a tua vida e o teu
silêncio permaneçam inviolados” (Sobre os Mistérios 9,54-55).
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