XI- A BÍBLIA PARA OS CATÓLICOS
I-
O que é a Bíblia
para os Católicos?
A Palavra de Deus revelada
A Bíblia é, para nós católicos, a
revelação escrita de Deus à humanidade. Como nos ensina o Catecismo da Igreja
Católica, as Sagradas Escrituras “são verdadeiramente a Palavra de Deus” 1, pois foram registradas sob a inspiração
do Espírito Santo. A Bíblia contém em seus livros a “verdade divinamente
revelada” (CIC 105), transmitindo o amor de Deus que deseja nos conduzir à
plenitude da vida e da fé. Em cada palavra e cada passagem, encontramos o Pai
que “vem amorosamente ao encontro de seus filhos, a conversar com eles” 2.
Contudo, a Bíblia não se interpreta
por si só. A Igreja Católica ensina que a Sagrada Escritura e a Sagrada
Tradição “estão intimamente unidas e compenetradas entre si” 3, derivando ambas da mesma fonte
divina. Essa unidade torna-se plena e fecunda na vida da Igreja e no mistério
de Cristo. A Tradição Apostólica, passada de geração em geração, guarda
fielmente o ensinamento de Jesus e o testemunho dos Apóstolos,
transmitindo-os até nossos dias.
A responsabilidade pela interpretação
autêntica da Palavra de Deus foi confiada ao Magistério da Igreja, formado pelos
bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o Papa. O Magistério não está
“acima da Palavra de Deus, mas ao seu serviço” 4, fiel ao mandato de ouvir,
guardar e expor a Palavra com fidelidade. Dessa forma, os católicos acolhem
a Bíblia, a Tradição e o Magistério como partes inseparáveis da fé, permitindo
que a Palavra de Deus frutifique em cada coração e seja compreendida à luz do
Espírito Santo e da comunhão da Igreja.
II-
Estrutura da Bíblia
A Bíblia é dividida em duas grandes
partes: o Antigo e o Novo Testamento. O Antigo Testamento compreende
os livros que relatam a história do povo de Deus desde a criação do mundo até a
preparação para a vinda de Cristo. Já o Novo Testamento narra
a vida de Jesus, o início da Igreja e os ensinamentos para a vida cristã.
No Antigo Testamento, encontramos:
- Pentateuco: os cinco primeiros livros (Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio), que narram a criação, a história dos
patriarcas e a aliança de Deus com Israel.
- Livros Históricos: contam a história do povo
de Israel, incluindo suas lutas, conquistas e infidelidades, do período de
Josué até o exílio (Josué, Juízes, Rute, 1Samuel, 2Samuel, 1Reis, 2Reis,
1Crônicas, 2Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, 1Macabeus e
2Macabeus).
- Livros Sapienciais e Poéticos: oferecem sabedoria e
orientação para a vida, além de orações e cânticos (Jó, Salmos,
Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Eclesiástico e Sabedoria)
- Livros Proféticos: escritos pelos profetas,
que transmitiram a mensagem de Deus ao povo, chamando-o ao arrependimento
e anunciando a vinda do Messias (Isaías, Jeremias, Oséias, Joel, Amós,
Obadias, Jonas, Miquéias, e Naum)
O Novo Testamento é composto por:
- Evangelhos: relatos da vida, dos ensinamentos, da morte
e da ressurreição de Jesus (Mateus, Marcos, Lucas e João).
- Atos dos Apóstolos: descreve a ascensão de
Jesus e a expansão inicial da Igreja.
- Cartas: escritas pelos apóstolos, principalmente por
São Paulo, oferecem orientações doutrinárias e morais (Romanos, 1
Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses,
1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses, 1Timóteo, 2Timóteo, Tito, Filemom,
Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João e Judas.)
- Apocalipse: o último livro da Bíblia, que revela a
vitória final de Cristo sobre o mal e o cumprimento das promessas de Deus.
Cada livro e cada divisão desempenha
um papel essencial na compreensão do plano de salvação de Deus para a
humanidade, formando o conjunto harmonioso da revelação divina.
III - Cânon Católico versus Cânon Protestante
A Bíblia católica e a protestante
compartilham muitos livros, mas apresentam uma diferença no número total:
o cânon católico possui 73 livros, enquanto o cânon
protestante inclui 66. A principal divergência ocorre no Antigo Testamento, do
qual a Igreja Católica reconhece 46 livros, e a Bíblia protestante, 39. Esses
livros a mais na Bíblia católica são conhecidos como deuterocanônicos,
que incluem: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus,
além de trechos específicos dos livros de Ester e Daniel.
A origem dessa diferença remonta ao
uso da Septuaginta, uma tradução grega das Escrituras hebraicas,
feita antes de Cristo e amplamente utilizada pelos primeiros cristãos,
incluindo os apóstolos. Essa versão continha os deuterocanônicos, que foram
reconhecidos pela Igreja primitiva como parte da revelação divina. No século
XVI, durante a Reforma, os reformadores protestantes decidiram adotar o cânon
hebraico, excluindo os deuterocanônicos, por não serem aceitos no Judaísmo
contemporâneo da época.
Na doutrina católica, os
livros deuterocanônicos têm um papel importante. Eles apresentam ensinamentos
que aprofundam verdades da fé, como a oração pelos mortos, encontrada no
segundo livro de Macabeus 5, que apoia a doutrina do purgatório.
Esses livros também ensinam sobre a sabedoria, a fidelidade a Deus em tempos de
provação, e a busca pela justiça — temas essenciais para a vida cristã.
Assim, para a Igreja Católica, tanto
os livros protocanônicos quanto os deuterocanônicos são igualmente inspirados.
