25.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
1. A desconcertante
Justiça de Deus: A VINHA DO SENHOR.
(O comentário do Evangelho
abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP)
O Sindicalista, conversa
com Mateus, tentando ajudá-lo a entender a reclamação dos operários da primeira
hora.
Sindicalista - Olha Mateus, vamos
e convenhamos, o pessoal que ralou o dia inteiro merecia um salário melhor,
trata-se de uma jornada de trabalho desigual, é uma questão de mérito.
Mateus - Olha, aqui não é
questão de mérito, mas sim do que foi combinado, escrito no contrato de
trabalho, foi ajustado um Denário por dia, que, aliás, é o salário comumente
pago por um dia de trabalho, com esse valor dá para comprar oito quilos de
pão... Não há nada de errado.
O Teólogo entrou na
conversa: Mateus, esse sindicalista não pegou o espírito da "coisa",
para mim o Senhor está atirando no passarinho para acertar no Coelho, o alvo é
outro, não é?
Mateus (sorrindo) - Sim, as
lideranças da nossa religião judaica pensavam assim, que a nossa raça era a
escolhida, a predileta de Deus Eterno, isso começou logo depois do Exílio na
reconstrução do templo, eles queriam algo mais de Deus, do que o restante dos
homens possivelmente pensava em maiores bênçãos em bens materiais e patrimônio,
para serem prósperos... e coisas assim.
Teólogo - E o que seria hoje esse
Um Denário que é a mesma paga de Deus a todos os homens?
Mateus - Ah sim, é o Amor do Deus
Eterno, que ao ser manifestado em Jesus de Nazaré, perde o seu particularismo
judaico e é oferecido a toda humanidade na forma de Salvação, coisa que os
nossos mais tradicionais não conseguiam engolir...
Teólogo: E a conclusão desse
ensinamento então...
Mateus - Uma conclusão
óbvia, Deus ama a todos os homens, e os assiste com a sua graça de acordo com a
necessidade de cada um, e não por aquilo que fazem de bom ou de mal, ou que
deixam de fazer... A Salvação é pura iniciativa do Pai Eterno, nossas ações em
nada conseguem mudar essa ação amorosa de Deus na nossa vida e na vida das
pessoas. Temos assim o privilégio de ser colaboradores de Deus, como o homem
sempre foi, na construção do Reino e na História da Salvação...
Considerações:
Quem já ficou desempregado
meses a fio a espera de uma vaga, sabe o quanto esta é uma experiência triste,
a reserva financeira vai se acabando, as despesas vão sendo cortadas e só se
mantém o essencial, e se a vaga demora a chegar, até aquilo que é essencial,
como a alimentação, por exemplo, vai começando a rarear. Não tendo nem o
essencial para dar à família, o desempregado vai aos poucos perdendo a autoestima,
começa a andar pelas ruas e praças meio sem destino, ou então, o que é pior,
torna-se frequentador dos botecos da vida, onde se joga muita conversa fora e
reclama da situação, tomando “umas e outras” que algum amigo oferece, um
conhecido contou-me que se tornou um alcoólatra quando ficou desempregado,
ficar sem fazer nada não é coisa boa, pois dizem até que “mente ociosa é
oficina do capeta”.
Fiz esta introdução porque
me parece ser esta a situação do pessoal da última hora, mencionado nesse
evangelho, e que deviam estar bem desanimados quando foram para a praça no
final de tarde, jogar conversa fora ou quem sabe, “bater um truquinho”. A
colheita em uma vinha carecia de muita mão de obra e para os desempregados era
uma ótima oportunidade para ganhar uns “cobres”.
Nos que buscam uma
oportunidade, sempre há os madrugadores, que acreditam naquele ditado “Quem
madruga, Deus ajuda”, eles botam fé em seu potencial e se colocam a disposição
bem cedo, para serem logo contratados.
Há os que já estão meio
calejados e que dormem um pouco mais, mas às nove horas já estão na praça, à
espera de quem os contrate, pois também se julgam eficientes. Não faltam
aqueles que só acordam para o almoço, mas ouvindo falar que tem vaga na
empreitada, preparam um “miojo” para não perder muito tempo, e vão voando para
a praça, nem que seja ao Meio Dia, pois acreditam que também têm chance. A
notícia corre rápida e chega até a turma do “Ainda resta uma esperança”, que
também animados resolvem arriscar e vão para a praça às três horas da tarde,
dando a maior sorte porque acabaram também contratados.
Mas agora, falemos dos
desanimados, que já estão a tempo vivendo de JURO, “juro que vou pagar”, para
não sucumbirem, assumiram dívidas com o padeiro, açougueiro, leiteiro,
verdureiro, aquele dia para eles já está perdido e então vão para a praça às
cinco da tarde, só para saber se há alguma novidade, e são surpreendidos pelo
Dono da empreiteira, que os interroga, porque estão ali parados, sem fazer
nada... Ninguém nos contratou, não temos nenhum valor, ninguém presta atenção
no nosso sofrimento, ninguém nos confia um serviço, onde possamos ganhar o pão
para o nosso sustento! E foi assim a ladainha de lamentações.
