4.º DOMINGO DA PÁSCOA
“DOU A VIDA PELAS OVELHAS...”
Confesso que às vezes como católico,
sinto uma “pontinha” de ciúmes dos dirigentes das Igrejas Históricas, que são
denominados de “Pastores”, que a meu ver é um título mais profundo e sublime do
que “Padre”, que por sua vez significa “Pai”. Entretanto, ambos estão corretos
e de acordo com o evangelho, pois a palavra “Padre”, embora signifique “Pai” é
compreendida no sentido de ser aquele que cuida, toma conta, zela, dirige,
mantém, e não aquele que “gera”, embora ainda haja o argumento de que, no
batismo a igreja filhos e filhas de Deus, entretanto, o Batismo é realizado em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, portanto, a palavra pastorear é uma
ação mais humana e esta é, a meu ver, uma das mais belas alegorias aplicadas a
Jesus, pelo evangelista.
No antigo Testamento, a maioria dos
pastores não eram donos do rebanho, mas trabalhavam para alguém que era o
verdadeiro proprietário. Em Ezequiel 34, Deus censura os maus pastores e
garante que ele mesmo irá cuidar do seu rebanho “Eu mesmo apascentarei o meu
rebanho, eu mesmo lhe darei repouso, buscarei a ovelha que estiver perdida,
curarei a ferida, reconduzirei a que estiver desgarrada”
Em Jesus Cristo essa profecia se cumpre,
e quando ele se apresenta como o Bom Pastor, está dizendo a todos aqueles a
quem confiou as ovelhas : “Vejam, é assim que eu quero que tratem as minhas
ovelhas”. Portanto, nenhum dirigente de uma Igreja Cristã, poderá ter dúvidas
sobre como tratar as ovelhas, a consciência de que elas não são suas, não fazem
parte de sua propriedade, deve estar sempre presente na missão de um verdadeiro
pastor. As ovelhas pertencem a Deus, devem ser conduzidas até sua casa, e cabe
ao pastor apenas mostrar o caminho.
Há neste evangelho um versículo que
ensina de modo muito claro como age o verdadeiro pastor, e aqui a reflexão se
torna mais ampla, porque o recado não é direcionado apenas aos dirigentes, mas
a qualquer cristão que tenha na comunidade alguma responsabilidade pastoral. Na
nossa compreensão do dia a dia, alguém que é BOM, é aquela pessoa quietinha,
que não tem boca pra nada, que não reclama, não critica, só faz o bem, é muito
boazinha. Mas o conceito de BOM, nesse evangelho, sendo aplicado a Pastor, quer
antes de tudo nos mostrar que Jesus, enquanto modelo perfeito de homem, no seu
jeito de amar, vai além dos limites.
Podemos entender melhor esse pensamento
na comparação entre o Pastor e o mercenário, que também é um pastor, porém,
profissional contratado, uma espécie de “Tarefeiro”, que pastoreia o rebanho
apenas pelo salário, tendo certas obrigações e deveres constantes do contrato,
por exemplo, diante de algum perigo que rondasse as ovelhas, ele teria que
defendê-las, porém, desde que a sua vida não estivesse sendo colocada em risco:
diante de um Leão faminto e feroz, ele podia abandonar o rebanho á sua própria
sorte, pois não tinha como enfrentar um leão, ou seja, na defesa da vida das
ovelhas há um limite. Então não vamos fazer mau juízo do mercenário.
Entretanto, é bom fazer uma pergunta
fundamental: quem é que irá contratar um profissional, que trabalhe apenas pelo
salário, que apenas faça aquilo que é necessário, ou que apenas cumpra o
contrato? Se fosse em um time profissional, seria aquele jogador que só entrou
para ganhar o “bicho”, nunca vai “suar” a camisa, aliás, nem a camisa do time
ele vai vestir. É aquele agente de pastoral, ou participante de um movimento,
que sempre diz de peito estufado “A minha parte eu sempre faço!”. Esse é o
mercenário, que sempre faz o que tem que fazer, e que é sua obrigação.
Jesus Cristo, o único e verdadeiro
Pastor, apresenta-se como BOM nesse sentido, de que as ovelhas, cada uma delas
em particular, são o alvo de sua atenção, de modo que o seu interesse está
voltado totalmente para elas, a vida do rebanho todo e de cada ovelha, é mais
preciosa do que a sua própria Vida, e se vier uma matilhas de Lobos ferozes, ou
um bando de leões famintos, ele nunca “dá no pé”, mas fica e enfrenta, ainda
que esse ato, marcado de um amor extremoso e infinito, represente a perda da
sua vida.
Há uma tentação muito grande, de nesse
Domingo do Bom Pastor, olharmos para os nossos dirigentes e pastores, ministros
ordenados e servos de Deus, colocados pela Instituição à frente da comunidade,
paróquia ou Diocese, criticar duramente sua conduta e condená-los ao inferno
ainda em vida, mas pensemos um pouco naquelas ovelhas, numerosas ou não, ou
quem sabe apenas uma ovelha, que Deus colocou sob os nossos cuidados, na vida
comunitária ou familiar, se a nossa relação com elas, não se modelar em Jesus,
o Bom Pastor, nosso pecado será tão grave como o das lideranças, e também
iremos um dia prestar conta dessas ovelhas diante do único e verdadeiro DONO do
rebanho. (Domingo do Bom Pastor – João 10, 11-18)
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0361.htm
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