FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DE
SANTO AGOSTINHO
Por Rubem Queiroz Cobra (*)
Em capítulos de alguns de seus livros
Santo Agostinho aborda temas filosóficos da educação e também recomenda um
método pedagógico que acredita o mais eficaz para o ensino dos jovens.
No Sobre o mestre (De
Magistro) e no seu Sobre a Doutrina Cristã (De doctrina
christiana) encontramos o objetivo último que Santo Agostinho dá para a
educação: voltar-se o Homem para Deus. Mas como os seres humanos são um
mistério para si mesmos, Deus é entendido como inteiramente misterioso. Assim,
a busca incessante de Deus é sempre uma busca de um objetivo inatingível pelo
buscador. Ele considerava o ensino como mera preparação para a compreensão, e
esta seria uma iluminação do "professor íntimo", que é Cristo.
Ensinar, diz ele, é o maior de todos os atos de caridade.
Método pedagógico
Agostinho tinha farta experiência de
ensino. Havia sido professor em Milão e Roma por vários anos e dedicado anos a
especular sobre a origem do conhecimento e como atingir o verdadeiro saber. O
método de Agostinho não é o socrático, que usa o diálogo como alguém que não
sabe nada, e que procura descobrir a verdade caminhando junto com o aluno nesse
sentido. Ao contrário, ele acreditava mais em transmitir o conhecimento para os
alunos como aquele que sabe a verdade para os que não sabem nada. Assim, ele
estabeleceu uma metodologia cristã, que influenciou estudiosos e educadores ao
longo da história do Ocidente.
Ser professor nesse contexto era um ato
de amor. Este amor era necessário, pois sabia das dificuldades de estudo, e a
resistência ativa dos jovens para a aprendizagem. Ele também considerou o
idioma um obstáculo para a aprendizagem, uma vez que a mente se move mais
rápido do que as palavras que o professor pronuncia, e as palavras, por sua
vez, não expressam adequadamente o que o professor pretende.
O professor, ao ensinar estudantes que
têm alguma cultura, precisa começar por questioná-los sobre o que já sabem, a
fim de não repetir o que já conhecem e sim levá-los com rapidez às matérias que
ainda não tenham dominado. Ao ensinar o aluno superficialmente educado, o
professor precisava insistir na diferença entre terem de memória as palavras e
ter efetiva compreensão. Com relação ao aluno sem educação, Agostinho
incentivou o professor a ser simples, clara, direta e paciente. Este tipo de
ensinamento muita repetição necessária, e pode induzir o tédio no professor,
mas Agostinho pensei que este tédio seria superado por uma simpatia com o
aluno. Este tipo de simpatia induz alegria no professor e alegria no aluno.
De um modo geral o ensino deve ser feito
no que Agostinho chamou o "método moderado". Esse estilo de ensino
exige que o professor não sobrecarregue o aluno com muito material, mas aborde
um tema de cada vez, para revelar ao aluno o que está escondido nele, para
resolver dificuldades, e antecipar outras questões que possam surgir. Considera
importante até mesmo o modo de falar do professor, que deve ter em ritmo
equilibrado, usando frases bem elaboradas em equilíbrio com frases simples, com
o propósito de encantar os alunos e atraí-los para a beleza do material.
Agostinho influenciou diretamente o
estadista e escritor romano Flavius Magnus Aurelius Cassiodorus (c. 490-c.583),
que propôs o aprendizado progressivo a partir da leitura e interpretação dos
salmos, conjuntamente com o ensino profano das artes liberais, buscando, como
Santo Agostinho, criar no estudante uma mentalidade aberta e inteligente, e
somente após, quando o aluno tivesse o intelecto treinado para um melhor
entendimento, o ensino das matérias mais complexas.
O intelectual e mestre anglo-saxão Alcuin (735-804), um eminente educador, sábio e teólogo, não utilizou, no século VIII, as obras de Agostinho sobre o ensino cristão como livros didáticos. Também o humanismo cristão de Erasmo, erudito holandês do século XVI pode ser entendido como uma extensão da obra de Agostinho.
(*) Rubem Queiroz Cobra
é Doutor
em Geologia e bacharel em Filosofia.
Fonte:
http://www.cobra.pages.nom.br/ecp-santagostinho.html
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