A Turma das cinco nem
acreditou, quando o Patrão mandou que fossem para a vinha, juntar-se aos outros
trabalhadores. Certamente pensaram que fossem fazer Terceira turma, mas às
dezoito horas em ponto, soou o apito e a jornada de trabalho acabou,
trabalharam só uma hora, não ia dar nem para o leite e o filãozinho... Pensaram
os trabalhadores. Então veio a surpresa agradável, foram os primeirões a
receber e ganharam uma moeda de prata, que dava para fazer a compra do mês e
ainda pagar umas contas, imaginem a alegria desses trabalhadores de última
hora.
O clima era de festa e
alegria quando a turma dos Madrugadores, profissionais competentes, que deram
duro o dia inteiro, desde o nascer do sol, armou o maior barraco e chamaram o
sindicato, pois não acharam certo receber apenas uma moeda de prata, tinham
plena certeza de que iriam receber muito mais, pois se julgavam merecedores,
mas o Patrão os lembrou sobre o contrato assinado: o pagamento da diária seria
uma moeda de prata.
Na religião de Israel e no
cristianismo de hoje, acontece a mesma coisa, o título de cristãos e o fato de
ser membro de uma igreja, faz com que as pessoas se sintam privilegiadas diante
de Deus, merecedores de sua graça, do seu amor, das suas bênçãos e de todos os
seus favores, se a pessoa atua em alguma pastoral ou movimento, então aumenta a
obrigatoriedade de Deus atender. Infelizmente é essa a imagem que muitos fazem
de Deus, que sempre surpreende os que buscam conhecê-lo melhor.
Na parábola em questão,
contratou pessoas sem nenhum valor, e que, entretanto, apesar de terem chegado
muito depois dos Madrugadores, foram alvos da mesma atenção e receberam o mesmo
tratamento. Na verdade, ao invés de sermos a imagem e semelhança de Deus,
muitas vezes projetamos Nele a nossa imagem e semelhança, para que seja bom com
quem mereça, que trate as pessoas a partir dos seus merecimentos, o que na
lógica humana é muito justo. Porém, o amor e a justiça de Deus vai sempre
buscar os últimos, os renegados, o que não tem mais nenhuma chance diante da
sociedade “perfeita” ou da religião padrão, os que não têm o que fazer porque
ainda não acharam um sentido para suas vidas. Os desprezados, tratados com
frieza e que nunca são levados a sério.
E quando descobrimos que
Deus os ama tanto quanto a nós, que nos julgamos “justos” em vez de fazermos
com eles uma grande festa, manifestando alegria, agimos como o irmão mais velho
do Filho Pródigo: derrubamos o beiço e nos recusamos a entrar na casa do Pai,
isso é, a vivermos na comunhão com Deus, ao lado dos trabalhadores da última
hora, sonhamos com um céu especial e nos frustramos ao ver que o coração de
Deus, cheio de misericórdia, manifestada em Jesus, há lugar para todos os
homens.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Fonte: http://npdbrasil.com/religiao/evangelho_do_dia_semana.htm
2. ESTÁS COM INVEJA PORQUE SOU BOM?
Aqueles homens estavam
dispostos a trabalhar, mas ”ninguém os contratou”; eles eram trabalhadores, mas
ociosos por falta de trabalho e de patrão. Em seguida, uma voz contratou-os,
uma palavra pô-los a caminho e, no seu zelo, não combinaram antecipadamente
qual o preço do seu trabalho, como os primeiros. O patrão avaliou os seus
trabalhos com sabedoria e pagou-lhes tanto como aos outros.
Nosso Senhor contou esta
parábola para que ninguém dissesse: “Uma vez que não fui chamado na juventude,
não posso ser recebido”. Ensinou que, seja qual for o momento da sua conversão,
todo o homem é acolhido... “Ele saiu pela manhã, às nove horas, ao meio dia, às
três da tarde e às cinco da tarde»: pode-se compreender isso desde o início da
sua pregação, ao longo da sua vida até à cruz, porque foi “à hora undécima» que
o ladrão entrou no Paraíso. Para que não se incrimine o ladrão, nosso Senhor
afirma a sua boa vontade; se tivesse sido contratado, teria trabalhado:
“Ninguém nos contratou”.
O que damos a Deus é bem
digno dele e o que ele nos dá bem superior a nós. Contratam-nos para um
trabalho proporcional às nossas forças, mas propõem- -nos um salário superior
ao que o nosso trabalho merece... Ele age do mesmo modo para com os primeiros e
para com os últimos; “recebeu cada um uma moeda» com a imagem do Rei. Tudo isso
significa o pão da vida (Jo 6,35) que é o mesmo para todos os homens; único é o
remédio de vida para aqueles que o tomam.
No trabalho da vinha, não
se pode acusar o patrão pela sua bondade, e não se encontra nada a dizer acerca
da sua retidão. Na sua retidão, ele deu como havia combinado, e mostrou-se
misericordioso como quis. É para ensinar isto que nosso Senhor disse esta
parábola, e resumiu tudo isto nestas palavras: “Não me é permitido fazer o que
quero na minha casa?”.
Santo Efrém (306-373),
Diácono na Síria, doutor
da Igreja.
Diatessaron,
15, 15-17
Fonte:
http://npdbrasil.com/religiao/evangelho_do_dia_semana.htm
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