Os inimigos da educação
A mídia, os políticos e as
classes intelectuais decidiram roubar das crianças, por dois anos, a
oportunidade de aprendizado
A
cada dia que passa, e a cada exame que se faz da situação com um grau mínimo de
seriedade, vêm à luz do sol os efeitos ruinosos da mais secreta de todas as
tragédias sociais que este país já teve em sua história moderna: o fechamento,
por quase dois anos seguidos, das escolas, sobretudo as voltadas ao ensino
público. Poucos desvarios terão um preço tão alto para o Brasil quanto esse
crime legal, praticado por governadores e por prefeitos nos tempos da covid —
com a licença, o incentivo e a bênção do Supremo Tribunal Federal.
Roubou-se das crianças brasileiras, para toda a vida, dois anos de aprendizado,
e esse roubo não pode ser ressarcido; não há seguro para tal tipo de
perda. As vítimas sofrerão por causa disso, no seu dia a dia prático, até
o fim das suas vidas.
Ficou
combinado na mídia, na vida política e nas classes intelectuais que não se fala
dessa tragédia — o que permite, naturalmente, que os responsáveis por ela não
se sintam incomodados com o desastre que criaram. Ao contrário: quando tocam
hoje no assunto, para denunciar “o descalabro da educação no governo
Bolsonaro”, falam como se não tivessem nada a ver com a catástrofe que está aí.
É a hipocrisia levada aos seus extremos. A esquerda, mais que ninguém, esteve
no comando do fechamento das escolas; foi a grande fornecedora da ideologia que
sustentou essa calamidade, e agiu assim unicamente porque o presidente da
República estava do outro lado. Agora, com a casa no chão, vem fazer de conta
que está preocupada com o problema.
A
esquerda, que não fala em outra coisa a não ser na eliminação da pobreza no
Brasil — prometida, mais uma vez, para o próximo governo Lula — agiu, como de
costume, a favor da perpetuação das suas causas. É absolutamente simples:
ignorância é miséria. Quando se leva em conta que o começo, o meio e o fim do
problema social do Brasil estão no baixo nível da educação pública, que priva a
população pobre da única saída real para a pobreza — a aquisição de
conhecimento —, fica evidente o tamanho da agressão social contra os pobres que
foi feita com o fechamento das escolas. Os pobres não saem da pobreza com
“políticas sociais”. Só têm alguma chance de melhorar de vida quando adquirem
conhecimentos que lhes deem a oportunidade de subir no mercado de trabalho.
Perder dois anos de escola foi o que se podia fazer de mais eficaz para reduzir
essas oportunidades e detonar o futuro dos que mais estão precisando delas.
Adversários
ferozes da volta às aulas, na ânsia de ficar ao lado dos
professores-sindicalistas-grevistas e contra o “genocídio” do governo, dizem
hoje que lutaram pela “volta segura” às salas de aula. É mentira. Lutaram, na
vida real, para manter as escolas fechadas pelo período de tempo mais longo
possível, porque achavam que isso era fazer oposição — quanto mais tarde as
aulas voltassem, tanto maior seria o prejuízo político do governo. Na verdade,
os fechadores de classes ficam piores com a proximidade das eleições. Prometem
agora, e como sempre, “mais investimentos para a educação” — seu candidato,
aliás, diz que vai acabar com a obrigação de respeitar o teto de gastos
públicos para “investir” em escolas que, até outro dia, seu partido exigia que
estivessem fechadas. A tragédia continua do mesmo tamanho, com viés de piora.
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