IX-- REFLEXÃO DOMINICAL III
Homilia
de Dom Henrique Soares da Costa – XVII Domingo do Tempo Comum (Ano C)
Gn 18,20-32;Sl 137;Cl
2,12-14;Lc 11,1-13
Basta
recordar a primeira leitura e o
evangelho para ver claramente que a Palavra de Deus deste domingo fala da
oração. Abraão reza, intercedendo por Sodoma e Gomorra; Cristo ensina seus
discípulos a rezar. Portanto, a oração.
É
impressionante não somente o fato de Jesus nos ter mandado rezar, nos ter
ensinado a rezar, mas sobretudo, o fato de ele mesmo ter rezado com muitíssima
freqüência. Basta recordar o início do evangelho de hoje: “Jesus estava rezando num certo lugar”.
Nós sabemos que ele passava noites inteiras em oração, que rezava antes dos
grandes momentos de sua vida, que morreu rezando.
Afinal,
por que rezar? Para nos abrir para Deus, para nos fazer tomar consciência dele
com todo o nosso ser, para que percebamos com cada fibra do nosso ser, do nosso
consciente e do nosso inconsciente que não nos bastamos a nós mesmos, mas somos
seres chamados a viver a vida em comunhão com o Infinito, em relação com o
Senhor. Sem a oração, perderíamos nossa referência viva a Deus, cairíamos na
ilusão que somos o centro da nossa vida e reduziríamos o Senhor Deus a uma
simples idéia abstrata, distante e sem força. Todo aquele que não reza, seja
leigo, seja religioso, seja padre, perde Deus, perde a relação viva com ele.
Pode até falar dele, mas fala como quem fala de uma idéia, de uma teoria e não
de alguém vivo e próximo, que enche a vida de alegria, ternura, paz e amor. Sem
a oração, Deus morre em nós. Sem a oração é impossível uma experiência
verdadeira e profunda de Deus e, portanto, é impossível ser cristão. Por tudo
isso, a oração tem que ser diária, perseverante e fiel.
Assim,
quando agradecemos, reconhecemos que tudo recebemos de Deus; quando suplicamos,
reconhecemos e aprendemos que dependemos dele e da sua providência; quando
intercedemos, aprendemos e experimentamos que tudo e todos estão nas mãos
amorosas de Deus; quando pedimos perdão, reconhecemos que nossa vida é vivida
diante dele e a ele devemos prestar contas da existência que recebemos.
Portanto, a oração nos abre, nos educa, nos amadurece, nos faz viver em
parceria com o Senhor.
Quanto
aos modos de rezar, são variados. A melhor forma é com a Sagrada Escritura:
tomando a Palavra de Deus, lendo-a com os lábios, meditando-a com o coração e
procurando vivê-la na existência. Tome diariamente a Bíblia, leia-a com fé,
repita as palavras ou frases que tocaram seu coração e derrame sua alma diante
do Senhor. Nunca esqueçamos que essa Palavra de Deus é viva e eficaz,
transformando a nossa vida e dando-lhe um novo sentido. Também é importante a
oração espontânea, com nossas palavras e a oração vocal, aquela decorada, como
o Pai-nosso e a Ave-Maria. Aqui, é bom recordar o terço, que tanto bem tem
feito ao longo dos séculos. Mas, a oração por excelência é a própria missa. Aí,
de modo pleno, nós somos unidos à própria oração de Cristo, participando do seu
sacrifico pela salvação nossa e do mundo inteiro.
Mas,
recordemos que a oração não é uma negociata com Deus nem é para dobrar Deus aos
nossos caprichos. É, antes, para nos tornar disponíveis à vontade do Senhor a
nosso respeito. Uma das coisas muito belas da oração é que, tendo rezado e
pedido, o que acontecer depois podemos saber com certeza que é vontade de Deus!
É nesse sentido que Nosso Senhor afirmou que tudo quanto pedirmos em seu nome,
o Pai no-lo concederá. Ora, o que é pedir em nome de Jesus? É pedir como
Jesus; “Pai, não se
faça a minha, mas a tua vontade”. Rezar assim é entrar no cerne da
oração de Jesus. Então, tudo que nos vier, saberemos que é vontade do Pai, pois
sabemos que nossa oração foi atendida; e nisto teremos paz.
Que
nesta Missa, nós peçamos, humildemente, como os primeiros discípulos: “Senhor,
ensina-nos a rezar”. E aqui não se trata de fórmulas, mas de atitudes.
Observemos que a oração que Jesus ensinou, o Pai-nosso, é toda ela centrada não
em nós, mas no Pai: no seu Reino, na sua vontade, na santificação do seu nome.
Somente depois, quando aprendermos a deixar que Deus seja tudo na nossa vida, é
que experimentaremos que somos pessoas novas, transformadas pela graça do
Senhor.
Cuidemos,
pois de avaliar nossa vida de oração e retomar nosso caminho de busca de
intimidade com o Senhor, ele que é a fonte e a razão de ser da nossa
existência. Amém.
Dom
Henrique Soares da Costa
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