O ESPÍRITO SANTO E O AMOR FRATERNO
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá – PA
A festa de Pentecostes faz-nos pensar a importância do Deus amor na realidade humana. É a descida do Espírito Santo que uniu os apóstolos, e o povo que se encontravam em Jerusalém pela linguagem do amor (At 2,1-11). Todos se entendiam pelo milagre das línguas, pois ouviam dos apóstolos a mensagem de unidade na diversidade, pelo amor no Espírito Santo. Vejamos em Santo Agostinho esta verdade de fé, pelo qual o Espírito Santo deu o poder do milagre das línguas e que hoje dá o mesmo poder se nós amarmos o irmão e a irmã que moram junto de nós e no mundo.
Nos primeiros tempos do cristianismo, Santo Agostinho afirmou que o Espírito
Santo desceu sobre os fieis, os seguidores de Jesus Cristo, de modo que falaram
em várias línguas que não tinham aprendido, assim como o Espírito Santo dava a
eles de pronunciar (At 2,4). Eram sinais milagrosos naquele tempo e ao mesmo
tempo oportunos para a Igreja nascente. Era necessário que em todas as línguas
tivesse o conhecimento do Espírito Santo, porque o evangelho de Jesus, de Deus
deveria alcançar todas as línguas existentes no mundo inteiro. Aquele sinal foi
dado e passou e não se repetir mais. Hoje, quando se impõe as mãos, esperamos
que as pessoas possam falar em línguas? Alguém poderia afirmar que não recebeu
o Espírito Santo, porque se o tivesse recebido falariam em línguas? A prova da
presença do Espírito Santo, segundo Santo Agostinho em nós e no mundo, não é mais
dada por aqueles sinais, mas no intimo de cada um de nós. O Bispo de Hipona
quer levar a pessoa a interrogar o seu coração: se ele ama o irmão, o Espírito
Santo permanece nele.
É preciso examinar e colocar à prova a pessoa mesma diante de Deus, ver se
houver nela a paz e a unidade, o amor à Igreja difundida em todo o mundo. O
Bispo convida os cristãos a amar os seus vizinhos, mas também a muitos de nosso
irmãos e irmãos que nós não os vemos, mas que estão unidos conosco na unidade
do Espírito Santo. Ainda que esses não se encontram junto a nós, estamos no
mesmo corpo e temos no céu uma única cabeça, Jesus Cristo. Pela caridade nós
estamos todos unidos ao Senhor no Espírito Santo. Observemos os nossos olhos
nos quais vão na mesma direção, também se isso ocorre de lugares
diferentes.
Santo Agostinho convida os fieis a amarem os irmãos e irmãs, para se achegar
até Deus, porque outros tem a mesma aspiração que a nossa, porque todos buscam
a luz da verdade, o Espírito Santo. Desta forma é preciso ver se a pessoa
recebeu o Espírito Santo, o que deveria fazer? Interrogar o seu coração, para
não correr o perigo de ter o sacramento, mas não o seu efeito. Se a pessoa
interroga o seu coração e lá encontrar a caridade para o irmão, a irmã, a pessoa
pode ficar tranqüila, o Espírito Santo mora naquela pessoa, pois o Espírito
Santo mora em nós como num templo, também pelo fato de que o amor de Deus foi
derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5).
Santo Agostinho realça a importância da caridade, como pedra preciosa, descoberta e comprada por aquele negociante do evangelho, do qual vendeu tudo o que tinha para adquirir aquela pérola preciosa (Mt 13,45-46). A caridade é aquela pedra preciosa, não tendo nenhuma alegria que possa preencher o vazio da existência, mas uma vez possuída, a caridade, tudo é possível na vida. Se agora a pessoa vê pela fé, um dia verá diretamente. Se agora amamos o Senhor que não vemos, o que será quando o veremos diretamente? A caridade fraterna leva as pessoas até Deus, ao Espírito Santo que deseja habitar em cada um de nós. Se de fato amarmos o irmão que vemos, poderemos ver Deus, porque veremos a caridade mesma, e Deus habita na caridade, pelo dom do Espírito Santo que mora em nós.
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