O Concílio de Trento (1546) reafirmou oficialmente o cânon
católico, considerando esses textos indispensáveis para uma compreensão plena
da revelação divina e para a edificação espiritual dos fiéis.
Conheça a diferença
entre as Bíblias católica e protestante.
iv-
Como a Bíblia foi
escrita?
Inspiração Divina
A Bíblia foi escrita por autores
humanos, mas sob a inspiração direta de Deus. O conceito de
inspiração divina significa que, embora os escritores das Bíblia fossem pessoas
humanas com suas culturas, habilidades e estilos literários, Deus atuou
neles e por meio deles para registrar Sua Palavra com precisão.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, Deus escolheu esses autores e trabalhou
através de suas faculdades humanas, assegurando que eles escrevessem apenas
o que Ele desejava comunicar. 6
Os livros da Bíblia não são meramente
humanos; tudo o que está escrito nas Escrituras vem do Espírito Santo e
foi escrito para revelar a verdade que Deus quer que conheçamos para nossa
salvação. 7 Por isso, a Bíblia é
considerada “sem erro” no que ensina sobre a verdade de Deus, pois cada palavra
é inspirada por Ele e tem um propósito.
Ao mesmo tempo, Deus se adaptou à
linguagem e aos modos de expressão de cada autor, falando “à maneira
dos homens”. Por essa razão, para interpretar bem as Escrituras, é
necessário compreender o contexto cultural e os gêneros literários de cada
época, em textos históricos, poéticos ou proféticos. 8 Tudo isso enriquece a nossa
compreensão da intenção divina e da mensagem original.
v-
Formação dos textos bíblicos
O processo de formação dos textos bíblicos
passou por etapas longas e complexas, que envolvem desde a tradição oral até a
compilação escrita dos livros. Inicialmente, as histórias sagradas e
ensinamentos divinos foram transmitidos oralmente, de geração em geração, entre
o povo de Israel. Essa tradição oral preservou, por meio de narrativas,
cânticos, provérbios e leis, o relacionamento único entre Deus e Seu povo,
assegurando que a memória dos atos divinos fosse mantida viva na comunidade.
Aos poucos, essa tradição foi sendo
registrada por escrito, um processo que se iniciou em diferentes períodos e
contextos históricos. No Antigo Testamento, os livros começaram a ser
compilados durante épocas de estabilidade ou crise, como o exílio na Babilônia,
em que o povo de Israel sentiu-se motivado a registrar suas tradições para não
perdê-las. Autores e editores foram reunindo essas tradições, sob a inspiração
divina, de modo que todos os textos refletissem a mesma verdade de fé, apesar
das diferenças de estilo e de gênero literário.
No Novo Testamento, o processo foi
semelhante. Após a vida, morte e ressurreição de Jesus, os discípulos começaram
a transmitir oralmente as palavras e atos do seu mestre e, depois, dos
primeiros apóstolos. Com o tempo, especialmente com a expansão da Igreja e a
necessidade de preservar fielmente os ensinamentos de Cristo, esses relatos
foram colocados por escrito, gerando os Evangelhos e as Cartas Apostólicas.
Esses textos não apenas respondem às
necessidades das primeiras comunidades cristãs, mas também foram escritos em contextos
históricos e culturais diversos, moldados pelas realidades de cada autor e
localidade. Portanto, a Bíblia é um conjunto de livros escritos em
tempos e lugares distintos, inspirados por Deus e compilados pela Igreja
para nos transmitir a salvação e a verdade, de acordo com o plano
divino de revelar Sua Palavra ao mundo.
·
O papel dos concílios na definição do Cânon
A definição dos livros inspirados que
compõem a Bíblia, conhecida como o cânon, foi um processo cuidadoso realizado
pela Igreja ao longo de séculos. Diante das várias escrituras usadas pelas
primeiras comunidades cristãs, tornou-se essencial discernir quais textos eram
verdadeiramente inspirados pelo Espírito Santo e dignos de fazer parte da
Sagrada Escritura. Esse trabalho foi realizado sob a orientação do Magistério
da Igreja, que, com a ajuda do Espírito Santo, identificou os livros que seriam
oficialmente reconhecidos como Palavra de Deus.
O primeiro passo significativo
ocorreu no Concílio de Hipona, em 393 d.C., quando a Igreja
Católica fixou uma lista de livros inspirados. Este cânon incluía os livros que
hoje compõem o Antigo e o Novo Testamento da Bíblia Católica, incluindo os
livros deuterocanônicos, que posteriormente foram contestados por algumas
denominações protestantes. Essa definição inicial foi reafirmada no Concílio
de Cartago, em 397 d.C., que consolidou a mesma lista, estabelecendo uma
base para o cânon bíblico usado pela Igreja.
A definição do cânon foi solidificada
no Concílio de Trento (1545-1563), em resposta aos questionamentos
da Reforma Protestante. O Concílio de Trento reafirmou a lista tradicional,
incluindo os livros deuterocanônicos, como parte integrante da Bíblia. Além
disso, esse Concílio declarou oficialmente e de forma infalível o cânon da
Bíblia Católica, confirmando a inspiração divina de todos os livros que fazem
parte dela.
Assim, foi pela ação desses
concílios, iluminados pelo Espírito Santo, que a Igreja definiu de forma
inequívoca os livros inspirados, preservando a unidade da fé e assegurando que
os fiéis pudessem confiar plenamente nas Escrituras como Palavra de Deus.
https://bibliotecacatolica.com.br/blog/destaque/biblia-para-catolicos/
(CONTINUA NO PRÓXIMO
DOMINGO)
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