XIV-
SANTO
AGOSTINHO
O dever do Pastor
segundo Santo Agostinho: distribuir o alimento do Senhor para os fiéis
Por
Fr. Mario Sérgio OSA
“No Sermão
101, Santo Agostinho reflete sobre o papel do pastor como dispensador da
Palavra de Deus, destacando a humildade, a fidelidade e a graça divina como
fundamentos essenciais. O texto oferece um ensinamento importante sobre a unidade
entre pastores e fiéis, todos servos de um único Senhor.”
O papel do pastor na Igreja é central para a
formação, edificação e crescimento espiritual dos fiéis, como ensina santo
Agostinho no Sermão 101, pregado em Cartago, no mês de maio do ano 397. O tema
do sermão é a passagem do Evangelho de Lucas 10,2: “A messe é
abundante, mas os trabalhadores são poucos. Rogai ao senhor da messe para
enviar trabalhadores para a sua colheita.”
Agostinho, neste parágrafo, reflete sobre os
deveres pastorais e a relação que deve haver entre pastores e fiéis. Neste
breve artigo analisamos a visão de Santo Agostinho sobre a natureza e missão
especifica de um pastor de almas, a partir do parágrafo 4 do citado sermão.
O sermão como um todo é bastante interessante e
segue, como típico desse gênero literário, o texto bíblico de base que é sempre
lido a partir de outros textos da Escritura. Para nós pode parecer estranho,
mas o modus pensandi e interpretandi dos Padres da Igreja era
diverso do nosso. Eles conheciam os textos de memória e iam associando, numa
meditação fluida, textos com textos, graças a palavras chaves.
O dever do Pastor: trabalhar no campo do Senhor e servir os irmãos
Agostinho, inicia o seu sermão, comparando o
pastor ao agricultor. Ambos têm a missão árdua de colaborar para que as
sementes frutifiquem: “Compete, pois, a nós, postos pelo Senhor como
operários em seu campo, ensinar-vos tais ações: semear, plantar, regar, cavar
até ao redor de algumas árvores e pôr uma cesta de adubo” (Sermão
101,4).
Com humildade, Agostinho nunca deixou de
enfatizar o ideal do serviço e da responsabilidade que lhe é vinculada. Além
disso, ele, em muitos sermões, recorda do tempo que ele era um fiel como os
outros, sentado nas fileiras e nos bancos e não na cátedra do bispo: “Quantos,
de fato, entre esses fiéis poderão ser dispensadores? Nós também estivemos no
lugar onde estais vós: nós, que agora somos vistos distribuindo o sustento aos
nossos irmãos de um lugar mais elevado, até poucos anos atrás recebíamos esse
sustento no lugar mais baixo com os nossos irmãos” (Sermão 101,4).
Essa metáfora do dispensador, isto é, aquele
que cuidava da dispensa e tinha a missão de dar de comer aos outros, ilustra,
segundo Agostinho, que o pastor deve dedicar-se ao cuidado do rebanho
humildade, sabendo reconhecer o papel de ser apenas um servo do senhor e dos
irmãos.
Mas Agostinho, como é típico do seu
ensinamento, afirma o papel fundamental da graça nesse processo: "Ao
Senhor cabe auxiliar nosso labor, a vossa fé, o comum esforço de todos nós para
vencer o mundo por meio dele" (Sermão 101,4).
Ensinar e instruir: o pastor como um responsável da “dispensa
divina”
O sermão 101, destaca, por um lado, que o
pastor de almas deve ensinar o que é proveitoso e benéfico à edificação da fé.
Por outro lado, Agostinho enfatiza que o pastor deve evitar cair na tentação
de “pregar a si mesmo”, que digamos parece uma febre hoje em os
nossos pregadores:
“O que vos dou, não o tiro da minha própria
dispensa, mas daquele de quem eu próprio o recebo. Porque se vos desse do meu,
estaria a dar-vos mentiras. Afinal, quem diz o falso, fala de si próprio” (Sermão 101,4).
O doutor da Graça com essa citação visava
admoestar os pastores, reforçando a ideia chave sobre a necessidade dos
pastores se manterem fiéis à Palavra de Deus, ensinando com autenticidade,
sinceridade e verdade a palavra de Deus e não a sua.
Todos somos da mesma família de Deus
Agostinho, em seguida, sublinha a necessidade da
caridade e da unidade entre pastores e fiéis, bem como o respeito mutuo, já que
todos somos da mesma família de Deus e pertencemos ao único Senhor de
todos: “Vós, de certo modo, fazeis parte de uma única família. Nós
somos os dispensadores pertencentes à mesma família. Todos pertencemos a um
único Senhor” (Sermão 101,4).
Alimentar-se com o mesmo Alimento
Dessa visão do hiponense, baseada na ideia da
igualdade de todos os cristãos, ele deriva um ensinamento, muito esquecido hoje
entre os pastores de almas: O pastor não está acima dos fiéis, mas é um dos
membros da comunidade e se alimenta da mesma dispensa divina: “Antes de
sermos dispensadores, fomos alimentados do mesmo sustento. Assim, o que damos,
também recebemos” (Sermão 101,4).
Os pastores: administradores, não donos dos bens do Senhor
Agostinho, por fim, enfatiza que os pastores
são administradores da graça divina, e não donos dela: “Se vos desse do
meu, estaria a dar-vos mentiras. [...] Somos apenas distribuidores, e não donos
da herança do Senhor” (Sermão 101,4).
Notemos que interessante essa perspectiva do
bispo de Hipona. Ela deve servir como um aviso contra o autoritarismo ou
qualquer forma de abuso, exercido pelos pastores de alma
Fonte Centro de Estudos Agostinianos
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