II- Vi -LITURGIA DO 16.º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C
- O coração da liturgia da
Palavra de hoje é o tema da hospitalidade:
"Eu era estrangeiro e me acolhestes em casa" (Mt 25,35). A Igreja em
saída é também uma Igreja de portas abertas. Como recorda o Papa Francisco:
"Assim, se alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à
procura de Deus, não esbarrará com a frieza de uma porta fechada" (EG 47).
- Na Primeira Leitura, vemos Abraão como o grande modelo de
hospitalidade no Antigo Testamento. Para os povos antigos, a hospitalidade era
algo sagrado, pois se acreditava que os deuses visitavam os homens para provar
sua benevolência. O texto bíblico já nos antecipa que quem visita Abraão é o
próprio Senhor; no entanto, ele vê apenas três homens. Sem fazer
questionamentos, corre ao encontro deles, prostra-se e os acolhe com grande
generosidade. Como recompensa por esse gesto, recebe a promessa de um filho:
Isaac, fruto de seu matrimônio com Sara. Como diz Jesus: "E quem der,
ainda que seja um copo de água fresca, a um destes pequenos por serem
discípulos, eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa" (Mt 10,42).
Jesus, o Verbo Encarnado, também se apresenta como hóspede. Sem ter "onde
reclinar a cabeça", Ele está sempre a caminho, esperando ser acolhido
pelos seus. É um "forasteiro" desde o início: rejeitado nas
hospedarias de Belém, passando pelo ministério itinerante, até se manifestar,
ressuscitado, como peregrino da estrada de Emaús, sendo acolhido e, só então,
reconhecido pelos discípulos.
- De muitas formas, o Senhor
continua a se apresentar como o Estrangeiro, o Forasteiro, o Peregrino, e
espera de nós uma acolhida sincera. Ele não se impõe, mas procura abrigo nos
corações. No caminho do discipulado, a primeira atitude de quem se deixa
encontrar por Ele é acolher sua Palavra como Maria, que escolheu a melhor
parte. Isso não significa desvalorizar o serviço, o "fazer", mas sim
reconhecer que, sem escutar a Palavra, o serviço cristão corre o risco de se
tornar mero assistencialismo ou uma ONG caritativa, como advertia o Papa
Francisco. Abraão ofereceu um banquete, ficou de pé, não comeu: cumpria seu
papel de servo. Jesus faz o mesmo: hóspede divino, vem para oferecer, não para
receber; Ele nos dá o banquete de sua Palavra e da Eucaristia, esperando nossa
atenção e disponibilidade.
- Na Segunda Leitura, Paulo nos recorda que recebemos de Deus a missão
de transmitir a sua Palavra em plenitude. Como ele, somos chamados a servir
esse banquete sagrado a todos, sem excluir ninguém. Este é o mistério agora
revelado: Cristo está presente em todos (cf. Cl 1,27). A Regra de São Bento
ensina que "todo hóspede seja recebido como o próprio Cristo, pois um dia
Ele dirá: 'Fui hóspede e me recebestes'" (RB 53,1). Acolher o outro,
portanto, é um gesto profundamente cristológico. O irmão que chega é o próprio
Cristo!
- É urgente que cultivemos, em nossas
comunidades, essa hospitalidade evangélica. Desde um sorriso acolhedor na porta
da Igreja até o compromisso de "gastar tempo" com os irmãos. A
hospitalidade está em crise em nossa sociedade. O egoísmo, o isolamento, a
cultura do "salve-se quem puder" e do "cada um por si"
tomam conta da convivência. Enquanto isso, crescem o número dos perdidos e não
acolhidos, os que dormem sem um teto nossas cidades, e ainda os que procuram
nos consultórios psicológicos uma mínima escuta ou sinal de atenção.
- Somos chamados a redescobrir o essencial: o
encontro com Cristo, que nos convida a escutá-lo, a estar com ele, a nos
alimentar de seu Banquete, e sair saciados. Para Paulo, o único necessário é
Cristo: sua vida, sua cruz, seu amor entregue, sua ressurreição. Maria e Abraão
não desperdiçaram a oportunidade de acolher o Senhor. Desocupemo-nos, pois, um
pouco de nossos inúmeros afazeres. Gastemos mais tempo com o Senhor e com os
irmãos. Para que, um dia, no Reino dos Céus, possamos ouvir das palavras do
Mestre: "Fui hóspede e me recebestes" (Mt 25,35
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