NOTA DO EDITOR: Uma Visão Hipócrita de Pagãos:
Por que cultos religiosos são ambientes de 'alto risco' para Covid-19, na visão da ciência?
Na véspera da Páscoa, ministro Kassio Nunes
Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou realização de missas e
cultos em todo o Brasil; decisão foi publicada no dia 03 de abril.
Por Luis Barrucho, BBC
Durante decorrer da pandemia, surtos
foram registrados em locais de culto ao redor do mundo — Foto: Getty Images/via
BBC
Ambientes fechados, pouca ventilação,
amplo contato entre fiéis, uso compartilhado de objetos, cantos litúrgicos.
Elementos como esses são comuns em
celebrações religiosas, mas, no contexto da pandemia de covid-19 que vem
assolando o mundo, podem representar também um "coquetel explosivo"
para a disseminação do novo coronavírus, causando
mais infecções e, portanto, mais mortes.
Dessa forma, a despeito da argumentação
jurídica que baseia a decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo
Tribunal Federal (STF), de liberar a realização de missas e cultos em todo o
Brasil, do ponto de vista epidemiológico, ela "vai contra qualquer medida
de bom senso para preservar vidas e controlar a pandemia", diz à BBC News
Brasil Denise Garrett, infectologista, ex-integrante do Centro de Controle de
Doenças (CDC) do Departamento de Saúde dos EUA e atual vice-presidente do Sabin
Vaccine Institute (Washington).
"Celebrações religiosas são
ambientes de alto risco. Temos vários relatos de surtos originados em locais de
culto. Não somente por serem ambientes fechados, mas também pelas atividades
desenvolvidas (orações, corais, canto) que propiciam liberação de partículas
virais no ar", explica.
"Então, do ponto de vista
epidemiológico a reabertura de igrejas nesse momento da pandemia no Brasil, com
altas taxas de transmissão e falência do sistema de saúde, é algo que vai
contra qualquer medida de bom senso para preservar vidas e controlar a
pandemia", acrescenta.
Na decisão em caráter liminar
(provisório), publicada no sábado (3/4), Nunes Marques aponta que Estados e
municípios não podem editar normas que proíbam completamente celebrações
religiosas presenciais como medida de enfrentamento à pandemia. A liminar ainda
terá que ser analisada pelo plenário do Supremo, mas ainda não há data marcada
para o julgamento.
Nas últimas semanas, o Brasil vem batendo
seguidos recordes diários de mortes. Desde o início da pandemia, a covid-19 já
infectou 13 milhões e matou mais de 330 mil no país.
Especialistas acreditam que se nada for
feito para controlar o vírus, o número de mortos pode aumentar ainda mais.
Autoridades de saúde de todo o mundo
destacam o perigo representado por reuniões em locais de culto para o controle
da pandemia de covid-19.
Por exemplo, a Associação Médica do
Texas considera "ir a culto religioso com 500 ou mais fiéis" como uma
atividade de "alto risco".
A entidade publicou no ano passado um
gráfico em que apontou diferentes graus de risco de contágio por covid-19 que
atividades cotidianas oferecem. Nesse ranking, que viralizou nas redes sociais,
celebrações religiosas são as que oferecem maior perigo, similar a frequentar
bares, estádios de futebol e shows.
Já o Departamento de Saúde do Estado
americano de Illinois recomenda "fortemente", em sua orientação para
locais de culto e prestadores de serviços religiosos, que as congregações
continuem a promover solenidades "remotas, especialmente para aqueles que
são vulneráveis à covid-19, incluindo adultos mais velhos e aqueles com doenças
crônicas".
"Mesmo com a adesão ao
distanciamento físico, várias famílias diferentes se reunindo em um ambiente congregacional
para o culto carregam um risco maior de transmissão generalizada do vírus que
causa a covid-19 e pode resultar em aumento das taxas de infecção,
hospitalização e morte, especialmente entre as populações mais
vulneráveis", diz o órgão.
"Em particular, o alto risco
associado a atividades como canto e recitação em grupo pode anular os
comportamentos de redução de risco, como o distanciamento social".
O próprio CDC americano, órgão do
Departamento de Saúde responsável pelas diretrizes de combate à pandemia nos
EUA, reforça em seu site que "participar de eventos e reuniões aumenta o
risco de obter e disseminar a covid-19".
"Milhões de americanos consideram o
culto uma parte essencial da vida. Para muitas tradições de fé, reunir-se para
adoração é a essência do que significa ser uma comunidade de fé. Mas, como os
americanos agora sabem, as reuniões representam um risco de disseminação
crescente de covid-19 durante esta Emergência de Saúde Pública."
"Com a transmissão por aerossol, os
chamados 'protocolos de segurança' em uso, não são efetivos. A menos que esses
protocolos envolvam medidas de ventilação, para melhorar a qualidade do ar, são
de pouca valia", explica Denise Garrett.
"As partículas se acumulam no ar e
circulam a uma distância muito maior do que a distância recomendada nesses
protocolos. A máscara é muito importante, assim como o distanciamento social.
Mas, em última análise, em um ambiente fechado, de má circulação, o risco é
muito maior", acrescenta.
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