XII-
SANTOS DA
SEMANA DE 21 DE JULHO A 27 DE JULHO
Santo do dia 21 de Julho
São Lourenço de
Bríndisi, presbítero e Doutor da Igreja (†1619). Santa Praxedes, virgem (†antes
de 491). Consta ter sido filha do senador romano Pudente, convertido por São
Pedro. Deu nome à Basílica de Santa Praxedes, no Esquilino.
Santo do dia 22 de Julho
Santa Maria Madalena.
Beato Agostinho de Biella Fangi, presbítero (†1493). Sacerdote dominicano,
oriundo da nobre estirpe dos Fangi, que dispensou numerosos benefícios em
Soncino, Vigevano e Veneza.
Santo do dia 23 de Julho
Santa Brígida, religiosa
(†1373). São João Cassiano, presbítero (†cerca de 435). Após ter sido monge na
Palestina e eremita no Egito, fundou em Marselha, França, a abadia de São
Vitor, composta de duas comunidades: uma masculina e outra feminina. Escreveu
as Instituições Monásticas e as Conferências.
Santo do dia 24 de Julho
São Charbel Makhluf,
presbítero (†1898). Santos Boris e Gleb, mártires (†1015). Filhos de São
Vladimir, grão-duque de Kiev, Rússia, preferiram a morte a se oporem pela força
ao seu irmão Sviatopolk.
Santo do dia 25 de Julho
São Tiago Maior,
Apóstolo. Decapitado em Jerusalém por ordem de Herodes Agripa, foi o primeiro
dos Apóstolos a receber a coroa do martírio. Santa Maria do Carmo Sallés y
Barangueras, virgem (†1911). Fundadora da Congregação das Irmãs da Imaculada
Conceição, em Madri.
Santo do dia 26 de Julho
São Joaquim e Sant’Ana,
pais de Maria Santíssima. Santa Bartolomeia Capitanio, virgem (†1833). Junto
com Santa Vicenta Gerosa, fundou a Congregação das Irmãs da Caridade de Maria
Menina. Morreu tuberculosa aos 26 anos.
Santo do dia 27 de Julho
Beata Maria Madalena
Martinengo, abadessa (†1737). De família nobre, entrou como religiosa no
convento capuchinho de Bréscia. Foi favorecida com fenômenos místicos e deixou
escritos que revelam sua incomum espiritualidade
https://www.xl1.com.br/santo-do-dia/santos-do-mes-de-julho/
III-
REFLETINDO
COM LINDOLIVO SOARES MOURA ( *)
"CENAS E
CENÁRIOS DO COTIDIANO: UMA HOMENAGEM A RUBEM ALVES" -- PARTE III
"- Não pode entrar A
igreja está lo-
tada. - Preciso chamar minha mãe.
É urgente!
- ok. Mas nada de rezar enquanto estiver lá
dentro" [L.S.M.]
Observação.: esta
terceira parte complementa e finaliza as partes I e II de mesmo título.
CENA 21
– Hoje acordei cedo pra meditar.
– E conseguiu?
– Sim. Três minutos de respiração profunda,
vinte e sete de cochilo inclinado e mais dez acordando assustado com o alarme que
eu mesmo programei.
– Isso é meditação ou salada espiritual?
– Chamo de sono terapêutico não-intencional.
– E sentiu alguma diferença depois?
– E como! Um pouco de torcicolo, uma baita
dor de cabeça, e uma falsa sensação de iluminação.
– E vai continuar tentando?
– Claro. Não desisto nunca. Estou me
espiritualizando pouco a pouco.
– Você não acha que está enganando a si
mesmo?
– Não. Estou apenas dando um upgrade na minha
espiritualidade.
– Se continuar assim vai acabar virando
monge.
– Experimente acender um incenso e vai ver
como o aroma é relaxante.
– Já fiz isso. Mas o único estado alterado
que consegui atingir foi que tossi o tempo todo.
– Então está no caminho certo. Só não sabemos
de que tipo de iluminação se trata.
