Viii- REFLEXÃO DOMINICAL I
BUSCAR O ÚLTIMO LUGAR
Jesus nos ensina a buscar o
último lugar. Ele vive o que ensina e ensina o que vive. Ensinou o que é
verdadeira humildade: sendo Deus, se fez homem por amor de nós; sendo rico, se
fez pobre para nos enriquecer; desceu das alturas para habitar entre nós e
“humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!”
(Fl 2,8). Disse aos seus discípulos: “Aprendam de mim, que sou manso e humilde
de coração” (Mt 11,29). Quis crescer em Nazaré e escolheu iniciar seu
ministério na Galileia – na periferia, portanto – e não nos centros de poder
político e religioso, tanto que um dos seus próprios discípulos dissera: “De
Nazaré pode sair coisa boa?” (Jo 1,46). Ensinou-nos a nunca responder ao mal
com o mal, mas sempre com o bem; veio para servir e não para ser servido (cf.
Mc 10,45); lavou os pés dos discípulos, mesmo sendo o mestre e Senhor (cf. Jo
13,12-15). Esteve junto aos pequenos, sofredores e excluídos para
transmitir-lhes vida e salvação. Buscar o último lugar é estar no lugar dos
últimos, o que implica cultivar um coração semelhante ao do Mestre que sabe ter
compaixão do que sofre, do que é colocado à margem, do que está como ovelha sem
pastor; é vacinar o coração contra o pecado do orgulho e da soberba, da cobiça
e da ganância, das ilusões da fama, riqueza e poder, coisas que levam o coração
para longe da verdadeira riqueza, e faz com que nosso olhar se volte para o que
passa, cegando-nos para o que não passa, para o que realmente importa (cf. Lc
10,42). Buscar o último lugar é também fazer a experiência da confiança e total
entrega à vontade d’Aquele que, como nos disse a Virgem Santíssima “derruba do
trono os poderosos e eleva os humildes” (Lc 1,52). Jesus em tudo fez a vontade
do Pai e acolheu humildemente o Seu plano de amor: “Embora sendo Filho de Deus
aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos” (Hb 5,8). A confiança
inabalável em Deus liberta nosso coração dos apegos desordenados e nos faz livres:
“Se o Filho os libertar vocês ficarão realmente livres” (Jo 8,36). Uma palavra
dirigida de modo especial a todos os que servem à Igreja em nossas paróquias,
comunidades, pastorais e movimentos, ministros ordenados e não ordenados:
buscar o último lugar implica renúncia a todo apego ao poder, à exaltação de
si, aos interesses particulares, para dar lugar ao serviço humilde e amoroso do
Evangelho em favor dos irmãos e irmãs, em favor da missão, segundo o que disse
João Batista: “É preciso que ele cresça e eu diminua” (cf. Jo 3,30) – agindo
assim o seu serviço despontará como uma luz para todos e contribuirá de verdade
para a edificação do Corpo de Cristo. Por fim, buscar o último lugar é ter a
consciência de quem somos: pobres e frágeis, necessitados da misericórdia de
Deus. Humildade vem de “húmus” que, por sua vez, se refere ao solo, ao chão, à
terra. Viemos do pó, somos pó e ao pó retornaremos. Lembremos, porém, que esse
pó é precioso aos olhos de nosso Deus, a ponto d’Ele nos enviar seu próprio Filho
para nos salvar com seu precioso sangue e fazer-nos aproximar “do monte Sião e
da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste” (Hb 12,22). Lembrados de que é aos
humildes que Deus revela seus mistérios (cf. Eclo 3,20), peçamos esta graça e
cultivemos esta virtude, pois “quem se eleva, será humilhado e quem se humilha,
será elevado”!
Dom Edilson de Souza Silva Bispo Auxiliar de
São Paulo Vigário Episcopal para a Região Lapa
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