Ser discípulo de Cristo é renunciar a tudo o que se tem
Quando se resolve uma desavença, abre-se mão de alguns valores. Mas há valores que são irrenunciáveis.
“Se alguém
quer vir após mim, negue–se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e
siga-me”. (Lc 9,23)
Quando uma pessoa vai conversar com outra para resolver alguma desavença, ela sempre leva consigo alguns valores, valores renunciáveis que deve haver de ambas as partes para que o acordo seja feito, e também aqueles valores dos quais não abre mão: os valores irrenunciáveis.
Acredito que não é segredo para ninguém que um
valor grandioso que carrego comigo é a fé católica que professo. E não sou católico
que desconhece o significado da palavra “católico”, que não conhece Jesus
Cristo nem a Sua Igreja e tampouco o evangelho. Sou católico por convicção, ou,
como bem dizia o meu ex-pároco, frei Inocêncio Pacchioni: “Não sou tão leigo
assim”. Não sou perfeito; só Deus é perfeito. Carrego comigo, como todas as
pessoas falhas, pecados que precisam constantemente ser corrigidos ao longo da
vida. E tenho essa convicção porque fui chamado “pessoalmente” pelo Senhor.
Desde que me aproximei d’Ele, inicialmente por caminhos tortuosos, mas que
serviram para fazer de mim quem hoje sou, Ele não me abandonou e a minha
convicção é tão grande que considero preferível ser ateu a professar uma fé que
não seja a fé católica.
No trecho de Lucas acima citado, Jesus coloca duas condições para segui-lo:
“negar a si mesmo” e “carregar a sua cruz”. A primeira tem relação com a
segunda. O que seria negar a si mesmo senão deixar de lado os próprios
instintos puramente carnais? E que cruz seria essa senão a de ter que negar a si
mesmo, as próprias vontades e desejos? De fato, “minha doutrina não é minha,
mas daquele que me enviou” (Jo 7,16). Por isso o verdadeiro discípulo de Cristo
“não anuncia a si mesmo” (v.18), as suas convicções, os seus desejos e
pensamentos, mas Aquele que o chamou e escolheu. Acontece, porém, que o sistema
inteiro sob o qual vivemos é muito, muito afastado de Cristo. Pode não haver
respostas, mas nós temos que fazer pelo menos as perguntas. A nossa
inteligência, como católicos, não pode deixar de notar a violência satânica e
cheia de segredos terríveis que é perpetrada pelo nosso governo!
A fé católica nos convida à pobreza, à castidade e à obediência. E o que eu
descobri é que estes três estados de vida são incrivelmente empolgantes e
desafiadores! Eles nos dão um tipo de liberdade e de “consciência de ser” que é
completamente inexistente no meio da nossa cultura entorpecente. O fato é que
quanto mais nos aproximamos de Cristo, e consequentemente da Igreja Católica,
que é o Seu Corpo, mais nos assemelhamos a Ele no agir, no pensar e no falar,
e, por isso, recebemos em nosso corpo as marcas (chagas) do corpo de Jesus (cf.
Gl 6,17). O que são estas feridas senão a oposição do mundo? De fato, se alguém
se diz cristão e não possui em si as chagas do crucificado, é mentiroso. Se
alguém se diz católico e não sofre quando vê a Igreja de Cristo sofrer ataques
de todas as formas e não sente em si mesmo esta dor, é mentiroso; pois se a
Igreja é o Corpo do Senhor e nós somos membros deste Corpo, e, conforme o apóstolo
Paulo, “se um membro sofre, todo o corpo sofre com ele” (cf. 1Cor 12,26), como
posso eu, membro do corpo, não sentir as dores do corpo ainda que a ferida não
esteja diretamente em mim?
É hora de os filhos de Deus se revelarem ao mundo e é pelos frutos que os
conhecemos. A fé acompanhada de obras mostra quem é verdadeiramente discípulo
de Cristo! E Cristo não aceita titubeios: ou se “está com Ele ou não está” (cf.
Mt 12,30). Não há meio termo: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem
quente. Antes fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente,
eu te vomitarei” (Ap 3,15-16). É por isso que repito: se alguém não crê na
mensagem de Jesus que nos é transmitida por meio da Sua Igreja Católica (cf. Lc
10,16), se alguém não está disposto a se tornar pequeno como uma criança (cf.
Mt 18,3), a renunciar a tudo o que tem (cf. Lc 14,33), a negar a si mesmo, a
carregar a sua cruz (cf. Lc 9,23) sem “olhar para trás” (cf. Lc 9,62), esse
alguém não é digno do Senhor, não é digno do Seu Reino, não pertence à Sua
Igreja e não possui a Deus por Pai. É neste sentido que aquilo que professamos
com a boca deve corresponder ao nosso comportamento e também ao nosso
pensamento. Examinemos, pois, as nossas verdadeiras intenções, os nossos
pensamentos, e vejamos se correspondem ao nosso proceder.
https://pt.aleteia.org/2015/07/20/ser-discipulo-de-cristo-e-renunciar-a-tudo-o-que-se-tem/
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