– Se for caminho para alcançar o nirvana, já
estou me tornando um Buda. Só que menos carismático e cada vez mais asmático.
CENA 22
– Você tem hábito de leitura?
– Tenho, mas às vezes me pego lendo mais
rótulos de shampoo e bula de remédio, do que páginas de algum bom livro.
– Como assim?
– Porque a leitura exige presença e
introspecção, e o mundo cobra pressa e dispersão.
– E como equilibrar isso?
– Só mesmo com muito esforço. Um livro não
consegue competir bem com uma tela piscando.
– Mesmo assim você acha que vale a pena
insistir?
– Com certeza! Um parágrafo bem lido pode
mudar o curso de um pensamento inteiro.
– É por isso que você lê pouco e devagar?
– Sim. Leio cada linha como se estivesse
caminhando por dentro de si mesmo.
– E o que de mais interessante você tem
aprendido ?
– Que a leitura não grita, apenas sussurra. E
o mundo moderno precisa de mais sussurros do que de gritos.
– Já tentou reler algum livro depois de
muitos anos?
– Já sim. Reli, e descobri que o livro era
outro. Ou talvez quem tenha mudado fui eu.
– Eu imagino. Deve ser como rever fotos
antigas e perceber o que antes não se conseguia.
– Exatamente. O livro é o mesmo, mas o leitor
é sempre outro.
– E por que será que as pessoas leem tão
pouco?
– Talvez porque estejamos preocupados demais
tentando ser vistos, quando deveríamos estar mais ocupados em nos ver a nós
mesmos. A leitura é como um espelho sem selfie.
CENA 23
– E então, Júlio, está assistindo à nova
série?
– Estou sim. Quer dizer, estou tentando. Abri
a plataforma, vi o pôster, li a sinopse, assisti dois trailers, e depois parei
pra ver o que o Twitter achava.
– Já assistiu algum episódio?
– Ainda não. É muito compromisso esperando.
– E quantos episódios são?
– Oitenta e quatro, de uma hora cada.
– Você não acha isso um tanto exagerado?
– Com certeza. Mas todo mundo diz que “vale a
pena depois da terceira temporada”.
– Então você pretende assistir?
– Só se houver um feriado prolongado, sem
visita, sem celular, e talvez uma gripe leve que me obrigue a ficar na cama.
– Ou seja, nunca.
– Exatamente. Mas já recomendei pra três
pessoas amigas minhas. Terapia "desocupacional".
– Pelo jeito você se considera menos um
entusiasta da cultura do que um vendedor de expectativas.
– Eu sou um curador daquilo que não vejo, mas
admiro.
– Isso não me parece muito normal: maratonar trailers
e colecionar séries que nunca foram nem serão vistas.
– Isso é arte contemporânea. Sou um
espectador do imaginário, um amante da ficção ficção.
CENA 24
– E então, continua fazendo exercícios
regularmente?
– Sim. Todos os dias. Um pouco de alongamento,
caminhada leve e respiração consciente.
– Parece que para você isso é muito
importante.
– Acertou em cheio. Meu corpo é minha
primeira morada, e quero ela sempre bem cuidada. De preferência, antes que a
manutenção vire emergência.
– Mas nem sempre a gente está disposto, é ou
não é verdade? Acho um saco!
– Tem dias que tudo pesa. Mas é justamente
nesses dias que o movimento salva.
– E você acha que isso te ajuda a mudar por
dentro?
– Com certeza. Quando o corpo se move,
desperta a mente.
– Então é mais do que saúde física.
– É autocuidado.
– E o dia que você não consegue, fica
frustrado?
– Não me culpo. Me perdoo. Regularidade não é
perfeição.
– Mesmo se ninguém percebe o seu esforço?
– Melhor ainda. O corpo não precisa de
testemunhas pra se sentir valorizado. Basta ser respeitado e bem tratado.
CENA 25
– Como está seu relacionamento, Jorge, segue
firme?
– Uma montanha-russa, com menos cintos de
segurança do que eu precisaria.
– E você não tem medo de onde isso vai acabar
dando?
– Claro que sim! Mas tenho mais medo de
voltar pra a solteirice dos aplicativos.
– Mas isso não seria uma falsa compensação?
– Considere como estratégia de sobrevivência
digna.
– Mas afinal de contas vocês dois se amam ou
não?
– Sim, nós nos amamos. Entre uma indireta e
outra, uma acusação pra cá outra pra lá, sempre sobra um carinho e divisão de
boletos.
– E o diálogo, ainda existe?
– Existe, claro. Em forma de mensagens e
memes trocados no WhatsApp.
– Amor em tempos digitais.
– E ainda assim, mais sólido do que muitos
relacionamentos analógicos por aí.
– Você acha que isso é amor de verdade?
– Acho que é amor possível, realista: você
sabe que nem um nem outro surgiu de um conto de fadas, mas ainda assim decide
ficar com o outro como ele é.
– E se um dia isso tudo acabar?
– A gente termina em paz, divide os livros, e
cada um leva seu filtro de café. Trama sem drama. Só um delicado e respeitoso
abraço.
CENA 26
– O que você acha de usar Facebook, Luca?
Você usa?
– Uso sim. Não com frequência, mas como quem
visita um antigo vilarejo da infância.
– E o que você costuma encontrar por lá?
– Memórias, pessoas que ficaram no tempo,
coisas que não voltam mais, e por aí vai.
– E isso te satisfaz?
– Sinceramente, não totalmente. Mas me ajuda
a compreender que o tempo passa pra todo mundo, e que nem todos querem passar a
vida correndo.
– E vale a pena manter o perfil?
– Pode apostar. Por causa das fotos antigas,
dos aniversários esquecidos, das mensagens inesperadas.
– Mas isso está me cheirando pura nostalgia.
– Isso é laço, tem cheiro de vínculo que
insiste em não se desfazer. Às vezes o passado também cuida da gente.
– Mas você realmente sente falta daquele
tempo?
– Sinto sim. De um tempo em que as coisas e
as pessoas pareciam menos apressadas, menos viciadas em performance, menos
carentes de visibilidade.
– Como assim?
– Antes, a gente postava por prazer, por
vontade. A vida não era um palco com aplausos em forma de curtidas e à caça de
seguidores daqui e dali.
– Se é assim, por que você ainda entra lá?
– Porque tem coisas que só sobrevivem naquele
espaço. Memórias congeladas, um tipo de afeto que sobrevive por entre a poeira
que o mundo digital vai deixando para trás.
CENA 27
– Já foi ao terapeuta hoje, Jorge?
– Fui. Mas passei a sessão inteira tentando
não parecer nem louco nem funcional demais.
– Como assim?
– É que eu tenho um talento especial pra
bancar o protagonista da minha própria série.
– E isso deu verto?
– Acho que sim. Ela anotava tudo, e fazia
poucas perguntas. Disse que é lacaniana.
– Isso é bom ou ruim?
– Sei lá! Mas saí com vontade de me observar
com atenção em cada detalhe, até quando escovo os dentes.
– Você acha que a terapia vai te consertar?
– Receio que não. É mais pra organizar a
bagunça mesmo, ou pelo menos decorar melhor o caos.
– Isso significa que você pretende continuar?
– Claro. Nunca subestime o poder de falar por
cinquenta minutos sem ser interrompido.
– Mas você falou mesmo ou só enrolou, como
você disse?
– Falei tudo, inclusive sobre minha dúvida se
vale a pena seguir pagando e continuar enrolando.
– E o que ela disse?
– Disse “hum!!!", com diferentes
entonações. Um “hum” validante, um “hum” reflexivo e um “hum” que parecia
julgamento disfarçado.
– E você!?
– Respondi com um “rsrsrs” verbal. E
aproveitei para agendar a próxima sessão, claro. Combinamos dois horários
seguidos.
– Mas por quê dois?
– Porque ainda estou cheio de problemas pra
resolver. E deles é você. Rsrsrs!!!
CENA 28
– Qual a sua principal meta pra esse ano,
Higor?
– Manter a integridade, sedo menos reativo e
mais presente.
– Caramba! Isso com certeza não é nada fácil.
– Concordo. Porque o mundo grita, ao passo
que o o espírito exige silêncio.
– Mas você acha que vai conseguir?
– Por que não?Aquilo que não se consegue
controlar fora, precisa ser cuidado por dentro.
– Então suas metas são internas.
– Mais ou menos isso. Mais sentido, mais
significado, e menos números e estatísticas.
– Você já se frustrou por não conseguir
cumprir uma meta desse tipo?
– Com certeza! Mas hoje entendo que o
caminhar já é uma meta. E saber parar também.
– E como você avalia se está crescendo ou
não?
– Pelas escolhas pequenas que me acontecem,
como quando respiro fundo antes de responder, quando me acolho nas besteiras
que faço, ou quando consigo escutar alguém com o corpo inteiro.
– Mas você acha que isso é pouca coisa?
– Pelo contrário, isso é tudo. Crescer não é
só alcançar metas. É também sustentar o que se aprendeu e o que já se conseguiu
alcançar. Um dia eu chego lá.
CENA 29
– Você deveria aprender a ser mais grato para
com as pessoas.
– Tenho tentado. Sempre que consigo não
mandar ninguém pra aquele lugar antes das nove da manhã.
– Isso não é gratidão, isso é mecanismo de
defesa chamado contenção.
– Pode ser. Para mim é um ato de autocontrole
realizado com elegância.
– Acha mesmo que isso ajuda alguma coisa?
– Acho, não, tenho certeza. Às vezes, só o
fato de não explodir já me faz sentir um monge da era digital.
– Você tem algum diário?
– Não, não tenho. Mas mentalmente, agradeço
por cada café, por cada silêncio respeitado, e por cada fila que não é furada.
– E quando alguém fura a fila ou a fila não
anda? Você amaldiçoa, mesmo que só em pensamento?
– Eu agradeço também. Porque é nessa hora que
eu percebo como é fácil perder a compostura.
– Então, pelo jeito você se sente até mais
agradecido que os demais.
– Não é bem assim. Às vezes apenas finjo que
sou grato. Uma espécie de performance espiritual provisória.
– E isso funciona?
– Às vezes me convenço que sim. Outras vezes,
só fico calado pra não estragar minha imagem nas redes sociais.
– Mas isso não passa de hipocrisia.
– Para mim é esforço e tentativa. Hipocrisia
seria postar uma foto sorrindo e depois gritar com o garçom. Respiro fundo,
peço mais um café, e vida que segue.
CENA 30
– Não sei mais o que fazer para relaxar. Como
você parece conseguir tão facilmente?
– Primeiro, me permitindo ser imperfeito e
aceitando minhas limitações.
– Como se isso fosse fácil!
– Concordo que realmente não é. Mas é
libertador, quando se consegue.
– E o que mais te relaxa, além disso?
– Um banho longo e sem pressa. Um silêncio
sem culpa. Uma caminhada sem destino certo.
– Então não se trata do lugar físico.
– Certeza que não. Relaxar é lembrar de vez
em quando que não sou máquina. Que cansaço não é fracasso. Que ninguém é de
ferro.
– E você pratica isso todo dia?
– Pelo menos tento. Porque esquecer de
relaxar é uma boa forma de adoecer.
– Nunca se cobrou por ficar descansando
enquanto outros estão trabalhando?
– Claro que sim. Mas hoje entendo que
descansar também é uma forma de se exercitar.
– Como assim?
– Num mundo obcecado por performance e
produtividade, parar é quase um ato de subversão.
– E quando você para, consegue ouvir alguma
coisa diferente?
– Ouço meus pensamentos, minhas emoções, meus
medos, tudo sem filtro algum.
– E isso não te assusta de vez em quando?
– Às vezes. Mas prefiro ser assombrado pelo
meu silêncio interior, do que ser anestesiado pelo barulho que vem de fora. Se
você tentar, poderá se surpreender.
( * ) Texto enviado pelo autor, via Whatsapp, de Vitória
(ES)
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